De Middangeard à Terra Média | Celso A. Uequed Pitol | Digestivo Cultural

busca | avançada
66667 visitas/dia
1,8 milhão/mês
Mais Recentes
>>> Otávio Veiga apresenta 'Formas da Consciência' na Galeria ZooFoz
>>> Casa do Papai Noel será inaugurada com festa na Praça Sete, amanhã, terça-feira, dia 10
>>> Filme 'Alice Lembra' leva magia do cinema ao sertão baiano
>>> Livro celebra a vida e a obra de Ariano Suassuna nos 10 anos de sua morte
>>> Livro reúne 40 anos de trajetória da artista Bea Machado
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> Do lumpemproletariado ao jet set almofadinha...
>>> A Espada da Justiça, de Kleiton Ferreira
>>> Left Lovers, de Pedro Castilho: poesia-melancolia
>>> Por que não perguntei antes ao CatPt?
>>> Marcelo Mirisola e o açougue virtual do Tinder
>>> A pulsão Oblómov
>>> O Big Brother e a legião de Trumans
>>> Garganta profunda_Dusty Springfield
>>> Susan Sontag em carne e osso
>>> Todas as artes: Jardel Dias Cavalcanti
Colunistas
Últimos Posts
>>> Berthier Ribeiro-Neto, que vendeu para o Google
>>> Rodrigo Barros, da Boali
>>> Rafael Stark, do Stark Bank
>>> Flávia e Pedro Garrafa
>>> Lisboa, Mendes e Pessôa (2024)
>>> Michael Sandel sobre a vitória de Trump (2024)
>>> All-In sobre a vitória de Trump (2024)
>>> Henrique Meirelles conta sua história (2024)
>>> Mustafa Suleyman e Reid Hoffman sobre A.I. (2024)
>>> Masayoshi Son sobre inteligência artificial
Últimos Posts
>>> Transforme histórias em experiências lucrativas
>>> Editora lança guia par descomplicar a vida moderna
>>> Guia para escritores nas Redes Socias
>>> Transforme sua vida com práticas de mindfulness
>>> A Cultura de Massa e a Sociedade Contemporânea
>>> Conheça o guia prático da Cultura Erudita
>>> Escritor resgata a história da Cultura Popular
>>> Arte Urbana ganha guia prático na Amazon
>>> E-books para driblar a ansiedade e a solidão
>>> Livro mostra o poder e a beleza do Sagrado
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Algumas notas dissonantes
>>> De volta aos primórdios da imprensa no Brasil
>>> Acorda e vai trabalhar. Que seja até morrer
>>> Frida Kahlo e Diego Rivera nas telas
>>> As noites do Cine Marachá
>>> Sobre os Finais
>>> Linguagem, Espaço, Máquina
>>> Literatura Falada (ou: Ora, direis, ouvir poetas)
>>> A proposta libertária
>>> Blogo, logo existo
Mais Recentes
>>> O Erro De Descartes: Emoção, Razão E O Cérebro Humano de Antonio R Damásio pela Companhia Das Letras (2001)
>>> A Mulher Do Meio-dia de Julia Franck pela Nova Fronteira (2008)
>>> Sociologia das Doenças Mentais de Roger Bastide pela Companhia Editora Nacional (1967)
>>> Thierry Henry, La Main Maudite de Hervé Gallet, Karl Olive pela Du Rocher (2010)
>>> Um Curso De Cálculo (3)... de Hamilton Luiz Guidorizzi.. pela Ltc - (2011)
>>> Lições de Texto: Leitura e Redação de Platão; Fiorin pela Atica (2004)
>>> Como Ver Una Corrida De Toros - Manual De Tauromaquia Para Nuevos Aficionados de Jose Antonio Del Moral/ Prologo De Igancio Alvarez Vara pela Alianza Editorial (1994)
>>> Psicologia Científica Geral de Madre Cristina Maria pela Agir (1977)
>>> Temas de Direito Privado de Oliveira J M Leoni Lopes De pela Lumen (2001)
>>> Um Coracao Simples de Flaubert Gustave pela Grua Livros (2015)
>>> Ilusões do Mundo de Cecília Meireles pela Nova Fronteira (1982)
>>> Sobre Viver de Sofia Debora Levy pela Ediouro (2006)
>>> Alfred Hitchcock E Seus Filmes de Bodo Fündt pela Ediouro (1992)
>>> Geometria Analítica de M. Silva Filho pela Nacionalista (1961)
>>> Oliver Twist (dover Thrift Editions) de Charles Dickens pela Dover Publications (2002)
>>> Concise English-chinese / Chinese-english Dictionary (third Edition) (english And Chinese Edition) de Martin H. Manser pela Commercial Pr Ltd (2004)
>>> O Rei Dos Dividendos: A Saga Do Filho De Imigrantes Pobre Que Se Tornou O Maior Investidor Pessoa Física Da Bolsa De Valores Brasileira de Luiz Barsi Filho pela Sextante (2022)
>>> John Cassavetes de Thierry Jousse pela Nova Fronteira (1992)
>>> O judeu internacional de Henry Ford pela Revisão (1989)
>>> Questão Judaica, questão social! de José Pérez pela Revista dos Tribunais (1933)
>>> Vereda Digital -Filosofar Com Textos- Vol. Único- 2 livros de Maria Lúcia De Arruda Aranha pela Moderna (2017)
>>> Sociologia Em Movimento - Vol. Unico - 2ª Ed. 2 livros de Afrânio Silva e outros pela Moderna (2017)
>>> Vereda Digital - Geografia - Contextos e Redes. Vol. Único- 3 livros de Angela Correa da Silva; Nelson Bacic Olic pela Moderna (2017)
>>> Box 360º Aprender e Praticar Gramática - completo de Mauro Ferreira pela Ftd (2015)
>>> PL Português:Linguagens 6 ano de William Cereja; Carolina Dias Vianna pela Atual (2023)
COLUNAS

Terça-feira, 10/4/2018
De Middangeard à Terra Média
Celso A. Uequed Pitol
+ de 5700 Acessos

O nome de J.R.R. Tolkien provavelmente ressoa no ouvido da maioria das pessoas como o autor de “O Senhor dos Anéis”, a trilogia épica adaptada para o cinema em 2001 pela mão competente de Peter Jackson. Entretanto, poucos saberão que se trata também do reconhecido professor de Oxford, colaborador do monumental Oxford English Dictionary e figura de grande destaque em sua disciplina de atuação, a filologia germânica. E isto não é nada anormal: a atividade extraliterária de Tolkien desenvolveu-se num meio restrito e mesmo o trabalho de um nome com a sua fama dificilmente chegaria ao ouvido do leitor não-especializado. No entanto, este desconhecimento faz com que passe ao lado da maioria a ligação que há entre a atividade do filólogo Tolkien, especialista em literatura anglo-saxônica, e do ficcionista Tolkien. Esta ligação – ou melhor: o resultado dela – é o objeto do estudo que ora apresentamos: como, quando e de que maneira a língua e a literatura anglo-saxônicas se fizeram presentes na obra de J.R.R. Tolkien, mormente em O Senhor dos Anéis, e quais as particularidades que cercam esta presença.

Esta gigantesca obra, que inclui romance, novela, poesia e muito mais, tem como cenário a Terra-Média (Middle-earth, em inglês), um mundo com povos, geografia, história e idiomas criados e minuciosamente descritos pelo autor. Tanto o idioma quanto a literatura anglo-saxônicos estão lá presentes, o que, conforme veremos, é admitido pelo próprio Tolkien em várias passagens de seus livros e cartas. Esta presença dá-se de duas formas: por um lado, através do idioma anglo-saxão, na toponímia, no nome dos personagens, em algumas canções e na criação de idiomas; por outro, através da literatura anglo-saxônica, de onde Tolkien toma a caracterização dos lugares, dos personagens e da própria idéia de Terra Média. Idioma e a literatura estão conectados na cátedra que Tolkien ministrava em Oxford: a filologia. Tendo em vista a notória redução do interesse por esta disciplina em nosso meio acadêmico (a ponto de ter sido eliminada do currículo de grande parte das faculdades de Letras do Brasil) e a grande dificuldade que muitos têm em conceituá-la apropriadamente sem confundi-la com outras ciências, talvez seja importante deixar claro o que aqui se quer dizer com filologia. Para tanto, adotamos o conceito dado por Heinrich A. W. Bunse em seu Iniciação à filologia germânica, segundo o qual filologia é o “estudo e conhecimento das línguas enquanto instrumento ou meio de expressão das emoções artísticas de um povo, fixadas em seus documentos literários”. O conceito alarga-se quando o professor Bunse define a filologia germânica, sua matéria de estudo, dando-lhe sentido lato e estrito: lato sensu, é “a ciência que estuda a cultura dos povos que falam línguas germânicas, isto é, o estudo da vida intelectual e espiritual dos povos germânicos através de sua língua, literatura, arte, religião, usos e costumes, direito, etc”. Stricto sensu, é “a ciência que estuda as línguas e literaturas germânicas”.

É tarefa do filólogo trabalhar neste intercurso entre língua e literatura, com vistas a – nas palavras de Bunse – chegar ao “estudo da vida intelectual e espiritual dos povos germânicos”. Ou, no dizer de Lucia Stegagno Picchio em trabalho dedicado à matéria, “reproduzir em si o processo histórico e o momento intuitivo que levou àquela expressão linguistica e poética ou , como dizia como uma bela imagem de Willamowitz, ‘captar uma personalidade alheia”. O que certamente não é fácil. Os séculos passam, o mundo muda e os ruídos entre nós e aqueles de quem pretendemos “captar a personalidade” aumentam a cada dia, chegando ao ponto de, muitas vezes, já não sermos capazes de ouvir-lhes a voz. Não foi, contudo, o que aconteceu entre Tolkien e o mundo anglo-saxônico. Em uma de suas cartas, ele afirma ter-se sentido familiarizado com o anglo-saxão logo da primeira vez que tomou contato com o idioma. Tolkien era um filólogo no sentido mais literal possível do termo, o de amante das palavras (philos, amizade, amor; logos, palavra), e não foi outra a sua atitude diante da língua e da literatura de seus ancestrais. Tratemos, portanto, da presença da língua anglo-saxã. Também chamado de inglês antigo ou velho inglês (Old English), era o idioma falado na Inglaterra entre os séculos V e XI, tendo sido levado para a ilha pelos invasores germânicos provenientes de áreas que fariam hoje parte das atuais Alemanha e Dinamarca. Isto explica o estreito parentesco que o anglo-saxão guarda com a estrutura das línguas destas regiões: tinha quatro casos (dativo, acusativo, nominativo e genitivo), três gêneros (neutro, masculino e feminino) e apresentava uma estrutura essencialmente sintética. Diferenciava-se, portanto, do inglês moderno e aproximava-se, sob este aspecto, da maioria dos idiomas germânicos.

Grande parte dos nomes das personagens em “O Senhor dos Anéis” é de origem anglo-saxônica e isto não é gratuito. “Para mim, o nome vem primeiro, e a história, depois”, disse Tolkien. Ou seja, através da palavra e do nome, chega-se à história e ao personagem, o que, de acordo com os estudos de Ernst Cassirer, é característica das antigas narrativas míticas das quais O Senhor dos Anéis é um assumido descendente. Cassirer afirma que nelas o nome da personagem tem status de invocação de qualidades pessoais e de comportamento, definindo a sua trajetória dentro da história:

“A identidade essencial entre a palavra e o que ela designa torna- se ainda mais evidente se, em lugar de considerar tal conexão do ponto de vista objetivo, a tomamos de um ângulo subjetivo. Pois também o eu do homem, sua mesmidade e personalidade, estão indissoluvelmente unidos com seu nome, para o pensamento mítico. O nome não é nunca um mero símbolo, sendo parte da personalidade de seu portador;

Os exemplos de como se dá este processo são muitos. Frodo, o protagonista, provinciano habitante do Condado que aos poucos se revela um corajoso líder, recebe seu nome da palavra anglo-saxônica fród, que significa “sábio por experiência”. Já o nome de seu simplório e bondoso amigo, Samwise, significa “meio sábio, simplório” em anglo-saxão. Saruman, o mago corrompido pelas forças do mal, quer dizer “homem habilidoso”; mora em Isengard, que significa “lugar construído em ferro”, e comanda criaturas malignas chamadas “orcs” - “demônios”, em anglo-saxão. E a lista segue. Fazer um levantamento de todos os termos anglo-saxônicos em Tolkien é um tanto contraproducente: eles estão em toda parte e o trabalho reduzir-se-ia a mera coleção de nomes. Em vez disso, preferimos deter nossa atenção em um trecho de uma obra que dá prova desta conexão especial que, em Tolkien, há entre a palavra (e, com ela, a literatura e a própria a cultura dos anglo-saxões) e a criação. A obra é o poema Christ, do poeta anglo-saxão Cynewulf, e o trecho é o seguinte:

Eala Earendel engla beorohtast
Ofer Middangeard monnun sended

Uma tradução possível seria:

Ave, estrela da manhã, o mais brilhante dos anjos Em direção ao mundo enviado aos homens

O trecho divide as opiniões dos filólogos: para alguns é uma referência a Jesus Cristo, a “estrela da manhã”, a “Luz do Mundo”, que é enviada aos homens para iluminar a Terra; para outros, trata-se de São João Batista, o profeta que anuncia a chegada do Messias. Duas palavras chamam-nos a atenção: Earendel e Middangeard, traduzidas aqui algo livremente como “estrela da manhã” e “mundo”. Cuidemos na primeira delas. Trata-se de um vocábulo antigo, que aparece em diversos contextos dentro da literatura anglo-saxônica (referindo-se a Cristo, Maria, João Batista ou qualquer outro que a imagem de “estrela da manhã” pode sugerir) e também fora dela, em cognatos de outras literaturas germânicas (o nórdico antigo Aurvandil, o lombardo Auriwandalo, alemão antigo Orentil e muitos outros), pertencendo, ao que tudo indica, a um imaginário comum proto-germânico. Tolkien veio a conhecê-lo pela primeira vez em 1913, quando, ainda aluno de Oxford e debruçado pela primeira vez diante do Christ de Cynewulf, apaixonou-se imediatamente pela beleza do termo e pelo significado que ele trazia. Pôs-se a estudar-lhe a origem e, no ano seguinte, escreveu o poema narrativo “A viagem de Earendel”, sobre a trajetória de um marinheiro que, presenteado com uma jóia iluminada, vê seu navio elevado até os céus, onde até hoje carrega a luz que lhe foi presenteada. A história está presente no Silmarillion e na canção “Earendil foi um marinheiro”, entoada por Bilbo Bolseiro em O Senhor dos Anéis, além de outros momentos da obra de Tolkien.

A outra palavra é Middangeard, traduzida aqui como “mundo”. Na mitologia anglo-saxônica pré-cristã, o termo era usado para designar o mundo dos homens (nórdico antigo Midgard, gótico Midjungards, islandês Midgardur). Sua tradução literal para o português é a mesma de sua descendente direta em inglês moderno, Middle-earth: Terra-média. “A Terra-Média” – diz Tolkien – “não é uma invenção minha. É uma modernização ou alteração (N [ew] E [nglish] D [ictionary], uma “perversão”) de uma palavra antiga para o mundo habitado pelos homens, o oikoumenç: média por ser vagamente imaginada como localizada entre os Mares circundantes e (na imaginação setentrional) entre o gelo do Norte e o fogo do Sul”. Temos aí outro exemplo de como a palavra (e a investigação filológica a ela relacionada) inspira e fundamenta o processo criativo do autor.

Voltamos a nossa atenção agora para uma das criações de Tolkien que ilustram essa aproximação filológica de que falamos na caracterização de regiões da Terra Média: o reino de Rohan. Situado em uma imensa planície que limita ao sul com Gondor e a sudeste com Mordor, seus habitantes, os rohirrim, são conhecidos como excelentes cavaleiros. O idioma que falam, o rohirric, é descrito como mais arcaico do que o westrom (a língua geral da Terra-Média em que a obra é narrada), da mesma forma que o anglo-saxão é arcaico em relação ao inglês moderno. Aqui se verifica o mesmo fenômeno descrito anteriormente por Cassirer: o rei de Rohan chama-se Théoden, “líder, chefe, rei” em anglo-saxão; seu filho é Éomer, significa “famoso pelos cavalos”, uma referência à sua conhecida habilidade no manejo dos animais e sua filha chama-se Éowyn, que significa “amante dos cavalos”, também por este motivo. A si mesmos os habitantes de Rohan chamavam-se “eorligans”, ou seja, filhos de Eorl, lendário rei de Rohan, cujo nome também tem um significado em anglo-saxão e quer dizer “nobre, chefe de tribo ou clã” – ou seja, a mesma coisa que a palavra “Earl”, sua descendente direta, significa em inglês moderno.

O leitor mais versado em história inglesa poderá se surpreender com essa ligação entre os cavaleiros de Rohan e os anglo-saxões. Se tomarmos, por exemplo, aquela que é a principal característica dos rohirrim, ou seja, a habilidade no uso dos cavalos, não encontraremos correspondência nas práticas militares dos anglo-saxões, que nunca se destacaram como cavaleiros - aliás, foi justamente a falta desta habilidade que os levou à derrota na célebre Batalha de Hastings, em 1066, diante dos normandos comandados por Guilherme, o Conquistador. Como se pode dizer, então, que a inspiração para a criação de Rohan foi a Inglaterra anglo-saxônica? Tolkien nos indica o caminho num dos apêndices de O Senhor dos Anéis, quando alerta que o fato de os rohirrim falarem o anglo-saxão e terem nomes inspirados por este idioma não implica numa semelhança com a arte, a cultura ou o modo de guerrear deste povo. Logo, não devemos procurar associações entre os anglo-saxões e os rohirrim dentro da história. E onde devemos procura-las? Na literatura. Tolkien procede como filólogo e ao filólogo, conforme vimos, interessa o texto literário. O momento histórico é, aqui, secundário, a não ser como acessório para a sua compreensão mais aprofundada. As fontes de Tolkien não são os livros de história, mas sim as páginas de The Wanderer, Beowulf e tantos outros textos com os quais ele trabalhou intensamente ao longo de sua vida. E ali se encontra, por exemplo, várias referências a cavalos, como o trecho de The Wanderer onde o cantor pergunta sobre o paradeiro do “cavalo e do cavaleiro”, ou quando Beowulf é recompensado com um cavalo pela rainha Wealtheow, ou as numerosas referências a guerreiros montados em outros poemas. Como sabemos, Beowulf se passa no que hoje seria a Dinamarca – logo no começo do poema há referência aos “lanceiros dinamarqueses”, dos quais “se ouviu contar feitos memoráveis” – e são vários os traços em comum entre as narrativas nas antigas literaturas germânicas, independentemente do idioma ou do local em que foram narradas. Para o leitor daquela época, Beowulf ressoava um passado anterior, da terra dos ancestrais, onde, entre outras coisas, fazia-se uso freqüente de cavalos. O próprio chefe dos anglo-saxões quando da invasão da província romana da Britânia chamava-se “Horsa”, literalmente “cavalo” em anglo-saxão (horse, em inglês moderno).

A maneira como Tolkien descreve o seu processo de criação é testemunho definitivo do modo como se aproxima da lingua e da literatura dos anglo-saxões:

“Olhando para trás analiticamente, devo dizer que os ents são compostos de filologia, literatura e vida. Devem seu nome a eald enta geweorc do anglo-saxão e à sua ligação com as pedras. ”

Embora este trecho fale somente dos ents (árvores que falam e se movimentam), podemos, mutatis mutandis, aplicar a mesma fórmula à obra inteira de J.R.R Tolkien e, em especial, a O Senhor dos Anéis. Homem e artista animado pelas palavras, ele percorreu o itinerário da língua e da literatura anglo-saxônicos guiado pela filologia. Fizemos o mesmo em nosso percurso da Middangeard anglo-saxônica até a Middle-earth de Tolkien, inclusive – e talvez principalmente - no puro sentido etimológico que filologia pode assumir: o de devoção e amor pela palavra, fonte criadora de personagens, línguas e mundos.


Celso A. Uequed Pitol
Canoas, 10/4/2018

Mais Celso A. Uequed Pitol
Mais Acessadas de Celso A. Uequed Pitol em 2018
01. Reflexões sobre a Liga Hanseática e a integração - 29/5/2018
02. Raio-X do imperialismo - 22/5/2018
03. De Middangeard à Terra Média - 10/4/2018
04. 40 anos sem Carpeaux - 20/3/2018
05. Reflexões sobre o ato de fotografar - 13/2/2018


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site



Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Ben-hur uma História dos Tempos de Cristo
Lew Wallace
Ágape
(2018)



S. Rachmaninoff 2e Suite pour Puano Op. 17 - Deux Pianos
Monsieur A. Goldenweiser
Edition A. Gutheil
(1947)



Livro Religião Tudo Tem Seu Preço
Zibia Gasparetto (ditado por Lucius)
Vida e Consciência
(2002)



Pudim de Claras Com Baba-de-moça
Angela Togeiro
Maza



O Carvalho e o Fogo - Col Encanto
Eunice Braido
Ftd
(2009)



O Pintor de Letreiros
R. K. Narayan
Guarda-chuva
(2011)



A Virtude Soberana a Teoria e a Prática da Igualdade Foto Original
Ronald Dworkin
Martins Fontes
(2005)



Moderna Plus Física Suplemento de Revisão
Nicolau Gilberto Ferraro
Moderna
(2015)



Direito Ambiental
Frederico Amado
Juspodivm
(2015)



paracatu. com um encontro virtual
Adriles Ulhoa Filho e outro
n/d
(2007)





busca | avançada
66667 visitas/dia
1,8 milhão/mês