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Sexta-feira, 23/10/2020
Cabelo, cabeleira
Luís Fernando Amâncio
+ de 3500 Acessos

Se eu fosse cientista, trabalharia na invenção de três maravilhas: um protetor solar que também atuasse como bloqueador térmico, aliviando a sensação de calor na pele; um dispositivo que criasse uma bolha acústica, isolando quem estiver dentro dela de ruídos externos (ideal para quando você faz sua filha dormir e aí surge o carro da pamonha e acaba com todo o trabalho, só um exemplo); e uma pílula que faria seu cabelo parar de crescer.


Little Oak Sanctuary/ Divulgação

Eu teria sucesso comercial nas duas primeiras invenções, seguramente. Já a pílula da estagnação capilar, nas minhas projeções, encontraria rejeição no mercado. É claro. Pra muita gente, o que estou propondo é uma sandice. Ficar com o mesmo penteado a vida toda? Homens e mulheres dependem de cortes de cabelo periódicos para terem a vaidade massageada com comentários como “nossa, seu cabelo ficou ótimo, você rejuvenesceu”.

Tudo bem, faz sentido. A gente fica meio cansado de se olhar no espelho e ver sempre a mesma cara. Com um novo corte de cabelo... bom, a cara continua a mesma, mas a “moldura” diferente, digamos assim, dá valor.

Portanto, é possível que essa pílula só viesse a ser consumida por mim. E tudo bem. Meus outros inventos gerariam recursos para me motivar nesse empreendimento egoísta. Ou você não compraria esse protetor solar que, além de te proteger dos raios ultravioletas, também deixaria sua pele fresquinha, mesmo com a sensação térmica de Saara nesse Brasilzão das queimadas?

Desde a infância, meu cabelo sempre foi um inimigo. Diziam que ele era rebelde, que eu tinha um redemoinho enorme no cocoruto. Eu não sabia o significado dessas palavras, mas, no dia a dia, lidava com essas mazelas.

Era uma tristeza pentear o cabelo e ver pontas surgirem em todos as direções. Às vezes, uma cuspidinha no dedo e pronto: harmonia capilar reestabelecida com a pressão do indicador. Só que esses eram os dias raros. O normal era eu enfiar a cabeça embaixo da torneira do lavabo para abaixar os tais fios rebeldes. Com o peso da água, eles seguiam o rumo do penteado.

Todavia, nem sempre funcionava. Houve ocasiões em que, esgotados os artifícios anteriores, sem pente que me penteasse, eu sacava uma tesoura. Um impulso assassino. A ponta que se erguia em rebelião era sumariamente exterminada. Funcionava, mas não recomendo.

Acho que esses exemplos são suficientes para o leitor entender o motivo de eu querer estagnar o crescimento do meu cabelo. Assim, se o corte desse certo, pronto, acabava o problema. Era só tomar a pílula e se preocupar com outras coisas.

Agora, vejamos pelo lado prático: quanto tempo a gente não gasta numa vida indo a salões? Há quem vá todo mês a esses alegres centros de embelezamento. Suponhamos que o deslocamento, entre ida e volta, consuma uma hora. Outra hora deve ser gasta entre a espera e o tempo efetivo do corte. Duas horas nessa brincadeira por mês. Ou seja: a cada ano, a gente passa um dia inteiro só para cortar o cabelo. Uma volta completa da Terra ao redor de si por conta dos nossos cortes de cabelo. Não acho pouco. Se pensar racionalmente, talvez você também queira adquirir a minha pílula de estagnação capilar. Pense aí.

Ocorre que, para tristeza geral, eu não sou cientista. No que depender da minha capacidade de inventar algo, continuaremos sofrendo quando o vizinho faz obra em seu apartamento, com o verão e com o crescimento dos cabelos.

Porém, para não dizer que esse texto traz somente desilusões, apresento uma alternativa. A pandemia, apesar de todos os transtornos, me trouxe uma solução para o problema capilar. Como sou uma pessoa antiquada, desses que ainda prefere evitar uma eventual exposição ao vírus, comprei uma máquina de cortar cabelo. Mesmo de máscara, não quero nenhum desconhecido baforando perto da minha fuça em tempos pandêmicos.

Eu sempre tive resistência a cortes de máquina. Achava que, no meu caso, o cabelo crescia feio, ainda mais rebelde. Mas precisei abrir meu coração. E querem saber? Está funcionando. O corte fica feio? Fica, é claro, mas quem se importa? Eu, não.

Como não preciso me deslocar para ir ao salão, já não gasto um dia por ano cortando cabelo. Agora são apenas 12 horas anuais. Cinquenta por cento de desconto, fora o dinheiro que estou economizando. É verdade que eu vou gastar esse tempo assistindo seis jogos do campeonato inglês de futebol. Eu me conheço. Ainda assim, é uma conquista.


Luís Fernando Amâncio
Belo Horizonte, 23/10/2020

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