A biblioteca pública mais violada do mundo | Ana Elisa Ribeiro | Digestivo Cultural

busca | avançada
92106 visitas/dia
2,5 milhões/mês
Mais Recentes
>>> Renata Pizi ministra workshop online sobre criação de espetáculos musicais infantojuvenis
>>> EUNIC Brasília anuncia a programação cultural gratuita da Semana da Europa 2025
>>> Abdias do Nascimento ganha espetáculo sobre sua trajetória no Teatro SESC Copacabana
>>> Agito gratuito: Decco Torres estreia o projeto “Neo Baile” no Centro
>>> Guinga
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> Mario Vargas Llosa (1936-2025)
>>> A vida, a morte e a burocracia
>>> O nome da Roza
>>> Dinamite Pura, vinil de Bernardo Pellegrini
>>> Do lumpemproletariado ao jet set almofadinha...
>>> A Espada da Justiça, de Kleiton Ferreira
>>> Left Lovers, de Pedro Castilho: poesia-melancolia
>>> Por que não perguntei antes ao CatPt?
>>> Marcelo Mirisola e o açougue virtual do Tinder
>>> A pulsão Oblómov
Colunistas
Últimos Posts
>>> Daniel Ades sobre o fim de uma era (2025)
>>> Vargas Llosa mostra sua biblioteca
>>> El País homenageia Vargas Llosa
>>> William Waack sobre Vargas Llosa
>>> O Agent Development Kit (ADK) do Google
>>> 'Não poderia ser mais estúpido' (Galloway, Scott)
>>> Scott Galloway sobre as tarifas (2025)
>>> All-In sobre as tarifas
>>> Paul Krugman on tariffs (2025)
>>> Piano Day (2025)
Últimos Posts
>>> O Drama
>>> Encontro em Ipanema (e outras histórias)
>>> Jurado número 2, quando a incerteza é a lei
>>> Nosferatu, a sombra que não esconde mais
>>> Teatro: Jacó Timbau no Redemunho da Terra
>>> Teatro: O Pequeno Senhor do Tempo, em Campinas
>>> PoloAC lança campanha da Visibilidade Trans
>>> O Poeta do Cordel: comédia chega a Campinas
>>> Estágios da Solidão estreia em Campinas
>>> Transforme histórias em experiências lucrativas
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Hilda Hilst na pintura de Egas Francisco
>>> Memorial do deserto e das ruínas
>>> Textos movediços
>>> O regresso, a última viagem de Rimbaud
>>> Livro policial baleia leitora
>>> A pobreza cultural nossa de cada dia
>>> Samurais de Fecaloma
>>> Antologia Ser Mulher
>>> Henry Moore: o Rodin do século XX
>>> Wanda Louca Liberal
Mais Recentes
>>> A História Do Rio De Janeiro de Armelle Enders pela Gryphus (2008)
>>> Contabilidade avançada e análise das demonstrações contábeis de Silvério das Neve, Paulo E. V. Viceconti pela Frase Editora (1999)
>>> A gralha e a tralha de Francisco Aurélio Ribeiro pela Melhoramentos (1993)
>>> Desenho E Anatomia de Victor Perard pela Edições De Ouro
>>> Box Machado De Assis - 3 Volumes. de Machado De Assis pela Globo (2008)
>>> O Veleiro De Cristal de José Mauro De Vasconcelos pela Melhoramentos (2000)
>>> Histórias Da Gente Brasileira - Colônia - Vol. 1 de Mary Del Priore pela Leya (2016)
>>> Atlas Cultural do Brasil de Fename pela Fename (1972)
>>> Essa Turma Ninguém Passa Para Trás de Fabiana Kuriki pela Imprensa Oficial (2007)
>>> O Gato De Botas - Um Conto Pop-Up de Da Editora pela Ciranda Cultural (2013)
>>> Os 300 Erros Mais Comuns Da Língua Portuguesa de Eduardo Martins pela Abril (2012)
>>> Os Deuses Africanos no Candomble da Bahia de Carybé pela Bigraf (1993)
>>> As Mulheres do Meu Pai de Jose Eduardo Agualusa pela Lingua Geral (2012)
>>> Fundamentos De Engenharia De Petróleo de Jose Eduardo Thomas pela Interciência (2004)
>>> Manifesto Comunista em quadrinhos de Karl Marx; Friedrich Engels pela Verus (1979)
>>> Lideranca Positiva de por Rosana Cintino (Autor) pela Martin Claret (1999)
>>> Komi não Consegue se Comunicar - vol. 1 e 2 de Tomohito Oda pela Panini (2022)
>>> Figuras E Ideias Da Filosofia Da Renascença de Mondolfo pela Mestre Jou (1967)
>>> Dom Quixote Galeria de Arte - Revelações - A Indescritível Mostra de Virgílio Dias de Fernand Hazan pela Dom Quixote
>>> Demon Slayer - Kimetsu No Yaiba -vol. 1 e 2 de Koyoharu Gotouge pela Panini (2020)
>>> Karma - A Justiça Infalível de A. C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada pela The Bhaktivedanta Book Trust (2014)
>>> Um Lugar No Mundo de Alberto Aggio pela Contraponto (2015)
>>> Brasil : Patrimônio Cultural e Natural de GasNatural pela Unesco
>>> Coleção Série Tudo Pelo Jogo - 3 Volumes de Nora Sakavic pela Galera (2023)
>>> Treinando Com A PNL de Joseph O' Connor, John Seymour pela Summus (1996)
COLUNAS

Quarta-feira, 8/9/2004
A biblioteca pública mais violada do mundo
Ana Elisa Ribeiro
+ de 6200 Acessos
+ 5 Comentário(s)

O que é o paraíso para você? Há quem imagine um lugar de clima ameno cheio de freezers de cerveja. Há quem pense num campo de futebol cheio de paquitas afoitas pelas beiradas. Também já ouvi descrições que mais me lembram o inferno. Ou aquelas monótonas, em azul e branco.

A descrição de paraíso que mais me chamou a atenção foi a de certo escritor, que disse haver livros, prateleiras e bibliotecas nesse lugar de prazeres. Curioso que isso não me tenha entusiasmado muito, a ponto de querer apenas isso na vida (ou depois), mas a idéia de haver livros num lugar sem preocupações me deixou um sorriso acautelado na boca.

As bibliotecas foram inventadas para arquivar e conservar obras escritas, evitar que fossem traçadas pelo tempo, pela falta de cuidado, pelos insetos, pela química da tinta com o papel. São lugares meio sagrados, onde circulavam, em princípio, apenas as pessoas que tinham algum dinheiro e eram consideradas leitores autorizados de certas obras admiradas ou proibidas.

Quando os livros eram manuscritos (copiados a mão por escribas nem sempre leitores), pequeníssima parcela da população podia ter acesso a eles. Eram considerados parte da riqueza e até do espólio de alguém. Depois da imprensa de Gutenberg, apesar da disseminação das obras e da relativa facilidade de replicá-las, os livros continuaram artefatos de acesso restrito.

Também outra tecnologia era restritíssima ao grande público: a leitura. Ler não era ensinado massivamente, as pessoas nem sempre iam às escolas (nem preciso iniciar meu discurso sobre as mulheres...) e não se lia em praça pública. Daí que os primeiros gabinetes de leitura fossem particulares, acessíveis apenas a um grupelho de cavalheiros discutidores de temas profundos.

Até que as bibliotecas se tornassem públicas e as obras pudessem ser emprestadas gratuitamente, passou-se muita história. Até que as pessoas fossem massivamente alfabetizadas, passou-se mais história. E mesmo com tanta água correndo embaixo dessa ponte, as bibliotecas continuam sendo o local de diversão preferido de oito entre dez traças.

Por que será que as bibliotecas públicas ainda chamam mais atenção pela arquitetura do que pelo que contêm? Aqui em Belo Horizonte, temos uma belíssima biblioteca projetada por Niemeyer. E parece que é esta última característica que faz dela algo admirável, mais do que o fato de conter ela inúmeras obras, muitas vezes antigas e raras.

E dentro das bibliotecas, em vez de se estipular apenas o silêncio sisudo e respeitoso da praxe impensada, por que não armar circos de declamação de contos e poesias? Talvez fosse um bom lugar para se empreender a leitura de textos silenciados pelas capas fechadas. Também antes de serem sepulcros de páginas, os gabinetes de leitura eram escritórios onde se lia em voz alta. Os contos orais foram registrados pelo papel, mas também podiam fazer o percurso inverso. Das páginas claras podiam ganhar vozes e inflexões. Ganhar nova vida, alternadamente com a leitura silenciosa, esta também uma tecnologia inventada pela mente humana e aprendida por aqueles que queriam ler em segredo, tomar de assalto livros pornográficos sem serem repreendidos.

Num evento de literatura, numa destas noites de inverno, presenciei uns poetas lendo poemas para um público que lotava pequenas arquibancadas. Não era prova de colégio e nem conferia prêmios em dinheiro. Era apenas um evento ao qual muitas pessoas compareceram por livre e espontânea vontade. Os poetas convidados foram pagos para estar lá, numa maravilhosa demonstração de respeito e profissionalismo, considerando-se que escrever também seja trabalho.

A platéia daqueles poetas ouvia os poemas em silêncio, mas não esta falta de som boquiaberta e pouco cefálica. Um silêncio pensante, borbulhante e ativo. E quando um poema chegava ao fim, havia aplausos e assobios, como eu só havia visto em shows de bandas de rock.

Oralizar textos escritos tem sido tarefa para quem tem aves na língua. Mas podia ser de qualquer um, a qualquer momento, em querendo... E as bibliotecas, repito, podiam ser os cantos dessa atividade tão retroalimentada: leio o que escrevo, escrevo o que ouço, etc.

E conta-me um amigo, o poeta recém-liberto Affonso Uchoa, que tem um amigo que veio para a capital, oriundo de uma cidade muito pequena no interior das Minas Gerais (só quem mora aqui sabe o que significa morar em Minas Gerais). E a cidade era mesmo de mil e poucos habitantes, sufocada entre montanhas, como quase tudo aqui. E o garoto era grande demais para aquela pequenez. Fizeram-lhe uma vaquinha para juntar dinheiro e mandar o menino para a capital, onde, presumia-se, teria mais condições de ter seu gênio bem-aproveitado.

O garoto veio, ficou uns dias passando fome e frio, fez vestibular na Universidade Federal, conseguiu moradia estudantil, deixou os cabelos crescerem, entrou para o curso de Belas Artes, fez orgulho na cidadezinha. E contam que ele era o maior frequentador daquela mínima biblioteca pública municipal. Ia lá quase todos os dias, pegava livros que ninguém lia ou leria, levava para casa as obras universais. E a menina que lá trabalhava, sempre à-toa, muito estranhava quando aquele garoto esquisito vinha devolver-lhe os livros. Disse-me Affonso Uchoa que a recepcionista chegou mesmo a perguntar ao amigo: Por que você devolve essas obras? Pode ficar com elas. Ninguém vai ler isso não. E olhava nos olhos do guri com um quê de estranhamento e horror.

Eis a história da biblioteca pública mais violada do mundo.

quem manda nascer no inverno?

o garoto deixou o útero quente e veio sentir um frio de quase 10 graus. Embora as pessoas vivam aconselhando que ele tome sol, desça para a frente do prédio, dê voltas na pracinha, seja exposto aos raios delicados de antes das 10 da manhã e depois das 4 da tarde, também é unânime que não se deve expor um bebê ao frio rigoroso. pois então fica ele sem sol e sem fixação de vitamina importante. por mim, acho que já firma bem as perninhas e não terá dessa espécie dramática de problema. mas toma vitamina por via oral e não conhece de perto o sol nas vistas. mas para acabar com o problema, colocamos no berço um sol de pelúcia, muito simpático e risonho. De cores vivas, chama a atenção do guri, que passou a brincar com o solzinho de mentira.


Ana Elisa Ribeiro
Belo Horizonte, 8/9/2004

Quem leu este, também leu esse(s):
01. Sobre política e políticos de Rafael Rodrigues
02. Escrever bem e os 10 Mandamentos de Ana Elisa Ribeiro


Mais Ana Elisa Ribeiro
Mais Acessadas de Ana Elisa Ribeiro em 2004
01. Ler muito e as posições do Kama Sutra - 2/6/2004
02. Autor não é narrador, poeta não é eu lírico - 24/3/2004
03. Em defesa dos cursos de Letras - 6/10/2004
04. Para gostar de ler - 11/8/2004
05. Mulheres de cérebro leve - 13/2/2004


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site

ENVIAR POR E-MAIL
E-mail:
Observações:
COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
17/9/2004
09h27min
Sou leitor assíduo desta coluna, por tratar de um assunto de meu interesse. Não só por isso, mas também pela maneira de como a autora escreve. Hoje se fala muito da falta de gosto pela leitura, principalmente com referencia aos jovens. Dentre as coisas que podemos fazer: valorizar a oralidade do texto. Sinto que quando lemos em voz alta o texto tem outra conotação, parece que marca mais. Trabalho com venda de livros e, desde 2005, com educação (ensino fundamental). Minha livraria fica ao lado de uma casa lotérica, na principal rua da cidade. Disponho os livros infantis, em um display próximo a porta. Constantemente, vejo crianças sendo arrastadas pelos pais. Mas um caso me chamou mais atenção: a criança pediu que a mãe comprasse um livrinho, a mãe deu um categórico "não", e convenceu a criança a comprar uma “raspadinha”. Após raspar e não obter premio nenhum, a criança disse: viu bem que eu queria um livrinho? A mae disse: deixa de besteira, livro não serve para nada. Então meus caros, essa e' a nossa realidade...
[Leia outros Comentários de Douglas]
18/9/2004
20h10min
"Ontem nasci, hoje vivo, amanhã morrerei". Por que viver senão para obter conhecimento deste mundo complexo em que vivo? Quão prazeroso é o "saber", não há êxtase maior do que aquele que sinto quando aprendo algo novo. E o livro então? Propagador respeitoso de conhecimento não existe maior e nunca existirá. Como amo os livros, amo tanto sua matéria quanto sua alma.
[Leia outros Comentários de winston alegranci]
20/9/2004
17h37min
Ana Elisa, a respeito de seu texto sobre a Biblioteca, achei interessante e quero lhe dizer que pertenço a um grupo literário cuja sede é numa biblioteca municipal, ali ele foi fundado e ali temos uma sala construída pelo secretário municipal do continente, cujo termo de cessão e uso assinamos dia 10 de setembro de 2004, valendo por 5 anos. Sim, os poetas do grupo apresentam em voz alta suas produções e sim aplaudimos e nos admiramos com os textos. Vale lembrar que o Grupo de Poetas Livres fundado em 13 de abril de 1998, tem Projetos simples que deram certo. Somente ainda não sensibilizamos os livreiros. Mas isto já é outra história. Um abraço, Maura
[Leia outros Comentários de maura soares]
20/9/2004
21h27min
Livro é vida! É verdade, o texto é muito sugestivo- nas páginas dos livros vivemos intensamente (quem leu Júlio Verne e Monteiro Lobato na infância sabe do que falo). E Biblioteca pode ser um lugar morto ou vivo, dependendo dos que a organizam e controlam- se querem que ela irradie luz ou a tratam como um tesouro só seu, com egoísmo!
[Leia outros Comentários de Amorim]
22/9/2004
17h14min
Os governos tem culpa, a sociedade tem culpa, os secretários de cultura tem culpa, mas nós os BIBLIOTECÁRIOS também temos culpa pelas bibliotecas públicas estarem vazias. Infelizmente, nós que organizamos e as dirigimos nos pautamos pelo silêncio e ordem.... Mas os tempos estão mudando, amigos! Há várias bibliotecas públicas efervescentes! Com saraus, apresentações de textos entre outras atividades. Novos profissionais, como eu, tenho 29 anos, estão chegando para acabar com o marasmo e para dizer: local de leitura, local de revolução! Pois todas as revoluções partiram de pensadores e pessoas que viram em outras histórias, que é possível mudar! E essa história hoje e já há algum tempo se encontra nos livros! O profissional deve mudar sua posição e a sociedade também! É preciso ver que lendo desenvolvemos algumas habilidades úteis para o futuro, como criatividade e imaginação, portanto, vamos lutar por bibliotecas vivas, onde teremos cabeças vivas em nossa sociedade.
[Leia outros Comentários de William]
COMENTE ESTE TEXTO
Nome:
E-mail:
Blog/Twitter:
* o Digestivo Cultural se reserva o direito de ignorar Comentários que se utilizem de linguagem chula, difamatória ou ilegal;

** mensagens com tamanho superior a 1000 toques, sem identificação ou postadas por e-mails inválidos serão igualmente descartadas;

*** tampouco serão admitidos os 10 tipos de Comentador de Forum.




Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Quem Ama, Educa!
Içami Tiba
Gente
(2002)



Geografia Ensino Medio 1 Serie Livro 1b Poliedro
Poliedro
Poliedro



Algoritmos Em Linguagem C
Paulo Feofiloff
Campus
(2009)



Humorte Cosquinhas Semióticas no Umbigo da Entropia
José Lima Jr.
Unimep
(2001)



O punhal escocês
Sharyn McCrumb
Nova cultural
(1988)



Discursos Parlamentares
José Bonifacio de Andrada e Silva
Imprensa Oficial
(2007)



Lua em Foice: Autoras Italianas de Ficção Gótica, Insólita e de Horror
Júlia Lobão e Karine Simoni (orgs.)
Clepsidra / Ex Machina
(2024)



Espaço - Meus Primeiros Jogos e Passatempos
Rebecca Gilpin; Luciano Campelo; Fred Blunt
Usborne
(2016)



Lupicinio
Irmãos Vitale
Irmãos Vitale



A Revolução Quilombola
Nelson Ramos Barretto
Artpress
(2007)





busca | avançada
92106 visitas/dia
2,5 milhões/mês