Machado de Assis dos folhetins ao Orkut | Marcelo Spalding | Digestivo Cultural

busca | avançada
64349 visitas/dia
2,9 milhões/mês
Mais Recentes
>>> Arsenal da Esperança faz ensaios de teatro com moradores em situação de rua
>>> Vem pra Feira do Pimp Estoque: Economia Circular com catadoras, catadores e artistas!
>>> Companhia de Danças de Diadema apresenta Nas Águas do Imaginar no Brincando na Praça
>>> Projeto cultural ensina adolescentes de Uberlândia sobre alimentação saudável
>>> MAS.SP exibe mostras de Presépios em comemoração ao Período Natalino
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> Esporte de risco
>>> Tito Leite atravessa o deserto com poesia
>>> Sim, Thomas Bernhard
>>> The Nothingness Club e a mente noir de um poeta
>>> Minha história com o Starbucks Brasil
>>> O tipógrafo-artista Flávio Vignoli: entrevista
>>> Deixe-me ir, preciso andar, vou por aí a procurar
>>> Olimpíada de Matemática com a Catarina
>>> Mas sem só trapaças: sobre Sequências
>>> Insônia e lantanas na estreia de Rafael Martins
Colunistas
Últimos Posts
>>> Temer fala... (2023)
>>> George Prochnik sobre Stefan Zweig (2014)
>>> Hoffmann e Khosla sobre inteligência artificial
>>> Tucker Carlson no All-In
>>> Keleti: de engenheiro a gestor
>>> LeCun, Bubeck, Harris e a inteligência artificial
>>> Joe Satriani tocando Van Halen (2023)
>>> Linger by IMY2
>>> How Soon Is Now by Johnny Marr (2021)
>>> Jealous Guy by Kevin Parker (2020)
Últimos Posts
>>> Sarapatel de Coruja
>>> Culpa não tem rima
>>> As duas faces de Janus
>>> Universos paralelos
>>> A caixa de Pandora do século XX
>>> Adão não pediu desculpas
>>> No meu tempo
>>> Caixa da Invisibilidade ou Pasme (depois do Enem)
>>> CHUVA
>>> DECISÃO
Blogueiros
Mais Recentes
>>> O Tigrão vai te ensinar
>>> O que não me mata, me fortalece
>>> A Caixa de Confeitos
>>> Não é assim um smartphone
>>> Cavernas e Concubinas
>>> A universalidade de Anish Kapoor
>>> Um texto com esmalte vermelho
>>> Como esquecer um grande amor
>>> Blogues: uma (não tão) breve história (III)
>>> Maria Erótica e o clamor do sexo
Mais Recentes
>>> Scientology: Os Fundamentos do Pensamento de L. Ron Hubbard pela Bridge Publications (2007)
>>> Leniência: Elementos do Direito da Conformidade de Walfrido Warde; Valdir Moysés Simão pela Contracorrente
>>> My Year In Iraq: The Struggle To Build A Future Of Hope de L. Paul Bremer III pela Simon & Schuster (2006)
>>> Medicina da Alma de Robson Pinheiro; Joseph Gleber pela Casa dos Espíritos (2007)
>>> Letra Só + Sobre as Letras de Caetano Veloso pela Companhia das Letras (2003)
>>> Dossiê - Unificação Dos Títulos Brasileiros a Partir de 1959 de José Carlos Peres / Odir Cunha pela Siltgraf
>>> Dossiê - Unificação Dos Títulos Brasileiros a Partir de 1959 de José Carlos Peres / Odir Cunha pela Siltgraf
>>> A Mina de Ouro de Maria José Dupré pela Ática (2008)
>>> Projeto Teláris Ciências 8 - Nosso Corpo de Fernando Gewandsznajder pela Ática (2012)
>>> Culinaria Ayurvedica Para O Seu Dia A Dia - Com Mais De 100 Receitas Simples Praticas E Energeticas Para O Seu Bem-estar de Kate O’Donnell pela Pensamento (2019)
>>> Elementos de Geometria Analítica de Nikolai Efimov pela Cultura Brasileira (1972)
>>> No Interesse da Criança? de Joseph Goldstein, Anna Freud e Albert J. Solnit pela Martins Fontes (1987)
>>> PostgreSQL conceitos e aplicacoes de Denise Lemes Fernandes Neves pela Érica (2002)
>>> The Kodansha Kanji Learner's Dictionary de Jack Halpern pela Kodansha Dictionary (2002)
>>> Portugues Brasileiro de Volker Noll pela Globo (2011)
>>> Manual da residência de medicina intensiva de Andréa Remigio de Oliveira (Autor), Leandro Utino Taniguchi, Marcelo Park, Pedro Vitale Mendes, Augusto Scalabrini Neto e Irineu Tadeu Velasco pela Manole (2016)
>>> Sabedoria Dos Jesuitas Para (quase) Tudo de James Martin pela Sextante (2010)
>>> Cálculo Diferencial e Integral Coleção Schaum de Frank Ayres Jr pela Mc Graw Hill (1981)
>>> Fatos Incríveis Sobre os Dinossauros de William Potter pela Pé da Letra (2019)
>>> O Recado Do Morro de João Guimarães Rosa pela Global (2021)
>>> Não era uma vez... de Marcos Rey e Cecilia Esteves pela Global (2019)
>>> 5 volumes de Arcano: 2, 4, 5, 6 e 7 O homem visível, Antropologia gnóstica etc de Instrutores da Escola Gnóstica do 4º Caminho pela Ageacac
>>> Pato Atolado de Jez Alborough pela Brinque-book (2000)
>>> Buu! de Tracey Corderoy pela Ciranda Cultural (2013)
>>> Carta Errante, Avo Atrapalhada, Menina Aniversariante de Mirna Pinsky pela Ftd Educação (2012)
COLUNAS

Terça-feira, 16/1/2007
Machado de Assis dos folhetins ao Orkut
Marcelo Spalding
+ de 13000 Acessos

Acertem os ponteiros do relógio, mudem as folhinhas do calendário, prestem atenção na configuração do computador: estamos em 2007. E, para aqueles que por um motivo ou outro adoram Machado de Assis (sim, leitores desavisados, existem pessoas que adoram Machado de Assis, e a prova é que uma das comunidades dele no Orkut tem mais de 60 mil membros!), estamos às vésperas do centenário de morte deste gênio.

E um centenário de nascimento ou morte não é pouca coisa. Até 1939, por exemplo, quando Machado completaria cem anos de nascimento, sua obra não tinha nem metade da importância que tem hoje para as letras brasileiras, tanto que escritores como Mário de Andrade e Monteiro Lobato desdenhavam sua produção, um chamando-o de "colonizado", o outro de "alguém com as costas voltadas para o Brasil". Afora esta importância atingida com o passar dos anos, já faz quase setenta anos deste primeiro centenário, o que indica que em 2008, ou até lá, teremos uma profusão de congressos, reportagens e livros sobre Machado de Assis.

Um gênio brasileiro (Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2006, 416 págs.), do jornalista Daniel Piza, parece ser um dos primeiros a atentar para a próxima onda do centenário. A biografia foi notícia nos melhores suplementos culturais da mídia, figurou em algumas vitrines de boas livrarias e ficou entre as três melhores biografias do ano no Prêmio Jabuti. Mais do que isso, já em junho de 2006 ganharia uma segunda edição belíssima, ilustrada, colorida e, acima de tudo, corrigida - é que a obra foi duramente criticada por gente como Luís Augusto Fischer, no Zero Hora, e Wilson Martins, primeiro no Jornal do Brasil depois na Veja, ambos apontando alguns erros de informação como a troca do nome de José Dias (o agregado de Capitu) por João Dias (erro, ou engano, já corrigido nesta segunda edição). Críticas que geraram alguma polêmica com as respostas de Piza, que no Jornal do Brasil chama Wilson Martins de "cansado" e no jornal Rascunho vê "pedantismo" nas críticas de Fischer e Martins.

Mas passemos ao largo destas briguinhas de jornal - próprias, aliás, dos tempos folhetinescos do Segundo Reinado - e vamos nos deter na obra que Piza entrega a uma geração de novos leitores de Machado, esses sessenta e tantos mil do Orkut, um público de estudantes de letras e literatura ou de jovens leitores que chegaram a Machado por causa do vestibular. Uma geração já muito distante das primeiras críticas de José Veríssimo ou Sílvio Romero, das interpretações de Helen Caldwell ou John Gledson e da última biografia até então lançada sobre o autor, de Raimundo Magalhães Júnior, cuja última versão é de 1981.

Sim, embora os críticos não pareçam ter levado em conta, parece claro que a obra de Piza não se dedica aos doutos em Machado, àqueles que como Fischer ou Martins leram todos os seus romances e conhecem profundamente tanto a biografia de Magalhães como as abordagens críticas do século XX; a obra se dedica a nós, os iniciantes, tanto que em dado momento o livro acha necessário explicar o que é a Guerra do Paraguai.

Já na apresentação o autor faz uma bela visada geral sobre a importância de Machado, toca nos chavões do estudo machadiano - como a cor mulata, a divisão da obra em fases e a pouca compreensão dos seus contemporâneos, apesar da grande fama e estima - e preocupa-se em pintar o contexto social de então com referências aos jornais que vêm e vão, quedas de gabinetes, revoltas regionais e um desfile delicioso mas quase confuso de nomes de personalidades brasileiras, de José do Patrocínio a Conde d'Eu.

Os capítulos a seguir são cronologicamente divididos e em cada um o panorama nacional é retomado, com dados históricos e reprodução de crônicas da época - muitas do próprio Machado -, assim como todos os seus livros comentados. Biograficamente descobre-se, por exemplo, que Machado não era apenas "mulato", mas neto de escravo, ainda que escravo forro, e filho de um casal que vivia de agregado numa grande propriedade. E que é a partir da morte da mãe que o adolescente Machado, sem se entender com o pai e a madrasta, vai tentar a sorte no centro da cidade e cai no meio do furacão que era a formação da imprensa carioca. Detalhes que de certo estão em biografias anteriores, e talvez em alguns livros didáticos, mas que na linguagem clara e contemporânea de Piza e postas dentro do contexto criado por Piza ajudam a pensar na formação de um escritor que adiante deixará todas as ilusões e ingenuidades românticas de lado para representar a ambigüidade da vida e a desilusão com os homens. Uma virada que marca não só sua literatura, mas também a história da literatura brasileira.

Sobre isso, escreve Piza: "essa variedade de temas, de quadros que capta da cidade em acelerada metamorfose, rindo tanto do atraso como do falso progresso, certamente vai contribuindo para as mudanças de seu estilo, agora mais ágil, mais engraçado, mais gráfico - e ao mesmo tempo mais tolerante e mais cético. Pouco a pouco o idealista, o jovem que acreditava nas forças civilizadoras do teatro e do jornal, assim como no monarca esclarecido, vai desaparecendo. 'O mundo está virado', termina ele uma crônica em que comenta a chegada dos bondes a Santa Teresa."

A biografia, por óbvio, não tenta esgotar a obra machadiana - nem sua função primeira é renovar seu estudo -, mas ela não se furta em apontar que um dos sucessos de Machado está em revelar a partir de sua obra as sutilezas da natureza humana pelos exemplos encontrados em seu tempo e lugar, transcendidos pela arte de sua imaginação e estilo. A questão de fundo é que, segundo Piza, "não se pode entender muitas coisas da obra de Machado se não se tiver em mente a riqueza de sua vida". E a riqueza da sua vida está na riqueza do seu tempo, um tempo em ebulição com as discussões entre romantismo contra realismo, abolicionismo contra escravismo, nacionalismo contra internacionalismo, monarquia contra república, um tempo em que "o país começava a se tornar nação".

Outro ponto importante da biografia - e fundamental para nós, leitores da nova geração - são os resumos das obras, resumos críticos, é verdade, mas que têm mais o objetivo de apresentar os textos principais para o não-leitor do que lançar novas luzes sobre eles. E quando se fala em textos fala-se dos romances, obviamente, mas também de diversos contos, alguns poemas, crônicas e um ou outro ensaio crítico famoso, como o "Instinto de Nacionalidade" e a crítica a Eça de Queirós. Para cada um destes textos é feita uma sinopse e normalmente mencionada a recepção da obra à época, o que nos mostra que Machado foi, sim, lido e saudado por seus contemporâneos mesmo na "fase romântica".

Desta forma, resgatando os textos, os fatos mais importantes da vida e da época em que Machado viveu, a biografia cria um mosaico importantíssimo para estes leitores muito distantes da realidade machadiana, leitores tão próximos do folhetim do Segundo Reinado quanto Machado estava do Orkut destes tempos digitais. Por isso, ao invés de soar repetitiva - como acusa Martins - ou superficial - como acusariam outros - a biografia Um gênio brasileiro consegue ser clara e bastante útil para os sessenta mil fãs de Machado no Orkut e os outros tantos leitores dessa magnífica obra. É possível que a partir de Piza tais leitores procurem Caldwell, Schwarz ou o último livro de Alfredo Bosi que trata de Brás Cubas, mas em nenhum destes encontrarão um sumário tão completo e lúcido como o desta biografia - ainda que jamais entenderão profundamente o gênio se não forem além desta biografia.

Do mais, é torcer que as bibliotecas públicas de nossas universidades modestas possam adquirir pelo menos um exemplar da obra, e que novas edições sigam sendo produzidas para reparar um ou outro erro inerente a um trabalho desse porte, mas imperdoável a uma obra desta importância.

Para ir além






Marcelo Spalding
Porto Alegre, 16/1/2007

Mais Marcelo Spalding
Mais Acessadas de Marcelo Spalding em 2007
01. O dinossauro de Augusto Monterroso - 10/4/2007
02. Sexo, drogas e rock’n’roll - 27/3/2007
03. Vestibular, Dois Irmãos e Milton Hatoum - 31/7/2007
04. Pequena poética do miniconto - 20/2/2007
05. Com a palavra, as gordas, feias e mal amadas - 30/1/2007


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site



Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Um Certo Capitão Rodrigo
Erico Veríssimo
Companhia das Letras
(2005)



No Banco dos Réus um índio Criminalização de Indígenas no Brasil
Tédney Moreira da Silva
Ibccrim
(2016)



Forças Irresistiveis
Danielle Steel
Record
(2002)



Livro Infanto Juvenis Quinho e o Seu Cãozinho, um Cãozinho Especial Volume 1
Laé de Souza
Eco Arte
(2012)



O Mito da Marginalidade 461
Janice E. Perlman
Paz e Terra
(2002)



Aterrissagem Forçada
Edson Roberto Lovato
Above Publicações
(2012)



Cenas da vida conjugal
Serge Hefez
Benvirá
(2012)



Batman Mangá - Conspiração Em Toquio - Volume II
Mythos
Mythos



Na terra do sonho computador por dentro 352
Vicente Paz Fernandez
Scipione
(1989)



Livro Artes Frida Kahlo Suas Fotos
Paulo Ortiz Monasterio
Cosac Naify
(2010)





busca | avançada
64349 visitas/dia
2,9 milhões/mês