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Terça-feira, 8/10/2013
Coro dos Maus Alunos
Duanne Ribeiro
+ de 5500 Acessos

Coro dos Maus Alunos, peça que esteve em cartaz no Centro Cultural São Paulo neste outubro, narra os conflitos deflagrados em uma escola com a vinda de um professor com métodos inovadores - sua temática é a das dificuldades de ensino e aprendizado, das distâncias entre educadores e alunos, da apatia e violência dentro das escolas. No fim das contas, a montagem faz um bom tratamento de ideias sem novidade; o roteiro consegue renovar os clichês de que faz uso, mas é principalmente graças à atuação e aos recursos cenográficos utilizados que o conjunto ganha cor. Luzes e sombras, projeções, usos do som - cenograficamente, consegue-se evidenciar o problema central do tema: as visibilidades de um estado de crise.

Com dramaturgia do português Tiago Rodrigues (data de 2008) e direção de Tuna Serdezello, a comédia dramática foi montada pela Cia Arthur-Arnaldo, em seu projeto teatral para atores jovens. Em resumo, trata-se de um conflito entre a diretoria da escola - o pólo conservador, digamos - e um professor de filosofia que retorna à docência após ter ficado um tempo fora de atividade - o pólo revolucionário. Enquanto as aulas cativam os alunos e enriquecem sua vivência de modos inesperados, a ação da burocracia perscruta cada ato, armando o bote. Mais: sabemos que esse conflito nem tão tácito terminou em catástrofe. É assim que a peça começa: os adolescentes vêm e nos contam que quebraram os móveis, pixaram as paredes, agrediram os professores, e havia uma arma, havia alguém com uma arma, e uma pessoa foi morta.

Esses adolescentes são representados pelos atores Carú Lima, Fábio Rhoden, Júlia Novaes, Luísa Taborda, Taiguara Chagas e Vagner Valério. Além de atuarem, cada um, como um desses alunos, com suas personalidades, encenam alternadamente os personagens da administração do colégio e o do professor de filosofia. Eles nos avisam das imprecisões potenciais na história que contam, da falta de concordância que possam ter entre si. Não obstante, sentem necessidade de contar.

Estereótipo, Fábula e Política
Os três tipos de personagem são caricaturas e clichês, o que, embora sirva ao humor da peça, lhe enfraquece o conteúdo. O diretor e a diretora adjunta são praticamente vilões de desenho: rígidos, empolados, exigidores de formalidades. Sem a ressifignicação final (como veremos), só redundariam em um maniqueísmo vazio. (Dentre os atores que interpretam a diretora adjunta se destaca Luísa Taborda, pelo uso do corpo: enquanto aluna, ela tem os pés agéis, senta-se na cadeira inquieta; enquanto diretora, é toda tensa, os braços esticados alongando os dedos.)

Os estudantes são, da mesma forma, figuras reconhecíveis e previsíveis, e funcionam mais ou menos como alegorias. A garota pixadora que é reprimida e assim indica o quanto não veem seu potencial artístico. O garoto que não quer saber de competência de professor, só passa o tempo, fica nos joguinhos de celular. O casal que transa, quase por brincadeira, descobrindo uma felicidade delicada, e põe o vídeo no Youtube. Todas essas, experiências que precisariam ser conformadas de outro modo; a crítica implicíta é evidente: a escola é deletéria por matar a criatividade, por não supor que os alunos tenham vontade própria e justificada? A escola, essa instituição envelhecida, está rendida frente ao novo mundo midiático com que se defronta?

Nesse sentido, ainda um outro personagem típico. O garoto que filma tudo (o mesmo do vídeo citado) expressa em dado momento que a câmera lhe permite um recuo da experiência; como se não vivesse, estivesse distanciado. Em essência, o personagem é similar ao protagonista de Benny's Video, filme de Michael Haneke (porém a película segue por desenvolvimentos muito mais intensos). Os adolescentes estão mais "distantes da vida", recobertos por essa camada de tecnologia? Talvez baste notar, para exibir a insuficiência de um tal pensamento, que Benny's Video é de 1992 e o diagnóstico continua o mesmo. Para uma crítica mais aprofundada, leia o artigo "Louis C.K. Is Wrong About Smartphones", de Daniel Engber.

Por fim, o clichê do professor sui generis - ainda com menos surpresa se trata de um docente de filosofia. O cinema nos dá alguns exemplos: o drama A Sociedade dos Poetas Mortos, as comédias Mudando de Hábito e Escola do Rock, etc; todos com esse alguém fora das normas, que consegue ensinar e emocionar como ninguém mais na instituição, e que é punido por isso de alguma forma. Quanto à filosofia, a imagem que se cria é a do "sábio", do sujeito algo maluco, algo outsider, dizendo "mas o que significa isso?" sobre tudo. Faz-se jus à caricatura mais difundida de filósofo; de imediato todos sabem o que esperar. Além do mais, corresponde a um ideal de vários professores que veem sua profissão como via de "transformação", e retiram daí reconforto e estímulo.

Essa representação prejudica o caráter político da montagem. Pois nas costas de um professor-messias recai o peso de modificar a educação; e é apenas a gestão míope, enrijecida, a causar os problemas pedagógicos. No entanto, isso esquece de muito: as condições socioculturais dos alunos e dos pais dos alunos, a infraestrutura, o salário dos trabalhadores, a descontinuidade das políticas públicas na área. Em Coro dos Maus Alunos, e esse é possivelmente seu defeito maior, essa problemática é resolvida como fábula, o que torna a peça incapaz de renovar o debate.

Lições do Professor
"Quem aqui pode me insultar?", diz o professor no primeiro dia de aula. Imagine: te colocam numa sala e você tem de virar ao educador e dizer: Cuzão. Você tem de dizer: Filho da puta. É algo inverossímil que os personagens da peça tenham tanta dificuldade pra isso - só consigo pensar na presteza com que se poderia fazê-lo em qualquer escola pública - mas, enfim, eles são livres para serem agressivos, e isso lhes é muito inaudito. Abre-se o espaço para que se discuta: somos livres para o quê? Como é que se configura, de tempos em tempos, nossas liberdades? Os modos de governo, democracia incluída, são especialmente modos de coerção?

Como diz Pascal nos Pensamentos: "Três graus de elevação do pólo derrubam a jurisprudência. Um meridiano decide a verdade; em poucos anos de posse, as leis fundamentais mudam; o direito tem suas épocas. (...) Divertida justiça que um rio limita! Verdade aquém dos Pireneus, erro além". Essa a referência do professor? Sua primeira aula já causa burburinho. A diretoria passa a acompanhar seus passos. O ritmo do espetáculo é o ritmo deste inquérito. Quando um adolescente comparece à sala do diretor, o conteúdo das aulas é informado indiretamente (e sem rodeios, por pedido do próprio educador-filósofo).

De um lado, a administração; doutro, o estudante. O elenco move projetores, as sombras de cada um se destacam no concreto, imensas. Em outro momento, quando ouvimos contar dos grafites feitos na escola, dos conselhos de estética que a menina recebeu do filósofo, vemos os desenhos que ela fez dançarem no teto e nas paredes. Ou ainda, o depoente fala apenas com uma lanterna contra o rosto. "Um a um fomos sendo chamados", nos confessam, pessoalmente, olhos nos olhos.

O inquérito descobre sobre aulas em que se assiste a jogos e se faz apostas. Em que se propõe a todos jejuarem por dias, de modo a compreender como se sente quem tem fome. Em que se ensina todas as matérias errado, e a lição de casa é encontrar os enganos. A tensão se eleva até que o professor é convocado para depor frente à gestão e aos pais. Em uma espécie de apologia de Sócrates, ele não se desculpa, mas reafirma suas propostas. Os alunos, impedidos de entrar, se enfurecem lá fora. Até que explodem. Todas as luzes são apagadas. Ouvimos os gritos. Alguém que corre. Alguém que grita "não!". Um tiro. Vimos isso encenado antes na montagem, de modos diferentes; reinventamos a cena derradeira, no entanto, com dramaticidade própria. No final, por acaso, estavam lado a lado os dois arquétipos opostos: professor e diretor. A arma atira e qual dos dois é o que cai?

Ver a Crise
As narrativas assumidamente parciais e defeituosas, a necessidade de expressão de si, o fato de que só o escândalo reúne a comunidade na escola e essa conclusão, em que o tiro junta o "herói" e o "vilão" em um alvo indecidido - tudo isso me parece rascunhar a crise pelos seus vários níveis de visibilidade: o que está sendo suprimido, quem suprime, quem não suprime, mas canaliza segundo critérios próprios. A melhor característica de Coro dos Maus Alunos é ter me aberto a essa dificuldade de interpretação.

Compartilhe dessa dificuldade: como compreender, dados tantos fatores, a crise da educação, que não é brasileira, mas mundial? Um primeiro passo para buscar uma resposta quiçá sejam as referências explícitas, pelo programa, do espetáculo de que tratamos: o artigo do El País "La era del profesor desorientado", o livro O Que Será de Nós, os Maus Alunos, de Álvaro Marchesi ("um dos pais da reforma educacional da Espanha", foi entrevistado pela Nova Escola) e a fala de Teixeira Coelho no Seminário Internacional Educação e Cultura, do Itaú Cultural, "A Invasão pelos Outros e Como Contê-la". Caso tenha outras referências, deixe nos comentários.

Nota do Editor:
Leia também "O Que Mata o Prazer de Ler?", deste colunista.


Duanne Ribeiro
São Paulo, 8/10/2013

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* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site



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