Knutilidade Pública | Verônica Mambrini | Digestivo Cultural

busca | avançada
95668 visitas/dia
2,1 milhões/mês
Mais Recentes
>>> Nouveau Monde
>>> Agosto começa com música boa e grandes atrações no Bar Brahma Granja Viana
>>> “Carvão”, novo espetáculo da Cia. Sansacroma, chega a Diadema
>>> 1º GatoFest traz para o Brasil o inédito ‘CatVideoFest’
>>> Movimento TUDO QUE AQUECE faz evento para arrecadar agasalhos no RJ
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> Two roads diverged in a yellow wood
>>> A dobra do sentido, a poesia de Montserrat Rodés
>>> Literatura e caricatura promovendo encontros
>>> Stalking monetizado
>>> A eutanásia do sentido, a poesia de Ronald Polito
>>> Folia de Reis
>>> Mario Vargas Llosa (1936-2025)
>>> A vida, a morte e a burocracia
>>> O nome da Roza
>>> Dinamite Pura, vinil de Bernardo Pellegrini
Colunistas
Últimos Posts
>>> As Sete Vidas de Ozzy Osbourne
>>> 100 anos de Flannery O'Connor
>>> O coach de Sam Altman, da OpenAI
>>> Andrej Karpathy na AI Startup School (2025)
>>> Uma história da OpenAI (2025)
>>> Sallouti e a história do BTG (2025)
>>> Ilya Sutskever na Universidade de Toronto
>>> Vibe Coding, um guia da Y Combinator
>>> Microsoft Build 2025
>>> Claude Code by Boris Cherny
Últimos Posts
>>> Política, soft power e jazz
>>> O Drama
>>> Encontro em Ipanema (e outras histórias)
>>> Jurado número 2, quando a incerteza é a lei
>>> Nosferatu, a sombra que não esconde mais
>>> Teatro: Jacó Timbau no Redemunho da Terra
>>> Teatro: O Pequeno Senhor do Tempo, em Campinas
>>> PoloAC lança campanha da Visibilidade Trans
>>> O Poeta do Cordel: comédia chega a Campinas
>>> Estágios da Solidão estreia em Campinas
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Uma norma para acabar com os quadrinhos nacionais?
>>> Em Londres, à caça do mito elementar
>>> Cenas de um casamento
>>> A vida subterrânea que mora em frente
>>> A morte da revista Set
>>> O Original de Laura
>>> Livrarias, bibliotecas e outros paraísos
>>> O Brasil não é a Suécia
>>> O tamanho do balde
>>> Repescagem ou Mazel tov
Mais Recentes
>>> As Cinco Pessoas Que Você Encontra no Céu de Mitch Albom pela Sextante (2004)
>>> A Boa Sorte: Criando as Condições de Sucesso na Vida e nos Negócios de Fernando Trías de Bes pela Sextante (2004)
>>> As Aventuras de Tintim - os Charutos do Faraó ( Capa Dura ) de Hergé pela Flamboyant
>>> Tintim no país do Ouro Negro - 22 de Herge pela Record (1970)
>>> As aventuras de Tintim - as joias da castafiore - 20 de Herge pela Record (1972)
>>> Oh La La! Level 1 - methode de français de C. Favret - M. Bourdeau - I. Gallego pela CLE International (2003)
>>> O Tempo É Uma Ilusão de Chris Griscom pela Siciliano (1989)
>>> Fire And Blood (hardcover) de George R.R. Martin pela Harper Voyager (2018)
>>> Caim (lacrado na embalagem plastica) de José Saramago pela Companhia Das Letras
>>> Ensaio sobre a cegueira (60º reimpressão) de Jose Saramago pela Companhia Das Letras (2011)
>>> Ensaio sobre a cegueira (49º reimpressão) de Jose Saramago pela Companhia Das Letras (2008)
>>> A Cancao De Aquiles de Madeline Miller pela Planeta Minotauro (2021)
>>> As Cronicas Marcianas (2º edição) de Ray Bradbury pela Biblioteca Azul (2013)
>>> Desenhos Ocultos de Jason Rekulak pela Fisicalbook (2025)
>>> As Aventuras De Mike de _Gabriel Dearo / Manu Digilio pela Outro Planeta (2019)
>>> China Painting - For fun , fame or fortune de Ruth Little pela Ruth Little (1997)
>>> English Silver de Oliver Chadwick pela Merlin Press (1975)
>>> Fenomenologia da Educação de Gustavo F. G. Cirigliano pela Vozes (1972)
>>> O Último dos Moicanos ( Coleão Jovem Círculo de Aventuras de James F Cooper pela Círculo do Livro (1996)
>>> Quer Viajar de Claudia Liechavicius pela Memoria Visual (2008)
>>> Administração De Sistemas De Informação E A Gestão Do Conhecimento de Alessandro Marco Rosini pela Cengage (2008)
>>> A Juventude Vai ao Cinema de Inês Assunção / José de Sousa - Outros pela Autêntica (2009)
>>> Roleplaying Game E A Pedagogia Da Imaginação No Brasil de Sônia Rodrigues pela Bertrand (2004)
>>> Repressão Sexual de Marilena Chauí pela Brasiliense (1967)
>>> Medo Da Vida de Alexander Lowen pela Summus (2000)
COLUNAS

Segunda-feira, 23/4/2007
Knutilidade Pública
Verônica Mambrini
+ de 3800 Acessos
+ 1 Comentário(s)

Ou Knut, um ursinho em defesa do bom jornalismo


Ilustra por Guga Schultze

Se você ainda não ouviu falar em Knut, possivelmente você estava em outro planeta nas últimas semanas. Agora, se você já ouviu falar em Knut e não se comoveu, ou não deu pelo menos um sorriso por trás da sisudez necessária em tantos momentos cotidianos, você possivelmente não tem coração. Knut, o ursinho polar que foi rejeitado pela mãe e criado por um funcionário do zoológico de Berlim, virou uma celebridade internacional.

O currículo de Knut cresceu muito mais rápido do que ele: o fofo ursinho polar nasceu em 5 de dezembro de 2006 num zoológico alemão, e menos de um ano depois, no último 23 de março, a ONU anunciou que o urso-bebê será "garoto-propaganda" de uma conferência das Nações Unidas sobre a proteção das espécies, em 2008. No mesmo dia, posou para fotos com Sigmar Gabriel, ministro do Partido Social-Democrata na Alemanha (que afirmou que o bebê-urso é "um doce"), em evento com mais de 100 jornalistas do mundo todo presentes. Depois da comoção geral causada pelas opiniões de um grupo de ativistas alemães de direitos dos animais, que acreditam que o urso nunca se integrará entre os seus, Knut ganhou seu próprio programa de TV: Knut, das Eisbärbaby, ou, em tradução livre, "Knut, o urso polar bebê". Ah, Knut também tem sua página na Internet e um blog. Mas afinal, o maior mérito de Knut é ter nascido: há mais de 30 anos não nascia nenhum filhote de urso polar no zoológico de Berlim.

Toda essa atenção não é para menos: se você fosse foto-repórter, resistiria a essa bolinha de pêlos graciosa? Claro que não! É fofura demais, agravada pela comoção que causa saber que ele foi rejeitado pela mãe, uma ursa de circo da antiga Alemanha Oriental. Pois bem: a imprensa realmente não resistiu. Knut é retratado quase como um cachorrinho de estimação coletivo, amigo dos alemães e, quiçá, da Humanidade. Nenhuma foto aponta para o urso anti-social e deslocado do seu ambiente que os ativistas ambientais advertiram que com o tempo o ursinho se converterá. Knut, sem muito esforço, trabalha por uma boa causa: cada vez mais, chama a atenção das pessoas para a questão dos animais em extinção e rapidamente, se transforma num símbolo de esperança para árduas batalhas ambientais. Já foram vendidos cerca de 2,4 mil ursinhos de pelúcia Knut. Eu também, entre um Knut de pelúcia e um Al Gore de pelúcia, ficaria com o doce quadrúpede, em nome dessa causa. Nada pessoal contra Al Gore.

Há um motivo a mais para celebrarmos a fofura de Knut: entre tantos feitos, em sua epopéia o ursinho também parte em defesa do bom jornalismo. E o que é mais notório: o faz sem nem perceber. Todo mundo sabe o que é jornalismo, pelo menos de um modo prático; a maioria das pessoas percebe também a diferença entre um artigo de opinião e uma notícia, por exemplo. Mas algumas sutilezas ficam a cargo de especialistas - não necessariamente jornalistas, mas também (e sobretudo) teóricos de comunicação. E Knut é a estrela-mor dos últimos dias quando a categoria é um determinado tipo de notícia, o fait-divers.

O fait-divers é uma história que: 1) foge às classificações de editorias, ao não se enquadrar facilmente nas seções de notícias às quais estamos acostumados a ler, como Política, Cultura, Economia ou Cidades; 2) trata de uma história de interesse humano, como um drama familiar, uma aberração da natureza, curiosidade científica ou bizarrice comportamental; 3) a história reportada no fait-divers não tem dimensão histórica (o dono dessa última idéia é o teórico francês Roland Barthes); por exemplo, um assassinato passional cairá no esquecimento, enquanto um assassinato político sobrevive em outros contextos, fora da página policial do jornal. Essa falta de perenidade histórica é triste: Knut, daqui a algum tempo, será esquecido ou talvez trocado por outros bichos fofos. Como o "carinhoso" casal de lontras de Vancouver que nadava de mãos dadas. O fait-divers se aproxima da anedota, foge do contexto da realidade. É sempre imprevisível, pitoresco e muitas vezes bizarro. Qual é, então, sua importância? A principal, creio, é de atrair leitores. Por esmiuçar e jogar no terreno do público instintos, paixões (e por que não perversões?) humanos, esse tipo de notícia sempre terá, em qualquer sociedade letrada, seu público cativo. Em outras palavras, se jogarmos o fait-divers no mesmo balaio do jornalismo dito sério, podemos entender que ele tem o dom de chamar a atenção até de quem geralmente passa longe do caderno de economia ou cidades do jornal. Em tempos de notícias de repercussão e alcance globais, ele tem até seção própria em grandes portais de notícias. Geralmente os jornalistas não gostam muito de escrever fait-divers; mas esse gênero é considerado um mal necessário. Mas afinal, é bem melhor tratar da indiscutível candura de um urso-polar bebê do que da bizarrice de gêmeos siameses ou cabritos de duas cabeças - uma evolução dos tempos, que reflete os interesses dos leitores. Mas é inegável que essas notícias, escabrosas ou não, tragam à frente da tevê, da tela do computados ou das páginas impressas bem mais leitores do que o mais primoroso artigo de política ou economia é capaz. E com leitores, vem a publicidade, necessária para pagar salários. Outros modelos de jornalismo - como esse próprio Digestivo - tornam a notícia uma commodity, e o fait-divers um gênero desnecessário. De todo modo, quem trabalha com hard news ainda vai precisar conviver com Knut por algum tempo.

Há quem defenda que esse gênero não se define pelo assunto, e sim pela narrativa: o modo sensacionalista de tratar os fatos, puxando pelo escândalo, pelos aspectos bizarros ou pitorescos, é o que faria o fait-divers. Assim, um escândalo político pode ser contado pelas tintas do melodrama e assim, migrar para o plano das futilidades a serem substituídas ciclicamente na mídia. O quão fresco está na nossa memória o escândalo do Mensalão? Quem saberá lembrar em detalhes a "novela" acompanhada por inquéritos e noticiários inteiros e satirizada à exaustão? Um dos motivos para o esquecimento tão precoce é esse olhar sobre a notícia, que se nutre de paixões e de escândalo para substituí-lo assim que o episódio se esgota emocionalmente.

Fugimos do mundo-cão para cair no mundo-urso.


Verônica Mambrini
São Paulo, 23/4/2007

Quem leu este, também leu esse(s):
01. Escritor: jovem, bonito, simpático... de Marta Barcellos


Mais Verônica Mambrini
Mais Acessadas de Verônica Mambrini em 2007
01. Por onde andam os homens bonitos? - 17/12/2007
02. 453 – São Paulo para gregos e troianos - 29/1/2007
03. Insuportavelmente feliz - 17/9/2007
04. A Letras, como ela é? - 19/3/2007
05. A Arte da Entrevista - 8/10/2007


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site

ENVIAR POR E-MAIL
E-mail:
Observações:
COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
23/4/2007
14h52min
Veronica, acho que você tem razão em muitas coisas. O que começou como notícia virou entretenimento - como muitas outras notícias por aí. Afinal, entretenimento vende mais jornal do que notícia (vide a abordagem sobre o resultado do desfile das escolas de samba dentro de um escândalo de proporções e prejuízos sociais muito maiores, nesta questão da máfia dos caça níqueis). Apesar disso, o Knut não deixa de ser um ursinho muito fofo, que proporciona momentos de verdadeira ternura. Tomo a liberdade de colocar aqui um link para um vídeo dele no YouTube. Dura 7 minutos, mas vale a pena. Com toda sua fofura, Knut também pode inspirar notícias relevantes nos cadernos de economia. No início de abril, por exemplo, as acões do zoológico alemão que hospeda o ursinho mais que dobraram. Ah, e Knut virou marca registrada.
[Leia outros Comentários de Adriana Baggio]
COMENTE ESTE TEXTO
Nome:
E-mail:
Blog/Twitter:
* o Digestivo Cultural se reserva o direito de ignorar Comentários que se utilizem de linguagem chula, difamatória ou ilegal;

** mensagens com tamanho superior a 1000 toques, sem identificação ou postadas por e-mails inválidos serão igualmente descartadas;

*** tampouco serão admitidos os 10 tipos de Comentador de Forum.




Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




A Difícil Arte de Ser Você Mesmo
Donald Miller
Mundo Cristão
(2019)



Metodologia da Pesquisa Jurídica: teoria e prática da monografia para os cursos de direito
Eduardo C. B. Bittar
Saraiva
(2011)



Livro Infantil Turma Da Mônica - Fábulas Inesquecíveis
Mauricio De Sousa
Girassol
(2019)



O Livro dos Médiuns
Allan Kardec
Lake
(1981)



Treinamento de Força na Saúde e Qualidade de Vida
Roberto Simão
Phorte
(2009)



Coleção - Noivas da Semana - Vol. 1 ao 5
Catherine Bybee
Verus
(2017)



Livro Economia Pequena História dos Equívocos Econômicos
Antony Fischer
Livros Técnicos e Científicos
(1981)



O Morcego o Primeiro Caso do Inspetor Harry Hole
Jo Nesbo
Record
(2016)



Livro Literatura Estrangeira The Lobkowicz Collections
Não Encontrado
Scala
(2007)



Segredos da Velha Arca
Fatima Quintas
Bagaço
(2003)





busca | avançada
95668 visitas/dia
2,1 milhões/mês