COLUNAS
Quarta-feira,
8/10/2003
Submundo
Rennata Airoldi
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O premiado Grupo Sobrevento de Teatro encerra esta semana a temporada paulista de Submundo. A peça, que se propõe a falar do terceiro mundo através de várias linguagens teatrais, peca também pelo excesso e pela repetição. Num primeiro momento, é surpreendente: depara-se com um cenário que é, na verdade, uma mágica instalação de metal. Cobrindo todo o palco, a estrutura de grades está a 80 centímetros do chão e, por ser translúcida, dá a idéia exata de sobreposição e observação.
Por outro lado, o teatro não é uma arte estática e só visual. Infelizmente, a instalação acaba se tornando um elefante branco no decorrer da peça. A mesma maneira de entrar e de sair por pequenas portas não surpreende mais. O que se torna mais cansativo é a música, que se repete cada vez que uma portinha abre e fecha. Isso faz com que o público já saiba o que está por vir. Embora a presença dos músicos, tocando ao vivo, seja um diferencial, ela deveria ser melhor aproveitada: dialogando e contribuindo para o movimento cênico (mesmo que este se repita); propondo um casamento diferente entre sonoplastia, atores e luz. Quem sabe, então, resultaria numa cena mais ágil. Ainda assim, a música, na maior parte do espetáculo, contribui e acrescenta (principalmente nos momentos coreografados, onde a dança é protagonista).
De qualquer forma, os melhores momentos são justamente quando a linguagem adotada é a do Teatro de Animação. Um "pedaço de jornal" que vira uma galinha em cena é um dos momentos mais criativos e surpreendentes. Onde o palco some e a mágica acontece. Além disso, há uma dança de lenços que ganham vida no ar, e um "à parte": um boneco que sai de dentro do oratório de uma família de retirantes nordestinos. Por fim, uma "peça de bonecos" dentro da peça: a parte mais popular e mais divertida.
O problema todo está nisso aí. Com tudo misturado, no mesmo espetáculo, fora depoimentos e momentos mais políticos (onde o discurso narrativo é determinante), a peça se transforma numa colcha de retalhos. Faltou selecionar, faltou chegar num roteiro mais compacto e significativo. Toda esta mistura enfraquece o espetáculo como um todo, porque a unidade fica abalada. Com todo o material apresentado, poderiam ser feitas pelo menos três peças. Só o número dos bonecos é uma obra isolada; com começo, meio e fim.
Não quero, contudo, pregar a idéia de um teatro "careta", que exige uma maneira conservadora de realização, com enredos simples e lineares. O que discuto aqui é que: quando se decide, quando se opta pelo "teatro que segue um roteiro" (e não uma história), é preciso ser mais cauteloso nas escolhas. A seqüência de repetições, a seleção do que deve (ou não) fazer parte da peça deve ser criteriosa. Caso contrário, fica parecendo que tudo cabe num mesmo roteiro. Não é bem assim. Num processo de criação, podem surgir milhares de idéias, mas nem todas devem ser colocadas num mesmo espetáculo, para não comprometer nem o andamento, nem o entendimento e, muito menos, a unidade.
O Grupo Sobrevento é um dos contemplados pela Lei do Fomento. Assim, esta é uma temporada popular onde os ingressos custam apenas dois reais. A peça Submundo está em cartaz no Centro Cultural São Paulo, até o dia 12 de outubro (R. Vergueiro, nº 1000). De quinta a sábado às 21hrs.; e no Domingo às 20 hrs.
Dica para o mês das Crianças
Neste mês das crianças, eu não poderia deixar de dar uma dica de um peça infantil. Contarolando é um musical infantil que conta a história de uma trupe de teatro mambembe, "Piuí", que está numa estação esperando o próximo trem. Nesta espera, e enquanto procuram a mala da companhia, os atores resgatam o seu repertório, que é composto por música e cantigas populares e folclóricas. Além das crianças, os adultos também se divertem muito recordando músicas como: "Cai Cai Balão", "Meu lanchinho", etc. O visual da peça, bem como o arranjo das músicas (que são cantadas ao vivo), é o grande diferencial.
Contarolando está em cartaz no Teatro Imprensa até o dia 30 de novembro. Neste fim de semana: sábado e domingo, às 16hrs. A partir do dia 18: sessões às 11hrs. (R. Jaceguai, nº 400. Maiores informações: 011 3241-4203).
Rennata Airoldi
São Paulo,
8/10/2003
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