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Quarta-feira, 3/12/2008
O Jabuti de Cristovão Tezza
Luiz Rebinski Junior
+ de 5100 Acessos

Nunca acompanhei com tanta atenção um prêmio Jabuti quanto o deste ano. Cristovão Tezza foi o vencedor da categoria romance, uma das mais importantes e aguardadas. Sou leitor de Tezza desde a adolescência, quando não tinha grana para comprar livros e ia até a Biblioteca Pública do Paraná para vasculhar as estantes onde os romances do escritor ficavam arrumados, bem pertinho dos de Dalton Trevisan. E ainda hoje é assim, os dois escritores continuam lado a lado nas estantes da BPP, repousando juntos em uma espécie de homenagem involuntária (ou não?) feita pela bibliotecária responsável pela arrumação da obras.

Curitiba se encontra naquelas estantes. Esqueçam os roteiros de turismo e livros de história, é ali que a cidade se revela. Apesar de serem autores bastante diferentes, há muito em comum na literatura que fazem. Tezza, mais novo, assimilou de forma fantástica o que o mestre Dalton Trevisan sempre teve de melhor: a capacidade de captar especificidades locais e transformá-las em literatura universal. Foi assim que Dalton se transformou em um grande escritor. E Tezza segue o mesmo caminho.

Trajetória que começou a desabrochar com um romance bastante revelador da atmosfera curitibana. Antes de Trapo, que em 2008 completou 20 anos, Tezza já tinha alguns livros lançados, mas foi com a história do poeta maldito que o escritor começou a ser percebido. O romance, que suscitou os mais variados comentários ― como a suspeita de o personagem principal ser inspirado em Paulo Leminski, o que o autor sempre rechaçou ―, já trazia a engenhosidade narrativa que Tezza aperfeiçoaria em livros futuros, como o ótimo Breve espaço entre cor e sombra (1998).

Além de Trapo, que pode operar pequenas revoluções na cabeça de um jovem leitor, Tezza tinha outros títulos igualmente instigantes para quem estava atrás de uma literatura descomplicada, acessível e arrebatadora. Devedor do ideário hippie, Tezza foi discípulo de Wilson Rio Apa, com quem trabalhou, na década de 1970, no Centro Capela de Artes Populares, no litoral do Paraná. Da experiência de viver em comunidade nasceram livros afinados com o sonho da geração de 1968, como é o caso de Ensaio da paixão, talvez seu livro mais ripongo, escrito em 1980, mas só lançado em edição nacional em 1999. Ali o escritor revê sua própria trajetória na pele de bichos-grilos que vão encenar a paixão de Cristo em uma ilha - espécie de paraíso daqueles que insistem em acreditar que o flower power ainda é possível. O livro discute várias questões caras à geração dos anos 1960, tal como a sexualidade, o feminismo e, claro, as ideologias. Não é um dos seus melhores trabalhos, obviamente, mas é um livro para não se esquecer quando se lê jovem. Ainda mais quando o livro lhe cai às mãos depois da leitura de Trapo. Os dois romances trazem um tom marginal e transgressivo; uma anarquia tocante que fascina qualquer adolescente à procura de novidade ― o que não quer dizer que sejam livros ingênuos. Tezza sabe como despertar certos sentimentos em seus leitores. É perito na arte de instigar sonhos e nostalgia.

Ainda que essa inquietação jovem apareça em seus romances subseqüentes, é com livros como Uma noite em Curitiba (1995) e as seqüências Juliano Pavollini (1989) e O fantasma de infância (1994) que a literatura de Tezza dá um salto. O autor emplaca uma seqüência de bons livros, em que as tramas narrativas ficam cada vez mais engenhosas e afinadas. Em O fantasma da infância, por exemplo, Tezza constrói uma história cheia de mistério, em que o tom policial divide espaço com interessantes relatos psicológicos dos personagens. E, em todas as histórias, a paisagem urbana aparece como personagem onipresente. Assim como Dalton Trevisan, Tezza revela uma Curitiba não-oficial, desvinculada da propaganda e por isso tão verdadeira. Uma cidade talvez ainda mais soturna e solitária do que realmente seja. E foi isso que sempre me fascinou em seus livros: a habilidade para transformar cenários em peças essenciais da narrativa. Em outras palavras, Cristovão Tezza, aos poucos, foi se tornando o grande romancista de Curitiba. Sem que isso o tornasse um escritor "regional", se é que isso existe.

"Tematicamente Curitiba me forneceu um pano de fundo. Uma matéria-prima. Vários romances meus se passam na cidade. Eu uso a cidade ― se bem que ninguém usa Curitiba, é Curitiba que te tem. Esse espaço da atmosfera curitibana é totalmente involuntário, não consigo pensar sobre isso objetivamente. Mas eu acho que a cidade tem algumas qualidades boas que favorecem a atividade literária, já que é um lugar bastante solitário, você fica sempre meio escondido, isolado, e isso te dá certo conforto de tempo para escrever, pois não é uma metrópole como São Paulo. E também tem a discrição, a maneira silenciosa, um pouco refratária de viver. E você acaba sendo absorvido por isso", disse-me o autor em uma entrevista.

Mas Tezza destaca-se também pela capacidade de criar personagens fortes, que vivem no limite da própria existência e sorte. Tais personagens sempre permearam a literatura do escritor, que por vezes assumiu riscos ao apostar em tipos tão propícios ao caricato e ao clichê. E agora, com seu livro mais festejado e premiado ― O filho eterno (2007) ―, Tezza mergulha novamente em um tema não só delicado, mas, sobretudo, perigoso do ponto de vista literário. Ao escrever um livro abertamente autobiográfico, em que o tema central gira em torno da Síndrome de Down do filho Felipe, Tezza corria o risco de conceber um romance em que a figura paterna sobrepujaria o romancista, o que seria até mesmo natural e justificado. Mas não é o que acontece, apesar da sinceridade e emoção que brotam das páginas do livro. Ficção e realidade se fundem de forma única, o que, talvez, seja o grande mérito do livro.

Pouco antes de O filho eterno ser lançado, conheci Tezza. Já o tinha visto algumas vezes na fila do banco ou no mercado, pois morei durante muitos anos no mesmo bairro que ele. Por conta de uma entrevista, pude conhecê-lo pessoalmente. Tezza me recebeu em sua casa e, mesmo achando que eu tinha cara de estudante de jornalismo e não de jornalista, dedicou duas horas de seu tempo para falar de literatura comigo. Foi muito atencioso, mostrou, no computador, as novas capas de seus romances que a editora Record iria relançar e me deu alguns livros autografados. Fui embora satisfeito com a entrevista e muito mais por ter conhecido um escritor que sempre admirei. Um autor que, depois de uma dúzia de livros, aos 56 anos, recebeu seu principal prêmio, muito mais ― acho eu ― pela regularidade de bons trabalhos, do que por este último romance isolado. Isso porque Tezza, há muito tempo, é um dos melhores romancistas brasileiros em atividade. A diferença é que, agora, sua literatura alcançará, finalmente, outra dimensão.

Nota do autor
Além do Prêmio Jabuti, O filho eterno foi considerado o melhor livro de ficção pela Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA) e ficou com o primeiro lugar do Prêmio Portugal Telecom de Literatura em Língua Portuguesa. Levou, ainda, o recém-criado Prêmio São Paulo de Literatura.

Para ir além






Luiz Rebinski Junior
Curitiba, 3/12/2008

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