Um raio-x da violência | Fabio Silvestre Cardoso | Digestivo Cultural

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Quinta-feira, 19/1/2006
Um raio-x da violência
Fabio Silvestre Cardoso
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As notícias sobre crimes nos jornais e na TV causam desconforto na população, e surpreendem até mesmo os mais calejados com o chamado mundo-cão (repórteres, apresentadores de TV dos programas sensacionalistas e também policiais civis e militares). Só neste mês de janeiro, na semana em que escrevo esta coluna, os jornais destacam: a tentativa frustrada de resgate de presos no presídio de segurança máxima de Presidente Bernardes (foram apreendidos mísseis e armas de grosso calibre); uma série de atentados às bases da Polícia Militar em São Paulo (foram feitos inúmeros disparos em direção às cabines); sem mencionar a prisão dos envolvidos no caso do incêndio a um ônibus no Rio de Janeiro. Como se vê, a gravidade dos crimes já não pode mais ser medida segundo o mais estarrecedor. Em verdade, as atrocidades até mesmo se igualam pelos requintes de crueldade, seja pelo número de mortos, seja pela "modalidade" de crime escolhido. Para entender a lógica dos assassinatos, o jornalista Bruno Paes Manso assina O Homem X (Record, 2005, 364 págs.), livro-reportagem que busca trazer à luz a alma do assassino em São Paulo.

O fato de ser um livro-reportagem (cujo título é uma alusão à série X-Men, graças ao depoimento de um entrevistado) pode fazer com que os leitores imaginem um texto mais enviesado e estilístico, uma vez que está livre das amarras dos manuais de redação dos jornais, abrindo, assim, espaço para uma verve literária. De fato, muitos jornalistas enveredam por esse caminho, talvez mais atraente, porém quase sempre subjetivo e repleto de imperfeições conceituais que, grosso modo, são esquecidas pelos críticos porque a forma de contar a história é bonita. Para o bem ou para o mal, Bruno Paes Manso manda o novo-jornalismo às favas. Faz, antes, um trabalho árduo de pesquisa e apuração que dá conta do tema de maneira fora do comum. Nesse caso, há de se levar em conta o fato de o autor utilizar como metodologia de pesquisa jornalística os parâmetros da academia. O resultado, assim, é um ensaio acadêmico com tema de relevância geral e com linguagem acessível.

Desde o início, o autor apresenta para o leitor qual é o tema de sua pesquisa, mas não pára por aí. Uma vez relatado o objetivo a ser alcançado, Paes Manso sai à cata dos elementos necessários para transformar a idéia em texto; a intenção em conclusão; o abstrato em real. Desse modo, os números, que, na maioria das vezes, funcionam mais como peça decorativa do que documento ilustrativa são interpretados de maneira a evidenciar a gravidade de alguns casos, assim como o absurdo de outros. Boa parte dos leitores se surpreende ao descobrir que a violência, em determinadas áreas da cidade, está de igual para igual com algumas regiões dos Estados Unidos. Da mesma maneira, os índices nas regiões mais calamitosas, como Parelheiros, atinge a incrível marca de 106 mortos para cada 100 mil habitantes.

Além dos números, o jornalista calibra a reportagem com o relato dos principais personagens do livro: os próprios assassinos. Para isso, Paes Manso quebra o protocolo e vai encontrá-los. Aqui, provavelmente, o código de ética jornalístico provavelmente diria que o repórter foi imprudente ao se expor. Em outro momento, não só o código de ética, mas a patrulha do jornalismo politicamente correto também diria que Paes Manso errou ao manter o nome dos envolvidos em sigilo, respeitando o desejo de sua fonte. Nos dois casos, muito embora o autor tenha plena consciência disso, é como se seu trabalho respondesse: "a teoria, na prática, é outra".

Jornalismo de interpretação
Entre todas as virtudes, a que mais se destaca é a aposta interpretativa feita por Bruno Paes Manso. Graças a seu respaldo intelectual, o jornalista é capaz de desvendar as falácias elementares que constituem o discurso raso da maioria dos formadores de opinião e também da sociologia pseudo-humanista, aquela que formula a intelligentsia das ONGs e dos grupos de direitos humanos. Em outras palavras, Paes Manso analisa os crimes para além de querer justificar a intenção dos assassinos, mas não cessa de buscar as causas que direcionam as pessoas a cometerem tais crimes.

É o que se observa o autor quando analisa o argumento de alguns assassinos quando estes tentam explicar a razão de seus crimes. No caso, alguns entrevistados alegam que, na primeira vez, matam num ato impensado, como se não tivessem premeditado a ação. Daí, o argumento fácil de muitos analistas é o de minimizar esses crimes, como se fossem de menor gabarito. Paes Manso descarta esse argumento. "O sujeito não mataria simplesmente porque estava bêbado, por não ser civilizado e não conter seus impulsos, mas porque acredita que matar faz parte das regras do jogo e lhe traz benefícios, crença que o leva a tomar decisões incompreensíveis para quem observa de fora. (...) é forte a cultura da justiça privada".

De fato, essa cultura da justiça privada, segundo o autor, é, num primeiro momento, fomentada pelas organizações criminosas, mas o motor dos assassinatos prossegue independente das bancas ou das máfias, pelo menos em São Paulo. E isso está indicado nos dados (novamente as estatísticas) apresentados na reportagem. Segundo consta, a maioria dos homicídios tem como principal causa um problema pessoal, e não uma questão ligada ao pagamento de dívidas ou a guerras de gangues, como ocorre no Rio de Janeiro.

A comparação com o Rio de Janeiro, aliás, é precisa, conforme mostra o autor, para não só acentuar as diferenças como também para entender a complexa engrenagem do crime. Tomando como base os primórdios da violência no país, ainda no século XX, Paes Manso explica como o crime evoluiu de um modus operandi mais amador, quase ingênuo, numa época em que se matava por crimes ligados à honra (lembrar da história de Euclides da Cunha e seu algoz, Dilermando) a um período em que a vida está tão banalizada que a chacina se justifica simplesmente pelo seu custo benefício.

Homem X é um livro que tinha tudo para ser mais uma tese repleta com os clichês da academia e o discurso dos Direitos Humanos sobre a violência. Felizmente, não é. A obra dá um panorama ímpar e completo do atual estado de coisas da criminalidade - dos assassinatos, sobretudo - na cidade de São Paulo. Uma reportagem para ler com atenção e sem medo.

Para ir além






Fabio Silvestre Cardoso
São Paulo, 19/1/2006

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