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Quinta-feira, 15/7/2010
No futebol, como na vida
Marcelo Spalding
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No futebol, como na vida, nem sempre vencem os melhores. Até porque quem são os melhores? A Argentina com seu futebol ofensivo de vários craques canhotos, o Uruguai com seu charme centenário e sua garra renovada, o Brasil com sua cara de Itália, a Alemanha com seus estrangeiros contratados, a Holanda com seus atacantes de olhos azuis, a Espanha com seus um-a-zero? No futebol, como na vida, há melhores e piores em cada situação, para cada adversário/adversidade, mas no futebol, diferentemente da vida, é preciso que alguém saia como campeão, e essa conjunção de fatores que leva um melhor a vencer outro melhor e se tornar O melhor nos diz que a Espanha é, enfim, a melhor seleção do mundo.

Um jornal espanhol estampou que finalmente o futebol retribuía a um século de paixão dos espanhóis pelo esporte. Pois é, no futebol, como na vida, jornais gostam de hipérboles, sensacionalismos, goleiros que matam namoradas com ajuda de traficantes, pais que atiram filhos pela janela, namorados que sequestram namorada, amiga, atenção.

No futebol, como na vida, a Europa ainda dá as cartas, e não há crise financeira internacional, não há queda nas bolsas ou especulação imobiliária que impeça uma final entre Holanda e Espanha, como outrora fora França e Itália. Não há risco país ou déficit público que impeça os PIGS (Portugal, Itália, Grécia, Espanha) de participar da Copa. Todos eles. E um deles, ganhar.

Verdade que no futebol, diferentemente da vida, os Estados Unidos joguem como nunca e percam como sempre, e os chineses sequer consigam vencer os coreanos do norte para pelo menos figurar na Copa com seus milhões de turistas. E aposto que a FIFA adoraria que lá estivessem.

Até porque no futebol, como na vida, alguns são mais iguais do que outros perante a Lei. Rege a lenda que uma seleção nacional é composta pelos melhores jogadores do seu país, mas o que explica, então, na Alemanha haver jogadores poloneses, ganeses, brasileiros, sérvios, e até alemães? Por que será que na África do Sul ou na Costa do Marfim não havia nenhum jogador alemão, inglês ou espanhol para fingir que sabia o hino do seu novo país? Mesmo entre europeus há os mais iguais, ou o que explica o árbitro evitar os cartões amarelos para Robben e Sneijder, os craques de olhos azuis da laranja outrora mecânica, desta vez macanizada?

No futebol, como na vida, não serão os tolos aplaudidos pela sua tolice, os corretos lembrados pela sua retidão, e sim a astúcia saudada com vinhetas como a providencial mão do uruguaio Suárez ou os dois passes de braço do nosso Luís Fabiano. E lances decisivos, como o belo gol de Iniesta, sairão de jogadas irregulares como o escanteio transformado em tiro de meta pelo belo árbitro da grande final.

Bom que no futebol, como na vida, a roda gira, gira e os eventos se repetem para uma espécie de tira-teima. Ingleses e alemães depois de 44 anos reviram o lance da bola que bate no travessão e entra ou não entra, enganando o juiz e mudando o rumo da partida. Mas desta vez do lado contrário.

No futebol, como na vida, não há limites para a vaidade humana. Milhares de personagens fantasiados compareciam aos estádios para um segundo de take no telão, uma fotografia na contracapa de algum jornal, um instante de admiração dos amigos. Talvez sejam todos netos da minha avó, que dizia "quer aparecer, pendura uma melancia no pescoço". Faltou pouco, até celular acomodado entre os peitos valeu. Sem contar alguns jogadores que gastaram mais tempo com seus cortes de cabelo do que aprimorando seus passes, e um em especial, o gajo Ronaldo, que em campo cuidou mais do telão do que o goleiro adversário.

Aliás dessa vez a vaidade humana foi tão longe que, pasmem, atingiu o reino animal com a criação de um polvo vidente, um polvo a quem já foi oferecido 30 mil euros para mudar de país, um polvo que atrairá, decerto, milhões de turistas para uma cidadezinha alemã enquanto estiver vivo, um polvo que talvez o que mais quisesse era não ter participado de Copa nenhuma, e sim voltar para de onde foi um dia retirado.

No futebol, como na vida, há sempre um culpado pelos tropeços, frangos, fracassos. Numa escola a culpa da desorganização é dos alunos; numa empresa, dos funcionários; e na Copa, da bola. Ora, seria tão melhor uma Copa sem a bola, não é mesmo? Apenas badalação, hinos, um placar combinado, festa, choro. Sem esquecer do telão, é claro. Pois curiosamente nessa Copa se ouviu falar muito mais da tal Jabulani, Geni dos derrotados, do que de qualquer craque. Aliás, quem foi mesmo o craque?

No futebol, como na vida, os operários não são lembrados, eternizados, e quando o são ganham lá sua plaquinha de funcionário do mês e ponto final. Aposto que Furlán não será eleito o melhor do mundo no final do ano pela FIFA. Aposto num espanhol ou num dos olhos azuis da Holanda, talvez aquele que estava proibido de levar cartão amarelo. Mas não Furlán, que merecia ter sido artilheiro da Copa, merecia ter feito aquele gol no minuto final, merecia até estar jogando a final (e tenho certeza que teríamos um jogo com menos pontapés), mas não sei se merecia ser o melhor da Copa. Porque no futebol, como na vida, eleger um melhor é esquecer de uma centena de outros tão bons quanto o melhor.

Agora é esperar a aguardada Copa no Brasil. Claro que ao longo desses anos estaremos permanentemente sendo ameaçados pela FIFA, pela mídia, pela oposição de que não sairá a Copa no Brasil, de que será preciso fazer mais, gastar mais, porque no futebol, como na vida, há muito mais coisas entre o céu e a terra do que sonha nossa vã filosofia. E troque coisas por interesses, se assim desejar.

Ainda assim nós amamos o futebol, como a vida. E aos que falam mal do futebol, e aos que reclamam da vida, diria eu a mesma coisa: no futebol, como na vida, há muito menos justiça que emoção, e de emoção é feita a vida. E o futebol.


Marcelo Spalding
Porto Alegre, 15/7/2010

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