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Terça-feira, 25/12/2007
O melhor do jazz em 2007
Jonas Lopes
+ de 10000 Acessos

O que faz um gênero musical perdurar e continuar caminhando para frente? A inovação, sempre. O desafio de dar um passo à frente da tradição e, ao mesmo tempo, manter um dos pés nela, respeitando-a sem emulá-la. É talvez a tarefa mais difícil, principalmente no jazz, um gênero que nunca conseguiu repetir a popularidade atingida em seus primeiros anos. Conforme a sonoridade jazzística evoluiu nas décadas de 50 e 60, ritmos como o rock e o funk foram agregados, irritando muitos puristas que só voltaram a acompanhar os novos artistas quando houve uma onda revisionista no final da década de 80. O mercado se segmentou e quem queria ouvir coisas conservadoras não teria dificuldade de encontrá-las, assim como quem queria saber apenas das novidades.

Faltava ainda um equilíbrio maior entre tradição e modernidade. Surgia algo como o acid jazz e pronto, logo brotavam hits que tocavam incessantemente nas rádios e desapareciam sem deixar rastros (quem lembra do sampler de "Cantaloupe Island", de Herbie Hancock, utilizado pela sumidade dance US3 em um sucesso das pistas?). Veio depois o auge da eletrônica e as batidas de grupos como o St. Germain, artificiais e insossos. Por utilizarem o jazz sem dialogar com o passado, essas ondas tinham poucas chances de durar. Do outro lado, os tradicionalistas, capitaneados por Wynton Marsalis, limitavam-se a macaquear discos clássicos sem colocar no som qualquer característica que acentuasse, afinal, a época em que estava sendo produzido.

Cada vez mais esse equilíbrio tem sido alcançado. Eu já havia escrito uma retrospectiva jazzística elogiosa no ano passado. Pois 2007 foi ainda melhor do que 2006. E não vai dar para evitar uma hipérbole: estamos diante da melhor geração de músicos de jazz dos últimos 40 anos. Um disco como Sky Blue, da maestrina Maria Schneider, seria recebido em 1965 com o mesmo entusiasmo de hoje. Sofisticada e incansável, Schneider deixou para trás a sombra de seu mentor, Gil Evans, para criar algo que é só seu, embora com muito do jazz clássico e apreendendo as lições de Evans. Ela é hoje uma compositora completa, capaz de buscar elementos na música brasileira ("The 'Pretty' Road" remete a Egberto Gismonti) e peruana (a sinuosa "Aires de Lando", cheia de paradas e andamentos que se confundem e um clarinete se entrelaçando com o acordeão), e na do grande compositor e maestro Aaron Copland. Em "Cerulean Skies", de 22 minutos, sua banda "interpreta" sons de pássaros com os saxes e flautas. Fora as nuances eruditas que sua orquestra realça.

O erudito também aparece no sublime Ojos Negros, parceria do acordeonista argentino Dino Saluzzi com a violoncelista alemã Anja Lechner, uma espécie de cruzamento entre Astor Piazzola e Franz Schubert. O eclético pianista Uri Caine incluiu guitarras elétricas e até um DJ nos seus arranjos de Plays Mozart. Caine está acostumado a ser massacrado por suas releituras contemporâneas e livres de Mahler, Wagner e Bach, tidas por alguns como desrespeito para com os gênios. Besteira. Uma ora-prima existe para ser desrespeitada, para que revele facetas até então inexploradas. Só uma composição medíocre não abre espaço para variações.

O saxofonista e clarinetista Ned Rothenberg, em Inner Diaspora, cavoucou o passado da família para fazer de seu disco uma atualização do jazz judaico do Masada de John Zorn (Inner Diaspora, por sinal, saiu pelo selo Tzadik, de Zorn). Rothenberg toca acompanhado de um percussionista, um baixista, um violoncelista e um violinista. Outro que recorreu às cordas foi o inglês John Surman, em The Spaces In Between, parte de suas pesquisas sobre música arcaica saxônica. O guitarrista David Torn, em Prezens, demonstra influências de rock progressivo, em especial da saudosa (e infelizmente esquecida) banda King Crimson, ao mesmo tempo em que se aproveita de beats eletrônicos.

Os registros de Surman, Torn e de Saluzzi/Lechner são frutos do trabalho cada vez mais primoroso da gravadora alemã ECM, a quem teci loas ano passado e nunca deixo de destacar. A ECM, que ganhou um dossiê amplo e reverente na edição de novembro da revista francesa Jazz Magazine e um livro contando a sua história, segue evitando os clichê de que jazz-que-suínga-é-o-único-jazz-que-presta. Em Re: Pasolini, homenagem ao polêmico cineasta, o pianista italiano Stefano Battaglia recria a ambientação dos filmes, livros e da própria biografia de Pasolini para erigir duas horas de composições abstratas, às vezes delicadas, às vezes selvagens. O baixista tcheco Miroslav Vitous avançou ainda mais: sobrepôs gravações de vocais operísticos e de conjuntos de câmara ao som de um grupo simples em Universal Syncopations II. Como resultado do experimento, camadas sonoras percebidas apenas depois de muitas e concentradas audições. Outro baixista "eceêmico", o alemão Eberhard Weber, relembrou seu passado no ao vivo Stages Of a Long Journey, acompanhado por uma grande orquestra e por outros dois dinossauros da gravadora (Jan Garbarek e Gary Burton). O oposto da grandiosidade de uma orquestra é Paul Bley, sozinho ao piano em Solo In Mondsee, composto de dez improvisos líricos. Ou os italianos Enrico Rava e Stefano Bollani (piano) nos duetos de The Third Man, que inclui versões das brasileiras "Retrato em Branco e Preto" (Tom Jobim e Chico Buarque) e "Felipe" (do maestro Moacir Santos).

Mesmo nas gravações mais tradicionalistas da ECM, há sinais de invenção e aventura. O importante trio de Keith Jarrett (piano) com Gary Peacock (baixo) e Jack DeJohnette (bateria), que completa 25 anos em 2008, continua se dedicando aos clássicos do cancioneiro norte-americano. Com reverência, mas sem respeito demais: no ao vivo My Foolish Heart eles entortam clássicos como "Oleo" (de Sonny Rollins), "Straight, No Chaser" (de Thelonious Monk, em um andamento ainda mais fragmentário do que o original) e a faixa-título, tão transformada e bela que quase nos faz esquecer da versão de Bill Evans, o "dono moral" da canção. Para fechar a parte da ECM, duas bandas que já vêm tocando juntas há tanto tempo que parecem funcionar de forma telepática: o trio do baterista Paul Motian, em Time And Time Again, e o quarteto do guitarrista John Abercrombie, em The Third Quartet.

A se comentar ainda, os competentes de sempre do jazz norte-americano. O trompetista Dave Douglas retomou o grupo Keystone para gravar Moonshine, com influência de funk e hip hop e com participação do DJ Logic. O saxofonista Chris Potter lançou dois discos contrastantes: o grooveado e simples Follow the red line e o luxuoso Song for anyone. Wynton Marsalis, vejam só, abriu mão de seu conservadorismo no político e variado From the plantation to the penitentiary, a coisa mais inventiva que grava desde sua ópera-jazz Blood on the fields (que rendeu um Prêmio Pulitzer ao trompetista). E tivemos em 2007 a volta de dois veteranos das teclas. McCoy Tyner, do famoso quarteto de John Coltrane, reuniu três feras (Joe Lovano, Jeff "Tain" Watts e Christian McBride) para reverenciar o som do velho patrão em Quartet. Já Herbie Hancock, do segundo quarteto de Miles Davis, homenageou Joni Mitchell em River - The Joni Letters. Na banda, o saxofonista Wayne Shorter e o baixista Dave Holland. E entre as participações vocais, Norah Jones, Tina Turner, Luciana Souza, Leonard Cohen e a própria Joni. Não é um disco perfeito, mas desfaz a vergonha do projeto anterior de Hancock, Possibilities, de duetos com estrelas do pop aguado (Sting, Santana, Christina Aguilera).

Algumas dessas estrelas estiveram no Brasil - e outros também. Maria Schneider regeu músicos de Ouro Preto no festival Tudo é Jazz. A casa de shows Bourbon Street, em São Paulo, trouxe uma penca de gente boa: Dave Douglas, Joshua Redman, Ravi Coltrane (filho do homem), Stefano Bollani. No Tim Festival, além de Joe Lovano e do veterano vibrafonista Bobby Hutcherson, pudemos assistir à lenda do free jazz Cecil Taylor, que esmurrou suas teclas por quarenta minutos. Os paulistanos ainda tiveram a sorte de ver, em uma terça-feira gelada e no começo da tarde, o trio Bad Plus tocar no pequeno e aconchegante teatro do Centro Cultural Banco do Brasil. Para 2008, o Tim promete Sonny Rollins, sonho da organização há anos.


Jonas Lopes
São Paulo, 25/12/2007

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