Mais um texto sobre Francis | Eduardo Mineo | Digestivo Cultural

busca | avançada
105 mil/dia
2,0 milhão/mês
Mais Recentes
>>> Novo livro de Nélio Silzantov, semifinalista do Jabuti de 2023, aborda geração nos anos 90
>>> PinForPeace realiza visita à Exposição “A Tragédia do Holocausto”
>>> ESTREIA ESPETÁCULO INFANTIL INSPIRADO NA TRAGÉDIA DE 31 DE JANEIRO DE 2022
>>> Documentário 'O Sal da Lagoa' estreia no Prime Box Brazil
>>> Mundo Suassuna viaja pelo sertão encantado do grande escritor brasileiro
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> O Big Brother e a legião de Trumans
>>> Garganta profunda_Dusty Springfield
>>> Susan Sontag em carne e osso
>>> Todas as artes: Jardel Dias Cavalcanti
>>> Soco no saco
>>> Xingando semáforos inocentes
>>> Os autômatos de Agnaldo Pinho
>>> Esporte de risco
>>> Tito Leite atravessa o deserto com poesia
>>> Sim, Thomas Bernhard
Colunistas
Últimos Posts
>>> Glenn Greenwald sobre a censura no Brasil de hoje
>>> Fernando Schüler sobre o crime de opinião
>>> Folha:'Censura promovida por Moraes tem de acabar'
>>> Pondé sobre o crime de opinião no Brasil de hoje
>>> Uma nova forma de Macarthismo?
>>> Metallica homenageando Elton John
>>> Fernando Schüler sobre a liberdade de expressão
>>> Confissões de uma jovem leitora
>>> Ray Kurzweil sobre a singularidade (2024)
>>> O robô da Figure e da OpenAI
Últimos Posts
>>> Salve Jorge
>>> AUSÊNCIA
>>> Mestres do ar, a esperança nos céus da II Guerra
>>> O Mal necessário
>>> Guerra. Estupidez e desvario.
>>> Calourada
>>> Apagão
>>> Napoleão, de Ridley de Scott: nem todo poder basta
>>> Sem noção
>>> Ícaro e Satã
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Agonia
>>> Web 2.0 Awards
>>> Feliz Natal, Charlie Brown!
>>> O dinossauro de Augusto Monterroso
>>> Marketing de cabras
>>> Simplesmente tive sorte
>>> Sete tecnologias que marcaram meu 2006
>>> Maria Helena
>>> Sombras
>>> Garganta profunda_Dusty Springfield
Mais Recentes
>>> Columbine de Dave cullen pela Darkside (2009)
>>> Prefiro regar as plantas de Franck Santos pela Primata (2021)
>>> Meursault. contre-enquête de Kamel Daoud pela Actes Sud (2014)
>>> Mulheres que correm com lobos de Clarissa Pinkola Estés pela Rocco (2018)
>>> O Matrimônio de Céu & Inferno de Enéias Tavares, Fred Rubim e William Blake pela Avec (2019)
>>> H.P. Lovecraft Além do Desconhecido de Cayman Moreira (baseado na obra de H.P. Lovecraft) pela Editora de Cultura (2019)
>>> Mrs. Dalloway de Virginia Woolf pela Nova Fronteira (2006)
>>> Origem da Idade Média de William Carroll Bark pela Zahar (1985)
>>> Marvel 2000 1 ao 6 (Diabo da Guarda completo) de Kevin Smith. Joe Quesada. Mark Waid. John Romita Jr.. Kurt Busiek pela Abril (2000)
>>> Crepúsculo Esmeralda de Ron Marz e Bill Willingham pela Abril Jovem (1995)
>>> A carícia essencial: uma psicologia do afeto de Roberto Shinyashiki pela Editora Gente (1989)
>>> Lobo Solitário 1, 2 e 3 de Kazuo Koike. Goseki Kojima pela Panini (2016)
>>> O Vendedor de Sonhos A Trilogia de Augusto Cury pela Planeta (2010)
>>> Luluzinha Teen e sua Turma nº 5 de Renato Fagundes pela Pixel (2009)
>>> Direito de (não) Fumar - Uma Abordagem Humanista de Amanda Flávio de Oliveira pela Renovar (2008)
>>> O Caçador de Palavras de Walcyr Carrasco pela Ática (1993)
>>> Os mares do Sul de Manuel Vázquez Montalban pela Companhia das Letras (1998)
>>> Sátira de Gregório de Matos pela Agir (1985)
>>> Batman 1/83 de Zdarsky, Jimènez, Ortega, Ram V pela Panini (2023)
>>> L`objet d`Art Hors-série nº 69 (Roy Lichtenstein Exposition Au Centre Pompidou) de Camille Morineau pela Éditions Faton (2013)
>>> A Experiência Burguesa da Rainha Vitória a Freud - A Educação dos Sentidos de Peter Gay pela Companhia das Letras (1988)
>>> The Three Secret Cities de Mattew Reilly pela Orion (2019)
>>> Indian Song de Marguerite Duras pela Gallimard (1996)
>>> Superman nº 2 de Joe Casey w Mike Wieringo pela Abril (2002)
>>> Manuel de Piadas de Português e piadas portuguesas de brasileiros de Paulo Tadeu pela Matrix (1999)
COLUNAS >>> Especial 10 anos sem Francis

Quinta-feira, 8/3/2007
Mais um texto sobre Francis
Eduardo Mineo
+ de 4900 Acessos
+ 1 Comentário(s)

A pior parte de se escrever sobre Paulo Francis é escrever algo que já não tenha sido escrito sobre Paulo Francis. E escrito de uma forma muito melhor do que eu conseguiria escrever, provavelmente. Porém, de qualquer forma, imagino que não seja um grande problema publicar mais um texto relembrando a falta de Francis como escritor, como jornalista, como referência cultural, os maltratos que recebia destes pobres bárbaros tropicais, estes representantes do pensamento rústico brasileiro que ainda encaram o chuveiro como alguma imposição do american way of life etc., um texto, enfim, relembrando a importância de Paulo Francis para todos nós.

Antes de mais nada preciso dizer - e talvez eu seja melodramático demais dizendo; controlem-se, por favor -, mas leio Francis e tenho acessos megalomaníacos de querer salvar o mundo. Tudo bem, não o mundo, mas pelo menos o Brasil, a literatura brasileira, o jornalismo brasileiro. Óbvio, cruz credo trabalhar para um jornal ou para uma editora, mas lendo Francis eu crio este vigor de querer melhorar tudo, de conhecer tudo, de ler, de ouvir e de escrever sobre tudo. Francis não foi apenas uma referência cultural, mas um instigador de cultura. Provocava e esnobava insistentemente até seu leitor se irritar às lágrimas e ir furioso até uma livraria para saber quem diabos era este tal de Scott Fitzgerald, ou Dostoievski, ou Flaubert, ou Camus, ou Tolstoi, ou Proust, ou Kant para ficar em alguns dos nomes que sublinhei em apenas um de seus livros, o Trinta anos esta noite. E o simples fato de decorá-los já significa adquirir uma cultura fantástica para o padrão brasileiro.

Digo fantástica para o padrão brasileiro porque é ridícula a nossa formação. Isto mesmo em colégios caríssimos, o que deixa claro que não se trata de um problema meramente econômico ou social. E nas universidades o quadro é exatamente o mesmo. Duvido que eu tenha muitos colegas na USP com uma média de leitura maior que a minha, de quinze livros por ano. Eu achava que era uma média razoável até ler Jorge Luis Borges dizendo que passou a vida inteira com uma média de cem livros por ano. Senti vergonha porque já é fisicamente impossível alcançá-lo. Talvez esta comparação seja individual demais para aplicá-la ao país inteiro, entretanto, em pesquisas de leitura anual per capita, o Brasil sempre teve resultados variando entre 1 e 2 enquanto alguns países europeus chegavam a 25 livros. E se o resultado brasileiro é ruim mesmo com pessoas que, como eu, foram influenciadas por Francis e engordam estes números, imagine sem Francis.

Além do mais, os livros do Francis são uma graça. Não comento suas colunas porque naquela época eu ainda me interessava apenas por coisas que soltavam raiozinhos e poderes e ainda me irrito às vezes por não ter nascido uns vinte anos antes. Do seu trabalho em jornal tenho apenas três exemplares d'O Pasquim e uma coleção de correspondências também para O Pasquim chamada Paulo Francis nu e cru que me deu uma das melhores experiências em leitura e que é encontrada a míseros quinze reais em sebos no centro de São Paulo. Toda vez que vejo um livro como este sendo vendido a um preço tão baixo fico com vontade de pagar o triplo, o quíntuplo porque ninguém tem o direito de vender este tipo de coisa a este preço. É depreciação da obra.

Mas os livros do Francis são uma graça. Ainda quero escrever um livro de memórias tão bom como o seu O afeto que se encerra. Não sei se conseguirei escrever com tanta delicadeza como Francis escreveu este livro, principalmente as primeiras páginas que anunciam suas memórias. Não são apenas páginas escritas por um cronista qualquer. Há beleza nas palavras, nas frases, no sentido; há arte ali, que se expressa para mim como um ideal de forma, algo a ser alcançado e quando eu o leio, faz com que eu me sinta bem (há alguns anos eu riria se lesse isto) espiritualmente. Se trata justamente do que James Joyce disse em Portrait of the artist as a young man:

"Beauty expressed by the artist cannot awaken in us an emotion which is kinetic or a sensation which is purely physical. It awakens, or ought to awaken, or induces, or ought to induce, an esthetic stasis, an ideal pity or an ideal terror, a stasis called forth, prolonged and at last dissolved by what I call the rhythm of beauty (...) We are right and the others are wrong. To speak of these things and to try to understand their nature and, having understood it, to try slowly and humbly and constantly to express, to press out again, from the gross earth or what it brings forth, from sound and shape and colour which are the prison gates of our soul, an image of the beauty we have come to understand - that is art."

Não dá vontade de abraçar este texto? E não o traduzo para provocar e esnobar os que ainda não lêem inglês até se irritarem às lágrimas e se convencerem a aprender esta língua para que experimentem os originais de James Joyce. Espero que funcione.

Francis não conseguiu fazer funcionar muito e ganhou vários detratores com isto. Acredito que os maiores conflitos de Francis estiveram relacionados mais à energia com a qual escrevia do que propriamente com suas opiniões. Paulo Francis era enérgico sempre e causava furor, entretanto era justamente esta a sua maior qualidade. Kenneth Clark, um grande estudioso da arte, da história e da arqueologia - e evidentemente indicação de Paulo Francis -, diz que todas as grandes civilizações foram impulsionadas pela energia e por um sentido de permanência, que é o que Paulo Francis tentou nos ensinar até seu último momento, não? Caminhar para a civilidade em vez de continuarmos a ser estes pobres bárbaros tropicais. Será que um dia conseguiremos?

Nota do Editor
Edward Bloom é autor do blog Introibo ad altare Dei.


Eduardo Mineo
São Paulo, 8/3/2007

Quem leu este, também leu esse(s):
01. Meu filho e Jaime Lerner de Paulo de Resende
02. Amor platônico de Ana Elisa Ribeiro
03. Blog é coisa séria. Já a Veja... de Rafael Lima
04. Surf em cima do muro de André Pires


Mais Eduardo Mineo
Mais Acessadas de Eduardo Mineo em 2007
01. O físico que era médico - 23/4/2007
02. A comédia de um solteiro - 3/12/2007
03. A propósito de Chapolin e Chaves - 24/9/2007
04. Eduardo Mineo, muito prazer - 9/4/2007
05. My fair opinion - 30/4/2007


Mais Especial 10 anos sem Francis
* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site

ENVIAR POR E-MAIL
E-mail:
Observações:
COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
8/3/2007
21h27min
Se conseguiremos, não sei. Mas se ficarmos presos a teorias e posturas pseudo-direitistas ou pseudo-esquerdistas acho que não. A energia está no mundo, no planeta, nas pessoas. E para movimentá-la temos que ter homens como Paulo Francis, com o seu vigor, com a sua inteligência, veracidade/voracidade. Era autêntico. E isso é que falta no meio jornalístico/cultural. Não compactuava com muitas de suas idéias, mas o admirava pelo que era, pelo que escrevia e dizia. Então, sempre vale a pena escrever sobre uns caras como ele. Nunca é demais! Abraço. Adriana
[Leia outros Comentários de Adriana]
COMENTE ESTE TEXTO
Nome:
E-mail:
Blog/Twitter:
* o Digestivo Cultural se reserva o direito de ignorar Comentários que se utilizem de linguagem chula, difamatória ou ilegal;

** mensagens com tamanho superior a 1000 toques, sem identificação ou postadas por e-mails inválidos serão igualmente descartadas;

*** tampouco serão admitidos os 10 tipos de Comentador de Forum.




Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Fugas...
Simões de Castro Neto
Mcorinha
(1954)



Olimpíadas - Coleção de Olho no Mundo 19
Recreio
Klick



Depois A Louca Sou Eu
Tati Bernardi
Companhia Das Letras
(2016)



Livro de Bolso Esoterismo Convite Á Prosperidade Volume 1
Masaharu Taniguchi
Seicho-no-ie
(2000)



No Reino do Velho Rei 322
Alina Perlman
Esfera
(2000)



Uma Janela Para a Felicidade
Sônia Tozzi
Lúmen
(2012)



O Blog da Família - Conforme a Nova Ortografia
Giselda Laporta Nicolelis
Atual
(2009)



El Poder y El Delirio
Enrique Krauze
Tusquets
(2008)



Livro Literatura Estrangeira A Cruzada do Ouro
David Gibbins
Planeta
(2007)



O Poder de suas Palavras
Billy Joe Daugherty
Graça Editorial
(2004)





busca | avançada
105 mil/dia
2,0 milhão/mês