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Quinta-feira,
25/5/2023
Pulp Fiction e seus traços em Cocaine Bear
Elisa Andrade Buzzo
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Enfim foi chegada a hora de assistir a Pulp Fiction (1994) no cinema, após diversas sessões únicas perdidas nos últimos anos. Dias antes, na seção feminina da Abercrombie & Fitch havia uma camiseta de um cinza lavado com a conhecida arte do pôster do filme. E foi sem dúvida, momentos antes da referida sessão, com alguma surpresa que espreitei um fã do longa desfilando apressadamente com uma camiseta temática.
De todos os modos, o que me pareceu mais importante, é que Pulp Fiction, na minha cabeça distraída naquela noite (que emergia na própria energia daquela realidade californiana em vias de alterar não seu miolo, mas um pouco de sua casca), representou um meio do caminho entre três tipos de coisas: um filme de ficção científica, noir, clássico dos anos 1950 (não à toa, sendo que Pulp Fiction é inundando de referências noir, tanto repassadas quanto recriadas, delas fazendo um produto diferente em seu tempo), uma comédia norte-americana já clássica do final dos anos 1980 e um filme contemporâneo de suspense e terror com ares de filme B.
A maleta (cheia de ouro?) que resiste até seu final, sendo peça importante no encaminhamento do enredo em suas reviravoltas e em seu desfecho, não seria do mesmo gênero daquela do noir clássico? Tudo bem que neste caso deveria haver uma substância radioativa, de magnânima força, mas essas eram as preocupações daquele momento. No entanto (spoiler), tanto no clássico Kiss me Deadly (1955), com Ralph Meeker, quanto em Pulp Fiction, todos aqueles que olharam para o conteúdo da mala (que nunca sabemos realmente qual é, nos dois casos) têm um final definido e implacável.
Já a personagem Jules Winnfield (Samuel L. Jackson) não seria uma espécie “evoluída” do bandido que aterroriza a lanchonete Mc Dowell's, com o mesmo ator, em Coming to America (1988)? Sendo Jules, também, uma mistura de bandido com salvador da pátria, pois ele tem uma atitude, ainda que por motivos muito diversos, com sangue frio e senso de cálculo, semelhante à do príncipe Akeen (Eddie Murphy).
Por último, e não menos importante, o sentimento diverso de assistir a Pulp Fiction, na bizarra alternância entre o intenso riso, a repugnância e a tensão nervosa, aproximou-se com o de Cocaine Bear (2023), longa-metragem que se inspira na história real de um urso que acaba morrendo por uma overdose de cocaína. Na ficção, o terrível urso, ele próprio é uma curiosa síntese de diversos vilões sinistros, extraterrestres ou seres geneticamente modificados, do cinema: Predador, Alien e Godzilla. A maioria das personagens é formada por uma galeria risível em seus gestos, suas falas, suas atitudes e manias. No entanto, chega um momento em que se para de rir (para voltar, adiante, o riso), e se julga que se foi longe demais na violência da história... ou na história de violência. E esse traço específico de incômodo, que finalmente é disso que se faz o filme, une estranhamente essas duas obras.
Valeu a pena esperar para ver Pulp Fiction - sem agora estar mencionando nada mais do nele tanto é muito célebre e parte da cultura, antes falando de aproximações e sensações -; creio, ainda, que, no entanto, tenha querido ter visto antes John Travolta em Grease e Saturday Night Fever. Mas a ordem da vida cinematográfica é errante, cheia de lacunas, raridades e mainstream correndo em um fluxo ora rápido, eficiente, ora moroso, em contemplações e comparações monstruosas ou míticas.
Elisa Andrade Buzzo
Irvine,
25/5/2023
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