7 destaques do cinema brasileiro em 2005 | Marcelo Miranda | Digestivo Cultural

busca | avançada
84380 visitas/dia
2,0 milhão/mês
Mais Recentes
>>> Novo livro de Nélio Silzantov, semifinalista do Jabuti de 2023, aborda geração nos anos 90
>>> PinForPeace realiza visita à Exposição “A Tragédia do Holocausto”
>>> ESTREIA ESPETÁCULO INFANTIL INSPIRADO NA TRAGÉDIA DE 31 DE JANEIRO DE 2022
>>> Documentário 'O Sal da Lagoa' estreia no Prime Box Brazil
>>> Mundo Suassuna viaja pelo sertão encantado do grande escritor brasileiro
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> O Big Brother e a legião de Trumans
>>> Garganta profunda_Dusty Springfield
>>> Susan Sontag em carne e osso
>>> Todas as artes: Jardel Dias Cavalcanti
>>> Soco no saco
>>> Xingando semáforos inocentes
>>> Os autômatos de Agnaldo Pinho
>>> Esporte de risco
>>> Tito Leite atravessa o deserto com poesia
>>> Sim, Thomas Bernhard
Colunistas
Últimos Posts
>>> Glenn Greenwald sobre a censura no Brasil de hoje
>>> Fernando Schüler sobre o crime de opinião
>>> Folha:'Censura promovida por Moraes tem de acabar'
>>> Pondé sobre o crime de opinião no Brasil de hoje
>>> Uma nova forma de Macarthismo?
>>> Metallica homenageando Elton John
>>> Fernando Schüler sobre a liberdade de expressão
>>> Confissões de uma jovem leitora
>>> Ray Kurzweil sobre a singularidade (2024)
>>> O robô da Figure e da OpenAI
Últimos Posts
>>> Salve Jorge
>>> AUSÊNCIA
>>> Mestres do ar, a esperança nos céus da II Guerra
>>> O Mal necessário
>>> Guerra. Estupidez e desvario.
>>> Calourada
>>> Apagão
>>> Napoleão, de Ridley de Scott: nem todo poder basta
>>> Sem noção
>>> Ícaro e Satã
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Maria Helena
>>> Sombras
>>> Garganta profunda_Dusty Springfield
>>> Aconselhamentos aos casais ― módulo II
>>> Perfil (& Entrevista)
>>> Entrevista a Ademir Pascale
>>> Blogo, logo existo
>>> Pense nos brasileiros
>>> Os Doze Trabalhos de Mónika. 2. O Catolotolo
>>> Dá-lhe, Villa!
Mais Recentes
>>> A Fúria dos Reis As Crônicas de Gelo e Fogo Livro Dois de George R. R. Martin pela Leya (2011)
>>> Sodoma e Gomorra de Marcel Proust pela Globo (1954)
>>> Os sonhos não envelhecem - Histórias do Clube da Esquina de Márcio Borges pela Geração Editorial (2011)
>>> Wild C.a.t.s de Alan Moore pela Panini (2022)
>>> O Voo da Águia de Ken Follett pela Best Bolso (2010)
>>> Ramuntcho de Pierre Loti pela folio classique (1990)
>>> Huan xi xin guo sheng huo - Em Chines 按息心過盛 de Xian dai fo dian pela Chinesa
>>> Cassino Royale de Ian Fleming pela BestBolso (2012)
>>> Carte Blanche de Jeffery Deaver pela Record (2012)
>>> Teniente Bravo de Juan Marsé pela Plaza & Janés (1998)
>>> O Código Da Vinci de Dan Brown pela Sextante (2004)
>>> Le Malade imaginaire de Molière pela Pocket (1998)
>>> O Banquete de Muriel Spark pela Rocco (1994)
>>> Batman - As Dez Noites da Besta de Jim Starlin e Jim Aparo pela Abril Jovem (1989)
>>> Sons and Lovers de D. H. Lawrence pela Wordsworth Editions (1993)
>>> A Nova Classe de Milovan Djilas pela Agir (1973)
>>> Dr Jekyll and Mr Hyde with The Merry Men & Other Stories de R. L. Stevenson pela Wordsworth Editions (1999)
>>> Shutter Island de Dennis Lehane pela Harper (2009)
>>> O Homem dos Dados de Luke Rhinehart pela Imago (1994)
>>> Um gosto e seis vinténs de W. Somerset Maugham pela Record/Altaya (1996)
>>> Lettre à un ami perdu de Patrick Besson pela Librio (2004)
>>> Homem Aranha Ano Um (minisérie completa em três edições) de Kurt Busiek pela Abril Jovem (1997)
>>> O Mistério da Estrada de Sintra de Eça de Queiroz pela Livros do Brasil - Lisboa (2003)
>>> O último judeu de Noah Gordon pela Rocco (2000)
>>> O Livreiro de Cabul de Åsne Seierstad pela Record (2006)
COLUNAS >>> Especial Melhores de 2005

Segunda-feira, 9/1/2006
7 destaques do cinema brasileiro em 2005
Marcelo Miranda
+ de 12700 Acessos
+ 1 Comentário(s)

Na coluna passada, comentei alguns filmes estrangeiros exibidos no Brasil que foram dignos de atenção ao longo de 2005 e merecem ser conhecidos ou revistos por todos os espectadores interessados em bom cinema. Agora, como prometido, destaco aqui exclusivamente o cinema brasileiro. Foi um ano estranho, nesse sentido. Começou morno, com estréias curiosas mas não muito estimulantes - sendo a mais interessante delas (e olhe lá!) Meu Tio Matou um Cara. O primeiro semestre, aliás, foi de lamentar. Só a partir de agosto que o circuito nacional esquentou, com a chegada de trabalhos, enfim, significativos e demonstrativos da qualidade de nossos profissionais.

Um relato mais detalhado e informativo de como se deu a cinematografia do país este ano pode ser conferido pelo colega Lucas Rodrigues Pires, craque no assunto que fez ótima coluna sobre os filmes brazucas exibidos em 2005. A minha proposta, aqui, é seguir a linha de antes: breves reflexões sobre alguns desses títulos. O cinema brasileiro parece continuar buscando um rosto próprio. Enquanto isso não acontece, recebemos os mais variados estilos, idéias, conceitos; uns vão atrás do que já é garantia de sucesso; outros arriscam em experimentos formais ou estéticos. O importante, a princípio, é fazer a roda rodar: só com muitos e muitos filmes em cartaz é que teremos uma perfeita noção de como está funcionando a engrenagem do cinema brasileiro. Pensamentos sobre essas tendências já pipocam por aí, em diversos livros e ensaios - algo que será tema deste espaço muito em breve.

Enquanto isso, ficamos com os tais destaques. Não deixe de vê-los:

* Casa de Areia - terceiro longa-metragem de Andrucha Waddington e, frente aos anteriores Gêmeas e Eu Tu Eles, seu filme de maior elaboração e ousadia. Mostra a saga de uma mulher que, por décadas, vive isolada num areial perdido no mundo e eternamente à espera de voltar para casa. Fernanda Montenegro e Fernanda Torres se revezam nos papéis de mãe e filha a cada geração, em interpretações diferenciadas por detalhes típicos de grandes damas da tela - olhares, tons de voz, trejeitos, movimentação em cena. No elenco também merece destaque a presença imponente do músico Seu Jorge. Filme lento, mas longe do monótono, transmissor da agonia de se estar sozinho e à espera - do quê ou de quem, pouco importa. O que conta é estar à espera de algo, como estão as personagens encravadas num deslumbrante mar de areia.

* Bens Confiscados - o mestre Carlos Reichenbach continua em boa fase. Apareceu no ano passado com o complexo Garotas do ABC e toda a discussão madura sobre violência, preconceito e trabalho. Agora, surge com este melodrama político sobre um jovem obrigado a se esconder por conta das falcatruas do pai senador. Cuidando dele, está a enfermeira interpretada por Betty Faria, atriz e também produtora do longa. Há em cena elementos de chanchada (a esposa do senador na TV, o amigo estrangeiro), drama (os desentendimentos do capataz vivido por Werner Schünnemann com a esposa, e as tentativas do garoto de interceder) e romance (o envolvimento crescente do menino com a enfermeira). É um filme que começa por caminhos fáceis de descrever e culmina em sensações e conclusões impossíveis de serem explicadas. As imagens de Reichenbach enchem a tela de melancolia e tristeza típicas dos cineastas que ele explicitamente homenageia, como Douglas Sirk e Valério Zurlini. Mas é a Roberto Rosselini, pai do neo-realismo, a quem o diretor mais presta tributo, com planos e composições de cena que remetem ao cineasta europeu. Como sempre, Carlão é poço de cultura e de referência. Sua genialidade está em juntar tudo isso num trabalho de autoralidade plena, que respira pura e estritamente cinema.

Bens Confiscados
Bens Confiscados

* Cabra-Cega - filmes sobre a ditadura militar já são um subgênero no cinema brasileiro. Desde Pra Frente, Brasil, dirigido por Roberto Farias e lançado em 1985, trabalhos nessa linha são comuns, sendo O Que é Isso, Companheiro? talvez o mais conhecido deles. Mas diferente da produção de Bruno Barreto, em que guerrilheiros urbanos seqüestravam o embaixador americano num filme estilo thriller policial americano, o Cabra-Cega de Toni Venturi vai além, ao tentar se inserir na paranóia e nos anseios dessas pessoas que apostaram a própria vida em nome da liberdade no país - mas nem sempre se utilizaram de métodos nobres para tal. O filme não tem narrativa pontuada por acúmulo de acontecimentos. Vemos um revolucionário trancado num apartamento, foragido e derrotado, tentando retomar as atividades contra os militares e acompanhando pela televisão a derrocada do movimento formado nas ruas. Cheio de simbolismos a respeito de liberdade, cenas líricas e momentos de real tensão sem apelar para recursos típicos do cinema de ação, o trabalho de Venturi possui delicadeza e respeito ao tratar de um tema ainda espinhoso na história contemporânea do Brasil.

* Jogo Subterrâneo - filme pequeno, discreto e pouco visto em circuito. Aposta num estilo também reflexivo para falar da obsessão de um homem em achar a mulher perfeita. Ele crê, ao montar caminhos tortuosos pelas linhas de metrô de São Paulo, que vai se deparar com sua deusa. A primeira metade instiga o espectador, primeiro a entender o esquema do protagonista, e depois a acompanhá-lo e até torcer por ele. Mas quando o personagem finalmente parece achar o seu par, o filme, dirigido por Roberto Gervitz (do drama de 1987, Feliz Ano Velho), perde boa parte do impacto. A aposta num romance misterioso, porém intenso, apenas joga o trabalho numa vala comum - e a tentativa de dar motivações para a angústia da mulher interpretada pela linda e talentosa Maria Luísa Mendonça soma apenas mais pontos contrários. De qualquer forma, um projeto "estranho" entre tantos, que não fala de nada realmente brasileiro, mas universal até - não à toa, é inspirado em conto do escritor argentino Julio Cortázar.

* Cinema, Aspirinas e Urubus - do pouco para o muito, do discreto para o intenso, do particular para o coletivo. Falar deste longa de estréia de Marcelo Gomes é cair em relações assim, que tornam tudo ali presente em algo mais, que catalisa o existente e transforma-o em quase sobrenatural - no sentido de ir além da naturalidade. A simples história de um alemão e um sertanejo peregrinando pelo nordeste brasileiro dos anos 40 num caminhão de aspirinas ganha força e impacto pelas lentes e sensibilidade de Gomes. De um lado, o europeu que busca se distanciar da guerra e encontra nos confins do Brasil a solução para os seus medos vendendo ao povo a solução para todos os males em forma de comprimido; do outro lado, o "nativo" que tenta fugir da miséria, da pobreza, da derrota, do fim da esperança. Ambos vão interagir, se conhecer, se acompanhar. Dividir a atração pelas mulheres, a casa dos amigos, os perigos das estradas, a perseguição da guerra e da seca. A fotografia de Mauro Pinheiro dá ainda mais intensidade ao drama dessa dupla, desde a cena inicial (com um fade-in indo do puramente branco para o tom apagado que predomina por todo o filme) até o último plano (que desaparece em fade-out num processo semelhante ao começo). Não é exagero afirmar que não se via um sertão tão bem retratado e tão de acordo com o que se conta em cena desde o Cinema Novo. É um cinema novíssimo, em que forma e conteúdo se conjugam na simplicidade e despretensão de simplesmente falar de seres humanos inseridos no mundo, regidos pela vida que os leva adiante. Nada de tentar entender os processos pelos quais o homem passa. Importa é apenas acompanhá-los e senti-los.

Cinema, Aspirinas e Urubus
Cinema, Aspirinas e Urubus

* Cidade Baixa - filme de toque, de ardor, de pele. Sexo, paixão, desejo dividem espaço na atração entre dois amigos de infância por uma prostituta, numa Bahia desglamourizada e pouco receptiva. Lázaro Ramos, Wagner Moura, Alice Braga: corpos na tela, corpos no chão, corpos na cama. A vontade de um se entranhar no outro, o suor alucinante que pinga de seus rostos, a raiva ensandecida surgida da vontade de cada um amar o outro ainda mais, todo esse emaranhado de sensações move o drama. Outro filme sem enredo contínuo. Importa é a satisfação do tesão, a conquista do prazer, o triunfo de ser o "escolhido" e a luta para isso acontecer. A amizade eterna parece ser suspensa pelo ruído representado pela prostituta. Só a irracionalidade pode oferecer racionalidade a esses desgarrados. Sérgio Machado, o diretor, faz um trabalho de secura que emana vibrações corporais.

Cidade Baixa
Cidade Baixa

* 2 Filhos de Francisco - é inevitável falar de cinema brasileiro em 2005 sem comentar uma linha que seja do fenômeno dirigido por Breno Silveira. Maior triunfo das telas este ano, sendo o filme mais visto entre todos os lançados no país (foram quase 6 milhões de espectadores), conta a trajetória pessoal dos cantores Zezé di Camargo e Luciano. Descrever como Silveira retrata a família Camargo com respeito e dignidade, dando ao filme tom otimista de quem nutre esperança nos rumos do país, é cair no clichê. Vale registrar novamente apenas que é, sim, um projeto de qualidade, realizado com competência por uma equipe de grande talento - do diretor aos produtores, do elenco aos técnicos. E já entra para a história como a salvação da lavoura num ano em que tudo parecia perdido - para o país e, especialmente, para o nosso cinema: o filme chegou num momento-ápice da crise petista e encheu corações com a fé na vitória contra as adversidades que nos afligem. E ainda deu fôlego para que as bilheterias não fechassem o ano tão no vermelho como aparentavam. Ainda há muito o que falar de 2 Filhos..., e bem além de seu significado como obra artística.


Marcelo Miranda
Juiz de Fora, 9/1/2006

Mais Marcelo Miranda
Mais Acessadas de Marcelo Miranda em 2006
01. Caso Richthofen: uma história de amor - 31/7/2006
02. Tabus do Orkut - 6/2/2006
03. Vida ou arte em Zuzu Angel - 14/8/2006
04. Filmes extremos e filmes extremistas - 6/3/2006
05. Eu vejo gente morta - 11/9/2006


Mais Especial Melhores de 2005
* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site

ENVIAR POR E-MAIL
E-mail:
Observações:
COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
13/1/2006
13h21min
Muito boa seleção, também selecionaria exatamente esses filmes como destaque.
[Leia outros Comentários de DaniCast]
COMENTE ESTE TEXTO
Nome:
E-mail:
Blog/Twitter:
* o Digestivo Cultural se reserva o direito de ignorar Comentários que se utilizem de linguagem chula, difamatória ou ilegal;

** mensagens com tamanho superior a 1000 toques, sem identificação ou postadas por e-mails inválidos serão igualmente descartadas;

*** tampouco serão admitidos os 10 tipos de Comentador de Forum.




Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




De Alfaias a Zabumbas
Raquel Nader
Paulinas
(2007)



The Beatles Illustrated Lyrics
Alan Aldridge
Macdonald Unit 75
(1970)



Manuel Antônio de Almeida: Textos Escolhidos
Maria José da Trindade Negrão (org.)
Agir
(1966)



Tudo que é sólido desmancha no ar - A aventura da modernidade
Marshall Berman
Companhia das letras
(1989)



Literatura Brasileira - Tempos , Leitores E Leituras
Maria Luíza M. Abaurre
Moderna
(2005)



Side By Side - a Handbook - Disciple-making For a New Century
Steve & Lois Rabey
Navpress
(2000)



Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem Cipe 2017
Telma Ribeiro Garcia - Org.
Artmed
(2018)



Economia Brasileira Contemporânea
Marco Antonio Sandoval de Vasconcelos
Atlas
(1996)



Fragged Empire: Core Rule Book
Wade Dyer
Design Ministries
(2015)



Contrasena 2
Marilia Vasques Callegari
Moderna
(2015)





busca | avançada
84380 visitas/dia
2,0 milhão/mês