O que você comeu no café da manhã? | Marta Barcellos | Digestivo Cultural

busca | avançada
62769 visitas/dia
1,8 milhão/mês
Mais Recentes
>>> Otávio Veiga apresenta 'Formas da Consciência' na Galeria ZooFoz
>>> Casa do Papai Noel será inaugurada com festa na Praça Sete, amanhã, terça-feira, dia 10
>>> Filme 'Alice Lembra' leva magia do cinema ao sertão baiano
>>> Livro celebra a vida e a obra de Ariano Suassuna nos 10 anos de sua morte
>>> Livro reúne 40 anos de trajetória da artista Bea Machado
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> Do lumpemproletariado ao jet set almofadinha...
>>> A Espada da Justiça, de Kleiton Ferreira
>>> Left Lovers, de Pedro Castilho: poesia-melancolia
>>> Por que não perguntei antes ao CatPt?
>>> Marcelo Mirisola e o açougue virtual do Tinder
>>> A pulsão Oblómov
>>> O Big Brother e a legião de Trumans
>>> Garganta profunda_Dusty Springfield
>>> Susan Sontag em carne e osso
>>> Todas as artes: Jardel Dias Cavalcanti
Colunistas
Últimos Posts
>>> Berthier Ribeiro-Neto, que vendeu para o Google
>>> Rodrigo Barros, da Boali
>>> Rafael Stark, do Stark Bank
>>> Flávia e Pedro Garrafa
>>> Lisboa, Mendes e Pessôa (2024)
>>> Michael Sandel sobre a vitória de Trump (2024)
>>> All-In sobre a vitória de Trump (2024)
>>> Henrique Meirelles conta sua história (2024)
>>> Mustafa Suleyman e Reid Hoffman sobre A.I. (2024)
>>> Masayoshi Son sobre inteligência artificial
Últimos Posts
>>> Transforme histórias em experiências lucrativas
>>> Editora lança guia par descomplicar a vida moderna
>>> Guia para escritores nas Redes Socias
>>> Transforme sua vida com práticas de mindfulness
>>> A Cultura de Massa e a Sociedade Contemporânea
>>> Conheça o guia prático da Cultura Erudita
>>> Escritor resgata a história da Cultura Popular
>>> Arte Urbana ganha guia prático na Amazon
>>> E-books para driblar a ansiedade e a solidão
>>> Livro mostra o poder e a beleza do Sagrado
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Anonymous responde a Dilma
>>> Dá para aprender literatura?
>>> Algumas notas dissonantes
>>> De volta aos primórdios da imprensa no Brasil
>>> Acorda e vai trabalhar. Que seja até morrer
>>> Frida Kahlo e Diego Rivera nas telas
>>> As noites do Cine Marachá
>>> Sobre os Finais
>>> Linguagem, Espaço, Máquina
>>> Literatura Falada (ou: Ora, direis, ouvir poetas)
Mais Recentes
>>> Trem Noturno Para Lisboa de Pascal Mercier pela Record (2009)
>>> No Bico do Corvo de Claufe Rodrigues pela Patuá (2021)
>>> Um Crime da Solidão - reflexões sobre o suicídio de Andrew Solomon pela Companhia das Letras (2018)
>>> Desaparecido para Sempre de Harlan Coben pela Arqueiro (2010)
>>> Alta Tensão de Harlan Coben pela Arqueiro (2011)
>>> Seis Anos Depois de Harlan Coben pela Arqueiro (2015)
>>> A Viúva de Fiona Barton pela Intrinseca (2017)
>>> Eu Mereço ! - Gossip Girl 4 de Cecily von Ziegesar pela Record (2006)
>>> De Moto pela América do Sul - Diário de Viagem de Ernesto Che Guevara pela Sá Ed. (2001)
>>> A Garota no Trem de Paula Hawkins pela Record (2017)
>>> Grafias de Vida - A Morte de Silviano Santiago pela Companhia das Letras (2023)
>>> Ao Oriente do Éden - um guia reinista de cidadania e resiliência de Hermes C. Fernandes pela Invictus (2014)
>>> A Garota Perfeita de Mary Kubica pela Planeta (2016)
>>> O Corvo e as Esmeraldas de José Wilibaldo Savino Carvalho pela do Autor (2011)
>>> Ajuste de Contas de Jack Higgins pela Record (2002)
>>> O Outro Lado do Céu de Arthur C. Clarke pela Nova Fronteira (1985)
>>> Enigmas da Culpa de Moacyr Scliar pela Objetiva (2007)
>>> Uma Aprendizagem Ou O Livro Dos Prazeres de Clarice Lispector pela Rocco (1998)
>>> Casa-grande & Senzala de Gilberto Freyre pela Record (2000)
>>> O lado ativo do infinito de Carlos Castaneda pela Nova Era (2001)
>>> Adão e a árvore Kabbalística de Z'ev ben Shimon Halevi pela Imago (1990)
>>> Os Miseráveis de Victor Hugo de Walcyr Carrasco Tradução e adaptação pela Moderna (2012)
>>> As Nódoas da Honra de Dario Sandri Jr. pela Aliança (2008)
>>> Colecão Aprenda Fácil Violão de Ed. Escala pela Fisicalbook
>>> Historias Populares Da Lingua Portuguesa de Celso Sisto pela Planeta Do Brasil - Grupo Planeta (2014)
COLUNAS

Sexta-feira, 20/7/2012
O que você comeu no café da manhã?
Marta Barcellos
+ de 4300 Acessos

Numa das histórias mais bizarras do filme Para Roma com amor (só perde para a estrelada pelo diretor Woody Allen), o personagem vivido por Roberto Benigni fica famoso do dia para a noite. Típico cidadão de classe média, que reclama de novidades ameaçadoras à sua rotina, como a tecnologia que tira empregos e o avanço chinês, Leopoldo Pisanello subitamente é perseguido por paparazzi e jornalistas interessados em saber o que comeu no café da manhã, se prefere dormir de bruços ou de frente, com que mão escova os dentes.

Como ele prefere suas torradas?, pergunta a jornalista, séria, no estúdio de TV onde o pacato funcionário vai parar. O filme está no começo e por vício ainda aguardamos alguma espécie de explicação para a intempestiva celebrização do personagem. Ele teria sido confundido com alguém? Mas logo lembramos: epa, nada de esclarecimentos realistas, é um filme de Woody Allen. Melhor assim. Podemos nos deleitar com as piadas e embarcar nas situações inusitadas.

Mas, na saída do cinema, o papo é inevitável. Interpretar. Quais foram as vítimas da ironia do diretor, em cada um dos quatro episódios que correm paralelos? Consta que os italianos vestiram a carapuça como um todo, e ficaram até indignados com a forma como foram tratados no filme. Pode ser. No caso da história de Benigni parece haver um consenso da crítica especializada de que a zombaria de Allen tem como endereço a indústria da celebridade, com certa origem italiana - daí inclusive a denominação "paparazzi".

Já eu associei a ironia a outra questão. Talvez por andar desatenta a revistas de celebridades ou canais de fofocas, as situações do filme me lembraram mais as fotos de pratos e os comentários banais sobre rotina postados nas redes sociais. Depois do impacto inicial da cena do estúdio de TV, não é mais a aleatoriedade da fama que causa estranhamento no filme (pessoas são famosas porque são famosas, ora), e sim a exposição do íntimo e privado no espaço público.

Estranhamento à parte, o episódio não nos parece familiar porque sabemos da existência de uma indústria que persegue artistas ou jogadores de futebol. Não foi por meio dela que você soube qual prato alguém - um tanto distante - comeu no almoço de domingo, ou que esta pessoa acordou cheia de preguiça para trabalhar. Você não tinha interesse, mas acabou sabendo, se sentiu próximo a alguém que não era próximo, e afinal a sensação não é ruim. Você começou a se acostumar com essa "evasão de privacidade", tão simpática, humana, camarada. Algo natural e espontâneo - não fosse o fato de ser estimulado pela indústria da tecnologia, tão eficaz para mudar nossos comportamentos. Você era alguém discreto, gostava de ser assim. Mas parecia rabugento com essa mania de freqüentar o espaço público da internet de forma tão compenetrada. Um dia, rendeu-se a algum estímulo novo, um botão, uma solicitação, colocou a foto da festa, você na viagem. Ou, sucesso retumbante, compartilhou bichinhos e crianças.

É um nivelamento por baixo, claro. Quem não tem muito a dizer, porque é famoso apenas porque é famoso, pode compartilhar sem problemas o que comeu no café da manhã ou a sua forma de escovar os dentes. Parece mesmo democrático - talvez daí a simpatia que tudo isso gera. Mas imagine se todo o espaço público, que em sua origem era um espaço político e intelectual, for tomado pelo privado desta forma. Imagine o tempo que perdemos se somarmos os segundos de atenção dados a intimidades dos novos famosos que todos nós somos agora.

Se o espaço público esperar de mim apenas que eu conte o que comi no café da manhã, porque cargas d'água vou me dar ao trabalho de construir um texto com 5 mil caracteres para expressar minha opinião sobre o novo filme de Woody Allen e a questão do público e do privado?

É verdade que acabei escrevendo, porque ainda tenho o estímulo do espaço (público) do Digestivo para textos longos. Escrevi, e juro que minha próxima coluna não será sobre meus hábitos alimentares. A não ser que gerem uma crônica não sobre mim, mas sobre todos nós, a humanidade, nossos afetos e nossas idiossincrasias.

Veja bem: sou uma entusiasta do uso da primeira pessoa, pela honestidade que este caminho impõe, pelo posicionamento que ele acarreta. Por isso, depois de tantos anos condicionada à total impessoalidade do jornalismo, no qual a primeira pessoa era terminantemente proibida (não é mais), aderi à onda dos blogs. Não para confidenciar que tinha ido ao dentista de manhã, mas para me posicionar sobre aquilo que eu achava importante, ou mesmo contar alguma história pessoal curiosa, que remetia ao outro, ao público, ao debate público.

Mas os tempos dos blogs diletantes acabaram. Agora a coisa é para profissional. No lugar da caixa de comentários; Facebook, Twitter e sucessores a caminho. Outros estímulos, outras configurações. Outros interesses que fizeram da internet, afinal, um lugar lucrativo. O risco é que estejamos nos acostumando a gerar e consumir apenas o conteúdo banal de nossas próprias vidas. E sem perceber o quão comum já é conhecer a intimidade de anônimos-celebridades. Como no filme de Allen.



Marta Barcellos
Rio de Janeiro, 20/7/2012

Quem leu este, também leu esse(s):
01. 1998 ― 2008: Dez anos de charges de Diogo Salles


Mais Marta Barcellos
Mais Acessadas de Marta Barcellos em 2012
01. A Paris de Chico Buarque - 19/10/2012
02. O fim do livro, não do mundo - 20/4/2012
03. Esquecendo de mim - 25/5/2012
04. O Facebook e a Alta Cultura - 17/8/2012
05. O direito autoral vai sobreviver à internet? - 27/1/2012


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site



Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Manual Do Emagrecimento
Miriam Regina Wolf
Eko - Todolivro
(1999)



o pedestal dos aflitos
Paulo Garcia
Jvs



Vegetables (essentials Collection Cooking)
Parragon
Parragon
(2002)



Dicionário de gíria americana contemporânea
Donaldo E. Collins e Luiz L. Gomes
Pioneira
(1989)



A Dimensão Ecumênica dos que Trabalham no Ministério Pastoral
Edições Paulinas
Paulinas
(1992)



Controle Remoto
Andy McNab NOVO
Geração Editorial
(2002)



Saiba usar a cabeça 481
Diana Beaver
Cultrix



O Senhor Embaixador
Érico Veríssimo
Abril



Lázaro de Mello Brandão - Senda de um Executivo Financeiro
Celso Castro e Sérgio Praça
Fgv
(2017)



O budismo esotérico
A. P. Sinnett
Pensamento
(1986)





busca | avançada
62769 visitas/dia
1,8 milhão/mês