O melhor do jazz em 2006 | Jonas Lopes | Digestivo Cultural

busca | avançada
55773 visitas/dia
2,0 milhão/mês
Mais Recentes
>>> Núcleo de Artes Cênicas (NAC) divulga temporada de estreia do espetáculo Ilhas Tropicais
>>> Sesc Belenzinho encerra a mostra Verso Livre com Bruna Lucchesi no show Berros e Poesia
>>> Estônia: programa de visto de startup facilita expansão de negócios na Europa
>>> Água de Vintém no Sesc 24 de Maio
>>> Wanderléa canta choros no Sesc 24 de Maio
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> Garganta profunda_Dusty Springfield
>>> Susan Sontag em carne e osso
>>> Todas as artes: Jardel Dias Cavalcanti
>>> Soco no saco
>>> Xingando semáforos inocentes
>>> Os autômatos de Agnaldo Pinho
>>> Esporte de risco
>>> Tito Leite atravessa o deserto com poesia
>>> Sim, Thomas Bernhard
>>> The Nothingness Club e a mente noir de um poeta
Colunistas
Últimos Posts
>>> Folha:'Censura promovida por Moraes tem de acabar'
>>> Pondé sobre o crime de opinião no Brasil de hoje
>>> Uma nova forma de Macarthismo?
>>> Metallica homenageando Elton John
>>> Fernando Schüler sobre a liberdade de expressão
>>> Confissões de uma jovem leitora
>>> Ray Kurzweil sobre a singularidade (2024)
>>> O robô da Figure e da OpenAI
>>> Felipe Miranda e Luiz Parreiras (2024)
>>> Caminhos para a sabedoria
Últimos Posts
>>> AUSÊNCIA
>>> Mestres do ar, a esperança nos céus da II Guerra
>>> O Mal necessário
>>> Guerra. Estupidez e desvario.
>>> Calourada
>>> Apagão
>>> Napoleão, de Ridley de Scott: nem todo poder basta
>>> Sem noção
>>> Ícaro e Satã
>>> Ser ou parecer
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Notas de Protesto
>>> Um imenso Big Brother
>>> O enigma de Lindonéia
>>> Breve reflexão cultural sobre gaúchos e lagostas
>>> Orson Welles
>>> Crônica do Judiciário: O Processo do Sapo
>>> O produto humano
>>> O Conselheiro também come (e bebe)
>>> Do Manhattan Connection ao Saia Justa
>>> O Presépio e o Artesanato Figureiro de Taubaté
Mais Recentes
>>> África e africanias de José de Guimarães pela Museu afro brasil (2006)
>>> Caderno de leitura e literatura de Valores culturais pela Sesi-SP (2014)
>>> O Corpo Fala - Aprenda a captar os sinais de alerta de Patricia Foster pela Best Seller (1999)
>>> Historias Divertidas - Coleção Para Gostar De Ler de Vários autores pela Ática (2011)
>>> Livro Jovem Você Vai Se Arriscar? de Collin Standish pela Gutenberg (2022)
>>> Asa Branca de Luiz Gonzaga; Maurício Pereira pela Difusão Cultural do Livro (2007)
>>> Quanto Mais Eu Rezo, Mais Assombração Aparece! de Lenice Gomes; Angelo Abu pela Cortez (2012)
>>> O Bom É Inimigo do Ótimo de John L. Mason pela Legado (2004)
>>> Livro Adolescer, Verbo Transição de Organização Pan pela Opas (2015)
>>> Orientações e ações para a educação das relações étnico-raciais de Ministério de Estado da Educação pela Mec (2006)
>>> A Secularização - Coleção Teologia Hoje de Hubert Lepargneur pela Duas Cidades (1971)
>>> Livro A Família Gera o Mundo - As catequeses de quarta-feira de Papa Francisco pela Paulos (2016)
>>> Jesus e As Estruturas De Seu Tempo de E. Morin pela Edições Paulinas (1982)
>>> Nascido Profeta: A Vocação De Jeremias de Airton José Da Silva pela Edições Paulinas (1992)
>>> Livro SASTUN - Meu Aprendizado com um curandeiro Maia de Rosita Arvigo com Nadine Esptein pela Nova Era (1995)
>>> Livro Ele e Ela - Ditado pelo Espírito Maria Nunes de João Nunes Maia pela Fonte Viva (1999)
>>> A Arte De Morrer de Antônio Vieira; Alcir Pécora pela Nova Alexandria (1994)
>>> Superando o racismo na escola de Kabengele Munanga pela Mec (2008)
>>> A Vida Pré-Histórica: O Homem Fóssil - Coleção Prisma de Josué C. Mendes / Michael H. Day pela Melhoramentos (1993)
>>> Jack definitivo de Jack Welch / John A. Byrne pela Campus (2001)
>>> Você não está sozinho de Vera Pedrosa Caovilla/ Paulo Renato Canineu pela Abraz (2002)
>>> Livro Direito Empresarial e Tributário 220 de Pedro Anan Jr. e José Carlos Marion pela Alínea (2009)
>>> Paradiplomacia no Brasil e no mundo de José Vicente da Silva Lessa pela Ufv (2007)
>>> O mundo em que eu vivo de Zibia M. Gasparetto pela Espaço vida e consciência (1982)
>>> Orar é a solução de Joseph Murphy pela Record (1970)
COLUNAS >>> Especial Melhores de 2006

Terça-feira, 26/12/2006
O melhor do jazz em 2006
Jonas Lopes
+ de 6700 Acessos

Todo ano é a mesma coisa. Um punhado de apocalípticos engomadinhos surge das profundezas da falta do que fazer para decretar a morte do jazz, um gênero que supostamente morreu há trinta ou quarenta anos atrás - não é mesmo, Ken Burns e Wynton Marsalis? A grande polêmica do ano foi o lançamento de Is Jazz Dead? Or Has It Moved To A New Address?, em que o crítico inglês Stuart Nicholson defende a tese de que o gênero já não rende bons frutos em seu berço, os Estados Unidos, e que os raros de criatividade vêm exclusivamente da Europa. Um disparate. É verdade que o jazz europeu é inventivo, original e de qualidade, e isso vem desde a fundação da gravadora alemã ECM no início da década de 70. A ECM é, nos dias de hoje, a melhor fonte de boa música do planeta, seja jazz, seja música erudita ou outras misturebas mais.

Agora, dizer que na América não se faz mais bom/criativo jazz é estupidez ou pura implicância. A começar pelos dois maiores talentos desta geração, Dave Douglas e Ken Vandermark. Com apenas 43 anos, Douglas (que eu entrevistei) empunha seu trompete em uma infinidade de projetos. São mais de duas dezenas de discos gravados em sua carreira solo em pouco mais de dez anos, fora a série Masada (banda de John Zorn, outro gênio contemporâneo) e as participações em álbuns alheios. Salta aos olhos o ecletismo e a flexibilidade de Douglas: cada uma de suas bandas explora uma sonoridade distinta. Já passou pela eletrônica, pelo tango, pelo funk, pela música de câmara, música tradicional judaica e do Leste Europeu. Em 2006 ele lançou Meaning and mystery, assinado por seu quinteto. É a sua banda mais próxima do jazz convencional, o que não tira mérito algum, dada a incrível evolução de Dave como compositor. E ele continua expandindo os horizontes. Compôs a peça Blue Latitudes, apresentada em Londres em abril juntando uma orquestra de catorze músicos e um regente (seguindo as partituras) a um trio de jazz (improvisando livremente). Loucura? Não, algo natural em alguém que idolatra Coltrane e Stravinsky (e que já fez trilha sonora para espetáculos de dança) em doses iguais.

O multi-instrumentista Ken Vandermark, de 42 anos, causou burburinho em 1999, ao ser premiado com o MacArthur Fellowship (apelidado nada modestamente de "genius Grant"), um programa de incentivo às artes e à contribuição intelectual, normalmente entregue (junto com 500 mil dólares) a nomes experientes. Vandermark é quase tão prolífico quanto Dave Douglas, e todos os seus projetos buscam novas saídas para o free jazz, a vertente mais barulhenta (e atonal) e menos assimilável do jazz. Desses projetos (DKV Trio, FME, Sound In Action, Free Fall), o mais conhecido e importante é o Vandermark 5. O recente A discontinuous line traz uma mudança na formação; o violoncelista Fred Longbern-Holm substituiu o trombonista/guitarrista Jeb Bishop, sem decadência na qualidade. A Discontinuous Line é sério concorrente a melhor obra da carreira de Vandermark. Em suas mãos, a selvageria free ganha traços acessíveis e andamentos de influência roqueira.

Falando ainda de músicos norte-americanos contemporâneos de qualidade, o mutante (já brincou até com música country, no disco Nashville) guitarrista Bill Frisell abusou de seu timbre próprio (ninguém soa como ele, ninguém) em dois novos álbuns em 2006. Em Bill Frisell, Ron Carter, Paul Motian, juntou-se com dois mestres do passado - o baixista do segundo quinteto de Miles Davis (Carter) e o baterista do trio clássico de Bill Evans (Motian). E também brincou com samplers e outras quinquilharias eletrônicas em The elephant sleeps but still remembers, ao lado do calejado baterista Jack DeJohnette (do trio de Keith Jarrett). O pianista Vijay Iyer, de 35 anos, filho de imigrantes indianos, juntou-se ao saxofonista de seu quarteto (ouça Reimagining, de 2005) e parceiro de longa data Rudresh Mahanthappa nos duetos de Raw materials. O guitarrista Nels Cline, músico de apoio da banda de rock Wilco, registrou versões curiosas de composições do influente pianista Andrew Hill (mais sobre ele logo abaixo) em New monastery. O excêntrico saxofonista David S. Ware excentricamente abusou da atonalidade nas baladas de Balladware. E outros americanos, embora não tenham superado seus ápices, gravaram discos respeitáveis. Caso de Chris Potter, Matthew Shipp, Branford Marsalis (bem menos mala que o irmão), Medeski, Martin & Wood (com John Scofield) e Brad Mehldau.

Os veteranos também foram bem, obrigado. Andrew Hill promoveu sua terceira passagem pela saudosa gravadora Blue Note para gravar Time lines, seu primeiro trabalho de estúdio em seis anos. Em sua primeira estadia na BN, gravou as obras-primas Black fire (1963) e Point of departure (1964), entre outras. A segunda aconteceu na virada da década de 80 para a de 90. Time lines traz um Hill mais reflexivo (mesmo porque ele acabou de sobreviver a um câncer), dedicado a melodias mais calmas, mas nem por isso menos complexas. Seus compassos são estranhos, assimétricos, desconexos, suas viradas inesperadas. Outro pianista, Keith Jarrett, lançou o ao vivo The Carnegie Hall concert, gravado na mítica sala nova-iorquina. As peças de piano solo seguem a linha mais curta e livre de Radiance, do ano passado. Distante do tom meio épico ("olímpico", diria um amigo meu) que Jarrett costumava dar a seus concertos até alguns anos atrás. O baixista Dave Holland trouxe ao Brasil em outubro o repertório de Critical mass, em que seu entrosado quinteto habitual volta a trabalhar em ritmos matemáticos e angulares. Mais do mesmo, sim, mas do melhor. Outros tiozinhos que mandaram bem em 2006 foram Ornette Coleman, o pai do free jazz (Sound Grammar), os malucos do Art Ensemble Of Chicago (Non-cognitive aspects of the city), Sonny Rollins (Sonny, please) e Paul Motian (Garden of eden).

A ECM continuou oferecendo música de qualidade do Velho Mundo. O experiente trompetista polonês Tomasz Stanko gravou o excelente Lontano, em que seu jovem quarteto exercita espaços, vazios e silêncios. Tão bom que teve gente na imprensa estrangeira comparando o disco a Kind Of Blue, de você-sabe-quem. O pianista francês François Couturier homenageou o brilhante cineasta russo Andrei Tarkovski no belo Nostalghia - Song for Tarkovsky, cheio de peças minimalistas inspiradas em filmes e no ambiente do diretor, passeando entre o jazz e a música erudita. O pianista suíço Nik Bärtsch estreou sua banda Ronin em Stoa, que mistura influências díspares como Steve Reich e James Brown (ele classifica sua sonoridade como zen-funk). O saxofonista inglês Martin Speake provou ser herdeiro de Lee Konitz nas abstratas baladas de Change of heart. E o pianista italiano Stefano Bollani, de apenas 34 anos e que tocou no último Tim Festival, lançou Piano solo, que termina com uma tocante versão de "Don't talk", dos Beach Boys. Dos não-europeus, os melhores momentos da ECM foram o fusion da banda all star Trio Beyond (Saudade), a calmaria do acordeonista argentino Dino Saluzzi (Juan Condori) e do violonista Ralph Towner (Time line).

Só a Blue Note decepcionou um pouco. Além de Time lines, de Andrew Hill, a gravadora pouco ofereceu de interessante em 2006. Alguns de seus talentos vieram com álbuns bem frustrantes, como Jason Moran, no variado e ambicioso, mas que carece de foco, Artist in residence, e de Joe Lovano, que revisita The birth of the cool no esquecível Streams of expression.

O saldo é bastante positivo, entretanto. É claro que se o que você procura é mais um disco de regravações de standards, ou vai ter que se conformar com Diana Krall regravando Cole Porter pela milionésima vez e Wynton Marsalis revisitando Duke Ellington ou vai se juntar ao coro dos descontentes e dizer que o jazz morreu. Azar o seu. Se o que você procura são composições novas e sonoridades novas, estará bem servido. Absolutamente nada contra o maravilhoso passado do jazz, muito pelo contrário. Mas se eu quiser ouvir alguém soando como Monk ou Mingus, vou direto na fonte.


Jonas Lopes
São Paulo, 26/12/2006

Quem leu este, também leu esse(s):
01. Um jeito Mirador de ver a Wikipedia de Adriana Baggio
02. Wikipedia: fama e anonimato de Fabio Silvestre Cardoso
03. Minha primeira vez - parte II de Rafael Rodrigues
04. 2006 e os meus CDs de Rafael Fernandes
05. A Copa do Mundo é sua! de Ram Rajagopal


Mais Jonas Lopes
Mais Acessadas de Jonas Lopes em 2006
01. Tchekhov, o cirurgião da alma - 13/7/2006
02. 15 anos sem Miles Davis, o Príncipe das Trevas - 11/10/2006
03. Ser escritor ou estar escritor? - 2/6/2006
04. Cony: o existencialista, agora, octogenário - 3/5/2006
05. Herzog e o grito de desespero humanista - 18/9/2006


Mais Especial Melhores de 2006
* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site



Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Conhecimento Transdisciplinar
Laerthe Abreu Jr.
Unimep
(1996)



Estratégia de empresas 380
David Menezes Lobato
FGv
(2009)



Uma fábula
William Faulkner
Nova Fronteira
(1983)



Reflexões Sobre Temas Bíblicos
Fernando José Marques
Ordem do Graal na Terra
(2004)



Livro Sociologia Garotas de Programa Prostituição em Copacabana e Identidade Social
Maria Dulce Gspar
Jorge Zahar
(1985)



Livro Saúde O Pequeno Livro de Pilates Guia Prático que Dispensa Professor e Equipamentos
Erika Dillman
Record
(2004)



Caçada A Bomba Atômica De Hitler- A Corrida Secreta Para Impedir a Produção das Armas Nucleares dos Nazistas
Damien Lewis
Cultrix
(2017)



O Individualismo e os Intelectuais
émile Durkheim
Edusp
(2017)



Fetiche
Tara Moss
Fundamento
(2008)



Dr galton o Restaurador de Passados
Sidney fernandes
Ceac
(2016)





busca | avançada
55773 visitas/dia
2,0 milhão/mês