Internet 10 anos - 1995 | Julio Daio Borges | Digestivo Cultural

busca | avançada
37550 visitas/dia
2,0 milhões/mês
Mais Recentes
>>> Lenna Bahule e Tiganá Santana fazem shows no Sons do Mundo do Sesc Bom Retiro
>>> CCBB Educativo realiza oficinas que unem arte, tradição e festa popular
>>> Peça Dzi Croquettes Sem Censura estreia em São Paulo nesta quinta (12/6)
>>> Agenda: editora orlando estreia com livro de contos da premiada escritora Myriam Scotti
>>> Feira do Livro: Karina Galindo lança obra focada na temática do autoconhecimento
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> Stalking monetizado
>>> A eutanásia do sentido, a poesia de Ronald Polito
>>> Folia de Reis
>>> Mario Vargas Llosa (1936-2025)
>>> A vida, a morte e a burocracia
>>> O nome da Roza
>>> Dinamite Pura, vinil de Bernardo Pellegrini
>>> Do lumpemproletariado ao jet set almofadinha...
>>> A Espada da Justiça, de Kleiton Ferreira
>>> Left Lovers, de Pedro Castilho: poesia-melancolia
Colunistas
Últimos Posts
>>> Ilya Sutskever na Universidade de Toronto
>>> Vibe Coding, um guia da Y Combinator
>>> Microsoft Build 2025
>>> Claude Code by Boris Cherny
>>> Behind the Tech com Sam Altman (2019)
>>> Sergey Brin, do Google, no All-In
>>> Claude 4 com Mike Krieger, do Instagram
>>> NotebookLM
>>> Jony Ive, designer do iPhone, se junta à OpenAI
>>> Luiz Schwarcz no Roda Viva
Últimos Posts
>>> O Drama
>>> Encontro em Ipanema (e outras histórias)
>>> Jurado número 2, quando a incerteza é a lei
>>> Nosferatu, a sombra que não esconde mais
>>> Teatro: Jacó Timbau no Redemunho da Terra
>>> Teatro: O Pequeno Senhor do Tempo, em Campinas
>>> PoloAC lança campanha da Visibilidade Trans
>>> O Poeta do Cordel: comédia chega a Campinas
>>> Estágios da Solidão estreia em Campinas
>>> Transforme histórias em experiências lucrativas
Blogueiros
Mais Recentes
>>> O blog de Pedro Almodóvar
>>> A biblioteca de C. G. Jung
>>> O Jovem Bruxo
>>> Fondo de Cultura Económica: 70 anos de uma missão
>>> Minha biblioteca de sobrevivência
>>> A inocência é minha culpa
>>> Conheça o AgroTalento
>>> Na Web 2.0, WeAllTube
>>> Chilli Beans, IBM e Falconi
>>> O primeiro assédio, na literatura
Mais Recentes
>>> Livro Sesinho Edição De Aniversario Volume 24 de Sesinho pela Sesi
>>> Mentiras Inocentes E Verdades Escancaradas de Cathy Hopkins pela Vergara & Riba (2007)
>>> Livro O Que Sobra de Principe Harry tradução Cássio de Arantes pela Objetiva (2023)
>>> Livro A Essencial Arte de Parar Um Método Revolucionário e Simples Para a Paz e o Encontro Consigo Mesmo de Dr. David J. Kundtz, prefácio de Richard Carlson, traduzido por Paulo Sérgio Moraes Rego Reis pela Sextante (1999)
>>> Entre Irmãs de Frances De Pontes Peebles pela Arqueiro (2017)
>>> A Chama De Ember de Colleen Houck pela Arqueiro (2019)
>>> Espiritualidade (3ª edição ampliada) de Rubem Alves pela Papirus (2004)
>>> Educação e Universidade de Anisio Teixeira pela Ufrj (1998)
>>> Números Do Jogo de Chris Anderson pela Paralela (2013)
>>> Quatro Vidas De Um Cachorro de W. Bruce Cameron pela Harper Collins (2016)
>>> Cliente Nunca Mais de Sérgio Almeida pela Casa Da Qualidade (1994)
>>> Livro Bolívar Grandes Biografías de Manuel Giménez Saurina, Manuel Mas Franch pela Edimat Libros (2003)
>>> Uma Chance Para O Perdão de Marcos Alencar pela InteLítera (2012)
>>> Erased. A Cidade Onde Só Eu Não Existo Volume 1 de Kei Sanbe pela Jbc (2018)
>>> Livro As Quatro Graças de Patricia Gaffney pela Bertrand Brasil (2006)
>>> Livro Sesinho Vida De Abelha Volume 10 de Sesinho pela Sesi
>>> Educação Para a Democracia de Anisio Teixeira pela Ufrj (1997)
>>> Carte Blanche de Jeffery Deaver pela Record (2012)
>>> The Nine Inside The Secret World Of The Supreme Court de Jeffrey Toobin pela Doubleday (2007)
>>> Ensinando A Cuidar Da Criança de Nébia Maria Almeida De Figueiredo pela Difusão Editora (2003)
>>> A Gaia Ciência de Friedrich Nietzsche pela Escala (2006)
>>> Barros De Estremoz de Azinhal Abelho pela Panorama (1964)
>>> Copywriting de Paulo Maccedo pela Dvs (2019)
>>> Armas e Varões - A Guerra Na Lírica De Arquíloco de Paula Da Cunha Corrêa pela Unesp (1998)
>>> Os Manuscritos Perdidos de Charlotte Bronte pela Faro Editorial (2019)
COLUNAS >>> Especial Internet 10 anos

Sexta-feira, 4/11/2005
Internet 10 anos - 1995
Julio Daio Borges
+ de 5500 Acessos

Em 1995, eu estava na Poli. Antes, também, e antes eu já ouvira falar da internet. Da internet, não da WWW. Tem diferença? Tem. Internet é a rede; WWW é a interface. Vou explicar.

Antes de 1995, eu ouvia falar de uma rede em que as pessoas entravam. Era em DOS. Era antes do Windows 95. Você lembra? É bem provável que não. DOS era aquela interface com tela de fundo preto, onde você digitava comandos e onde o computador se reduzia ao Windows Explorer. Precário. Você podia listar diretórios (hoje, pastas), abrir diretórios, criar diretórios, renomear diretórios... e rodar arquivos. Arquivos de software — aplicações e outros quetais.

Mas não vou entrar muito nos primórdios, senão a gente perde o foco.

Meus colegas, quase todos da Computação da Elétrica da Poli — que faziam estágio lá dentro —, exploravam os diretórios da internet. Antes de 1995. E pegavam um monte de coisas no escuro. Eles listavam diretórios (ou pastas), iam entrando em árvores (de diretórios ou pastas), listavam os arquivos, escolhiam alguma coisa pelo nome e "baixavam" (download). Não sabiam para que a coisa servia; não tinham a menor idéia do que baixavam. Simplesmente baixavam e rodavam.

Às vezes encontravam coisas legais. Na época, quando queríamos dividir arquivos uns com os outros, passávamos disquetes e tínhamos de "compactar" (para caber mais). Não havia internet; não havia e-mail — lembra? (Não, você não lembra.) É muito simples: eu tinha um arquivo em Word, o relatório de uma experiência, por exemplo; queria que meu colega olhasse; copiava num disquete e passava. Era uma "internet" manual. Era a internet à manivela da época.

Muitas vezes, não eram apenas arquivos em Word. O próprio Word, por exemplo. Quando saiu a versão 6.0 do Word, da Microsoft — digo, do programa —, foi uma festa. Olhávamos aqueles menus (e aqueles ícones) espantados. (Quem lê tanta notícia?) Quem aperta tanto botão?

Acontece que o Word, o programa, era pesado. Não havia CD; não havia CD-ROM. (Você lembra?) Então a gente usava um negócio que chamava "ARJ". O ARJ era um "compactador", um Winzip da vida — antes do Winzip; antes do Zip (que era o mesmo compactador de hoje, em versão pré-Windows). É possível? É. Imagine um mundo com computador, mas sem Windows 95. Esse era o mundo antes de 1995.

Assim, meus amigos "baixavam" coisas dos diretórios da internet. E para você ter uma idéia de como eram aqueles anos, um dia, um deles chegou todo feliz porque havia baixado uma versão do ARJ para Windows. Que maravilha.

Pra que servia? Você pode se perguntar... Talvez para nada. A internet não era uma coisa pra gente normal; era a "internerd" ainda.

Nesse tempo de diretórios e arquivos, eu não acessava a internet. Eu não fazia estágio na Poli; eu só ouvia falar. A Web, a WWW, a World Wide Web, digo, era uma coisa insípida. Quem navegava pelos diretórios, em DOS, esnobava quem navegava pelas páginas (como nós navegamos agora). O pessoal dos diretórios dizia que a Web era muito lenta pra eles e que eles preferiam entrar em pastas atrás de arquivos...

Em 1994, já estávamos no terceiro ano da faculdade e a turma começava a fazer estágio. Começava a participar daqueles horrendos processos de seleção. Eu fui conseguir um estágio em 1995; o ano fatídico em que a internet comercial no Brasil começou.

Cansado das grandes empresas, e dos longos processos de seleção, de repente vi um anúncio no mural da Poli Elétrica, convidando para um estágio com reconhecimento de voz. Meus amigos que estagiavam na faculdade diziam que era boa lá a vida e que os professores eram mais compreensivos com os horários malucos da própria Poli (coisa que os empregadores nem sempre aceitavam). Então eu segui as diretivas do anúncio e me apresentei num determinado dia, num determinado horário.

Eu tinha uma parca noção do que era "reconhecimento de voz". Eu obviamente sabia que devia ser alguma coisa ligada a "comandos de voz" e talvez o máximo que eu conseguia evocar era o sujeito dirigindo o carro no seriado A Super Máquina (!). O professor, em linhas gerais, explicou o que era o estágio — e eu encerrei a entrevista com uma pergunta sobre aplicações, na vida real, desse tal de reconhecimento de voz. O professor murmurou alguma coisa sobre caixas eletrônicos de banco. Me pareceu interessante...

Dias depois, tocava o telefone da minha casa (celular havia, mas ainda era caro), informando que eu "havia ganho a bolsa", que eu — em bom português — havia sido aceito no estágio. Fiquei contente. E me apresentei na mesma sala de reuniões de novo.

O estágio começou. Apesar do glamour da história do "reconhecimento de voz", era mais uma coisa teórica em torno de "modelos lineares" (e não-lineares) para reconhecimento de voz humana. O que isso significava na prática? Significava que ficávamos programando em C++ (linguagem da qual você provavelmente não deve se lembrar) até encontrar um "modelo" (ou algoritmo) que gerasse (ou reconhecesse) determinadas ondas (ou freqüências) que correspondessem, sei lá, à vogal "A". Mais fácil: montávamos equações que representassem o "A" pronunciado pelo Homo sapiens. Qualquer Homo sapiens. Qualquer "A". E assim vai...

Nem preciso dizer que eu me aborreci logo. O que salvava o estágio era uma sala em que todos entravam e se encontravam. A sala da internet (vamos chamá-la assim, embora eu não me lembre do seu verdadeiro nome, na verdade). Está muito chato este relato?

Eu não estou certo de haver um motivo específico para a "sala da internet" ser tão freqüentada, a não ser pelo fato de que era justamente a sala onde a internet podia ser acessada... Ocorre que todo mundo passava por lá. Estagiários e não-estagiários; funcionários e não-funcionários; professores e não-professores; secretárias e não-secretárias... Havia um ou outro computador; o resto eram workstations ou "estações de trabalho", que rodavam Linux (eu lamento pela especificidade do vocabulário, mas aqui é inevitável...). O Linux de 1995 era grego pra mim; eu me limitava a alguns comandos. Criar pastas, gravar arquivos e navegar. Só.

Não lembro do primeiro site que fui visitar. Havia homepage nessa época? Também não sei mais. A internet, no Brasil, era basicamente universitária (pelo menos em matéria de acesso) e eu me lembro de um site da Unicamp. Mas meu interesse, na época, era música.

Eu estava descobrindo o Frank Sinatra e lembro que achei sua discografia completa na internet. Um achado. Também, uma porção de fotos que comecei a gravar. (Meus colegas mais nerds de estágio coletavam, previsivelmente, fotos de "mulher pelada" — e gravavam CDs para, depois, espalhar). Havia algum mecanismo de busca... Qual? O Yahoo!? Meus interesses musicais ainda se inclinavam para o rock pesado e, enquanto eu fazia minhas pesquisas sobre o Sinatra (ele estava vivo, lembra?), descobria os diários de gravação do Ozzy Osbourne. O Ozzy estava em Paris (muito antes do The Osbournes...) — ou em outro lugar da Europa — e contava, todo dia, no seu site, como havia sido a gravação do dia anterior. Não havia blog — mas era o primeiro blog que eu acessava.

Espalhei entre meus outros amigos a notícia da internet. E as reações, em 1995, eram as mais variadas. Uns pediam pra ver. Eu mostrava. Um amigo, fã dos vampiros da Anne Rice (era a época do Vampiro Lestat), pedia para "fazer uma busca" com a palavra-chave "rice". Caímos em sites de arroz. Plantas geneticamente modificadas... Outro amigo, ou quase, insistia praticamente todo dia pra eu lhe mostrar a WWW. "Quero ver essa porra funcionando", ele confessava, sem meias palavras.

Semanas depois, eu recebi o telefonema de um terceiro, na minha casa, querendo saber como acessar a internet da USP direto de sua casa. Era complicado. Eu sabia dessa história: sabia que — se você tivesse modem (lembra?) — havia um jeito de se conectar com a USP e de "puxar" a internet de lá. O negócio era tão novo que nem havia ainda o vocabulário. "Provedor?", nem pensar. Só em 1996. Mas, aí, já é outra história...


Julio Daio Borges
São Paulo, 4/11/2005

Quem leu este, também leu esse(s):
01. As histórias magras de Rubem Fonseca de Cassionei Niches Petry
02. As ruas não estão pintadas. E daí? de Duanne Ribeiro
03. Os últimos soldados da Guerra Fria de Luiz Rebinski Junior
04. Sobre viver em qualquer lugar de Lisandro Gaertner
05. Autor não é narrador, poeta não é eu lírico de Ana Elisa Ribeiro


Mais Julio Daio Borges
Mais Acessadas de Julio Daio Borges em 2005
01. É Julio mesmo, sem acento - 1/4/2005
02. Melhores Blogs - 20/5/2005
03. O 4 (e os quatro) do Los Hermanos - 30/12/2005
04. Não existe pote de ouro no arco-íris do escritor - 29/7/2005
05. Schopenhauer sobre o ofício de escritor - 9/9/2005


Mais Especial Internet 10 anos
* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site



Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Esperando O Fim De Semana
Witold Rybczynski
Record
(2000)



O universo de Jorge Amado: Caderno de leituras e orientações para o trabalho em sala de aula
Vários Autores
Companhia Das Letras



Literatura Estrangeira Espártaco Coleção Grandes Sucessos
Howard Fast
Abril Cultural
(1981)



Os Imperfeccionistas
Tom Rachman
Record
(2011)



O Mestre dos mestres
Augusto Cury
Academia de inteligência
(2001)



Pão amargo
Jadwiga J. Mielzynska
Educ
(1997)



Por uma Vida Mais Doce
Danielle Noce; Beatriz Sanches
Melhoramentos
(2014)



O Desenho Cultivado Da Criança: Prática E Formação De Educadores
Rosa Iavelberg
Zouk
(2006)



João Cabral de Melo Neto Cadernos de Literatura Brasileira
Instituto Moreira Salles
Instituto Moreira Salles
(1997)



O Último Trem de Berlim
George Blagowidow
Summus
(1978)





busca | avançada
37550 visitas/dia
2,0 milhões/mês