Os bastidores de Psicose | Gian Danton | Digestivo Cultural

busca | avançada
83297 visitas/dia
2,4 milhões/mês
Mais Recentes
>>> Paulo Leme Filho alerta para a relação entre alcoolismo e câncer
>>> Terreiros Nômades promove encontro entre Salloma Salomão, escolas municipais e comunidade
>>> Instrumental Sesc Brasil apresenta Filó Machado no Sesc Consolação em show gratuito
>>> Escritor e diplomata Ricardo Bernhard lança obra pela editora Reformatório
>>> Teatro Portátil chega a São Paulo gratuitamente com o espetáculo “Bichos do Brasil”
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> O Big Brother e a legião de Trumans
>>> Garganta profunda_Dusty Springfield
>>> Susan Sontag em carne e osso
>>> Todas as artes: Jardel Dias Cavalcanti
>>> Soco no saco
>>> Xingando semáforos inocentes
>>> Os autômatos de Agnaldo Pinho
>>> Esporte de risco
>>> Tito Leite atravessa o deserto com poesia
>>> Sim, Thomas Bernhard
Colunistas
Últimos Posts
>>> The Piper's Call de David Gilmour (2024)
>>> Glenn Greenwald sobre a censura no Brasil de hoje
>>> Fernando Schüler sobre o crime de opinião
>>> Folha:'Censura promovida por Moraes tem de acabar'
>>> Pondé sobre o crime de opinião no Brasil de hoje
>>> Uma nova forma de Macarthismo?
>>> Metallica homenageando Elton John
>>> Fernando Schüler sobre a liberdade de expressão
>>> Confissões de uma jovem leitora
>>> Ray Kurzweil sobre a singularidade (2024)
Últimos Posts
>>> A insanidade tem regras
>>> Uma coisa não é a outra
>>> AUSÊNCIA
>>> Mestres do ar, a esperança nos céus da II Guerra
>>> O Mal necessário
>>> Guerra. Estupidez e desvario.
>>> Calourada
>>> Apagão
>>> Napoleão, de Ridley de Scott: nem todo poder basta
>>> Sem noção
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Lecturis Salutem
>>> A fila do Obama
>>> Da decepção diante do escritor
>>> Mano Juan, de Marcos Rey
>>> Propostas discordantes no jornalismo
>>> Escritor: jovem, bonito, simpático...
>>> Dilúvio, de Gerald Thomas
>>> O assassinato e outras histórias, de Anton Tchekhov
>>> Educadores do Futuro
>>> Gerald Thomas: Cidadão do Mundo (parte III)
Mais Recentes
>>> Expresso da Meia-Noite de Billy Hayes & William Hoffer pela Record (1977)
>>> Carnavel de Sangue de John William Corrington; Joyce H. Corrington pela Best Seller
>>> Dom Camillo Entre o Diabo e a Água-Benta de Giovanni Guareschi pela Record (1981)
>>> Coração Negro de Eric Van Lustbader pela Record (1983)
>>> A Perseguição de Sidney Sheldon pela Record (1994)
>>> Aeroporto 1980: O Concorde de Kerry Stewart pela Record
>>> Triângulo de Ken Follett pela Record (1979)
>>> Oro - Uma aventura na Costa Rica de Cizia Zykë pela Best Seller (1987)
>>> O Dia do Fim do Mundo de Gordon Thomas & Max Morgan-Witts pela Record
>>> Sinais Vitais de Robin Cook pela Record (1993)
>>> Médico ou Semideus de Robin Cook pela Record
>>> A Caçada ao Outubro Vermelho de Tom Clancy pela Record (1984)
>>> Parque Gorki de Martin Cruz Smith pela Record (1981)
>>> A Terra Oca de Raymond Bernard pela Record
>>> Livro Língua Portuguesa: da Oralidade à Escrita de Vanessa Loureiro Correia pela Iesde (2006)
>>> Livro Formação Docente Para A Diversidade de Margarete Terezinha de Andrade costa pela Iesde (2018)
>>> Livro Brincar E Suas Teorias de Varios Autores pela Cengage Learning (2002)
>>> Depois De Você de Jojo Moyes pela Intrinseca (2016)
>>> Livro Paisagem Com Neblina E Buldôzeres Ao Fundo de Eustáquio Gomes pela Geração (2007)
>>> Sábado á Noite de Babi Dewet pela Generale
>>> A Cabana - The Shack de William P. Young pela Sextante
>>> Livro PRPP , SSOPs Programa de Redução de Patógenos - Coleção Higiene dos Alimentos Volume1 de Figueiredo, Roberto Martins pela Manole (1999)
>>> Uma Noite Como Esta. Quarteto Smythe-smith 2 de Julia Quinn pela Arqueiro
>>> Simplesmente O Paraíso. Quarteto Smythe-smith 1 de Julia Quinn pela Arqueiro
>>> Verão Do Medo de Andreas Gruber pela Europa (2024)
COLUNAS

Sexta-feira, 21/3/2014
Os bastidores de Psicose
Gian Danton
+ de 4900 Acessos

Alfred Hitchcock já era um diretor consagrado quando dirigiu Psicose, em 1960. Seu nome num cartaz era quase certeza de sucesso de crítica e de público. Mas com essa obra, um filme barato e despretensioso, transformou-se num deus do cinema, ficou milionário e provocou verdadeira histeria coletiva. É a história dos bastidores desse sucesso inesperado que Stephen Rebello conta no livro Alfred Hitchock e os bastidores de psicose (Iluminuras).

A obra é um relato amplo de todas as circunstâncias relacionadas ao filme, a começar pela história do serial killer Ed Gein, que, no final dos anos 1950 assassinou várias mulheres na região rural de Wisconsin. Gein era um solteirão de 51 anos que vivia de pequenos biscates (entre eles tomar conta dos filhos dos casais da região), excêntrico, mas aparentemente inofensivo. Um dia o assistente do xerife foi visitar a sua mãe e encontrou a loja da qual ela era proprietária fechada. Ao lembrar que Gein mencionara que iria na loja naquele dia, resolveu visitar a fazenda do cinquentão. O que ele e os demais policias encontraram era um verdadeiro filme de horror: entre produtos para embalsamento e embalagens para comida, havia dois pares de lábios humanos pendurados num cordão, alguns narizes em cima da mesa da cozinha, um bolsa e braceletes feitos de pele humana, quatro cadeiras estofadas de carne, um tambor feito com pele humana, uma vasilha de sopa feita com um crânio, as peles descarnadas de quatro rostos de mulheres, com ruge e maquiagem presos à parede. Na estufa, o assistente do xerife encontrou sua mãe: estava nua, pendurada pelos calcanhares como um porco, e estripada.

O fato chocou a pequena localidade, principalmente depois que o assassino declarou à imprensa que nunca havia atirado em um cervo (e muitos se lembraram da deliciosa carne de veado que haviam ganhado dele).

Os jornais trataram Gein como o "açougueiro louco" e noticiaram seus assassinatos e suposto canibalismo, mas, com pudor, esconderam o travestismo, o roubo de cadáveres e a possível relação incestuosa com a mãe.

A 63 quilômetros dali, um escritor de 41 anos, discípulo e apadrinhado de H. P. Lovecraft, chamado Robert Bloch, procurava um tema para seu novo livro quando se deparou com uma pequena nota sobre um homem que fora preso após assassinar a dona de um armazém e pendurá-la, estripando-a como um cervo. Ele ficou intrigado com o fato de que um homem que nunca fora suspeito de nada e vivia numa pequena cidade do interior (em que, se alguém espirrasse no lado norte, alguém no lado sul diria saúde) acabara se revelando um assassino em série. Incrivelmente, as informações que conseguia sobre o fato eram mínimas, o que o fez usar mais a imaginação do que os fatos.

Na época, Freud estava em alta e Bloch decidiu dar ao seu personagem uma motivação psicológica bem ao gosto do criador da psicanálise: "Pensei: e se ele cometesse esses crimes num surto amnésico, sob controle de outra personalidade?". Essa outra personalidade, seria, claro, a mãe, fechando a relação edipiana. Para funcionar, a mãe deveria estar morta, mas "não seria legal se ela estivesse realmente presente de alguma forma? Foi quando me veio a ideia de que ele mantinha o corpo dela preservado". Segundo Rebello, ao usar a taxidermia como elemento principal da trama, Bloch cruzou a linha divisória entre o refinado mistério de salão do tipo "quem matou" e o puro terror. O livro seria revolucionário em mais um sentido: o escritor criou uma heroína simpática, deu a ela um problema, fez com que o leitor gostasse dela e a matou no primeiro terço da história, rompendo totalmente com o paradigma das histórias convencionais, em que os protagonistas sempre conseguem se safar das maiores dificuldades.

Bloch teria mais uma inspiração que seria fundamental para o filme: matar a heroína no chuveiro: "Eu tinha a opinião de que uma pessoa nunca está tão indefesa quanto no chuveiro".

Quando o livro já tinha sido publicado e era um sucesso, Bloch soube de todos os detalhes do caso e percebeu o quanto seu romance era semelhante com a história real: "Ao inventar meu personagem, cheguei muito perto da personalidade real de Ed Gein. Fiquei horrorizado em pensar como eu podia imaginar tais coisas".

Se de um lado Bloch estava assustado, do outro, Hitchcock se sentia obsoleto com o sucesso comercial e de crítica do thriller francês As diabólicas, de Henri-Georges Clouzot. Ele queria uma história diferente, para um filme tipicamente "não-hitchcockiano". Foi um assistente de produção que descobriu o livro, graças a uma resenha, e o apresentou ao diretor. Hitchcock ficou fascinado especialmente com a cena do assassinato no chuveiro. Além disso havia o acréscimo da heroína que morria no primeiro terço da história. Sem falar na esperteza do recurso do travestismo. O diretor viu ali uma ótima oportunidade para um filme de suspense que superasse a película francesa. Tanto que, quando os executivos da Paramount se negaram a financiar o projeto ele bateu o pé. "Você não vai conseguir o orçamento a que está habituado para fazer uma coisa assim. Nada de technicolor, nada de grandes atores. "Tudo bem eu dou um jeito", retrucou ele.

Uma das soluções foi utilizar a barata equipe de seu programa de TV, que já estava habituada a filmar diversas cenas por dia. Para escrever o roteiro, contratou o iniciante James Cavanagh e, quando este não conseguiu desenvolver a trama (na primeira versão havia até mesmo uma história romântica para desviar a atenção do assassinato da mocinha), contratou outro ainda mais novato: Joseph Stefano, um ex-ator que antes de começar a escrever episódios para TV nunca tinha nem mesmo lido um roteiro. Para interpretar o vilão contratou o astro em ascensão Antony Perkins, por apenas 40 mil dólares. Era o salário mais alto de todo elenco, ironicamente a exata quantia que a heroína Mary Crane surrupia de seu patrão no filme.

Os custos de produção eram tão baixos que durante muito tempo acreditou-se que ele estivesse produzindo um episódio para televisão.

Contrariando as expectativas dos produtores, o filme foi um sucesso absoluto, faturando quinze milhões de dólares apenas no mercado americano no seu primeiro ano de exibição e transformando seu diretor em um milionário.

Psicose foi mais do que um sucesso. Foi uma febre. Por causa dele a venda de cortinas de opacas de banheiro caiu nos EUA, assim como o número de hospedes de motéis de beira de estrada.

É essa história que o escritor e roteirista Stephen Rebello destrincha em uma prosa agradável. Um livro de mais de 200 páginas, mas que se devora em um tapa, em especial se o leitor for fã de cinema.


Gian Danton
Macapá, 21/3/2014

Quem leu este, também leu esse(s):
01. Bonjour, tristesse de Adriana Baggio


Mais Gian Danton
Mais Acessadas de Gian Danton em 2014
01. Uma norma para acabar com os quadrinhos nacionais? - 25/7/2014
02. Monteiro Lobato: fragmentos, opiniões e miscelânea - 24/1/2014
03. O cão da meia-noite - 19/12/2014
04. Abelardo e Heloísa - 28/2/2014
05. A cultura visual e a emancipação do receptor - 20/6/2014


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site



Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Livro Infanto Juvenis Dois Mundos, um Herói uma Aventura Não Oficial de Minecraft
Rezendeevil
Suma de Letras
(2015)



Livre para Voltar
Roberto de Carvalho
Aliança
(2017)



Curso de Perícia Contábil
Antônio Gomes das Neves
Ltr
(2012)



Guerras Secretas
Alex Irvine
Novo Seculo
(2015)



Caminho Santo: Uma viagem científica através da quarta dimensão
Ben José Jr.
Do autor
(1989)



Ideias geniais na matemática
Surendra Verma
Gutenberg
(2016)



Precalculus Mathematics For Calculus
James Stewart / Lothar Redlin
Cengage Learning
(2019)



Mesada Não e So Dinheiro
Reinaldo Domingos
Dsop
(2015)



A Correspondência de Fradique Mendes - Livro de Bolso
Eça de Queiroz
Ediouro



Modal and Tonal Counterpoint: From Josquin to Stravinsky
Harold Owen
Thomson Learning
(1992)





busca | avançada
83297 visitas/dia
2,4 milhões/mês