Uma nota sobre a leveza do ser | Marcelo Maroldi | Digestivo Cultural

busca | avançada
50461 visitas/dia
1,7 milhão/mês
Mais Recentes
>>> Erupção [ColetivA Ocupação] + Refúgio [Núcleo de Dança Menos 1 Invisível]
>>> Responsabilidade dos planos de saúde na cobertura de tratamentos para autistas
>>> Eunucos [Irmãs Brasil] + Repertório N.3 [Wallace Ferreira e Davi Pontes]
>>> Projeto com concertos gratuitos promove encontro entre obras de Haydn, Mozart e Brahms em outubro
>>> Trajetórias Cruzadas reúne fotografias de Claudia Andujar, Lux Vidal e Maureen Bisilliat
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> Por que não perguntei antes ao CatPt?
>>> Marcelo Mirisola e o açougue virtual do Tinder
>>> A pulsão Oblómov
>>> O Big Brother e a legião de Trumans
>>> Garganta profunda_Dusty Springfield
>>> Susan Sontag em carne e osso
>>> Todas as artes: Jardel Dias Cavalcanti
>>> Soco no saco
>>> Xingando semáforos inocentes
>>> Os autômatos de Agnaldo Pinho
Colunistas
Últimos Posts
>>> O jovem Tallis Gomes (2014)
>>> A história do G4 Educação
>>> Mesa do Meio sobre o Primeiro Turno de 2024
>>> MBL sobre Pablo Marçal
>>> Stuhlberger no NomadCast
>>> Marcos Lisboa no Market Makers (2024)
>>> Sergey Brin, do Google, sobre A.I.
>>> Waack sobre a cadeirada
>>> Sultans of Swing por Luiz Caldas
>>> Musk, Moraes e Marçal
Últimos Posts
>>> O jardim da maldade
>>> Cortando despesas
>>> O mais longo dos dias, 80 anos do Dia D
>>> Paes Loureiro, poesia é quando a linguagem sonha
>>> O Cachorro e a maleta
>>> A ESTAGIÁRIA
>>> A insanidade tem regras
>>> Uma coisa não é a outra
>>> AUSÊNCIA
>>> Mestres do ar, a esperança nos céus da II Guerra
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Peias
>>> O melhor programa cultural
>>> Elesbão: escravo, enforcado, esquartejado
>>> Uma noite no desfile de moda
>>> Chomsky ontem e hoje
>>> Os autômatos de Agnaldo Pinho
>>> Receita para se esquecer um grande amor
>>> Tiranos, de Antonio Ghirelli
>>> Gente
>>> Telemarketing, o anti-marketing dos idiotas
Mais Recentes
>>> Á Espera de um Milagre de Stephen King pela Planeta DeAgostini (2004)
>>> Diários Do Vampiro Vol.3 - A Fúria de L. J. Smith pela Galera Record (2010)
>>> Tecnologias 3d. Desvendando O Passado, Modelando O Futuro de Jorge Lopes; Antonio Brancaglion JR. pela Lexikon (2014)
>>> Lisboa Em Pessoa de Joao Correia Filho pela Leya (2010)
>>> Guia De Plantas Tropicais de Andreas Bartels pela Lexikon (2007)
>>> Arquitetura e Judaísmo: Mendelsohn de Bruno Zevi pela Perspectiva (2002)
>>> Buracos Negros de Stephen Hawking pela Intrinseca (2018)
>>> Edipo Rei de Sófocles pela Zahar (2018)
>>> Sereias Sensuais Do Cinema de Dave Worrall pela Dave Worrall; Lee Pfeiffer (2021)
>>> Como Ver Um Filme de Ana Maria Bahiana pela Nova Fronteira (2012)
>>> Música Secreta : Minha Viagem Ao Brasil : 1816-1821 de Rosana Lanzelotte pela Arte Ensaio (2009)
>>> A Grande Ousadia: O Alimento Como Terapia Para A Vida de Smialowski pela Mapa Lab (2021)
>>> Limpeza do Figado e da Vesicula de Andreas Moritz pela Madras (2013)
>>> A Arte De Mandar Em Português. de João Malaca Casteleiro pela Lexikon (2014)
>>> Maya de Jostein Gaarder pela Companhia Das Letras (2000)
>>> Cânone Gráfico Volume 2 de Russ Kick pela Boitempo (2014)
>>> Cânone Gráfico Volume 1 de Russ Kick pela Boitempo (2014)
>>> A Intervenção da Cut Nas Políticas Públicas de Geração de Trabalho de Ana Maria Saul; outros pela Unitrabalho (2003)
>>> O Plano Astral de C W Leadbeater pela Pensamento (2000)
>>> A escravidão no Brasil 2 volumes de Perdigão Malheiro pela Vozes/ Mec (1976)
>>> O Fim Do TRabalho Manual de Neli Ortega pela Clube DE Autores (2021)
>>> O Povo Em Armas de Jorge Mattar Villela pela Ediouro (2024)
>>> Voleibol E Midia de Vários Autores pela UMa Sacada De Ouro (2007)
>>> Como E Bom Cunha Beatriz Mon Ed. 2004 de Cunha pela Fisicalbook (2004)
>>> Dicionário De Dificuldades Da Língua Portuguesa de Domingos Paschoal Cegalla pela Lexikon (2009)
COLUNAS

Quinta-feira, 9/11/2006
Uma nota sobre a leveza do ser
Marcelo Maroldi
+ de 5900 Acessos
+ 10 Comentário(s)

Em diversos e desgastantes momentos, caro leitor, meu peito pesou tanto que me custava em demasia carregá-lo junto de mim. Nessas ocasiões, as noites eram bastante longas, às vezes duravam dois ou três dias inteiros, e eu ficava ali, solitário, estirado na cama, pensando em tudo (e em todos), contemplando o teto, cozinhando em banho-maria o que nem sempre eu compreendia tão bem, ruminando feito um bovino quixotesco aquele resto de frustração e de indagação metafísica que me sufocava. Mas, isso fora em outros tempos...

Foi em um dia ordinário de primavera. Não chovia, nem fazia frio, pelo contrário. O sol nascente castigava sem piedade a minha pele alva e inexperiente, por vezes tola. A cortina cinza não protegeu meu rosto barbudo como deveria e acordei incomodado com mais um dia em que nada de novo aconteceria debaixo deste céu. Antes de me atentar ao fato, ainda tive tempo de maldizer rapidamente o surgimento do perverso astro-rei, totalmente arrogante, a competir comigo, quase. Quase. No instante em que o relógio marcou precisos 08h12 de uma terça ou quarta-feira qualquer, descobri, pela segunda vez em minha vida, a leveza do ser, da qual confecciono esta singela e descompromissada nota. Eu era outro; leve - levíssimo! - e com o coração tão feliz e transbordante que, acredite, custei a crer que era eu mesmo que lá estava, sorrindo, respirando, e não algum espírito zombeteiro que se apoderara a revelia de meu corpo e mente antagônicos e sonhadores. Ah, eu estava tão lúcido!

Pensei: morri e não me avisaram, desgraçados...

Claro, claro, mantive-me contente na seqüência, não negarei. Porém, não ouso dizer que entendia minimamente o que ocorria. O ser não é leve por natureza, pelo contrário. Os que se julgam assim, eu os tinha por insanos. A vida é complicada, difícil, custosa, não tem absolutamente nada de leveza! E não me canso de afirmar: a ignorância é uma benção, não restam dúvidas. Pensar dói, meu amigo, machuca, estraçalha, veja aí o que sobra dos pobres dos filósofos, por eles mesmos já fartamente descritos. Dá pena olhar aqueles homens, curvados sobre os livros, sobre suas corcundas salientes, barbas longuíssimas e desordenadas, uma cara de pensativo ou louco, um rosto de (alguma) tristeza, um coração pesado. Pensar até mata, sabia? Ignorante não sofre, não bebe cicuta e não se suicida, nem chora, acho. Quem foi que inventou esse negócio de leveza?, dá pra me explicar! Certamente não foi um pensador! (e aquele negócio de existencialismo então, hein? Que maluquice, rapaz, coisa de gente triste, não é? (sic))

Levantei e bebi água. Bastante e de uma vez só. Esta, surpreendentemente, não fervilhou enquanto descia vagarosa pela minha garganta, chegando ao local em que viria a se depositar em seguida de maneira quase natural. Estranhei. Torci o nariz. Eu não tinha dores nas costas, os meus ombros não estavam curvados, o meu cabelo até acordou penteado, acredita? Meus pés flutuaram um instante. E então aconteceu. Estava ali, diante de mim... As nuvens eram azuis, já havia me esquecido da tonalidade exata. As pessoas caminhavam pela rua ligeiras - olhei da varanda, a maioria sorria. Alguns mais estranhos até cantarolavam. Uma senhora magrinha estendia tranqüilamente a roupa no varal, inesquecível a cena. Era uma camisa amarela, ligeiramente surrada, que ficou presa ali por dois pequenos prendedores de madeira de vinte e cinco centavos o par. O cão pulava agitado sobre a senhora, anunciando mais um bom dia. O sol agradava a ambos. E eu não tinha o direito de desafiá-los...

Pensei: afinal, que diabos estou fazendo?

Nenhum deles tinha o direito de agir assim. Ou tinham?, vai saber. Respirei fundo, fundo..., tão profundamente que senti toda a leveza do ser percorrendo minhas entranhas renascidas. O sangue começou a circular. O peito iniciou um formigamento, bem como as demais partes onde o combustível vermelho da vida estivera ausente nos últimos tempos. Como a gente complica a vida, não é? A felicidade é um negócio que existe, é verdade. E então, obter essa leveza torna-se a maior medalha que alguém possa vir a conquistar nessa vida. É encostar a cabeça no travesseiro e dormir, até sonhar pode, se quiser. Depois, é percorrer o dia sem medo que ele se encerre, sem medo que a escuridão se apresente. Mas também sem esperar que o dia se eternize. E, por fim, não temer o dia de amanhã, nem desejar domá-lo ou direcioná-lo. Seguir em frente. Sempre. E de novo. Não, não, não, isso não. Mil vezes não! "O imponderável pertence a Deus, o importante é a gente fazer a nossa parte" (José de Morais, poeta).

Depois, os dias passaram a ser menos custosos. Descobri que os pássaros ainda não haviam sido extintos do planeta. As horas duravam apenas os sessenta minutos pré-estabelecidos. Havia outros poetas que não os sofredores. Mais opções que não a de esperar por ela. Um amigo me explicou que isso era um estágio de evolução pessoal e que aprender a ser feliz era uma disciplina que alguns deixavam de cursar na escola da vida. Aprendiam tarde e depois a praticavam, ou não. A euforia momentânea poderia ser cultivada pelo resto dos dias, e isso deveria ser definido simploriamente como felicidade. E quando se toma gosto pela coisa toda, fica difícil voltar para trás. Feito um vício assassino, passa ela a controlar sua vida, dirigir os seus passos, guiar as suas ações, até te moldar. Irradia aos que te cercarem, contamina-os. Pensar dói, ser sentimental então, nem se fala!, mas ser feliz, sentir e pensar podem ser conciliáveis, parece. Evoluir é preciso para evitar o olhar muito distante e o rosto sempre cansado, e para que seja entendido o que te impedia de sentir a saborosa e consoladora leveza do ser...

Marcelo Maroldi
São Paulo, 9/11/2006

Mais Marcelo Maroldi
Mais Acessadas de Marcelo Maroldi em 2006
01. Receita para se esquecer um grande amor - 3/8/2006
02. Dos amores possíveis - 20/3/2006
03. A educação atual de nossas crianças - 27/2/2006
04. A crise dos 28 - 30/1/2006
05. Novos escritores? Onde? - 25/5/2006


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site

ENVIAR POR E-MAIL
E-mail:
Observações:
COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
6/11/2006
16h39min
Depois da tempestade... os olhos se abrem para novos horizontes. E como o dia parece mais belo então... Assim a gente vai aprendendo a enfrentar as tormentas da vida. Concordo com você, Marcelo, quando diz que "pensar dói" e que "ser feliz, sentir e pensar podem ser conciliáveis". Parabéns mais uma vez! É sempre um prazer ler os seus textos.
[Leia outros Comentários de Rose Peixer]
9/11/2006
23h00min
Uma vez uma li uma reportagem sobre a flauta mágica de Mozart, onde o autor, embevecido com a beleza da música, atestava o seu puder curativo contra a depressão. Esse ensaio, Marcelo, também é curativo pela leveza da vida que você transmite com as palavras. Tenho que agradecer-lhe e felicitá-lo. Uma beleza!
[Leia outros Comentários de cissa lafayette]
10/11/2006
17h50min
Eu também gostei bastante. Sou novo por aqui: Achei hoje. Estou adorando!
[Leia outros Comentários de thiago]
13/11/2006
07h40min
Ótimo texto. Parabéns mais uma vez.
[Leia outros Comentários de Janethe Fontes]
13/11/2006
08h58min
Oi, Marcelo, então você já acomodou as coisinhas dentro de você. Nós, leitores, nos deliciamos com esse seu maravilhoso acordar. Boa sorte!
[Leia outros Comentários de Iza]
14/11/2006
21h30min
se a ignorância fosse a mãe da felicidade, neguinho não seqüestrava ônibus, não dava seis tiros na cabeça dos outros. infelizes podem ser os pensantes e os não-pensantes. E você tá de parabéns pela sua recém adquirida felicidade - que ela dure pra sempre.
[Leia outros Comentários de lea freire]
29/11/2006
20h05min
Feliz em ler voce aqui de novo, de volta, com mais um texto apaixonante. Leveza, calmaria...
[Leia outros Comentários de Luciana]
2/12/2006
10h25min
Parafraseando Euclides da Cunha "ou progredimos ou desapareceremos". Eu acho vital o ato do questionamento. Se alguém não o faz, é como você disse: prefiro a solidão pensante do que ficar na companhia de pessoas que não tem nada acrescentar a vida.
[Leia outros Comentários de Elvis Mutti]
2/12/2006
10h51min
Tudo vai da maneira como vemos as coisas... É preciso ver o que há de bom. Ser feliz não é facil, tem que insistir.
[Leia outros Comentários de Dri]
9/2/2007
15h33min
Adorei seus textos, mas em uma coisinha me incomodou: moro em uma cidade em que o sol brilha quase que os 365 dias do ano. E adoro ao acordar e ver o "astro rei" brilhando e me dando um caloroso bom dia. Basta isso para iluminar o meu dia. Bjs
[Leia outros Comentários de Crica]
COMENTE ESTE TEXTO
Nome:
E-mail:
Blog/Twitter:
* o Digestivo Cultural se reserva o direito de ignorar Comentários que se utilizem de linguagem chula, difamatória ou ilegal;

** mensagens com tamanho superior a 1000 toques, sem identificação ou postadas por e-mails inválidos serão igualmente descartadas;

*** tampouco serão admitidos os 10 tipos de Comentador de Forum.




Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




O Mundo Inacreditável de Norm
Jonathan Meres
Ciranda Cultural
(2013)



Sabor de Família
Luana Davidsohn Zinn
Arx
(2002)



The Promise of Sleep: A Pioneer in Sleep Medicine Explores the Vital Connection Between Health, Happiness, and a Good Night's Sleep
M.D. Dement, William C.
Dell
(2000)



Livro Pensar A Prática
Carlos Rodrigues Brandão
Loyola
(2001)



Livro Literatura Brasileira S. Bernardo
Graciliano Ramos
Record
(2007)



Livro Literatura Estrangeira O Assassinato de Roger Ackroyd
Agatha Christie
Círculo do Livro
(1975)



Dormindo Com o Inimigo
Roberto Bo Goldkorn
Bertrand Brasil
(2005)



Toriko - Vol. 33
Mitsutoshi Shimabukuro
Panini



Livro Biografias Quase Tudo Memórias
Danuza Leão
Companhia Das Letras
(2005)



A Escolha
Nicholas Sparks
Novo Conceito
(2013)





busca | avançada
50461 visitas/dia
1,7 milhão/mês