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COLUNAS

Sexta-feira, 2/7/2004
Chavão
Eduardo Carvalho
+ de 9900 Acessos
+ 1 Comentário(s)

O chavão é - para a comunicação agradável e precisa - pior do que o silêncio. Porque o silêncio permite múltiplas interpretações e insinuações, e sempre é o que pretende ser - até mesmo porque, em certo sentido, não é nada. Mas o chavão é a anti-comunicação: é a expressão de uma frase fechada, que se pretende completa e correta - e que, por isso, não abre espaço para contestação. Um chavão às vezes está certo mesmo; mas muitas vezes está inteiramente errado, e, quando isso acontece, o fato de ser um chavão blinda o comentário a opiniões contrárias a ele. Uma conversa pressupõe intercâmbio de idéias e opiniões. Um chavão, porém, empaca esse intercâmbio: ao mesmo tempo que não significa nada, o chavão não permite que seu suposto significado seja assimilado ou criticado.

A conversa cotidiana é repleta de chavões. Alguns óbvios - e, em certos casos, compreensíveis e inofensivos -, como os que de vez quando precisamos soltar: "puxa, que trânsito hoje", "nossa, que chuva lá fora", "ai, hoje é segunda-feira, tudo de novo", "finalmente, sexta-feira, que maravilha", para aliviar a tensão de uma proximidade silenciosa e forçada, muito comuns em elevadores comerciais. Mas há o chavão que impõe o vazio do seu conteúdo, e exige que a conserva, dali em diante, siga o nível do seu primeiro comentário-chavão; quer dizer, nível nenhum. Essa segunda espécie de chavão é perigosa, porque - com uma aparente inocência - consegue controlar os limites de discussões inteiras.

Uma das funções da literatura é salvar a comunicação cotidiana dos chavões. É uma atividade que precisa ser cumprida urgentemente, antes que a criação de frases novas se extinga em definitivo, e nos condenem a ler e a ouvir a mesma meia dúzia de expressões todos os dias. Uma das piores conseqüências do distanciamento da literatura moderna do leitor comum é justamente esta: é ter condenado uma classe média de possíveis leitores à livros que são, se muito, uma coleção de chavões. E que só repetem justamente aquilo que a literatura de verdade precisa extinguir.

Sendo realista: claro que não é todo mundo que precisa aprender a se comunicar com mais detalhes e com mais beleza. Mas pelo menos quem se pretende mais educado deveria se esforçar para desenvolver idéias originais. E não apenas repetir essa segunda espécie de frases prontas, que, sem ser, se impõe como consenso, e em algumas situações são logicamente insustentáveis: "tudo é relativo", "nada é justo mesmo", "todo pensamento é ideologia", "essa é a sua opinião", etc. Ora, como dialogar produtivamente quando, depois de expressarmos a nossa opinião sobre um assunto, temos que ouvir - como se fosse um argumento em contrário - que essa é a nossa opinião? De quem mais seria? Ou pior: que esses são os "seus óculos"?

O que mais me incomoda é que, como estudante, é meio evidente para mim quem são os maiores disseminadores de chavões. Só que eu não posso fazer nada. Preciso ficar em silêncio, e agüentar, com bom humor, a retórica furada de certos oradores arrogantes. Fingindo que não ouvi nada, para passar de semestre com notas razoáveis.

Michel Laub

Ganhei de aniversário, de duas pessoas - de excelente gosto literário, por sinal -, dois exemplares de Longe da água, o novo livro de Michel Laub, que li em poucas horas de uma manhã de domingo. Michel Laub, em certo sentido, é hoje o que foi, quando começou a escrever, Carlos Heitor Cony: porque a crítica literária brasileira preferia, e ainda prefere, exagerar as qualidades de romances engajados, enquanto menospreza a expressão artística "burguesa", que trata de assuntos mesquinhos - como a vida, o amor, a amizade e a morte.

Ninguém, por exemplo, lê ainda Antes, o verão, de Cony, que se abre e se encerra com um dos mais bonitos parágrafos da literatura brasileira. Mas somos obrigados a analisar, na escola, calhamaços quase intragáveis, como O Guarani - que nos ensinam, se muito, que literatura pode não ensinar nada. E ainda há escolas, hoje em dia, que recomendam livros assinados por gente que simplesmente não sabe escrever, apenas porque retratam o submundo entediante e sangrento das favelas. Longe da água, de Michel Laub, porém, não se enquadra nas correntes literárias mais barulhentas, e se oferece, modestamente, como uma fina opção a quem busca um lançamento editorial de alta categoria.

Longe da água é um livro bonito - da capa ao conteúdo. E já começa bem: tem também a qualidade de ser curto. O erro de se escrever em quantidade precisa, hoje em dia, ser revisto. Os antigos leitores de folhetim agora assistem novelas. E quem procura novidades literárias e tem outras ocupações profissionais não pode se desgastar com descrições muito longas. Escritores precisam ser mais diretos. Sem, no entanto, dispensar o arranjo bonito das palavras - e, aliás, nesse ponto Michel Laub se destaca: seu livro é, do começo ao fim, composto por uma estrutura de frases agradáveis e criativas.

Os parágrafos de Michel Laub normalmente começam com uma frase rápida e sem vírgulas. E, em seguida, algumas palavras discretamente se repetem, conferindo ao livro um ritmo deliciosamente leve. Sobre as festinhas de adolescente: "No escuro você não pensa em nada. Você não pensa no dia seguinte, na hora em que vai acordar, numa obrigação que tem para cumprir. Você sabe apenas que está mais uma vez bêbado, que mais uma vez foi tudo igual, que mais uma vez você não deu um passo para mudar o que quer que seja."

O narrador encontra-se aos trinta anos, mais ou menos, e recorre a um antigo caso de amor adolescente para explicar sua atual situação sentimental. Um caso de amor breve e ingênuo: de seu amigo, Jaime, com Laura, na praia de Albatroz, no Rio Grande do Sul. Jaime morre num acidente banal - do qual o narrador não conseguiu salvá-lo. Não conseguiu ou, mais velho começa a suspeitar, não quis mesmo, apesar de simular uma tentativa. A estrutura do livro não segue reta, cronologicamente, mas nem por isso cansa ou distrai o leitor. Os detalhes e segredos dos relacionamentos entre Laura, Jaime e o narrador são agora passados a limpo, quando, mais velho, o escritor reencontra Laura - e, ao poucos, se apaixona por ela.

O livro de Laub, aproveitando esse contexto, narra situações pelas quais todos nós passamos, mais novos - mas acabamos esquecendo. A pressa de crescer nos força a dispensar alguns sonhos e idéias, que - se não exercitarmos a memória - nunca mais voltarão. Longe da água, nesse sentido, funciona como um aparelho de ginástica: e nos obriga a dedicar algumas horas, durante a leitura, àqueles momentos quando, aos quinze anos, não tínhamos a mínima idéia de o que faríamos - e o que seríamos - mais velhos.

Longe da água é também um relato de como pequenas coincidências vão, ao longo da vida, se acumulando, e como elas podem depois ser decisivas em situações inesperadas. Laura estava quase apagada da memória do narrador. Ao reaparecer por acaso, porém, transforma completamente a sua vida. E mostra como é fina a linha que separa o que programamos para o futuro e o que de fato acontece - apesar de todas as nossas forças e da nossa vontade: "por uma fração de segundo ficamos entregues à nossa sorte".

Como se fosse a primeira vez

É muito difícil selecionar filmes que estão no cinema confiando no que se escreve nos jornais. A maioria dos críticos é fanática por sacadas "intelectuais", e não consegue perceber o despreparo de diretores arrogantes e/ou a incompetência dos que se intitulam marginais. "Hollywoodiano" virou adjetivo depreciativo. Mas é exatamente nessa categoria em que eu enquadraria Como se fosse a primeira vez, que assisti recentemente no cinema.

É uma produção barata, apesar dos atores principais - Drew Barrymore e Adam Sandler. E a história não é assim muito criativa: uma menina - de, digamos, uns 25 anos - sofreu um acidente, e quando vai dormir se esquece de tudo que aconteceu durante o dia. É como se vivesse repetidamente o mesmo dia. Adam Sandler, ainda assim, se apaixona por ela - se apaixonaria se não fosse tão bonita? -, e diariamente busca soluções para reconquistá-la. É uma atividade que requer dedicação e invenção de malabarista - e que desemboca, muitas vezes, em casos cômicos.

Eu fui ao cinema, sozinho e doente, sem expectativa nenhuma, mas ainda assim: o principal mérito de Como se fosse a primeira vez é ser um filme que corresponde à nossa expectativa - o que já não é pouco.

Para ir além






Eduardo Carvalho
São Paulo, 2/7/2004

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COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
21/7/2004
20h30min
Fico a me indagar se a necessidade de responder às expectativas do receptor termina por minar também a nossa própria criatividade... Por que sem ela, nos transformamos na figuração de ecos sem fim que ora se intercalam, ora se remodelam... O difícil está em saber ruminar o pensamento e digerí-lo de forma não cusar uma indigestão a nós mesmos...
[Leia outros Comentários de Flávia Pedrosa]
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