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Sexta-feira, 2/12/2011
A idade que habito
Marta Barcellos
+ de 3600 Acessos

Quando minhas amigas começaram a esconder a idade eu achei estranho. Ainda outro dia ríamos disso, nas outras. As explicações vieram aos poucos: uma entrevistada, mulher maravilhosa de 55 anos, pediu delicadamente para não colocar a idade em seu perfil, "se desse". Não era por nada não, ela mesma não tinha problemas com a idade, mas profissionalmente isso tinha um peso. Ter 55 anos de idade tem o seu peso. Depois descobri que para muitos homens que se mantêm no ambiente competitivo das empresas o desconforto era semelhante, "depois de certa idade".

Ter a idade certa é um problema - desde cedo. Já nascemos precisando nos encaixar em perfis pré-existentes para cada idade. Com um ano, é esperado que o bebê tenha determinado comportamento, peso, altura. Lembro de meu esforço, no início da carreira, para parecer mais velha, afinal quem era aquela fedelha para posar de jornalista e chefe aos 25 anos. Depois, por um tempo, entrei numa fase mais confortável na própria idade, dentro dos padrões: cargo compatível, filho a tempo de corresponder às expectativas sociais, tinta ao primeiro sinal de brancos nos cabelos (nada mais transgressor do que uma mulher que mostra os primeiros brancos). Estava na "idade certa", e não tinha chegado ainda à "certa idade".

Comecei a notar algo diferente depois dos 40 anos. Por não ver qualquer sentido em mentir ou esconder a idade, continuei tratando dela naturalmente, achando graça das amigas preocupadas com isso. Mas nem assim me livrei do "problema" da "certa idade". Por mais que o contexto de mencioná-la seja natural, mesmo an passant, muitos interlocutores se sentem na obrigação de dizer que você "não aparenta".

- Acho que aparento sim.

- Claro que não! Você parece ter uns cinco anos menos. Digamos três...

- Você não entendeu, eu gosto de aparentar a minha idade. Você não precisa me agradar falando isso.

- Ah...

Pode ser uma gentileza social apenas; para que complicar? Pensei em evitar interrupções desnecessárias da próxima vez, tentar um sorrisinho agradecido, e seguir adiante. Se não quero evitar o assunto idade, tampouco gostaria de fazer dela uma bandeira. Será que não dá para apenas 'ter' 46 anos, assim como já tive 32 ou 19?

O cineasta Domingos de Oliveira, no filme "Juventude", se refere em determinada cena à idade do "você está ótimo". Experimente encontrar um amigo de colégio que não vê há décadas para rir da piada... As mulheres que gastam boa parte de sua energia - e de seu tempo, seu dinheiro etc - tentando parecer mais jovens defendem o status das "sem idade". E há as celebridades orgulhosas de assumir seus anos, sempre esperando ouvir em troca o tal "você não aparenta". Nos cartazes das peças de teatro, nas fotos de divulgação das revistas, de fato, elas estão longe de aparentar qualquer idade: a tentação de se lambuzar no fotoshop é grande. O resultado são expressões maduras contornadas por uma pintura que lembra vagamente o rosto que tinham quando eram... vá lá, jovens.

O descompasso provavelmente começa com a gentileza de se elogiar a suposta aparência de menos idade. Fica implícito o quanto se espera que você continue assim, sempre mais jovem, porque a juventude é um valor na nossa sociedade - e quem ainda não se deu conta disso, ora essa? Assumimos a obrigação sem pensar a respeito, e passamos a nos identificar com as imagens jovens ou fotoshopadas à nossa volta. Um belo dia, a casa cai. Uma amiga minha, já avó (convém acrescentar, avó precoce), comentou sobre o seu esforço para não virar uma "sem noção". Como trabalha em um ambiente muito jovem, e exerce o mesmo cargo dessas pessoas, às vezes se "esquece" que é mais velha. Sobre isso, ouvi também uma história curiosa: uma senhorinha muito vaidosa, miss na juventude e atualmente com mais de 70 anos, entra numa loja e depois de alguma conversa pergunta à vendedora quantos anos ela lhe dá. Uns 60 e poucos, responde a vendedora bem treinada, certa de agradar. A senhorinha, porém, sai da loja aos prantos - sabe-se lá que idade imaginava aparentar.

Antes de eu entrar nos 40, pensei que o fato de atrizes e pessoas famosas terem passado a revelar a idade ajudaria a acabar com o preconceito que rondava as mulheres mais velhas. Afinal, uma ou duas gerações atrás, mulheres como Tonia Carreiro ou Danuza Leão paravam de falar a idade lá pelos 30 anos. Agora não. A protagonista da novela tem 60, e todo mundo sabe. Então, porque o envelhecimento assumido não torna a velhice um valor, desafiando a tal "sociedade da juventude"? O problema, me parece, é que elas têm 60 anos, mas... "não aparentam". O grande mérito é permanecer jovem, mesmo sendo velho.

Por tudo isso, fiquei feliz ao ler a entrevista de Gilberto Gil ao repórter Diógenes Campanha na Folha de São Paulo. Às vésperas de completar 70 anos, Gil diz estar "vivendo a idade". Ele vê "novos ganhos, novas aquisições, novas configurações". E compara a juventude e a maturidade ao ruído e ao silêncio:

"Quando o ruído desaparece, deixa um vácuo, que é seguido pelo silêncio. E este preenche tanto quanto o ruído preenchia. É algo de outra natureza, que se constitui também como plenitude. Certos aspectos da atividade cerebral ganham outra forma de se apresentar. Fisicamente, não me sinto debilitado. Resumindo, estou gostando da velhice."

Não dá vontade de chegar logo aos 70?



Marta Barcellos
Rio de Janeiro, 2/12/2011

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