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COLUNAS

Quarta-feira, 4/8/2010
A estreia de Luís Henrique Pellanda
Luiz Rebinski Junior
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Pode não parecer, mas Curitiba sempre revelou bons escritores. A diferença é que o escritor curitibano não muda de postura quando resolve encarar a carreira literária; geralmente não faz questão de botar o nariz para fora e dizer: "olha, eu agora tenho um livro, leiam minha obra, eu existo". Não, ele fica exatamente no mesmo lugar, sem ser notado. Melhor assim, pensa. O que certamente é uma espécie de suicídio literário. Mas que não chega a preocupar o escritor curitibano.

É só pensar em Newton Sampaio. Alguém conhece? Bem, Newton Sampaio foi o maior contista do Estado do Paraná. Isso quem diz é justamente aquele que é conhecido como o maior contista do Paraná (para muitos, do Brasil): Dalton Trevisan. Está registrado: "O maior contista do Estado foi um moço chamado Newton Sampaio". E Jamil Snege, alguém conhece? Foi um escritor meio experimental que nasceu e morreu em Curitiba sem ser notado nacionalmente. E alguém já leu Comendo Bolacha Maria no Dia de São Nunca, do Manoel Carlos Karam? E quem, fora da cidade, conhece a história (real) de Emiliano Perneta, que um dia foi coroado "príncipe dos poetas paranaenses" em uma cerimônia kitsch no Passeio Público de Curitiba, em 1911?

Bem, tudo indica que esse não será o caminho de Luís Henrique Pellanda, apesar de ser um curitibano comprometido com as nossas piores qualidades e com os nossos melhores defeitos. Pellanda fez sua estreia nacionalmente há pouco com O macaco ornamental (Bertrand Brasil, 2009, 192 págs.). A estreia, no caso de Pellanda, pode-se dizer que foi tardia. O escritor tem apenas trinta e poucos anos, mas é veterano das letras e do jornalismo. Já escreveu romances refugados pela autocrítica e é autor de peças de teatro, sem contar seu trabalho no jornalismo voltado aos livros, primeiro no jornal Gazeta do Povo e, agora, no Rascunho, onde é um dos editores. Essa experiência se revela nos quatorze contos de seu livro. Definitivamente não é uma coletânea de iniciante, já que Pellanda destila um domínio narrativo pouco comum para debutantes.

Se fosse resumir em uma linha a temática do livro, o que certamente não faria jus ao conteúdo, diria que são histórias sobre o passado, sobre aquelas lembranças que ficam escondidas nos porões da mente e que, sem aviso prévio, um dia vêm à tona e nos deixam atordoados. É assim com o personagem de "Caldônia Beach", um ex-estudante de pintura que, aos trinta e cinco anos, se vê abalado por lembranças de sua adolescência, quando recebe a notícia da morte de seu professor e mestre de pintura. Remexendo seus arquivos, encontra o primeiro desenho que fez de uma modelo nua ― a Caldônia do título. A partir daí começa uma busca pelo paradeiro da modelo, que, na verdade, é a busca pela trajetória do narrador. Esse exercício de memória demonstra a complexidade do personagem que, aparentemente, é um loser não muito interessante, mas que, aos poucos, vai revelando suas idiossincrasias.

"Não vem ao caso, agora, te contar os maus rumos que minha vida tomou nesses últimos vinte anos. Mas digo que, quando soube da morte do professor, me senti gelado. Como há anos não me sentia. E fui em busca de um calor no cruzamento entre a minha vida e a dele", diz o narrador Sileu. Esse conto é o pé na porta de Pellanda. Pra deixar o leitor em alerta e lhe dizer, subliminarmente: "você vai encontrar mais disso aqui nas próximas páginas, siga em frente". O recurso da memória está presente também em contos como "Ladrão de cavalos" e "O buquê", em que Quitéria, uma mulher rancorosa, narra o enterro da amiga morta e discorre sobre o passado de ambas. Com um pezinho nas histórias rodrigueanas, o conto aparentemente é sobre um amor não correspondido entre a narradora Quitéria e a morta Ondina. Mas, realmente, não dá para saber.

Pellanda, mesmo com narrativas em primeira pessoa, consegue fugir da auto-adulação que virou regra na literatura brasileira dos últimos tempos. Seus personagens soam bastante autênticos e sua narrativa não deixa aquela impressão, comum nos livros de jovens escritores, de que estamos lendo um diário travestido de ficção. É notória a opção do autor por uma narrativa mais introspectiva, em que as divagações dos personagens, quase sempre se remetendo ao passado, são responsáveis pelos detalhes da história. Esses contos, guardadas as devidas proporções, lembram as primeiras histórias de João Gilberto Noll em O cego e a dançarina, volume de contos em que já é possível ouvir os primeiros ecos da inconfundível voz literária do autor gaúcho, mais tarde estabelecida em seus grandes romances dos anos 1990.

Assim como Noll, Pellanda equilibra bem a vocação para a digressão de seus personagens com a trama, também conhecida como história. Mas, mesmo com esse domínio sobre seus personagens e suas elucubrações, um dos melhores momentos do livro se dá quando o autor segue um caminho, digamos, mais conservador.

"Little boat of Love" conta a história de uma trip entre amigos que, em pleno carnaval, descem o litoral paranaense para ganhar uns trocados tocando em bares. Apesar de curto, o texto tem grande intensidade e remete às melhores histórias do malucão Irvine Welsh, com uma pegada pop bacana. Mais uma vez, o corte no tempo serve para que o narrador conte uma história paralela que dará sentido ao conto. Junto com "Caldônia Beach", é a melhor história da coletânea.

Sempre achei perigoso quando um personagem divaga demais em um texto ficcional, pois, a depender da erudição de seu autor, a chance de o texto virar um rosário de bobagens, de confissões sentimentalóides, é bastante grande. Por isso me rendi à primeira coletânea de contos de Pellanda. É lenha um autor iniciante adentrar nesse terreno em que as ideias dos personagens, como forma de reflexão diante da vida, assumem as rédeas da narrativa. E, nas entrelinhas, pode-se ler discussões inteligentes sobre sexo, morte, amizade, etc. Em histórias como "Amigo vivo, amigo morto" e "Ingratidão", Pellanda, em apenas um mísero parágrafo, aplica um soco no estomago do leitor com contos que adquirem jeitão de máxima. Deleite para os admiradores do miniconto.

"Ela cuidou de mim por quinze anos, gerou e criou meus dois filhos, perdeu o terceiro no parto, me preparou cinco mil almoços, coou todos os cafés que bebi, lavou minhas roupas na mão e meu corpo durante a febre, suportou quatro surras até me afastar da bebida, lutou comigo contra o câncer e a maledicência dos que me chamavam de inconstante, mas bastou um sorriso teu, só um, pra eu desejar que ela estivesse morta". Foda.

É sempre animador ler um bom livro de estreante não só pelo conteúdo, claro, mas principalmente porque livros como O Macaco Ornamental soam como um ótimo prenúncio de que coisas ainda melhores vêm por aí. Esperemos, Pellanda.

Para ir além






Luiz Rebinski Junior
Curitiba, 4/8/2010

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