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Quarta-feira, 4/9/2019
Notas confessionais de um angustiado (VII)
Cassionei Niches Petry
+ de 12500 Acessos

LII
Autran Dourado tem o seu “Mestre Imaginário”. Osman Lins tem o “Willy Mapou”, ou simplesmente “WM”. Com esses interlocutores, ambos dialogam sobre o trabalho literário. A reflexão teórica mistura-se com a ficção. Para Lins, é um “recurso banal, mas com a função de tornar menos árido o escrito, tanto para o leitor assim para o autor, que, afeito a exercícios de imaginação e aqui sofrendo a ascendência das ideias, quer, com o artifício, amenizar sua tarefa”. Estas notas confessionais têm um interlocutor real, chamado aqui de “o orientador”, professor do mestrado.

LIII
Cheguei a uma parte do romance crucial para o desenvolvimento da narrativa. Até agora, as personagens estão na defensiva. O conflito não começou propriamente. Isso é criticado pelo orientador, pois ele quer ver os personagens não mais interagindo apenas no mundo virtual, mas se encontrando no mundo real e, da mesma forma, sugere que as outras personagens envolvidas interfiram.

O orientador também critica o ar professoral da personagem Fred, pois estaria havendo uma contradição em relação a algumas dessas notas de criação, que propõe uma narrativa que almeja um leitor ideal, inteligente, que complete os espaços da história, o que está oculto, ou então que costure os fragmentos aparentemente desconexos. Respondo que os textos do Fred, tanto seus discursos quando foi estudante de Letras quanto às postagens do blogue, têm como função caracterizar a personagem e produzir indícios do que pode vir a acontecer no enredo. Além disso, o texto de internet, se deseja atingir um número maior de leitores, precisa ser o mais explicativo possível sem, no entanto, deixar de tratar de temas relevantes.

Recebi do meu orientador o Breve manual de estilo e romance, de Autran Dourado, em cujas primeiras páginas há um conselho que poderia depor contra ele mesmo: "Só aceite opinião de quem sabe fazer bem e já fez um bom texto literário." Teria escrito o professor algum bom romance? Se não, como poderia ele opinar sobre minha obra? Ou estaria errado o mestre autor de Ópera dos mortos? O orientador já publicou trabalhos literários em revistas. Não é isso, porém, que me faria aceitar seus conselhos e sim sua condição de leitor com uma enorme bagagem de leitura, o que lhe permite discernir a boa da má literatura. As intervenções do orientador, lógico, são bem-vindas, pois está cumprindo o papel do leitor ideal.

LIV
O autor de Ópera dos mortos disse em entrevista certa vez “que as coisas mais importantes, para os criadores [grifo do autor], sobre romance, foram ditas por romancistas, e as coisas mais importantes sobre poesia foram ditas por poetas”. Não por acaso, nas presentes notas, são os romancistas que aparecem mais vezes citados. Além de saberem como se faz, eles mesmos o fazem. Os críticos e teóricos apenas sabem, mas não fazem.

Autran Dourado proporciona uma visão dos mecanismos internos da mesma maneira como eu gostaria de tratar com relação à criação romanesca, não só pela leitura criteriosa que faço de sua obra, mas também pelas suas reflexões publicadas em livro. A ideia de dividir Os óculos de Paula em blocos tem como subsídio teórico o volume Poética do romance: matéria de carpintaria. Escrevendo sobre o processo de criação do seu romance O risco do bordado, Dourado afirma que o “livro é formado de blocos, como pedras de um dominó. Um dominó de pedras de tamanhos diferentes”. A partir de uma imagem da planta baixa do seu livro, como se estivesse planejando a construção de uma casa, visualizei como seria a do meu romance.

Em Os óculos de Paula, há o bloco do presente, outro do passado e um do escritor. Os dois primeiros são compostos por pequenos tijolos, capítulos curtos, que têm ora um narrador em 3ª pessoa focado em Paula, ora textos inteiros ou fragmentos de escritos de Fred no seu blogue, além de suas falas ou discursos em grupos de amigos e em sala de aula. São, por conseguinte, em 1ª pessoa. O bloco do escritor aparece em pautas separadas e destacada com fonte em itálico. Para o leitor pode ser um momento para refletir sobre o que está lendo, bem como faz com que a narrativa não caia na monotonia linear.

Sobre os capítulos referentes a Fred, muitos textos aparentemente podem não corresponder ao enredo, porém são essenciais não só para caracterizar a personagem, como também fornecer indícios para compreender o desdobramento do enredo. Como os capítulos prescindíveis de Rayuela, de Julio Cortázar, eles na verdade são indispensáveis.

(...)

LVIII
Foi lançado meu primeiro livro, Arranhões e outras feridas. Com ele, posso dizer que não sou mais um escritor inédito, apesar de ser ainda um aprendiz na arte de narrar. Num dos contos, “Ônibus”, exercito um processo em que os meus textos dialogam entre si. Uma das personagens é um escritor que imagina histórias para os passageiros de um ônibus urbano. Em uma delas, ele imagina um passageiro, leitor que deseja conhecer toda a obra desse mesmo escritor, apesar de não ter gostado do primeiro livro que leu: “Ao meu lado, um senhor lê um livro. Tento espiar o título. Não, não é nenhum meu. Mas ele já leu Os óculos de Paula e não gostou.” Como se pode perceber, o escritor é autor de um livro com o mesmo título do romance que é objeto de estudo destas notas. Ou, melhor dizendo, ele cria uma história em que ele é autor de um romance: “Atrás deles, há um homem de trinta e três anos, que não só leu Os óculos de Paula, como foi ele próprio quem o escreveu.”

Foi nesse conto que surgiu o título do romance que estou escrevendo, conforme a nota IV. Somente o título. As ideias para o desenvolvimento do romance foram surgindo bem depois da conclusão do conto. E para completar esta relação intratextual na minha obra, o escritor dos capítulos em itálico do romance ora em produção é autor de um livro intitulado Arranhões e outras feridas.

Nota do Autor
Notas escritas em 2012.

Nota do Editor
Leia também "Lucas Procópio, de Autran Dourado". Outros livros de (e sobre) Autran Dourado. Também Osman Lins.


Cassionei Niches Petry
Santa Cruz do Sul, 4/9/2019

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01. Livro policial baleia leitora de Ana Elisa Ribeiro
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