Alexandre, o Delicioso | Adriana Carvalho | Digestivo Cultural

busca | avançada
58897 visitas/dia
2,5 milhões/mês
Mais Recentes
>>> Festival SP Choro In Jazz apresenta a série online Sound Talks de 30 de abril a 9 de maio
>>> hoovaranas - Show do álbum Três (2024)
>>> Cine Nave apresenta sessão gratuita e seguida por debate em São Paulo
>>> Nos 100 anos de Surrealismo, editora paulista publica coletânea com textos fundamentais do movimento
>>> Matheus Fonseca lança ‘Feitiço Carioca’, uma bossa sobre amores inacabados
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> Mario Vargas Llosa (1936-2025)
>>> A vida, a morte e a burocracia
>>> O nome da Roza
>>> Dinamite Pura, vinil de Bernardo Pellegrini
>>> Do lumpemproletariado ao jet set almofadinha...
>>> A Espada da Justiça, de Kleiton Ferreira
>>> Left Lovers, de Pedro Castilho: poesia-melancolia
>>> Por que não perguntei antes ao CatPt?
>>> Marcelo Mirisola e o açougue virtual do Tinder
>>> A pulsão Oblómov
Colunistas
Últimos Posts
>>> Pondé mostra sua biblioteca
>>> Daniel Ades sobre o fim de uma era (2025)
>>> Vargas Llosa mostra sua biblioteca
>>> El País homenageia Vargas Llosa
>>> William Waack sobre Vargas Llosa
>>> O Agent Development Kit (ADK) do Google
>>> 'Não poderia ser mais estúpido' (Galloway, Scott)
>>> Scott Galloway sobre as tarifas (2025)
>>> All-In sobre as tarifas
>>> Paul Krugman on tariffs (2025)
Últimos Posts
>>> O Drama
>>> Encontro em Ipanema (e outras histórias)
>>> Jurado número 2, quando a incerteza é a lei
>>> Nosferatu, a sombra que não esconde mais
>>> Teatro: Jacó Timbau no Redemunho da Terra
>>> Teatro: O Pequeno Senhor do Tempo, em Campinas
>>> PoloAC lança campanha da Visibilidade Trans
>>> O Poeta do Cordel: comédia chega a Campinas
>>> Estágios da Solidão estreia em Campinas
>>> Transforme histórias em experiências lucrativas
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Sem mistério em Gosford Park
>>> Pynchon Contra o Dia
>>> Entrevista com o vampiro
>>> Bienal do Livro Bahia
>>> Querem acabar com as livrarias
>>> La buca de la verità
>>> Banana Republic
>>> Elon Musk Code Conference 2016
>>> Mabsa e seu jardim de estátuas
>>> Livros felizes
Mais Recentes
>>> Topicos de fisica 1 - mecanica (10º edição) de Helou - Gualter - Newton pela Saraiva (1992)
>>> Matematica 2º grau - volume unico de Manoel Jairo Bezerra pela Scipione (1994)
>>> Os Quatro compromissos - O livro da filosofia tolteca (33º edição) de Don Miguel Ruiz pela Best Seller (2020)
>>> Ballet - Fundamentos E Tecnicas de Gayle Kassing pela Manole (2016)
>>> Terra E Cinzas - um conto afegão de Atiq Rahimi pela Estacao Liberdade (2002)
>>> Conexão Com Deus - repensando o divino em nós de Rafael Papa pela Fergus (2019)
>>> The Secret Garden - stage 3 de Frances H. Burnett pela Oxford (2008)
>>> A Bíblia do Ayurveda de Anne McIntyre pela Nascente (2020)
>>> Educação de jovens e adultos de Maria Antonia de Souza pela Ibpex (2007)
>>> A maldição do tesouro do faraó (1º edição) de Sersi Bardari pela Atica (1991)
>>> A Arvore Que Dava Dinheiro (42º edição - com suplemento de trabalho) de Domingos Pellegrini pela Ática (1991)
>>> O Sol Da Liberdade (23º edição - com suplemento de leitura) de Giselda Laporta Nicolelis pela Atual (2010)
>>> Carta Para Voce - declaracoes de amor em tempos modernos de Joshua Knelman e outros pela Alfaguara (2009)
>>> Paschoal Lemme de Zaia Brandão pela Massangana (2010)
>>> Valnir Chagas de Aloyson Gregório de Toledo Pinto pela Massangana (2010)
>>> Lev Semionovich de Ivan Ivic pela Massnagana (2010)
>>> Maria Montessori de Hermann Rohs pela Massangana (2010)
>>> Roger Cousinet de Louis Raillon pela Massangana (2010)
>>> Sigmund Freud de Bernard Jolibert pela Massangana (2010)
>>> Jean-Jacques Rosseau de Michel Soetard pela Massangana (2010)
>>> Jan Amos Comênio de Jean Piaget pela Massangana (2010)
>>> John Dewey de Robert B. Westbrook pela Massangana (2010)
>>> Johann Herbart de Norbert Hilgenheger pela Massangana (2010)
>>> José Pedro Varela de Marta Dermachi; Hugo Rodriguez pela Massanagana (2010)
>>> Jean-Ovide Decroly de Francine Dubreucq pela Massangana (2010)
COLUNAS

Quinta-feira, 17/5/2007
Alexandre, o Delicioso
Adriana Carvalho
+ de 5800 Acessos
+ 1 Comentário(s)

Estou apaixonada pelo Alexandre. Dumas. Meu marido sabe. Mas não liga. Também é fascinado por ele. Leu os clássicos romances de capa e espada pelos quais Dumas se tornou famoso. Quanto a mim, descobri Alexandre pela obra com a qual ele achava que se consagraria na posteridade: o Grande dicionário de culinária (Jorge Zahar, 2006, 340 págs.). Na gastronomia, para alguns, o livro é considerado um ícone, colocado ao lado de A fisiologia do gosto de Brillat-Savarin. Outros dizem que não passa de uma compilação de obras e receitas da época, resultado das horas de ócio de Dumas. Na literatura, não conseguiu superar a fama dos Três Mosqueteiros ou do Conde de Monte Cristo.

Discussões à parte, o que eu posso dizer é que uma pessoa precisa ser mesmo muito mal humorada para não se deliciar com a leitura da obra, recém-traduzida e lançada no Brasil, ainda que com mais de cem anos de atraso em relação à sua primeira edição, e imperdoavelmente não editada na íntegra para tornar o livro comercialmente viável (há que se frizar que não fomos originais nesse quesito: na França também há versões da obra que subvertem seu formato original).

A editora Jorge Zahar decidiu separar a obra em dois livros: um com verbetes que compõem propriamente o dicionário e outro, que ganhou o nome de Memórias gastronômicas de todos os tempos (seguido de Pequena história da culinária) (Jorge Zahar, 2005, 148 págs.). Novamente, apesar da indignação com o fato de pegar a obra original de um medalhão da literatura universal e dar a ela nova ordem, títulos e intertítulos que sabe-se lá se não causaram alguma azia ao autor em seu descanso eterno, ainda assim as Memórias gastronômicas... foram, para mim, uma leiga em Dumas, um delicioso aperitivo, degustado com voracidade.

Esse pequeno volume é um relato dos hábitos à mesa (os bons e os maus) dos séculos XVIII e XIX, incluindo os de famosos como: Napoleão Bonaparte, que segundo Dumas só não era um gourmand porque temia ficar gordo; seu antecessor Luis XVI, que vivia para comer (sem modos) e não perdeu a fome nem sob a iminência da morte na guilhotina (ao contrário, devorou sem cerimônia um frango inteiro, com as mãos); e de Luis XVIII, sucessor de Bonaparte, para quem um cardápio magro (sem carne vermelha, para os dias de abstinência do calendário católico) significava uma ceia que só de entrada servia 32 receitas diferentes! Luis XVIII, aliás, tinha todo um séquito para atender seus caprichos gastronômicos (como a figura de um degustador oficial de pêssegos) e só não demitiu o mordomo-chefe de Napoleão, depois de sua queda, porque soube que ele havia sido o criador da maravilhosa mistura de morangos, creme e champagne.

É muita pretensão minha querer analisar o texto de Alexandre, o Delicioso, mas eu tenho que me conter para não cutucar a velhinha sentada do meu lado no metrô e dizer: "A senhora sabia que o Alexandre Dumas é incrivelmente espirituoso, divertido e engraçado?". Chega a transbordar o hedonismo do autor. Como quando ele lamenta o fato de algumas aldeias da Bretanha por onde passou não possuírem nenhum "vinho potável" para servir aos visitantes. Em Pequena história da culinária, que se segue às Memórias gastronômicas... o bom é se deixar levar pelo texto, sem se importar se todos os fatos descritos são rigorosamente históricos ou não, principalmente considerando que o relato começa na maçã de Eva. A graça da prosa é mais importante do que sua veracidade.

Tanto em Memórias... quanto no Grande dicionário... é incrível notar a quantidade de comida e a variedade de bichos que o velho mundo e países de outros continentes pesquisados por Dumas (incluindo os sul-americanos, como o Brasil) costumavam devorar.

"Cardápios magros" como o de Luis XVIII impressionavam até mesmo Dumas, mas as longas ceias, que em algumas residências começava às cinco da tarde e se estendiam por muitas horas, eram comuns. O próprio Alexandre lamentava o fato de que à beira do século XX esse costume estivesse se extinguindo. Começava-se com as entradas, depois partindo para os primeiros, segundos e assim-por-diante-pratos e, para dar uma pausa no meio de tamanha orgia alimentar, serviam-se os entremets, que vinham a ser... mais comida! Depois arrematava-se a refeição com algumas dezenas de sobremesas, frutas e muito vinho. Obviamente isso se dava nas casas da nobreza, antes e depois da queda da Bastilha. Não pense que porque a Maria Antonieta mandou os pobres comerem brioches e perdeu a cabeça alguém (com dinheiro) deixou de comer.

Com relação aos bichos, basta folhear aleatoriamente os 615 verbetes e 400 receitas da edição brasileira do Grande dicionário... para encontrar relacionados como ingredientes culinários: elefante, tatu-bola, burro, grou (um pássaro - aliás, qualquer coisa com penas não escapava da panela naquela época), pantera e cachorro. Dá a impressão de que os comensais da época sairiam salivando se visitassem um zoológico. Porém, mais do que inusitado, o que torna mais divertido o Grande dicionário... é que ele não é um dicionário de verdade. Alguns verbetes são descrições do item em questão, outros são lembranças, passagens curiosas, anedotas envolvendo o ingrediente. Alguns são mais curtos, outros mais extensos. Apesar de Dumas dizer no verbete água que durante 50 anos de sua vida só bebeu esse líquido, o verbete vinho é o que ocupa mais espaço (21 páginas) na edição nacional.

P.S.: Quem quiser ler o e-book do Grande dicionário..., em francês, pode acessar este link, da Pitbook.com. Quem fizer questão da edição original, de 1873, também em francês, e tiver uns muitos euros para gastar, clica aqui.

Para ir além











Adriana Carvalho
São Paulo, 17/5/2007

Quem leu este, também leu esse(s):
01. O Corno em Série de David Butter


Mais Adriana Carvalho
Mais Acessadas de Adriana Carvalho em 2007
01. Meta-universo - 16/8/2007
02. Minhas caixas de bombons - 14/6/2007
03. Esses romanos são loucos! - 22/3/2007
04. Práticas inconfessáveis de jornalismo - 12/7/2007
05. Uma gentileza, por favor - 6/12/2007


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site

ENVIAR POR E-MAIL
E-mail:
Observações:
COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
19/5/2007
12h20min
Quer dizer que Alexandre Dumas era chegado nos prazeres de uma boa mesa... é uma boa saída para as angústias da criação literária, sem dúvida. Que os jovens escritores, em vias de publicar, aprendam a extrair de seus saquinhos de cheetos alguma inspiração extra. Mas o que está realmente delicioso aqui é o texto da Adriana, uma fina iguaria. Abraços!
[Leia outros Comentários de Guga Schultze]
COMENTE ESTE TEXTO
Nome:
E-mail:
Blog/Twitter:
* o Digestivo Cultural se reserva o direito de ignorar Comentários que se utilizem de linguagem chula, difamatória ou ilegal;

** mensagens com tamanho superior a 1000 toques, sem identificação ou postadas por e-mails inválidos serão igualmente descartadas;

*** tampouco serão admitidos os 10 tipos de Comentador de Forum.




Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




21 Lições Para O Século 21
Yuval Noah Harari
Companhia Das Letras



Livro Infanto Juvenis O Pequeno Polegar Pequenos Clássicos
Ciranda Cultural
Ciranda Cultural
(2013)



El Modelo Relacional de Datos
Covadonga Fernández Baizán
Diaz de Santos
(1987)



Patrimônio Cultural
Francisco Luciano Lima Rodrigues
Unifor
(2008)



O Bairro Alto
Paul Gadenne
Nova Fronteira
(1987)



Quem Ama, Educa!
Içami Tiba
Gente
(2002)



Brasil Em Percectiva
Carlos Guilherme Mota
Bertrand Brasil
(2001)



Saneamento Ambiental e Epidemiologia
Juarez de Queiroz Campos e Outros
Jotacê
(1999)



Aprendendo autodesk Maya: modelagem e animação
Michel Schriever
Alta Books
(2008)



Marte
Isaac Asimov
Francisco Alves
(1977)





busca | avançada
58897 visitas/dia
2,5 milhões/mês