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Terça-feira, 16/10/2018
Hilda Hilst delirante, de Ana Lucia Vasconcelos
Jardel Dias Cavalcanti
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Todas as pessoas que se encontraram ou conviveram com Hilda Hilst tiveram dela uma forte impressão, seja por sua personalidade ou por sua força criativa. Veja-se o depoimento de Moacir Ferraz de Carvalho Filho: “Eu, que sou amante de poesia, fiquei maravilhado com a genialidade dela, a capacidade de criar imagens e associações insólitas, mas que causam espantos gratificantes na alma da gente, o exímio domínio do ritmo e o humor delicioso.”

Este depoimento aparece no recém lançado livro, A intensa, Extremada, Delirante Hilda Hilst, de Ana Lúcia Vasconcelos, com ilustrações de Egas Francisco. O livro trata do encontro da autora com Hilda Hilst, a amizade que se estabeleceu no convívio com a escritora e seus amigos na Casa do Sol, como também aprecia a fortuna crítica com comentários não acadêmicos, que aproxima o leitor da existência real e imaginativa (tão real quanto) da escritora.

Quando morei em Campinas, durante o mestrado em História da Arte, sonhava conhecer Hilda Hilst, mas não a conheci pessoalmente, apesar da sugestão de visitá-la dada por dois amigos, o pintor Egas Francisco e o poeta e ensaísta Edson Duarte (que morou na Casa do Sol com Hilda e escreveu uma tese e posfácios sobre a obra dela). Ambos achavam que ela se interessaria por mim, devido ao gosto que tenho pela poesia dos malditos (Baudelaire, Rimbaud e Verlaine) e pela poesia mais cerebral (Valéry, Eliot, Mallarmé) ou de natureza metafísica (como Rilke). No entanto, sempre tive receio de encontrá-la, devido à sua má fama (risos) e porque o Edson Duarte me parecia alguém bem delirante, talvez quase uma incorporação da personalidade de Hilda em si mesmo (uma vez, jantando na minha casa, ele rasgou e jogou todos os seus poemas manuscritos pela janela e disse não se importar por aquilo, pois a poesia estava dentro dele, não em publicações e... dá-lhe discurso!) Só vi Hilda pessoalmente no caixão, no dia de seu enterro, com meu filho ainda criança no colo que me perguntou ao vê-la morta: “a vovó está dormindo?”. Ela acabou virando “vovó” do meu filho e uma figura enigmática para mim, pois com um morto não se conversa.

Eu já havia lido alguma coisa de Hilda Hilst na época da graduação em História, nos livros editados por Massao Ono, mas fiquei mais interessado pela sua poesia depois de alguns comentários feitos pelo professor Luis Dantas durante uma carona de carro que me deu da casa do Jorge Coli, meu orientador na época, para o Departamento de História da Unicamp. Embora não me lembre do que ele comentou, sei que ficou uma impressão forte dentro de mim de que era necessário me aventurar na obra de Hilda Hilst. Também o Edson Duarte, que recitava de cor para mim vários poemas dela, me fazia perceber a bela cadência dos versos da poeta. Daí para frente comecei a ler sua obra e o que os críticos falavam sobre sua poesia. Mas a pessoa de Hilda continuou um mistério para mim.

Graças ao livro de Ana Lúcia Vasconcelos, eu e tantos outros leitores que não puderam conviver com ela, poderão se aproximar dessa fantástica personalidade artística. Não que o enigma se resolva (talvez até se aprofunde), mas uma intimidade vai se estabelecer, pois as descrições dos encontros, conversas, leituras e o ambiente onde Hilda viveu vão se revelando como uma conversa agradável, pontuada de exclamações, interrogações, delírios, poesia e até (pasme-se, leitor!) de religião.

Para a construção do seu livro a autora se baseou no seu próprio contato com a escritora, com ricos depoimentos de amigos próximos, a leitura de sua obra, poesia e teatro (às vezes no momento de sua germinação) e os textos críticos que foram aparecendo em jornais, revistas e teses acadêmicas.

Na confluências dessas forças, Ana Lúcia Vasconcelos estabelece uma escrita de natureza marcada por uma aproximação biográfica, sem descuidar do encontro com a própria obra da autora e os comentários de críticos como Anatol Rosenfeld, Nelly Novaes Coelho, Jorge Coli, Alcir Pécora, Leo Gilson Ribeiro, J. Toledo, Edson Duarte e outros.

Além da crônica dos encontros pessoais com Hilda, a autora nos leva para dentro das questões da sua poética como também para o centro das dúvidas pessoais da escritora em relação ao mundo e ao homem, como no seguinte trecho do livro: “Hilda Hilst desarrumava a linguagem para tentar traduzir as perguntas que se fazia e seus personagens-múltiplos, tripartidos, dia e noite. Às vezes, no entanto, experimentava um profundo desânimo em relação a alguma futura transformação do homem: ´As verdades mais importantes já foram escritas. Há um impressionante acúmulo de informação que não foi ainda assimilado e apesar do indiscutível progresso tecnológico do nosso século, não se pode dizer que o homem esteja crescendo em verticalidade´”.

O universo das amizades de Hilda Hilst foi sempre muito rico, como apresenta Ana Lúcia de Vasconcelos. Talvez ela não admitisse a ignorância como companhia para seus copos de uísque. Desses amigos que sempre prezou estavam poetas, artistas plásticos, atores, músicos e cientistas. Um agrupamento de mentes ativas, preocupadas com a criação, descontentes com a certeza, que dialogavam com ela enriquecendo suas próprias ideias e obras poéticas.

O refúgio na Casa do Sol, não era propriamente o refúgio de um monge, mas de uma poeta, com seus amores, seu contato com a natureza e suas dúvidas cósmicas, era um refúgio que se transformou numa espécie de espaço para a concentração da atividade criativa e da existência. Não é à toa que sempre que queria alguém por perto, logo chamava-o para morar na Casa do Sol, como aconteceu com o escritor Caio Fernando Abreu e José Luis Mora Fuentes.

O livro de Ana Lúcia Vasconcelos tem o dom que nos trazer para dentro de uma personalidade viva, criativa e angustiada como foi a de Hilda Hilst. Mas ainda nos leva para o universo da própria obra da escritora abrindo pontes de entendimento, revelando a dimensão profunda da linguagem elaborada e musical de seus versos, deixando claro o valor que sua obra tem e terá dentro do cenário da literatura brasileira. Uma poeta desse calibre é um acontecimento raro, uma pérola guardada numa fazenda do interior de São Paulo, iluminada pelo sol da eternidade que a está aquecendo agora no além (se é que ela acreditava nisso!).

Para ir além:

Para quem quer se aventurar mais um pouco no mundo biográfico da poeta, saiu este ano uma biografia de Hilda Hilst, publicada pela editora Tordesilhas, e, diferente do livro de Ana Lúcia, recheada com algumas fotos da escritora. FOLGUEIRA, Laura e DESTRI, Luisa: Eu e não outra: a vida intensa de Hilda Hilst: São Paulo: Tordesilhas, 2018.

Existe um artigo meu, publicado aqui no Digestivo, que é a tentativa de compreender Hilda Hilst a partir do retrato dela feito pelo artista Egas Francisco.


Jardel Dias Cavalcanti
Londrina, 16/10/2018

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