Blog | Digestivo Cultural

busca | avançada
122 mil/dia
2,0 milhões/mês
Mais Recentes
>>> Bela Vista Cultural | 'Saúde, Alimento & Cultura'
>>> Trio Mocotó
>>> O Circo Fubanguinho - Com Trupe da Lona Preta
>>> Anaí Rosa Quinteto
>>> Chocolatte da Vila Maria
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> O Big Brother e a legião de Trumans
>>> Garganta profunda_Dusty Springfield
>>> Susan Sontag em carne e osso
>>> Todas as artes: Jardel Dias Cavalcanti
>>> Soco no saco
>>> Xingando semáforos inocentes
>>> Os autômatos de Agnaldo Pinho
>>> Esporte de risco
>>> Tito Leite atravessa o deserto com poesia
>>> Sim, Thomas Bernhard
Colunistas
Últimos Posts
>>> The Piper's Call de David Gilmour (2024)
>>> Glenn Greenwald sobre a censura no Brasil de hoje
>>> Fernando Schüler sobre o crime de opinião
>>> Folha:'Censura promovida por Moraes tem de acabar'
>>> Pondé sobre o crime de opinião no Brasil de hoje
>>> Uma nova forma de Macarthismo?
>>> Metallica homenageando Elton John
>>> Fernando Schüler sobre a liberdade de expressão
>>> Confissões de uma jovem leitora
>>> Ray Kurzweil sobre a singularidade (2024)
Últimos Posts
>>> Uma coisa não é a outra
>>> Salve Jorge
>>> AUSÊNCIA
>>> Mestres do ar, a esperança nos céus da II Guerra
>>> O Mal necessário
>>> Guerra. Estupidez e desvario.
>>> Calourada
>>> Apagão
>>> Napoleão, de Ridley de Scott: nem todo poder basta
>>> Sem noção
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Cuba e O Direito de Amar (3)
>>> Política versus literatura
>>> Pecados, demônios e tentações em Chaves
>>> Brasil, o buraco é mais embaixo
>>> Olavo de Carvalho: o roqueiro improvável
>>> 7 de Novembro #digestivo10anos
>>> Carandiru, do livro para as telas do cinema
>>> Livros de presente
>>> Guerras sujas: a democracia nos EUA e o terrorismo
>>> A Arte da Entrevista
Mais Recentes
>>> Sul da Europa de Marie Garanoux pela Reader's Digest (2001)
>>> Memórias do Século XX - Um Equilíbrio Frágil - 1919 a 1939 de Vários Autores pela Reader's Digest (2004)
>>> A Aventura de Abaré de Juliana Schroden pela Ftd (2012)
>>> Coleção Jovem Cientista - Som de Neil Ardley pela Globo (1996)
>>> O Livro dos Nomes de Regina Obata pela Nobel (2002)
>>> Fisher-price - Hora de Aprender de Vários Autores pela Ciranda Cultural (2017)
>>> Cães: Como Treinar - 101 Dicas Essenciais de Bruce Fogle pela Ediouro (2000)
>>> Fifty Shades Darker de E. L. James pela Random House (2000)
>>> O Outro Lado da Meia Noite de Sidney Sheldon pela Record (1978)
>>> Furo de Reportagem de Roberto Jenkin s de Lemos pela Saraiva (1998)
>>> Histórias da Pré-história de Alberto Moravia pela 34 (2009)
>>> Livro O que Você Precisa Saber Sobre a Menopausa de Dr. Paul Reisser e Teri Reisser pela Paulus (1998)
>>> L. A. Movie de Philip Prowse pela Macmillan Readers (2005)
>>> Bom Dia! de Stormie Omartian pela Mundo Cristão (2013)
>>> Livro Meus Primeiros Passos No Inglês. Aprenda A Falar, Entender, Ler E Escrever de Jihad M. Abou ghouche pela Disal (2011)
>>> The Private Life of Mona Lisa de Pierre la Mure pela Fontana Books (1977)
>>> Iniciação à Enologia de Aristides de Oliveira Pacheco pela Senac (2006)
>>> O Que é Espiritismo de Roque Jacinto pela Brasiliense (1982)
>>> Seja Lider de Si Mesmo de Augusto Cury pela Sextante (2004)
>>> Dieta De South Beach de Arthur Agatston, M.D. pela Sextante (2003)
>>> A Longa Noite Sem Lua de John Steinbeck pela Record
>>> Livro A Transferência De Tecnologia No Brasil: Aspectos Contratuais E Concorrenciais Da Propriedade Industrial de João Marcelo De Lima. Assafim pela Lumem (2005)
>>> Manual da mamãe - Um Guia Completo de Informações, Produtos e Serviços de Vários pela Bamed (2014)
>>> Lung Function Tests: Physiological Principles And Clinical Applications de Hughes Md Phd, John M. B., Pride Md Frcp, Neil B., Price, N.b. pela Bailliere Tindall (1999)
>>> Livro Introdução Às Ciências Sociais de Vilma Aguiar pela Iesde (2020)
BLOG

Quarta-feira, 4/4/2018
Blog
Redação
 
Regina Dalcastagné em BH

A professora Regina Dalcastagnè, da Universidade de Brasília, fará palestra na Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais no próximo dia 12, às 19h, com entrada franca. A pesquisadora é conhecida por suas pesquisas sobre as vozes silenciadas da literatura brasileira.

LeP



[Comente este Post]

Postado por Ana Elisa Ribeiro
4/4/2018 às 18h23

 
Leitores e cibercultura

Dia 13 de abril, às 14h, a profa. Ana Elisa Ribeiro (CEFET-MG) proferirá palestra sobre os desafios e as possibilidades da formação do leitor na era digital. O convite partiu da Elefante Letrado, responsável pela criação e implementação de um ambiente de formação de leitores aplicável a escolas e instituições de ensino. A entrada é franca.

LeP



[Comente este Post]

Postado por Ana Elisa Ribeiro
3/4/2018 às 18h44

 
Sarau Libertário em BH

Nesta quinta, 22, a partir das 19h, o Sarau Libertário convida Ana Elisa Ribeiro, Bremmer Guimarães e Sidarta Riani para leitura de poesia e bate-papo, com o tema passados e futuros. O microfone será aberto ao público. O evento reinicia sua programação, depois do sucesso alcançado em 2017. No Museu das Minas e do Metal, na Praça da Liberdade, em Belo Horizonte, com entrada franca.

LeP



[Comente este Post]

Postado por Ana Elisa Ribeiro
21/3/2018 às 23h36

 
Psiu Poético em BH esta semana

O Psiu Poético, evento longevo e conhecido de Montes Claros, MG, acontece nesta semana, em Belo Horizonte, sob a batuta do poeta Aroldo Pereira. Saraus, caminhadas, lançamentos de livros e outras atividades acontecerão em espaços do centro da capital mineira. Entre essas atividades estão os lançamentos de livros dos poetas Leo Gonçalves (Crisálida Editora) e Bruno Reoli (Páginas Editora). Também será relançado o planner poético organizado pelas escritoras Ana Elisa Ribeiro e Marcela Dantés, que conta com poemas de 15 mulheres poetas mineiras. Entrada franca.

LeP



[Comente este Post]

Postado por Ana Elisa Ribeiro
12/3/2018 às 10h56

 
Existem vários modos de vencer

E de repente, não mais que de repente, como diria Vinicius de Moraes, eis que me deparo com inúmeros artigos publicados no LinkedIn e pela internet afora em pleno começo de 2016 falando de home office como se ele fosse a grande novidade do momento; em menor quantidade, aparecem também os que defendem o home office (doravante denominado HO) como a grande solução para uma série de problemas enfrentados tanto por patrões quanto por empregados. 

Enfim, gostaria de dizer neste texto duas coisas sobre HO, baseado em minha experiência com o assunto, que iniciou oficialmente em 2003.

A primeira é que home office de fato é algo muito bom.

Em 2003, saí de um emprego público (era assistente administrativo do Departamento Municipal de Água e Esgotos, autarquia da Prefeitura Municipal de Porto Alegre), para me dedicar ao jornalismo cultural, mais especificamente ao site Brasileirinho, especializado em MPB, que eu colocara no ar um ano antes. Alugar um escritório nem me passou pela cabeça, pois no apartamento onde morava, de propriedade de minha mãe, havia computador com acesso à internet, telefone fixo e uma biblioteca com aproximadamente 2 mil livros (mais recortes de jornais e revistas) - inclusive uma pesquisadora do IBGE que esteve lá certa vez para apurar meus "hábitos de consumo" (risos) perguntou se ali era mesmo uma residência ou um escritório.... o que confirmava o que minha mãe já dizia desde, talvez, minha adolescência, que meu quarto era um escritório com uma cama. Desde então, nas diversas cidades onde morei ou ao menos passei um tempo considerável (São Paulo, Belém, Macapá e Salvador), sempre optei por alugar imóveis que me permitissem trabalhar no mesmo ambiente de moradia, economizando assim com outro aluguel (de escritório), com gastos e perda de tempo com deslocamentos e, mais recentemente, até com despesas de acesso à internet, já que muitos locadores incluem o wi-fi entre os benefícios ofertados aos locatários. De fato, na maioria das vezes é muito bom você poder trabalhar em sua casa à hora que você quiser, o que nos leva à...

segunda coisa: trabalhar em home office pode não ser tão bom assim...

...se você não souber controlar seus horários. Lá em 2003, por exemplo, ao assumir o apê de minha mãe como sede do site, caí numa armadilha da qual levei um bom tempo para me dar conta - até porque fui eu mesmo que a armei. Explico: até então, como funcionário municipal, eu só podia me dedicar a meus projetos pessoais à noite e aos finais de semana. Quando tive enfim livre o chamado horário comercial, começava a trabalhar de manhã cedo e avançava a madrugada, acreditando que quanto mais horas dedicasse ao trabalho, mais cedo atingiria meus objetivos. Hoje sei que o sucesso vem de um trabalho feito com qualidade, e não necessariamente da quantidade de horas nele investidas. Eu vivia estressado, com olheiras, mas levei uns bons seis anos para me dar conta de que algo poderia estar errado. Isto só aconteceu quando, ao conversar com uma amiga de outro estado por MSN, ela, que sempre me perguntava o que eu estava fazendo (e eu sempre respondia "trabalhando"), um belo dia fez a pergunta que mudou tudo:

"Mas você nunca tem lazer??"

Aí, como se dizia na época, "a ficha caiu". Me dei conta da quantidade absurda de horas que ficava trabalhando e instituí em minha vida o conceito de ilhas de lazer.  Havia na época um programa de jornalismo cultural na Rádio Gaúcha, das 16h às 17h; me habituei a fazer um intervalo nesse horário, me dedicando apenas a ouvir o programa (às vezes tomando chimarrão, às vezes deitado). Desde então mantenho também o hábito de caminhar, em torno de 1h a 2h por dia - nestas últimas semanas da minha atual temporada em Macapá, geralmente a caminhada é ao final da tarde, na orla do Rio Amazonas. Esse é um período bom para "esfriar a cabeça", muitas vezes surge durante o passeio alguma ideia ou a solução para uma questão cuja solução esteja demorando para vir em frente ao notebook. O horário da caminhada acaba coincidindo sim com parte do horário comercial, mas se houver alguma urgência eu posso ser contatado pelo celular ou pelo Facebook. Enfim, é uma prática boa para o corpo e para a mente, recomendo. 

Para fechar o texto, quero falar de outro modelo de HO, que o jornalista e escritor Fernando Morais relatou numa entrevista que li por volta de 1994, e que se referia ao seu processo de escrita da biografia Chatô - O Rei do Brasil. Para evitar cair na mesma armadilha que eu, de não parar de trabalhar enquanto estivesse acordado, Morais alugou outro apartamento no mesmo prédio que o seu, se não me engano apenas alguns andares abaixo. Ou seja, diariamente Morais acordava, tomava banho, vestia-se, tomava o café da manhã e, para chegar a seu escritório, pegava...o elevador. A vantagem, apontava ele na entrevista, é que com isso ele conseguia delimitar, tanto para si quanto para seus familiares, quando estava ou não trabalhando. 

Mesmo que os dois casos relatados, o de Morais e o meu, se tratem de profissionais autônomos, acredito que em linhas gerais o que expus acima se aplica também ao modelo que tem crescido mais recentemente (e que, a meu ver, está trazendo um ar de 'novidade' ao HO), que é o de funcionários autorizados pela empresa a trabalharem de casa algumas vezes por semana. Penso que este é mesmo o caminho para o trabalho no século 21, seja você autônomo ou subordinado a uma chefia: saber gerir o seu tempo de acordo com as demandas, sem descuidar da qualidade de vida.


  • Making-off do texto - Publicado no LinkedIn em 5.3.16, sendo este meu artigo mais lido enquanto mantive a conta naquele site. Republicado no blog Jornalismo Cultural em 11.4.17. 


[Comente este Post]

Postado por Fabio Gomes
23/2/2018 às 22h33

 
Lauro Machado Coelho

Conheci o Lauro através do Giron. Que, por sua vez, conheci através do Daniel Piza (sempre ele).

Conheci o Daniel por causa do Paulo Francis, cujo último livro, Waaal, o Daniel organizou.

Onde eu fazia estágio, no final dos anos 90, assinavam a Gazeta Mercantil e eu surrupiava o Caderno Fim de Semana - porque era a parte cultural e ninguém se interessava.

Lendo o Fim de Semana, por causa do Daniel, que editava, comecei a ler o Giron, que fazia as melhores críticas musicais da época - e que fazia algo raro até hoje: reportagem.

Em 2002, o Daniel, já no Estadão, anunciou um curso de crítica musical do Giron, na ECA, e lá fui eu fazer - e conhecer o Giron.

Finalmente, o Giron convidou o Lauro para dar uma aula informal de ópera - e assim tivemos contato.

Eu não sabia nada sobre ópera - como ainda sei pouco -, mas não precisou mais que uma simples aula para eu saber que o Lauro era a pessoa que mais dominava o assunto no Brasil (e, quem sabe, uma das que mais dominava no mundo).

Só que ao contrário do que se poderia imaginar, para um erudito em ópera, o Lauro era simples, acessível e generoso. Fazia piada com o próprio assunto e podia fazer até uma analogia com a novela das oito, se necessário fosse - tudo pelo bem do entendimento e da didática.

Naquela altura, o Lauro já tinha lançado uma meia-dúzia dos seus volumes de História da Ópera (que comporia mais de dez volumes no total). E não era uma História da Ópera no Brasil - que mal daria um volume -, era uma História da Ópera Mundial, com volumes inteiros dedicados a países, e outros a compositores.

Era tanta informação que o editor não tinha como lançar todos os volumes de uma só vez - e o Lauro, enquanto lançava o primeiro, ajudava a editar o segundo, enquanto já escrevia o terceiro... Num ritmo digno de Balzac.

Naquele encontro no curso do Giron, Lauro nos contou que, num fim de semana qualquer, ele despachou toda a família para a praia - e resolveu começar a escrever sobre ópera. Como se fosse algo banal, tipo consertar o telhado ou marcar uma dedetização.

Desnecessário dizer que o escritor continuou trabalhando como jornalista (porque nenhum autor vive de publicar no Brasil) - ou seja: o Lauro continuou frequentando os concertos e escrevendo suas críticas normalmente. Continuou dando seus cursos e, como qualquer mortal, continuou tendo de ganhar a vida.

Transformei o Lauro em assinante do Digestivo, é claro, e ele recebia as minhas “críticas” por e-mail. Digo críticas entre aspas porque as minhas eram brincadeira de criança perto das dele. O Lauro sabia o que estava falando - já eu... estava tentando aprender.

Mas ele tinha uma paciência infinita, gostava de conversar e tinha a bondade de comparar minhas impressões com as dele (como se fossem do mesmo nível): “Você falou tal coisa sobre o ‘Messias’ de Handel. Gozado, eu tive outra impressão”.

Sem pestanejar, eu respondia pra ele: “Lauro, a sua deve ser a correta”.

Isso não impediu, claro, que o Lauro participasse do Digestivo - e me enviasse, no final de 2002, um verdadeiro ensaio sobre o momento da música erudita no Brasil. E eu acho que nunca publicamos uma retrospectiva musical tão bem feita.

Virou uma referência, no Google, e, nos anos subsequentes, os músicos - sempre tão necessitados de crítica; ainda mais no Brasil - pediam que o Lauro escrevesse uma versão atualizada do texto.

No início de 2003, ele me contou, orgulhoso, que fazia aniversário no mesmo dia em que Mozart, 27 de Janeiro. E que estava fazendo 60 anos.

Quando o conheci, já estava em cadeira de rodas, e sua saúde vinha se deteriorando - mas isso não impedia que sua cabeça seguisse funcionando (como se nada fosse) e que sua produtividade se mantivesse a mesma: impressionante.

Entre as coisas de que me arrependo foi de não ter feito o curso de ópera dele. Sempre paciencioso, a última vez em que falamos a respeito, ele me disse assim (como se me convidasse e eu não pudesse perder): “Aproveite que agora eu vou começar o filé mignon... Verdi!”.

Acabei deixando pra lá e não fazendo... Infelizmente.

Me consolo pensando que sempre teremos os volumes sobre ópera que ele escreveu.

Aliás, como uma homenagem ao Lauro, separei meu volume de Ópera Clássica Italiana, de 2003 - e vou finalmente ler ;-)

Para ir além
Compartilhar

[Comente este Post]

Postado por Julio Daio Borges
4/2/2018 às 12h02

 
Pssica e a Amazônia de Edyr Augusto




Uma coluna da Folha de São Paulo noticiou que o livro do paraense Edyr Augusto, Pssica (2015), virará filme, produzido pela O2 Filmes, de Fernando Meirelles. A realização ocorrerá, em Belém, em 2018. É uma grande notícia que traz, finalmente, para a “literatura da Amazônia” (a expressão é de Benedito Nunes) e brasileira, uma nova possibilidade de se voltar para essa escrita contemporaneamente regional e estilisticamente cosmopolita.

Seus romances foram traduzidos para o inglês e francês. Casa de caba, de 2004, foi editado em inglês como Hornet’s nest, pela Aflame books e em francês, com o título de Nid de vipères, pela Asphalte, 2015. Também publicados por essa editora foram Os Éguas (1998) e Moscow (2001), em um único volume (Belém et Moscow, 2015) e, neste ano, Pssica.


Reprodução


Seu primeiro romance, Os Éguas, já demonstrava claramente a que linha essa literatura seguiria. A representação da região e, principalmente, da capital Belém do Pará é completamente diferente de um regionalismo unicamente edificante, entoado pelos mais variados discursos. Belém, através de um investigador de polícia, surge em toda sua decadência moral e material. É corrupta, violenta, aterrorizadora.

Esse livro completará 20 anos no ano feliz que virá, mas ele, que já representava a cidade em permanente queda, talvez não pudesse imaginar que vaticinava apenas uma parte da decadência que viria.

Seus demais romances, e o livro de contos Um sol para cada um (2008), seguem a mesma trajetória. É sempre o caráter pulsional, pusilânime e putrefato a dominar o indivíduo comum, socialites, “homens de família”, políticos, ladrões de beira de rio, jovens afortunados, policiais, jornalistas e traficantes.

Não tenha, por isso, caro leitor, receio de ler; é violento, mas não é – abram alguns jornais e liguem em alguns canais de Tv – abjeto. Mas, desse mundo cão, o escritor não mostra apenas o cadáver, mas a realidade, que ele descreve em decomposição.

Pssica é um exemplo desse estilo. As tramas do livro não procuram ser explicadas por nenhuma tese sociologizante, nenhuma análise psicologizante, ou por um manual literário. Talvez, por isso, sua literatura foi há muito tempo ignorada pela análise acadêmica. Seu primeiro romance, de quase duas décadas, só ganhou uma apreciação da academia em 2011.


Reprodução


Mas isso, talvez, não queira dizer muita coisa. O presente costuma ser ignorado, quando nele apenas olhamos com os atrofiados olhos do passado – do passado de uma cidade, de uma região.

É na cidade que, em Pssica, a trama começa, com o rapto de Janalice, Jana. Ela é um dos personagens que atravessam a urbe e os rios como se, permanentemente, o barqueiro da morte, os conduzissem. Tráfico, prostituição, bandidos masoquistas, políticos pulhas e pessoas tentando se salvar.

É a região e suas águas, e não mais apenas Belém, que se tornam o cenário predominante desse livro. Essa violência no interior da Amazônia, e especialmente do Pará, em nada, como se sabe, é apenas uma ficção.

Nessa obra de Augusto, as paisagens (Belém, Marajó, Caiena) não parecem iguais somente pela decadência material que as ergue, mas pela semelhança espiritual de desolação desespero e decrepitude que a tudo, casas, moradores e forasteiros, habita.

Nessa escrita não-linear, de frases curtas, com gírias e termos regionais (algumas das principais características de seus romances), o tom detetivesco lembra os romances policiais e o estilo noir, elevando sua literatura – não apenas por isso – a um outro nível, mas, também, porque esse estilo retira parte da imagem ornamentada que estrangeiros e habitantes têm sobre o lugar.

Esqueçam o que leram e ouviram falar sobre a barbárie do interior regional, sobre piratas, ratos d’água e sobre turistas “perdidos”. É Pssicaa melhor representação, a melhor mímesis, dessa realidade.

O que os meios institucionalizados não descrevem, talvez caiba à literatura realizar. Os verdadeiros perdidos são os que nessas terras habitam, desterrados. É sobre eles, nessa obra, que parece pespegado um mal augúrio inescapável. Nesse mundo, as belas fotos, para quem é fotografado, nem sempre representam o paraíso.

Que a literatura de Augusto seja lida e vista. Mas lembremos que, na Amazônia, nas linhas do escritor paraense, como em Pssica, não há filtros que alterem a realidade.


Texto publicado em O Liberal, 07 de dezembro 2017, p. 02. E em: Relivaldo Pinho

[Comente este Post]

Postado por Relivaldo Pinho
7/12/2017 às 17h13

 
UM VENTO ERRANTE

Provindo de remotas mortas eras,

um vento errante veio vindo veloz

varrendo os tempos

e desfolhou as árvores com fúria,

parecendo trazer uma mensagem:

“ O que já foi será

e para sempre se repetirá.”

Folhas caídas encobriam as ruas,

os tetos, as calçadas,

as árvores nuas pareciam espectros,

vergadas em seus troncos sob o vento,

e o passaredo com terror calara.

As gentes se esconderam em suas casas,

ouvindo os estilhaços das vidraças,

coisas voando loucas sem ter asas.


Subitamente então passou o vento.

A paisagem foi-se aos poucos recompondo:

era o Futuro, um pesadelo escuro,

que trouxe o medo, trancado em seu segredo.

O que será, o que virá agora?, se perguntavam

mudos, sem articular qualquer palavra.

Um pesadelo que viveram em sonho

ou a verdade oculta do que somos?

Essa verdade, então, se esvanecera,

desfeita pelo sol do amanhecer.

Aquele dia jamais se apagaria,

sabiam todos, sim, todos sabiam

— e se fecharam sem nada dizer...

Ayrton Pereira da Silva



[Comente este Post]

Postado por Impressões Digitais
3/12/2017 às 17h59

 
O que sei do tempo III

No convívio amoroso com a pintura
ilumina-se o deslizar dos pincéis
bordando o linho. É lilás a cor
da memória
, me diz o pintor.

Mas das tintas do vindouro
nada posso dizer. Nem as telas.

Quando morrem as luzes,
não sei para onde vão as vidraças.
Quando se ausenta o burburinho
das cores, existirá vida?

Sei apenas que há um tempo
de inexistente resposta.


De tanta lembrança, o mundo
se tinge de matizes.

Como se fossem pássaros, as cores
do quadro sobrevoam-me a casa.

Entre o lilás e a véspera, a memória
invade meu canteiro de violetas.


(Do livro Nada mais que isto, São Paulo: Scotecci)

[Comente este Post]

Postado por Blog da Mirian
25/11/2017 às 10h40

 
Você pertence a um não lugar


Aeroporto Internacional de Miami. Fonte: dicasdaflorida.com.br


Em uma viagem de trem, passa-se pelo vilarejo europeu e dele sente-se mais o que dele já se imaginava, do que o “significado” do lugar. Em um restaurante, a parede simula uma vista noturna de Nova Iorque. Nas imediações de sua cidade, algum lugar, ou a imagem que dele se faz (talvez uma ilha com iguarias gastronômicas), pode ter um caráter, mesmo para você, de exotismo. A foto de capa de seu facebook é uma paisagem invernal com uma montanha coberta de neve, ou um radiante casal correndo por uma praia ao pôr do sol – lembram das imagens de caraoquê?

Poderíamos dizer, seguindo Marc Augé, que esses são não lugares (Não lugares: introdução a uma antropologia da supermodernidade). Ele se refere a novas formas de concebermos o espaço, o tempo e como nossa existência na supermodernidade estabelece mediações com esses locais.

Parece contraditório afirmar que pertencemos a não lugares, porque é exatamente a transitoriedade uma das características dessa hipermoderna condição. Transitoriamente nos situamos em lugares que parecem suspender nosso tradicional sentido de pertencimento; passamos por eles e eles passam por nós.


Imagem para capa de Facebook. Fonte: http://iaicurtiu.blogspot.com.br/


Diz Augé, são “espaços constituídos em relação a certos fins (transporte, trânsito, comércio, lazer) e a relação que os indivíduos mantêm com esses espaços [...], pois os não lugares medeiam todo um conjunto de relações consigo e com os outros que só dizem respeito indiretamente a seus fins, [...] os não lugares criam tensão solitária”.

O aeroporto, um exemplo do antropólogo, talvez seja o espaço mais perceptível dessa reconfiguração espaçotemporal. É nele que o indivíduo pode se situar, sem estar em “lugar nenhum”. É um local de passagem no qual, quase sempre, não se pode se identificar com uma história pessoal, uma história que diga respeito a você e ao outro. Ao mesmo tempo, é um espaço que pertence a todos os lugares simulacionais – aeroportos reproduzem certos padrões imagéticos – porque exibe uma série de imagens-mundo, de marcas reconhecíveis, de indicações padronizadas, de relações tecnológicas impessoais.

Identidade e história estão implicadas nessa conceituação, porque “um espaço no qual nem a identidade, nem a relação e nem a história sejam simbolizados será definido como um não lugar (non lieu), mas essa definição pode ser aplicada a um espaço empírico preciso ou à representação que os que lá se encontram fazem desse espaço” (Augé, Por uma antropologia dos mundos contemporâneos). O que pode significar uma variação de percepção, por exemplo, entre um “nativo” e um passante. O mesmo espaço pode adquirir sentidos de lugar para um e não lugar para outro.

Podemos também estender esse conceito voltando-o ainda mais para uma leitura imagética. Esse não lugar, então, não está mais diretamente ligado, para o sujeito, dentro de suas relações comuns, nas quais o espaço é constituído pelas ações, objetivos, artefatos, que situam e definem o indivíduo e seu grupo. As mediações que são realizadas nesses espaços marcam essa fugacidade, característica da modernidade que é exponencialmente aumentada em um mundo hipermoderno.

Os paradoxos que se estabelecem nessa condição, do excesso de tempo e de espaço, por exemplo, são também aspectos dessa relação. O tempo parece ser sempre um tempo no agora, que prescinde de alguma referência anterior e que nos persuade pelas imagens fugidias desses espaços, dessas sinalizações, dessas marcas, dos produtos e desejos que nele devem (precisam) se realizar.



O espaço parece comprimido por essa relação e pela “proximidade” de lugares, imagens e signos do mundo todo que, seguindo algum tipo de iconicidade padronizada, assentada em imaginários comunicacionais, ao mesmo tempo que provoca um não pertencer, sugere algum tipo de reconhecimento. Conhecemos, identificamos, imaginamos, os reluzentes arranha-céus de Xangai por isso.

Presentes perpétuos e não lugares. Não existe uma conotação inerentemente negativa nessas formas de percepção. Elas compõem nossa supermodernidade. Identificá-las é observá-las com algum “olhar estético”. Talvez esse seja um papel possível para uma crítica de nossa condição. Mas, passageiros do mundo e solitários, nem sempre podemos atravessá-la.

Passamos por ela e ela passa por nós, como paisagens do ciberespaço, como anúncios em aeroportos. Nem sempre temos tempo – com o excesso de tempo – de interrogar o sentido das coisas, e, por vezes, elas parecem sem sentido algum. Lembram das imagens de caraoquê?


Relivaldo Pinho é pesquisador e professor.


Texto publicado em O Liberal, 22 de novembro de 2017, p. 2. E em: Relivaldo Pinho

[Comente este Post]

Postado por Relivaldo Pinho
22/11/2017 às 18h51

Mais Posts >>>

Julio Daio Borges
Editor

Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Olhos de Cão Azul
Gabriel García Márquez
Record



A caldeira do diabo
Grace Metalious
Círculo do livro
(1987)



Estudo Populacional do Envelhecimento no Brasil Resultados Masculinos
Carmita abdo
Segmento Farma
(2009)



A Cartomante
Wagner De Assis
Imprensa Oficial Sp
(2005)



Getting Past Ok
Richard Brodie
Sss
(1993)



O Último Trem para Zona Verde (lacrado)
Paul Theroux
Objetiva
(2015)



O Desafio Atual da Mulher
Maria Helena Kuhner
Francisco Alves
(1977)



Livro Infantil Como Dizia Minha Avó
Mônica Picavêa
Livrus
(2014)



Livro Religião Sobre El Cristianismo
Julián Marías
Planeta
(1997)



O Mundo dos Alimentos em Transformação
John Wilkinson
Appris
(2023)





busca | avançada
122 mil/dia
2,0 milhões/mês