A Fantasia Verossímil, ou: Thor | Duanne Ribeiro | Digestivo Cultural

busca | avançada
124 mil/dia
2,0 milhões/mês
Mais Recentes
>>> Bela Vista Cultural | 'Saúde, Alimento & Cultura'
>>> Trio Mocotó
>>> O Circo Fubanguinho - Com Trupe da Lona Preta
>>> Anaí Rosa Quinteto
>>> Chocolatte da Vila Maria
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> O Big Brother e a legião de Trumans
>>> Garganta profunda_Dusty Springfield
>>> Susan Sontag em carne e osso
>>> Todas as artes: Jardel Dias Cavalcanti
>>> Soco no saco
>>> Xingando semáforos inocentes
>>> Os autômatos de Agnaldo Pinho
>>> Esporte de risco
>>> Tito Leite atravessa o deserto com poesia
>>> Sim, Thomas Bernhard
Colunistas
Últimos Posts
>>> The Piper's Call de David Gilmour (2024)
>>> Glenn Greenwald sobre a censura no Brasil de hoje
>>> Fernando Schüler sobre o crime de opinião
>>> Folha:'Censura promovida por Moraes tem de acabar'
>>> Pondé sobre o crime de opinião no Brasil de hoje
>>> Uma nova forma de Macarthismo?
>>> Metallica homenageando Elton John
>>> Fernando Schüler sobre a liberdade de expressão
>>> Confissões de uma jovem leitora
>>> Ray Kurzweil sobre a singularidade (2024)
Últimos Posts
>>> Uma coisa não é a outra
>>> AUSÊNCIA
>>> Mestres do ar, a esperança nos céus da II Guerra
>>> O Mal necessário
>>> Guerra. Estupidez e desvario.
>>> Calourada
>>> Apagão
>>> Napoleão, de Ridley de Scott: nem todo poder basta
>>> Sem noção
>>> Ícaro e Satã
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Alice e a História do Cinema
>>> Com-por
>>> Revista Ato
>>> Juntos e Shallow Now
>>> Contos Clássicos de Fantasma
>>> O bom, o ruim (e o crítico no meio)
>>> O surpreendente Museu da Língua Portuguesa
>>> As Últimas, de Pedro Doria e Carla Rodrigues
>>> Kafka: esse estranho
>>> Live: tecnologia e escola
Mais Recentes
>>> Livro Literatura Brasileira Para Viver um Grande Amor de Vinicius de Morais pela Circulo do Livro (1980)
>>> Los Siete Poderes de Víctor Sueiro pela El Ateneo (2008)
>>> O Princípio da Caixa-preta de Matthew Syed pela Objetiva (2016)
>>> Angústia de Graciliano Ramos pela Record (1995)
>>> Sobre Cerebros, Neuronios e Pessoas de Roberto Lent pela Atheneu (2011)
>>> Livro Literatura Brasileira Biblioteca Folha 3 Iracema de José de Alencar pela Ediouro (1997)
>>> Livro Literatura Estrangeira O Construtor de Pontes de Markus Zusak pela Intrinseca (2018)
>>> Livro Infantil Poemas Para A Infância Antologia Escolar 1º Grau de Henriqueta Lisboa pela Edições de Ouro
>>> Aprenda A Amar de Mary Jaksch pela Publifolha (2005)
>>> Livro Literatura Estrangeira O Mistério do Trem Azul Um caso de Hercule Poirot de Agatha Christie pela Nova Fronteira (1976)
>>> Livro Literatura Estrangeira A Cidade do Sol A Thousand Splendid Suns de Khaled Hosseini pela Nova Fronteira (2007)
>>> Criança Brincando! Quem Educa? de Luiza Helena Tannuri Limeirão pela João de Barro (2007)
>>> O Meu Primeiro Emprego - A Chave Do Sucesso Para Quem Está Comecando de José Ney Lanças pela Campus (2003)
>>> Nova Chance Para a Vida de Roberto de Carvalho pela Boa Nova
>>> Livro Literatura Estrangeira O 11 º Mandamento de Abraham Verghese pela Companhia das Letras (2011)
>>> Livro Literatura Estrangeira O Pistoleiro A Torre Negra Volume 1 de Stephen King pela Objetiva (2001)
>>> Natureza muito mais poderosa do que Deus de Tomio Kikuchi pela Musso (2000)
>>> Livro Literatura Estrangeira Morte Súbita de J. K. Rowling pela Nova Fronteira (2012)
>>> Venda Mais de Raúl Candeloro pela Casa Da Qualidade (1997)
>>> Convité À Filosofia de Marilena Chaui pela Ática (2000)
>>> Livro Arqueologia A Mulher na Janela de A. J. Finn pela Arqueiro (2018)
>>> Livro de Bolso Literatura Estrangeira O Homem Do Terno Marrom de Agatha Christie pela Record
>>> Livro Literatura Estrangeira Seduzido pelo Coração de uma Lady Série Lords of Honor V.1 de Christi Caldwell pela Pausa (2019)
>>> Os Sete Passos Para Ficar De Bem Com A Vida de Marci Shimoff; Carol Kline pela BestSeller (2008)
>>> Os sacramentos da igreja na sua Dimensão Canônico-Pastoral de Jesús Hortal pela Loyola (1987)
COLUNAS

Terça-feira, 7/6/2011
A Fantasia Verossímil, ou: Thor
Duanne Ribeiro
+ de 5100 Acessos
+ 1 Comentário(s)

Uma árvore se estende imensa pelo espaço vazio. Tronco prenhe de galáxias, ramos cintilando de estrelas, copa de nebulosas - seus contornos somente adivinhados, árvore imensa que é a própria estrutura do universo. A origem de uma imagem tão mística e poética é surpreendente: essa interpretação renovadora de um mito nórdico é apresentada durante os créditos de Thor. Trata-se de Yggdrasil, relida pelo que hoje sabemos do nosso mundo. A fantasia renasce quase aceitável, sedutora, novamente possível. Isto é, o poder da imagem está em que o irreal retoma sua familiaridade com o real. Em que eles se sobrepõem.

Quero acreditar que aí se enxerga como o fantástico é criado. Sempre como esse desnível em relação ao que já conhecemos, mas de tal forma que ambos não estejam muito distantes; que se harmonizem. Uma prova pode ser a seguinte: esse trecho, o mais significativo de Thor, tem pouquíssimo destaque. Não reforça a narrativa ou parece ter qualquer funcionalidade específica: é apenas uma ilustração paralela. Por outro lado, talvez sua elaboração tenha sido exigida pelo processo criativo. Os criadores partiriam da pergunta: como é que isso poderia ser real? Como se adequa ao que a ciência diz? A fantasia, não como arte do impossível, mas da resiliência, tratando, aqui e sempre, só de impossíveis aceitáveis.

Esse parece ser o elemento de maior força no primeiro Matrix, por exemplo: não é absurdo que todas as nossas percepções sejam enganosas; a filosofia, de Descartes a Husserl, lidou com o problema de formas variadas. Também é o núcleo de Arquivo X - o desacordo entre todas as evidências do mundo real e a existência de vida sobrenatural ou extraterrestre é desfeito com a criação de uma conspiração governamental imensa. O mesmo argumento funciona para gerar a crença em sociedades secretas e poderosíssimas, como seriam os Iluminatti ou o Clube de Bilderberg. Uma terceira possibilidade se vê nos livros de Anne Rice ou J.K. Rowling: vampiros, magos e outros seres existem; mas se esmeraram em permanecer anônimos.

A ficção de Thor também se justifica por esses dois últimos elementos. A ação subterrânea do governo acontece por meio da S.H.I.E.L.D., que prepara o lançamento de Os Vingadores (é curioso que o mesmo expediente tenha sido usado no teaser de Transformers 3). E os deuses nórdicos são destacados da fábula para caberem na nosso folclore contemporâneo.

Guilherme Montana percebe que, em Thor, os personagens parecem menos divindades do que alienígenas. Isso funciona no mesmo sentido: é pouco aceitável que existam deuses nórdicos (sabemos que só existe um deus, o cristão), mas é razoável que visitantes de outros planetas tenham sido pensados como divinos pelos selvagens que os conheceram. É o que afirma, por exemplo, a teoria dos astronautas antigos. Além da frase de um personagem ("basta jogar um raio nos humanos para que nos tratem como deuses"), também confirma essa interpretação as viagens interplanetárias do filme, idênticas às de Star Gate: um meio avançado de transporte, que faz uso de portais, túneis universais entre um ponto e outro. Plausível, claro.

Um último recurso para que o filme seja perfeitamente possível foi resumido por André Azenha, no Cinecartógrafo: "O contraste entre Asgard e a Terra não ofende a inteligência do público. Na verdade, a explicação é bem simples: lá, ciência e magia são a mesma coisa". O argumento é: não se pode crer que existam poderes mágicos inexplicáveis, mas sim que se desenvolva uma capacidade do tipo como uma tecnologia. A magia é um ponto futuro em uma evolução técnica, assim como, em Harry Potter, já se disse que ela é o mero fruto de uma evolução genética.

Expectativas
Há um trecho curioso no texto de Montana, com um argumento muitas vezes formulado quando Thor involuntariamente esteve em um imbróglio racial. O artigo faz a seguinte distinção: "Este filme é sobre Thor, o herói escandinavo da Marvel, e não Tór, o deus da mitologia escandinava". Como se realiza essa divisão? Onde a fronteira entre essas duas irrealidades?

O texto também afirma: "A mitologia nórdica usada no filme não é um retrato fiel, mas apenas inspirativo". Essa mitologia, portanto, só pode ser recontada, se é para usarmos seus símbolos com propriedade. A exigência de fidelidade permite que toda variação seja descartada e que só o mito puro seja considerado como ligado à cultura original. Transpostos a cenários estranhos, os símbolos então se multiplicam, gerando versões semelhantes, mas que não se comunicam.

Assim sendo, o Odin de Deuses Americanos, de Neil Gaiman, não é o próprio - é só o Odin de Gaiman. As deidades de O Crepúsculo dos Deuses, de Wagner, são outras também. Em O Auto da Compadecida, Jesus Superstar e A Paixão de Cristo, três Cristos distintos. É estranho que o texto afirme que "seria correto se houvesse manifestações contra um Oxóssi interpretado por Brad Pitt". Ora, por que não se poderia dizer: esse é meu Oxóssi, não o do Candomblé? A decisão fica na proposta do autor? Na seriedade assumida pelo filme? No que?

São dois círculos fechados de sentido os propostos por Montana: num deles, está a mitologia; noutro, está o herói da Marvel. No primeiro dos círculos, é razoável que na origem do universo haja uma vaca primordial que cria rios de leite com suas tetas, mas não que Thor fale inglês - como o artigo argumenta. A fixação de fronteiras parece acontecer em um só lugar: no âmbito das expectativas do público. Thor jamais merecerá fé e crença, como seu sósia recebeu. Essa distinção nasce diretamente do que se pode esperar de um personagem, de um símbolo - de que partes do real ele se alimenta, em que dimensões ele pode ser tratado.

O que se vê é uma sofisticação de toda a proposição inicial: a condição de possibilidade para o fantástico, além de um diálogo entre real e irreal, é uma adequação ao espectador. A fantasia é algo que funciona apenas como um sistema restrito de coerências, dependente de um público. Se Stan Lee viu nos superheróis a mitologia contemporânea, ele não percebeu o tipo de limites a que suas criações estão submetidas: a experiência mitológica simplesmente não é possível.

Em A História sem Fim, um garoto lê um livro, se identifica mais e mais com o protagonista e de repente se vê dentro da história, sendo o único capaz de dar à princesa daquele mundo a cura do mal que a destruiria junto com seu universo: um nome. E ele será também responsável por recriar, como um deus no vazio da existência desfeita, tudo novamente. A fantasia atrai para que o leitor crie a fantasia. Pelo que somos atraídos, levando em conta Thor? Por um divino que seja menos transcendente; por uma visão de governo e ciência como insondáveis. Há de se ver ecos disso em diferentes âmbitos da sociedade.


Duanne Ribeiro
São Paulo, 7/6/2011

Quem leu este, também leu esse(s):
01. Agonia de Daniel Bushatsky


Mais Duanne Ribeiro
Mais Acessadas de Duanne Ribeiro em 2011
01. Bailarina salta à morte, ou: Cisne Negro - 15/2/2011
02. Manual para o leitor de transporte público - 29/3/2011
03. Frases que soubessem tudo sobre mim - 5/7/2011
04. Dexter Versus House - 4/10/2011
05. A Serbian Film: Indefensável? - 30/8/2011


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site

ENVIAR POR E-MAIL
E-mail:
Observações:
COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
31/5/2011
13h26min
Olá Duanne, obrigado pela citação no texto. Mas, na verdade, a crítica que assinei foi publicada originalmente no site que edito, o CineZen, do qual o Cinecartógrafo é parceiro. Parabéns pelo texto e abraços, André
[Leia outros Comentários de André Azenha]
COMENTE ESTE TEXTO
Nome:
E-mail:
Blog/Twitter:
* o Digestivo Cultural se reserva o direito de ignorar Comentários que se utilizem de linguagem chula, difamatória ou ilegal;

** mensagens com tamanho superior a 1000 toques, sem identificação ou postadas por e-mails inválidos serão igualmente descartadas;

*** tampouco serão admitidos os 10 tipos de Comentador de Forum.




Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Pedagogia Da Autonomia
Paulo Freire
Paz e Terra
(2007)



Investigaçao Sobre Ariel
Sílvio Fiorani
Record
(2015)



Variante Gotemburgo
Esdras do Nascimento
Nórdica
(1977)



História da Riqueza do Homem
Leo Huberman
Ltc
(1986)



Livro Literatura Estrangeira Mayombe
Pepetela
Leya
(2013)



Se Ligue Em Você
Luiz Antonio Gasparetto
Vida e Consciencia
(2011)



Águas Passadas - autografado
Costa Rego
José Olympio
(1952)



O Duelo dos Imortais (4 Volumes)
Colleen Houck
Arqueiro
(2017)



Humanização das Relações Assistenciais: a Formação do Profissional de Saúde
Maria Cezira Fantini Nogueira Martins
Casa do Psicólogo
(2001)



Sun Tzu - a Arte da Guerra - a Arte do Empreendedorismo
Gary Gagliardi
M. Books do Brasil
(2013)





busca | avançada
124 mil/dia
2,0 milhões/mês