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Quarta-feira, 8/2/2012
O turista motorista
Adriana Baggio
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Dias atrás, eu e meu marido fizemos nossa quarta longa viagem de carro. Jornadas de milhares de quilômetros, que exigem um ou dois anos de intervalo entre cada uma para dar tempo de sentir vontade de fazê-las novamente. Desta vez, o destino foi João Pessoa, cidade onde nos conhecemos e para onde não retornávamos há oito anos. Quando chegamos em casa, em Curitiba, depois de 20 dias rodando, o odômetro marcava 7816 quilômetros percorridos.

Longas viagens de carro têm características muito específicas. Diferente do que acontece com outros meios de transporte - como o ônibus ou avião -, o trajeto é quase tão importante, ou até mais, do que o destino (cruzeiros marítimos talvez tenham esse mesmo perfil, exceto no que se refere ao conforto, evidentemente). Portanto, as atrações do passeio são bem diversas daquelas descritas nos guias de turismo tradicionais.

Placas de distância entre as cidades: uma atração da estrada.

À medida em que avançamos no mapa, observamos a mudança da paisagem e das culturas agrícolas. Entre Paraná e Rio de Janeiro a vegetação nativa vai ficando menos densa, de trechos de mata atlântica para grandes áreas descampadas. No Espírito Santo e sul da Bahia estão as imensas plantações de eucalipto. No Recôncavo Baiano, as culturas de diferentes tipos de alimentos. Em Sergipe, frutas. Entre Alagoas e Pernambuco, canaviais que se estendem até a linha do horizonte.

Rios importantes para a economia e a cultura brasileiras, antes apenas abstrações nos livros de geografia, tornam-se pontos de interesse turístico para quem pega a estrada. Há uma certa emoção em cruzar o rio Doce no Espírito Santo, o Jequitinhonha na Bahia ou o São Francisco, que divide Sergipe e Alagoas. Paradoxalmente, a importância destes rios parece não ser levada em conta pelo poder público, já que suas respectivas pontes, especialmente no caso dos dois últimos, não estão nas melhores condições.

Ponte sobre o rio São Francisco, que vista assim é a coisa mais linda.

Falar do mal estado das estradas brasileiras é lugar-comum. Espera-se coisa tão ruim que acabamos por dizer que, no geral, a BR 101 está "boa" apenas porque, exceto em alguns trechos, não há buracos na rodovia. No entanto, falta acostamento adequado, falta sinalização - placas e pintura na pista -, falta limpeza... Os buracos aparecem, enormes e em grande quantidade, em alguns quilômetros no sul da Bahia e ao norte de Alagoas.

Apesar da má conservação das rodovias, acredito que a culpa pelos frequentes acidentes não está no buraco ou na placa coberta por mato, e sim na imprudência, na ignorância e na brutalidade dos motoristas. Nos consideramos sortudos por viajar tantos quilômetros sem ter nosso carro jogado para fora da pista ou, coisa pior, sem ter batido de frente com alguém na contramão.

Lembra daqueles dizeres espirituosos, verdadeiras pérolas da sabedoria popular, que adornavam os paralamas dos caminhões? Não existem mais. No lugar deles, invocações e agradecimentos a Deus e a Jesus. Deve ser pela necessidade de proteção contra os absurdos que se vê nas estradas.

Há algo de patológico no jeito de dirigir do brasileiro, com pequenas variações de região para região. Por mais que uma estrada de pista simples, cheia de caminhões e sem terceira faixa atrase bastante a viagem de quem está ali a trabalho, penso que o motivo de tanta imprudência não é de ordem tão prática e racional. Prova disso é que motoristas de carros viajando a passeio, sem horário a cumprir, são tão ignorantes quanto aqueles de veículos de carga.

Para essas pessoas, ficar atrás de um veículo mais lento representa algum tipo de desaforo muito grave. A necessidade de "lavar a honra" justifica correr grandes riscos em uma ultrapassagem forçada. Aliás, parece que quanto mais proibida ou arriscada a manobra, maior a satisfação desse tipo de motorista. A parca presença de postos de polícia rodoviária (especialmente no trecho nordestino da BR 101) e a atuação quase nula dos agentes destes postos - não fomos abordados uma única vez - parece legitimar o comportamento criminoso dos motoristas. A estrada é uma terra sem lei, nela cada um faz o que quer.

Viajante tranquilo, verdadeiro espírito pé-na-estrada.

O comportamento dos motoristas e a ausência do estado prejudica todos os tipos de viajantes. Mas há outros aspectos das estradas brasileiras que desencorajam a viagem turística de carro. Para o turista, os locais de refeição também são atrações, fazem parte do passeio. Com o viajante não há diferença. Aliás, para quem vai passar o dia todo dentro do carro, as paradas para descanso ou refeição são as atrações mais aguardadas! Nesse ponto, as rodovias brasileiras são desestimulantes. Subindo pela BR 101, encontra-se boas paradas até o Espírito Santo. Depois disso, há pouquíssimas opções que reúnam o que viajante precisa: comida saborosa, ambiente agradável e limpeza.

Fizemos boas refeições nas estradas, em restaurantes frequentados prioritariamente por motoristas a trabalho. Mas não eram lugares com estrutura para receber turistas querendo um pouco mais do que apenas almoçar. Nesse ponto, fica difícil não comparar com as estradas argentinas: mesmo com muito menos movimento do que as brasileiras, não é difícil encontrar bons postos de gasolina. Até aqueles das regiões ermas servem café espresso e media lunas quentinhas. E mais: muitos destes postos têm áreas arborizadas, com mesas e bancos de cimento, para que os viajantes possam descansar e fazer sua refeição com a comida que trouxeram de casa.

Restaurante de estrada honesto, nas proximidades de Aracaju.

A estrutura turística do nordeste, de maneira geral, não considera quem viaja de carro. A exceção fica por conta da Bahia. No estado que tem o trecho mais longo da BR 101 - são mais de 950 km -, a imensidão da costa é dividida por temas associados à geografia ou à cultura dos locais. A rodovia não é costeira, mas a partir dela se chega às estradas que levam ao roteiros turísticos, com acessos bem sinalizados.

Ao sul fica a Costa das Baleias, com as cidades de Prado e Alcobaça; em seguida vem a Costa do Descobrimento, onde estão Porto Seguro, Trancoso e Caraíva; logo acima, no meio do estado, está a Costa do Cacau, que começa, ao sul, pela linda Canavieiras (uma das cidades que visitamos), e vai até Ilhéus e Itacaré. Depois vem a Costa do Dendê, onde está Valença, que dá acesso a Morro de São Paulo. Acima de Salvador, o trecho até a divisa com Sergipe é chamado de Costa do Coco, e abriga a Praia do Forte e a Costa do Sauípe.

Mirante na BA 001, na altura de Itacaré. Vale a pena dar uma paradinha.

Para quem segue em direção norte, dá para fugir da 101 na altura de Canavieiras. A partir dali é possível seguir até Salvador pela BA 001. São 400 km em uma rodovia de pista simples, mas muito bem conservada, e de paisagens deslumbrantes. Chega-se à capital baiana por Itaparica, atravessando a baía de Todos os Santos de ferry-boat.

O que deveria ser uma viagem mais rápida e agradável (indo pela BR 101, o trajeto até Salvador é 140 km mais longo), torna-se um inferno por conta de típicos problemas brasileiros: o serviço do ferry-boat não dá conta da demanda e nem a empresa concessionária parece se importar com isso. Ficamos mais de 3 horas na fila para embarcar, em um dia de semana normal, fora do horário de pico. Apenas uma ameaça de motim fez a empresa colocar mais balsas para agilizar o transporte.

Estradas perigosas, motoristas assasinos e falta de estrutura: pode parecer que o meu relato desaconselha fortemente as viagens de carro pelo Brasil. A sorte (ou a tragédia) da nossa terra é que ela é muito bonita. As pessoas se esforçam para estragá-la - por exemplo, jogando lixo pela janela do carro, vimos muito disso! -, e ainda assim sobra beleza. Então, para quem gosta de dirigir e de conhecer o país pelas suas entranhas, vale a pena encarar alguns milhares de quilômetros de estrada. Sem pressa, curtindo a paisagem e fotografando muito, que é uma excelente forma de distração.


Adriana Baggio
Curitiba, 8/2/2012

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