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Segunda-feira, 23/12/2002
O Cotton Club
José Nêumanne
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+ 1 Comentário(s)

Quando se vê uma fita de gângsteres ou um musical com cenas em preto e branco reproduzindo a atuação de um cantor de jazz, a tendência é achar que um nada tem que ver com outro: Hollywood tratou de colocar cada coisa em sua prateleira - numa, os carros funerários transportando caixas de uísque e estojos de violoncelo guardando metralhadoras; e noutra, a gargalhada desaforada de Louis Armstrong ou a elegância de Fred Astaire dançando pendurado num lustre. No entanto, nos anos 20 e 30, quando os EUA viveram o boom e o crack de Wall Street, da euforia do suingue ao desespero da Recessão, a realidade misturava isso tudo: as baquetas de Chick Webb, o pente da metralhadora dos capangas de Al Capone e os blues de Bessie Smith conviviam, se não harmonicamente, pelo menos em paz. E se havia um lugar onde isso se celebrava era o palco do Cotton Club, no Harlem.

Não, caro leitor, o "Clube do Algodão" não era uma extensão da Bolsa de Mercadorias nem um ponto de encontro dos vencidos na Guerra Civil Americana. Em seu palco gigantesco reproduzindo o alpendre de casa-grande de uma plantação sulista, com seus pilares brancos neo-coloniais e apetrechos lembrando a escravidão dos afro-americanos, desfilaram alguns dos gênios do jazz, cuja arte podia ser apreciada por uma platéia quase exclusivamente branca - de fato, no cabaré se reproduzia simbolicamente um apartheid mal disfarçado: os negros cantavam, tocavam e dançavam (ou seja, davam duro, como sempre) para entreter os brancos, que pagavam a conta, ficando os lucros da empreitada também com um branquelo. E que figura era esse sujeito!

Um querubim com o diabo no corpo - Owen (vulgo Owney) Madden nasceu em Liverpool, na Inglaterra, em 1892. A família cruzou o Atlântico quando ele tinha 11 anos e se instalou num bairro de Manhattan que ficaria célebre por seu apelido assustador, The Hell's Kitchen - A Cozinha do Inferno. Aqueles quarteirões, povoados por irlandeses pobres, eram território proibido para a polícia, como hoje o são os morros do Rio de Janeiro. Viviam sob o bárbaro jugo das "gangs" de rua (favor não confundir com a Máfia, importada da Sicília, que viria a substituí-las depois). Os mestres-cucas daquela cozinha diabólica atendiam pelas alcunhas de "Stumpy" (Troncudo) Malarkey, "One Lung" (Um Bofe) Curran e "Goo Goo" (Gugu) Knox. Eram o Fernandinho Beira-Mar e o Elias Maluco do começo do século XX nos EUA.

Um dos bandos mais famosos era o dos "Gophers" (geômios, roedores típicos da fauna americana, da família dos esquilos), comandado por bandidos como "Happy Jack" (Joca Feliz) Mulraney, assim apelidado porque sempre parecia estar sorrindo, por causa de uma paralisia que acometia seus músculos faciais. Cada "Gopher" tinha sua princesa, uma beleza do bairro que era exibida como troféu. Foram registradas em livros sobre a época as atuações de Sadie "the Goat" (a Cabra), "Hell Cat" (Gata Infernal) Maggie e "Battle" (Batalha) Annie.

Uma delas, Ida "the Goose" (a Gansa) ficou conhecida pela beleza e pela ousadia de abandonar um chefão "Gopher", desafiando a regra das ruas, pela qual só os machos podiam largar as fêmeas. A feminista avant-la-lettre se deu mal: quatro pistoleiros da gangue invadiram o território do bando rival para o qual ela se tinha bandeado e, depois de tomarem uma cerveja cada, fuzilaram a desertora e seu corpo de guarda, formado por 11 pistoleiros. Cada atirador lhe cravou uma bala no corpo, ficando o tiro de misericórdia por conta de quem sofrera a desfeita - o amante abandonado.

Quando a Gansa foi abatida a tiros, corria o ano de 1910 e nosso anti-herói Owney já era titular de uma extensa folha corrida na polícia de Nova York: um ano antes, aos 17, era suspeito de ter praticado dois assassinatos e fazia o possível para honrar o apelido de Owney "the Killer" (o Matador). O conterrâneo dos Beatles era o que se podia chamar um baixinho abusado, de acordo com os historiadores das gangs de rua de Nova York. O especialista em história criminal Allan May assim descreve o homem que assumiria a facção majoritária dos "Gophers", divididos em três bandos após a prisão de seu líder máximo Newburgh Gallagher: Owney era "liso, esguio e esperto, com o sorriso gentil de um querubim e a lábia e a crueldade de um demônio".

Vagabundo, cruel e preguiçoso - Em seu livro sobre as gangues de Nova York, Herbert Asbury o define: "Ele era um craque atirando com um revólver e um artista completo usando como armas um estilingue, uma caneca de chope ou um soco inglês, sem falar num pedaço de cano enrolado num jornal, sua arma favorita. A polícia o via como um típico gângster de seu tempo: astuto, cruel, corajoso e preguiçoso. Até ir para a cadeia, ele nunca havia trabalhado sequer um dia em sua vida e sempre se gabava disso".

Noutro registro do crime organizado, o livro A Lei da Gang em Nova York, Craig Thompson e Allen Raymond descrevem-no de forma a lembrar Malvadeza Durão, personagem dos morros cariocas celebrizado num samba de Zé Kéti, ou aquele verso de outro samba, segundo o qual "o revólver foi inventado para acabar com a valentia". Segundo os autores, "Owney não era um rapaz grande nem mesmo um homem grande e nunca foi de usar muito os punhos. Preferia um "equalizador", ou seja, uma pistola que reduzia todos os homens a seu tamanho. Normalmente, entre seus comparsas usava o suéter de gola olímpica e boné que compunham o figurino-padrão do sujeito durão, à época."

A primeira investida dele no ramo de bebidas foi um bar freqüentado apenas por bandidos que abriu em quartos alugados num cortiço, em sociedade com o amigo de infância Tanner Smith, que tinha sido líder de uma gangue de rua chamada Marginal - The Marginal Club. Os vizinhos reclamaram do barulho, essa primeira tentativa não foi bem sucedida e Tanner seria fuzilado por gângsteres rivais na nova locação do The Marginal Club na Oitava Avenida, em 1919.

Cinco anos antes, o companheiro de fé, irmão e camarada de Tanner, Owney, havia saído milagrosamente ileso de um cerco de 11 pistoleiros rivais na pista do Arbor Dance Hall, na rua 22, perto da Sétima Avenida. Enfrentou o cerco à bala, baixou hospital, mas saiu ileso - episódio que lembra as surras que o famoso malandro homossexual da Lapa carioca Madame Satã aplicava em grupos de policiais que tentavam prendê-lo.

Sua Insolência, o barão da cerveja - Um dos dados mais impressionantes da biografia de Owney é que ele conseguiu escapar da prisão durante bastante tempo enganando e subornando policiais. Mas terminou caindo e passou uma boa temporada na tristemente famosa Sing Sing. De lá saiu para a fortuna fácil, pois as autoridades o ajudaram proibindo, em 1923, o consumo de bebidas alcoólicas no território americano. Ao sair da prisão, abriu uma cervejaria e passou a trabalhar com outra figuraça, "Dutch" (Holandês) Shultz, conhecido como o "barão da cerveja do Bronx".

Apesar do apelido, Arthur Fleggenheimer, que nasceu no Bronx em 1902, era filho de judeus alemães e se iniciou no mundo do crime aos 14 anos quando, se aproveitando do pretexto da saída do pai de casa, deixou ele também a escola. Aos 17 anos, cumpriu a primeira e única sentença prisional de sua vida e saiu das cadeias pelas quais passou para prosperar no ramo do contrabando de bebidas na vigência da Lei Seca. Terminou virando - primeiro com seu amigo de infância e sócio Joey Noe (que seria executado por ordem do desafeto Jack "Legs" - Pernas - Diamond) e depois sozinho - o monopolista da distribuição da cerveja em seu subúrbio de origem. Era o tempo dos famosos "speakesies" (fala baixo), bares disfarçados em agências funerárias, celebrizados em filmes de gângsteres e comédias, como a maravilhosa "Some Like it Hot" ("Quanto mais Quente Melhor"), de Billy Wilder, com Jack Lemmon, Tony Curtins e Marilyn Monroe.

Dois episódios comprovam que, além de um bandido cruel e insolente, Shultz foi também um pioneiro da guerra biológica, uma espécie de precursor dos terroristas que mandavam antraz pelo correio em 2001. Seu bando seqüestrou George Rock, um vendedor de cerveja que ousava não comprar a bebida dele. A família pagou os 35 mil dólares do resgate, mas o desafeto ficou cego porque, durante o tempo em que ficou seqüestrado, teve os olhos vendados por uma bandagem contaminada com germes de blenorragia.

De outra feita, participando de uma reunião de gângsteres com o chefão mafioso Charles "Lucky" (Sortudo) Luciano, "Dutch" teve de ficar isolado dos outros porque estava acometido de uma gripe muito forte. A reunião tinha sido convocada para decidir se deveria, ou não, ser aumentada a propina para os policiais. Todos estavam de acordo, menos um mafioso tão vaidoso que tinha o apelido de Adonis. Após muita conversa, enfim Joe Adonis resolveu aceitar o consenso com uma frase esnobe: "Agora, a estrela diz sim". Shultz levantou-se de sua cadeira, aproximou-se dele e espirrou forte em sua cara. "Agora, sua estrela fodida, você tem meus germes", disse. Ridicularizado pela gargalhada geral dos companheiros, o sujeito foi para casa e ficou uma semana de cama gripado.

Sua Excelência, o duque do jazz - Em 1923, prosperando como negociante de bebidas proibidas, Owney Madden também resolveu investir em arte. Além de financiar produções teatrais de estrelas de Hollywood (caso de Mae West, que foi sua amante e o traiu com George Raft, gângster e intérprete de gângsteres no cinema), ele comprou o Club Deluxe do pugilista peso-pesado Jack Johnson na esquina da rua 43 com a avenida Lennox e ali instalou o Cotton Club, apresentando estrelas da época do suingue, como Dorothy Dandridge. Inúmeros foram os artistas negros que fizeram carreira no clube do gângster de Liverpool. Dois atingiram os píncaros da glória: o cantor Cab Calloway e suas orquestras intituladas The Albamians e depois The Missourians, com criações que entraram para a história do jazz, tais como "Minnie the Moocher" e "Kickin' the Gong Around"; e principalmente o excelentíssimo pianista, maestro e compositor Edward Ellington (1899-1974).

Ellington era um negro alto, bonito e de uma tal elegância (o oposto do patrão, portanto), não apenas no trato pessoal, mas também no estilo de compor, reger e tocar piano, que teve o apelido de "Duke" (Duque) acrescentado ao nome. Composições de Duke Ellington, como "Cotton Club", "Take the 'A' Train" e "Solitude" (na voz de Billie Holiday, com bela versão em português gravada por Gal Costa, "Solidão"), deram à música popular americana de origem negra o status de clássica, sobrevivendo ao sucesso da era do suingue até nossos dias.

Quando o Cotton Club foi aberto, eram comuns em Manhattan clubes noturnos freqüentados por casais que saíam à noite para dançar. O mais famoso deles era o Savoy, muito citado em memórias de escritores negros e relembrado nas séries especiais sobre aquela fase áurea do suingue com imagens muito semelhantes às que seriam captadas 20 anos depois no reinado do rock and roll, reproduzindo flagrantes de autênticos malabarismo e contorcionismo de dançarinos anônimos e amadores. O cabaré de Owney Madden inovou ao levar para o palco os "floor shows" (espetáculos de pista), nos quais os dançarinos se exibiam para uma platéia sentada às mesas.

A dança da selva nas pistas - Até então, os músicos de jazz, os negros em particular, não tinham chance de produzir especialmente para espetáculos de dança, confinados na Broadway e exclusivos de brancos. Os primeiros grandes sucessos do chamado "jungle style" (estilo da selva), inventado pela mistura adequada de doses de genialidade inventiva com pitadas de senso de oportunismo comercial do "band leader" Duke Ellington, foram executados no cabaré de Madden. Seus shows eram transmitidos ao vivo por emissoras de rádio e isso deu aos músicos de sua orquestra, além de um emprego sólido, a oportunidade de se tornarem conhecidos em todo o país.

Pode-se dizer, então, que a música americana recebeu a contribuição fundamental das orquestrações de Duke Ellington graças à visão empresarial de um bandido de bairro tornado contrabandista da bebida: forçado a produzir arranjos que seriam executados no Cotton Club e transmitidos pelo rádio para o país de costa a costa, o gênio da música popular de origem negra exercitou o mais que pôde seu talento e sua sensibilidade de compositor, pianista, arranjador e chefe de orquestra até ser substituído pela banda de Cab Calloway, que também teve grande êxito.

Cab, ao contrário do Duke, não era um grande arranjador, compositor ou maestro nem sequer propriamente um cantor de jazz fora-de-série. Ele era, sobretudo, um "entertainer", capaz de entreter uma platéia com piadas, canções e coreografias de seu corpo de dança. Além disso, ele tinha um extraordinário faro para encontrar e selecionar excepcionais instrumentistas, seguindo a tradição de Ellington de revelar no Cotton Club alguns dos melhores naipes orquestrais da história do suingue.

A transmissão dos espetáculos do cabaré do gângster pelo rádio cruzou o Rio Grande. A fase de ouro do rádio no Brasil foi simbolizada pelo sucesso de massa da Rádio Nacional, emissora oficial sediada no Rio de Janeiro. Com seu elenco próprio de artistas, essa emissora não acompanhou a moda americana, mas outras de São Paulo, caso da Cultura e da Difusora, a imitaram com enorme êxito.

Fechado em fevereiro de 1936, por causa dos conflitos raciais que tornavam arriscada a ida de brancos ao gueto negro do Harlem, o Cotton Club ainda seria reaberto sete meses depois em "downtown" (a cidade), na rua 48 Oeste num prédio onde funcionara antes o Palais Royal e o Connie's Inn.

O controle de estabelecimentos que comercializam bebida alcoólica nos EUA continuou, depois do fechamento do Cotton Club, a ser exercido por chefões do crime organizado. Há pouco tempo, o empresário brasileiro Ricardo Amaral foi obrigado a desistir de abrir uma boate em Nova York, agredido fisicamente após recusar-se a pagar proteção e terceirizar serviços de lavanderia (entre outros) em benefício de protegidos da Máfia local.

O próprio Cotton Club funcionou até junho de 1940 e desde então ficou na história como a sede suprema dessa mistura improvável, mas bem-sucedida, de chumbo com cerveja e suingue, receita que está na base da mais próspera indústria americana hoje em dia, a do entretenimento.

Nota do Editor
Texto gentilmente cedido pelo autor. Originalmente publicado no caderno Variedades do Jornal da Tarde.


José Nêumanne
São Paulo, 23/12/2002
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COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
4/11/2008
19h18min
Interessante texto. Curiosamente, tenho um blog que tem esse nome, Clube do Algodão, homenagem ao famoso Cotton Club e pelo conteúdo musical. Claro que meus posts não têm tanta profundidade, já que as estrelas são as musicas linkadas. Enfim, adorei.
[Leia outros Comentários de Fernando Huete]
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