Cinema é filosofia | Marília Almeida | Digestivo Cultural

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Terça-feira, 28/8/2007
Cinema é filosofia
Marília Almeida
+ de 12500 Acessos
+ 1 Comentário(s)

Ainda de luto pela morte de Ingmar Bergman e Michelangelo Antonioni, que impulsionaram lembranças de duas carreiras consistentes, parece um despropósito que alguém ainda ouse falar que o cinema é uma arte menor, dedicada apenas a entreter. Ainda mais para o doutor em filosofia Julio Cabrera, argentino que se naturalizou brasileiro e hoje é professor da Universidade de Brasília, autor do livro O cinema pensa (Rocco, 2006, 399 págs.). Para ele, diretores como Bergman e Antonioni, além de Alain Resnais e Stanley Kubrick, são verdadeiros filósofos.

O professor acredita que filmes são conceitos-imagens que podem discutir grandes polêmicas da humanidade. E vai além: para ele, a sétima arte pode ser maior do que a filosofia, composta pelos conceitos-idéias dos pensadores tradicionais, na medida em que suas imagens permitem que se problematize a história exposta, pois, ao contrário da palavra, permitem diversas interpretações. E é aí que se difere da literatura: o cinema causa maior impacto emocional, em comparação a um livro, que somente induz imagens. Mas o professor faz justiça e lembra que a literatura possui algo que o cinema nunca poderá alcançar: a psicologia interior de seus personagens.

Também concorda com os neo-realistas que cinema é tudo, menos um puro registro do real, e afirma que a arte deixa soluções abertas e duvidosas em temas constantes, como o inverossímil, o fantástico, a injustiça e a falta de comunicação. "O cinema (...) é como um olho seletivo que vai sendo surpreendido a cada instante. (...) O mal, a catástrofe, a agonia e o descontrole chamam a atenção do olho, o seduzem, arrastam-no, inundam-no até a cegueira. (...) é o surpreendente, o extraordinário o que interessa ao cinema, inclusive quando o extraordinário é o absolutamente cotidiano, como nos filmes de Wenders e Antonioni", conforme um trecho do livro.

Cabrera não fala apenas do cinema arte. Vai além: destrói preconceitos e também vê filosofia em diretores populares como Steven Spielberg e no mestre moderno, Quentin Tarantino. Ou alguém duvida que Tubarão e Parque dos Dinossauros não falem sobre a natureza controlada pela ciência, e, conseqüentemente, se relacionem com as idéias dos pensadores gregos Tales, Anaxímenes e Heráclito (que escreveram tratados sobre a origem das coisas) e os textos científicos do inglês Francis Bacon, que apresenta uma visão moderna da natureza? E que Pulp Fiction - Tempo de Violência, com sua estrutura não-linear, é, apesar dela, uma cadeia de fatos perfeitamente entendida pela mente, como o quis demonstrar o pensador escocês David Hume, mostrando acasos da vida?

Portanto, um filme que tenha um bom conceito filosófico não é, necessariamente, uma obra prima do cinema, mas é fato que muitas delas o possuem. É o caso de Blow up - Depois daquele beijo, de Antonioni. O percurso do fotógrafo que entra em um parque, tira espontaneamente fotos de um casal e pensa que, após revelá-las, pode ter retratado uma morte, demonstra que, em um momento, tudo pode passar de uma ilusão, se relacionando com a idéia do francês René Descartes. Para o filósofo, que utilizou a imagem do sonho para ilustrar suas teses, pelo menos uma vez durante a vida devemos utilizar a dúvida metódica, ou seja, colocar tudo à prova.

Por outro lado, o professor acredita que haja filósofos que podem ser considerados cinematográficos e sofreram a influência da sétima arte antes de seu surgimento no século XX. Eles tentam problematizar a racionalidade humana ao incluir um elemento afetivo como acesso essencial ao mundo. São eles: Heidegger, Kierkegaard, Schopenhauer e Nietzsche. Em oposição, o professor coloca filósofos como Aristóteles, Bacon e Wittgenstein, os pensadores lógicos. Para exemplificar, Heidegger distingue ciência e filosofia e defende a necessidade do ser falar por si mesmo. Ora, não existe conceito melhor para se basear um filme como A Noite, novamente dirigido por Antonioni, no qual o personagem se angustia apenas por ser, sem idéias profundas. Aliás, Cabrera considera o cineasta italiano um dos maiores filósofos do cinema.

A estrutura do livro de Cabrera é guiada por uma abertura didática, que visa apresentar resumidamente as idéias de um filósofo tradicional e, logo depois, quatro filmes que se relacionam com elas e embasam a tese do autor. Cada capítulo termina com uma breve biografia do pensador, complementada por trechos de seus principais tratados. O que é mais interessante é que, além de ótima fonte de consulta e introdução à filosofia (assim como o best seller O mundo de Sofia é), é também, de certa forma, do cinema. O autor se mostra profundo conhecedor da arte, relacionando cineastas, filmes e até tecendo breves comentários, sem perder o foco de sua tese, sobre o making off, estilos e atuação de atores, mostrando paixão pelo tema que retrata. Também reproduz sinopses eficientes, essenciais para se captar o espírito do filme que ainda não se viu.

Um dos pontos altos da obra é o capítulo que trata de Kant, Thomas More e a Sociedade dos Poetas Mortos, discutindo a moral e a ética diante de determinações sensíveis. Ao analisar o filme inglês da década de 60, O Homem que não vendeu sua alma, um retrato da vida de Thomas More e sua recusa em seguir um caminho oposto a seus preceitos éticos, questiona se não existiria em uma conduta supostamente condizente com uma moral elevada uma pitada de orgulho e vaidade, conflito que é colocado mais fortemente à mostra, na sua visão, pelo apelo sensível do cinema.

Cabrera desmembra essa tese e chega a seu ápice na análise de Sociedade dos Poetas Mortos, quando julga se os ensinamentos libertários do professor Keating podem ter culpa no suicídio de seu aluno Neil, que ousou lutar contra o conservadorismo da instituição escolar e de sua família e foi duramente reprimido. Ele demonstra que, tanto o conflito provocado pelo professor como a instituição poderiam matá-lo e não o fazê-lo ao mesmo tempo, mas que o ato do professor, assim como o de More e seu aluno,é compreendido e considerado ético pelo filósofo alemão Immanuel Kant, pois nasce imbuído de uma virtude que supera interesses menores.

O professor e filósofo costuma dizer a seus alunos que é necessário vivenciar os problemas filosóficos para se apropriar deles, não apenas entendê-los. Acredita também que a filosofia pode ter sido modificada pelo cinema. Porém, quando parece concluir e embasar cada vez mais sua tese, nos lembra da nossa ignorância acerca dos dois temas, lembrando que a complexidade da sétima arte já foi muito bem exposta pelo escritor francês Jean Claude Carriére, no livro A linguagem secreta do cinema. E, sem polemizar, afirma que, conseqüentemente, suas próprias definições não são eternas ou intocáveis, como, afinal, um bom filósofo diria.

Para ir além






Marília Almeida
São Paulo, 28/8/2007

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* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site

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COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
20/8/2007
19h48min
Cara Marília, Publiquei em maio deste ano (Nankin editorial), outro livro do Julio Cabrera intitulado De Hitchcock a Greenaway pela História da Filsofia onde ele desenvolve as mesmas intrigantes idéias presentes neste "O cinema pensa". Se tiver interesse em maiores informações, entre em contato. Obrigado.
[Leia outros Comentários de Antônio do Amaral]
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