Quem entende de História e quem se faz entender | Sergio Amaral Silva | Digestivo Cultural

busca | avançada
119 mil/dia
2,0 milhão/mês
Mais Recentes
>>> São Paulo recebe show da turnê nacional ‘Metallica Symphonic Tribute’
>>> DR-Discutindo a Relação, fica em cartaz até o dia 28 no Teatro Vanucci, na Gávea
>>> Ginga Tropical ganha sede no Rio de Janeiro
>>> Coordenadoria de Reintegração Social e Cidadania abre processo seletivo
>>> Cultura Circular: fundo do British Council investe em festivais sustentáveis e colaboração cultural
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> O Big Brother e a legião de Trumans
>>> Garganta profunda_Dusty Springfield
>>> Susan Sontag em carne e osso
>>> Todas as artes: Jardel Dias Cavalcanti
>>> Soco no saco
>>> Xingando semáforos inocentes
>>> Os autômatos de Agnaldo Pinho
>>> Esporte de risco
>>> Tito Leite atravessa o deserto com poesia
>>> Sim, Thomas Bernhard
Colunistas
Últimos Posts
>>> Glenn Greenwald sobre a censura no Brasil de hoje
>>> Fernando Schüler sobre o crime de opinião
>>> Folha:'Censura promovida por Moraes tem de acabar'
>>> Pondé sobre o crime de opinião no Brasil de hoje
>>> Uma nova forma de Macarthismo?
>>> Metallica homenageando Elton John
>>> Fernando Schüler sobre a liberdade de expressão
>>> Confissões de uma jovem leitora
>>> Ray Kurzweil sobre a singularidade (2024)
>>> O robô da Figure e da OpenAI
Últimos Posts
>>> Salve Jorge
>>> AUSÊNCIA
>>> Mestres do ar, a esperança nos céus da II Guerra
>>> O Mal necessário
>>> Guerra. Estupidez e desvario.
>>> Calourada
>>> Apagão
>>> Napoleão, de Ridley de Scott: nem todo poder basta
>>> Sem noção
>>> Ícaro e Satã
Blogueiros
Mais Recentes
>>> A Arte da Entrevista
>>> Daniel Piza by Otavio Mesquita
>>> Prática de conversação on-line
>>> Fatal: o livro e o filme
>>> Que tal fingir-se de céu?
>>> Publique eletronicamente ou pereça: Ken Auletta na New Yorker
>>> Cabeça de Francis
>>> Jornalistossaurus x Monkey Bloggers
>>> A alma boa de Setsuan e a bondade
>>> A alma boa de Setsuan e a bondade
Mais Recentes
>>> A Cidade E As Serras de Eça De Queiroz pela L&pm Poket (2013)
>>> Nos Passos de Jesus Para Adolescentes de Edir Macedo pela Unipro (2021)
>>> Devoçao de J. C. Reed pela Unica (2014)
>>> Cuentos de La Alhambra de W. Irving pela Miguel Sanchez
>>> Entre O Agora E O Nunca de J. A. Readmerski pela Suma De Letras (2013)
>>> Entre O Agora E O Nunca de J. A. Readmerski pela Suma De Letras (2013)
>>> O Que as Mulheres Querem de Susan Maushart pela Melhoramentos (2006)
>>> Educação Escolar - Identidade e Diversidade de Marlene Fagundes Carvalho Goncalves Organização pela Insular (2003)
>>> Comedia Infantil de Henning Mankell pela Marco Zero
>>> Iniciação à Eucariastia de Vários Autores pela Paulinas (2012)
>>> Operação Cavalo de Tróia de J. J. Benitez pela Mercuryo (1987)
>>> Caboclo Dágua - um Menino um Caboclo Dois Corações de Carmo Chagas pela Sinergia (2013)
>>> Os Templarios de Piers Paul Read pela Imago (2001)
>>> A Classe Média No Espelho: Sua História, Seus Sonhos E Ilusões, Sua Realidade de Jessé Souza pela Estação Brasil (2018)
>>> Sereia de Tricia Rayburn pela Verus (2011)
>>> Manual do Covarde - Do Palácio à Cadeia Sem Tirar a Máscara de Guilherme Fiuza pela Record, (2018)
>>> Serie Sereia: Encanto de Tricia Rayburn pela Verus (2012)
>>> Ronaldo - Glória e Drama no Futebol Globalizado de Jorge Caldeira pela 34 Lance (2002)
>>> Deu Branco de Ana Alvarez pela Record (2008)
>>> Contos De Amor, De Loucura E De Morte de Horacio Quiroga pela Abril Coleçoes (2010)
>>> Só a Educação Salva de Fernando Carraro pela Ftd (2021)
>>> Sapiens - uma Breve Historia da Humanidade de Yuval Noah Harari - Janaina Marcoantonio Tradução pela Lpm (2016)
>>> Ladrao De Luz de David Ramus pela Record (1997)
>>> Comunicadores S.A. de Fernando Morgado pela Matrix (2019)
>>> Eu e o Governador de Adelaide Carraro pela Loren (1977)
COLUNAS

Quarta-feira, 29/5/2002
Quem entende de História e quem se faz entender
Sergio Amaral Silva
+ de 6500 Acessos
+ 2 Comentário(s)

Principalmente a partir dos anos 80, tem crescido o interesse do público brasileiro pelas biografias, resultando em sucessos editoriais como Olga e Chatô, de Fernando Morais; O Anjo Pornográfico e Estrela Solitária, de Ruy Castro; ou Mauá, de Jorge Caldeira. Os autores desses best-sellers são jornalistas e não historiadores.

Tentando fazer com que os acadêmicos participem desse boom, a Editora da Fundação Getúlio Vargas, do Rio de Janeiro, lançou a coleção "Os que fazem a História". Segundo a editora-executiva Alzira Alves de Abreu, um historiador ou cientista social, "utilizando métodos rigorosos de pesquisa, busca controlar os dados e informações obtidos nas mais diversas fontes". Assim, seria capaz de "uma narração histórica construída a partir de pressupostos e métodos da disciplina histórica".

E a que leitor se destina a coleção, "comprometida com as características da historiografia contemporânea moderna e/ou pós-moderna, conforme a opção ou não do autor pelo "realismo histórico"? Para seu coordenador, o professor Francisco Calazans Falcon, da PUC carioca, "a um público diversificado", incluindo estudantes secundários e universitários e "todos os que se interessam pela construção do nosso passado e pela compreensão do nosso presente". Ou seja: biografias feitas por quem entende do assunto, para um leitor não necessariamente iniciado.

O primeiro dos três novos lançamentos é José Bonifácio (1763-1838), escrito por Berenice Cavalcante, doutora em História Social e professora da PUC-RJ.

Paulista de Santos, Bonifácio passou uma longa temporada de estudos na Europa, especializando-se em mineralogia e só retornando ao Brasil em 1819, já às vésperas da Independência.

Na Corte, conquista a confiança de Pedro I, sobre o qual exerce grande influência, inclusive graças à maçonaria, da qual ambos faziam parte. Em maio de 1822, assume a posição mais elevada da maçonaria, a de Grão-Mestre, cargo que passa a d. Pedro logo após o 7 de setembro.

Como ministro do novo Império, Bonifácio defende a abolição da escravatura e a integração social dos índios, contrariando o interesse das elites e acaba por desentender-se com o imperador. Deputado à Constituinte fechada por d. Pedro, é preso e exilado para a França, em 1824, voltando ao Brasil em 1829.

Forçado a abdicar em 1831, o imperador nomeia José Bonifácio tutor de seus filhos, inclusive do herdeiro do trono, então com cinco anos. Acusado de conspirar e perturbar a ordem pública, perde a tutoria e é de novo preso. A autora destaca a ética como principal característica do Patriarca da Independência que, absolvido, morre em Paquetá, aos setenta e cinco anos.

José de Alencar (1829-1877) é a personagem de Antonio Edmilson Martins Rodrigues, livre-docente em História e professor da PUC-RJ, da UERJ e da UFF. Ele abre o livro com um capítulo em primeira pessoa, como se o próprio romancista de Iracema e O Guarani resumisse os principais episódios de sua vida. A partir daí, cita autores clássicos que escreveram sobre Alencar, realçando os acontecimentos mais marcantes.

Nesse retrato harmonioso em que se fundem o político e o literato, sobressaem os traços do patriota que tinha um projeto para o Brasil e cuja literatura inovadora foi um dos instrumentos de realização. Várias vezes deputado, Alencar sintetizou suas posições políticas nas Cartas de Erasmo, em que se dirige ao imperador Pedro II, diagnosticando a crise brasileira na década de 1860.

Apesar da postura crítica, Alencar chegou a ser ministro da Justiça entre 1868 e 1869. Deixou o gabinete quando d. Pedro não aprovou sua candidatura ao Senado, alegando que ele era muito jovem. Alencar teria respondido que, nesse caso, o imperador não deveria ter aceito a antecipação da maioridade, assumindo o trono aos quatorze anos...

Embora tenha morrido precocemente, aos quarenta e oito anos, Alencar construiu uma importante obra. Para Rodrigues, "não foi apenas o fundador da literatura brasileira; não foi apenas o homem que mostrou a capacidade de idéias e imaginação que o país possuía, mas sim um grande descobridor do Brasil".

Já o padre Antônio Vieira (1608-1697) é o tema de Marcus Alexandre Motta, doutor em História. Vieira, famoso como orador e por seus Sermões, dificilmente se tornará mais conhecido através desta obra sobre sua vida. Motta decidiu narrar a trajetória do jesuíta barroco como se escrevesse uma peça de teatro com três personagens: a Ironia, o Luto e o Mar.

Os dados essenciais, é claro, estão lá: o célebre "estalo" no cérebro, quando o jovem suplica à Virgem que lhe conceda o talento que não tinha, as inúmeras viagens e pregações, a defesa da liberdade dos índios, o julgamento pela Inquisição. Mas entremeados de diálogos por vezes longos, grandiloqüentes, filosóficos e até de difícil compreensão.

Um pequeno exemplo? Da página 39: "Mar - Gosto da seguinte idéia: a biografia de Vieira, desfocada e desolada, coagula a hemorragia da composição originária dos Descobrimentos portugueses. Ironia - O senhor quer dizer: a individualidade de Vieira se confunde na ilusão narrativa daquele fato. Algo da apreensão fantasmática de si, enquanto indivíduo ao alcance daquela fatalidade histórica."

Se o livro não deveria destinar-se a especialistas acadêmicos, mas a um público diversificado, não chega a dar saudades do estilo fluente dos jornalistas-biógrafos? O próprio Motta recomenda, dirigindo-se ao leitor que espera "a exaustão do que se pode admitir como uma biografia de Antônio Vieira": não leia...

Para ir além

* José Bonifácio: razão e sensibilidade, uma história em três tempos, de Berenice Cavalcante, 136 págs.;



* José de Alencar: o poeta armado do século XIX, de Antonio Edmilson Martins Rodrigues, 156 págs.;



* Antônio Vieira: infalível náufragio, de Marcus Alexandre Motta, 164 págs., R$ 14 cada volume, Editora FGV.


Sergio Amaral Silva
São Paulo, 29/5/2002

Mais Sergio Amaral Silva
* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site

ENVIAR POR E-MAIL
E-mail:
Observações:
COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
31/5/2002
09h17min
Excelente resenha feita por Sérgio Amaral, que acompanho em vários trabalhos. Espero ver mais de suas resenhas neste site.
[Leia outros Comentários de Ricardo de Jesus Mor]
7/6/2002
11h06min
Muito bom, como sempre, o trabalho do Sérgio Amaral. Quero mais.
[Leia outros Comentários de Decio Tambelli]
COMENTE ESTE TEXTO
Nome:
E-mail:
Blog/Twitter:
* o Digestivo Cultural se reserva o direito de ignorar Comentários que se utilizem de linguagem chula, difamatória ou ilegal;

** mensagens com tamanho superior a 1000 toques, sem identificação ou postadas por e-mails inválidos serão igualmente descartadas;

*** tampouco serão admitidos os 10 tipos de Comentador de Forum.




Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Defend and Betray: the Master Storyteller of Victorian Society
Anne Perry
Headline
(1995)



Boca do Inferno
Ana Miranda
Companhia das Letras
(1996)



O Oitavo Dia
John Case
Planeta
(2006)



Nas Garras Dos Babuinos
Rogerio Andrade Barbosa
Gaivota
(2021)



Profissão: Dona de mim
Sônia Salerno Forjaz
Ftd
(1999)



Livro Literatura Estrangeira Marcada Para Morrer
Julie Garwood
Landscape
(2006)



Caminhos do Pasárgada
José Geraldo Rocha; Valnice Vieira
Embu
(2019)



Antologia Brasileira Poética 1998
Varios Autores
Shan
(1998)



Avaliação - "Voz da Consciência" da Aprendizagem
Ivo José Both
Ibpex
(2011)



O Ensino Superior Em Transição
José Manuel Matos Pereira
Formalpress
(2010)





busca | avançada
119 mil/dia
2,0 milhão/mês