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COLUNAS

Segunda-feira, 16/10/2006
O encontro marcado: 50 anos
Rafael Rodrigues
+ de 14800 Acessos
+ 4 Comentário(s)

Fernando,

Passei dias pensando em como iniciar esta carta. É de extrema audácia escrevê-lo, pela pessoa que é e pelo que representa para a nossa literatura. E é no mínimo ambicioso esperar uma resposta. Sendo assim admito: sou audacioso e ambicioso. Fico feliz em ver estas linhas escritas, e melhor, as palavras fluindo naturalmente.

Acho que fiquei inspirado ao iniciar a leitura de
Cartas a um jovem escritor, no volume três de sua Obra Reunida, o qual tomei emprestado da biblioteca da faculdade. Isso me faz lembrar um detalhe: ainda não me apresentei.

Meu nome é Rafael, tenho 19 anos e estou cursando Licenciatura em Letras Vernáculas na Universidade Estadual de Feira de Santana. Para lhe ser sincero, não me recordo do primeiro contato com alguma obra sua. Quero dizer, a forma como se deu esse contato. A obra me lembro muito bem:
A volta por cima, que rapidamente li, em uma tarde. Gosto muito de crônicas, ainda mais quando elas passam uma mensagem positiva e são bem-humoradas, como as suas. A partir de então, tenho lido livros seus um atrás do outro. Os romances O menino no espelho, O grande mentecapto e O encontro marcado. Algumas novelas suas (6 delas), e vários livros de crônicas e histórias (7 por enquanto). E ainda vem mais por aí. Definitivamente, tornei-me seu fã.

O senhor deve estar se perguntando: "o que é que esse cara está querendo?" Bem, talvez não esteja, mas mesmo assim, responderei a pergunta acima.

Em primeiro lugar, escrevo com a intenção de demonstrar minha profunda admiração pela sua obra e pela sua pessoa. Tenho aprendido bastante com seus textos. Percebi afinal que no fim dá certo. Se não deu, é porque não chegou ao fim. Também escrevo com a intenção de ter notícias suas, afinal, escritores no Brasil não costumam ser alvo de curiosidade e pouco dão as caras na mídia. Espero que esteja tudo bem com o senhor.
(*)

Os parágrafos acima fazem parte da primeira carta que enviei ao escritor Fernando Sabino. Isso foi em janeiro de 2003.

Um dos maiores escritores de nossa literatura (o maior, para mim), Fernando Sabino exerceu, e continua exercendo sobre mim, uma influência muito forte.

Em alguma manhã de 2002, encontrei em uma das estantes da biblioteca da UEFS, um exemplar do livro A volta por cima, de crônicas. Lembro que li o livro naquela mesma tarde, como escrito está na carta. A partir daquele dia, tentei ler todas as obras de Fernando Sabino disponíveis na biblioteca. Hoje me orgulho de poder apontar quais livros do escritor mineiro eu não li. Apesar de admitir que preciso reler muita coisa. As leituras que fiz, naquela época, foram as de um jovem deslumbrado, que acabara de redescobrir a paixão pela literatura, no ginásio perdida.

Mas uma dessas leituras fora especial. Me refiro ao romance O encontro marcado (Record, 2006, 288 págs.), que completa, neste mês de outubro, 50 anos de publicado, e acaba de ganhar uma edição especial comemorativa. (**)

Considerado por muitos como a obra-prima de Fernando Sabino, O encontro marcado é um romance como poucos. Por que? Responderei fazendo algumas perguntas.

Um clássico literário, uma obra-prima, é: um livro bem escrito que - caindo naquele velho clichê - faz uma análise da condição humana? Que é um divisor de águas na carreira do escritor e na própria literatura produzida em seu país, na época em que publicado? Um livro que é capaz de abalar o leitor a tal ponto de ele mudar sua maneira de ser e de ver o mundo?

Tratando-se de O encontro marcado, a resposta para todas as perguntas acima é "sim".

É quase impossível passar ileso por sua leitura. Eduardo Marciano, o protagonista do romance, pode ser qualquer um de nós. Qualquer um de nós pode se identificar com Eduardo Marciano. E muita gente gostaria de ser o próprio. Principalmente jovens aspirantes a escritor. Até porque o protagonista é um.

Mas Eduardo Marciano não é só isso. Ele é o menino que cria uma galinha, a Eduarda. Ele é o jovem campeão de natação que busca no esporte uma via de escape para os seus conflitos. Jovem esse que cedo se casa e logo se vê preso a uma relação que em pouco tempo resulta em fracasso. Um homem que quer ser escritor mas não tem coragem (ou teria ele medo?; há uma grande diferença entre uma coisa e outra...) de começar a escrever um livro. Ele não sabe ao certo o quê procura ou onde quer chegar. A vida o empurra depressa demais e o coloca frente ao inevitável. Era o seu destino. Como diz o personagem em algumas oportunidades: ele não escolheu, fora escolhido.

Conflitos de toda uma geração. E de gerações seguintes. Eduardo Marciano é, ao mesmo tempo, Fernando Sabino (pois muito do personagem se confunde com a vida do autor) e, também, toda a juventude da década de quarenta, época em que se passa a história.

"Em O encontro marcado pretendi deliberadamente usar minha vida como tema. Foi escrito num momento decisivo para mim. (...) Não teria condições de sobrevivência se não escrevesse sobre o que havia vivido até aquele momento". (***)

Fernando terminou de escrever o romance em julho de 1956, poucos meses antes de completar trinta anos.

"Ao todo, levei dois anos para terminá-lo. Tive de reescrever tudo três vezes. Enveredei por vários atalhos sem saída, escrevi 1300 páginas para aproveitar só 320. Ao fim, posso dizer que meu irmão espiritual Eduardo Marciano me proporcionou, ainda que breve, um encontro comigo mesmo".***

Eu, quando li O encontro marcado pela primeira vez, tinha dezenove anos. Desde então, todo ano leio trechos do livro. De lá para cá, duas foram as releituras completas. E não tenho vergonha de dizer: choro em todas elas. É como se o livro fosse uma fonte de energia para mim. Sem ele, não conseguiria avançar os anos, nem perseguir meus objetivos.

Porque eu também puxo uma angústia.
Porque eu também tenho pressa de viver.
Porque eu também sei que preciso, sempre, recomeçar.

"Fazer da interrupção um caminho novo. Fazer da queda um passo de dança, do medo uma escada, do sono uma ponte, da procura um encontro". (****)

* Relendo a carta, percebi uma série de erros. Como o texto foi enviado a Fernando Sabino com os tais erros, mantive o texto tal qual ele leu.

** A edição comemorativa de O encontro marcado vem com fotos do álbum de família do escritor, um selo especial na capa e depoimentos de leitores sobre a importância que teve o livro em suas vidas. Um dos leitores é este que vos escreve.

*** Trechos de O tabuleiro de damas, um esboço de autobiografia, segundo o próprio Sabino.

**** Trecho de O encontro marcado.

Nota do Editor
Rafael Rodrigues é estudante de Letras e também publica no blog Entretantos.

Para ir além






Rafael Rodrigues
Feira de Santana, 16/10/2006

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01. A música clássica ensurdece a democracia caótica de Wellington Machado


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COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
16/10/2006
10h02min
Eu era muito novo na época da leitura (16 anos), mas sempre o considerei como meu livro fundamental, porém na época em que o Fernando Sabino escreveu a biografia da Zélia eu fiquei fulo da vida, e guiado pelos pensamentos imaturos, próprios da juventude, eu reneguei a figura do Sabino. Não me comoveu saber que ele estava numa crise financeira braba e que fez aquilo porque precisava de dinheiro. Os anos passaram e eu compreendi que viver não é fácil e a coerência que eu exigi do meu ídolo era irrealizável e voltei a comprar um exemplar do "O Encontro Marcado" e passei a alimentar a esperança de que seria lançado um livro com a continuação da história do Eduardo Marciano. Na época na morte do Sabino foi noticiado que ele tinha começado a escrever a continuação, mas que havia proibido a publicação. Não pude deixar de pensar que ele estava se vingando daqueles que o agrediram na época da publicação do livro da Zélia.
[Leia outros Comentários de Marcelo Souza]
16/10/2006
14h33min
Os melhores escritores, os que dialogam com o leitor, são aqueles com quem dá vontade de bater um papo (mesmo que imaginário) num café, tarde chuvosa, como se fossem grandes amigos.
[Leia outros Comentários de Maria Celina]
23/10/2006
15h54min
Grande Fernando Sabino. Eneida de Moraes também escrevia como se estivesse batendo um papo muito gostoso. Leiam "Banho de Cheiro" de Eneida. Valeu.
[Leia outros Comentários de carlos eduardo perei]
25/1/2009
20h55min
Sabe quando você termina um livro e pensa "Parece que foi escrito pra mim"? "O encontro marcado" é assim. É o livro da minha vida.
[Leia outros Comentários de Clarissa ]
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