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Quinta-feira, 13/4/2006
Nabokov e Cheever: edições bem-vindas
Jonas Lopes
+ de 5700 Acessos

Vladimir Nabokov era um desterrado. Embora tenha dito, em entrevista à revista The Paris Review, que era "tão americano quanto (o mês de) abril no Arizona", nunca pertenceu a um só lugar. Nasceu em São Petersburgo, cidade de Dostoiévski (a quem detestava, aliás), de onde saiu cedo. Morou na Inglaterra, em Berlim e em Paris, até fixar residência nos Estados Unidos em 1940. Lá virou professor universitário e viu Lolita transformá-lo finalmente em sucesso, depois de anos escrevendo sem ser lido. Em 1961 foi para a Suíça, e lá morreu, dezesseis anos depois.

Não surpreende, portanto, que Nabokov tenha criado todo um novo planeta para dar lugar a um de seus livros. Ada ou Ardor, lançado em 1969 e editado pela Companhia das Letras (465 páginas, tradução do expert em Nabokov, Jório Dauster), tem como palco a Antiterra, espécie de mistura de todos os países em que o autor viveu. Um lugar onde se fala russo, francês e inglês, onde nossas noções de tempo e espaço não existem - no século 19 do livro, por exemplo, já existem tecnologias que só apareceriam na Terra mais tarde. A Terra, aliás, marca presença como o lugar para onde se vai depois da morte. Em Ada há tanto de romance histórico quanto de ficção científica.

É seu livro mais radical. Ao potencializar em Ada os quebra-cabeças de Fogo Pálido, Nabokov urdiu um labirinto recheado de truques de (meta) linguagem, digressões ensaísticas (uma delas, a respeito da passagem do tempo, vale o livro) e dezenas de referências. A abertura, por exemplo, é uma distorção da primeira frase de Anna Karênina: "Todas as famílias felizes são mais ou menos diferentes; todas as famílias infelizes são mais ou menos semelhantes". A frase que encerra a primeira parte é referência a Madame Bovary: "Quando partiu de Manhattan para Lute em princípios de setembro, Van Veen estava grávido".

Todas essas características - híbrido de gêneros, intertextualidades, etc. - tornaram-se clichês do pós-modernismo nos últimos anos. A vantagem de Nabokov em relação a eles é utilizar esses jogos sem abandonar os preceitos básicos do romance do século 19. Uma trama interessante e narrativa. Humor. Ironia. E personagens, bons personagens - inclusive os secundários, o que faz lembrar os grandes romances russos. Os protagonistas são Van e Ada Veen, dois primos que descobrem ser irmãos, culpa de um antigo caso do pai dele, o boêmio Demon, com a mãe dela, Marina. Demon era casado com Aqua, irmã de Marina; e esta era casada com Daniel, primo de Demon.

Van e Ada se apaixonam na adolescência, em férias de verão na propriedade de Marina, Ardis (o centro catalisador do romance). Essa paixão perdura por oitenta anos. Ada ou Ardor, na verdade, é um livro de memórias, a história desse amor contada por Van. O caso dos dois começa no verão de 1884, ele com 14 anos, ela com 12. Com intervalos de tempo sem se verem, voltam a abastecer o interminável desejo que sentem um pelo outro. A relação se torna complicada quando Lucette, irmã de Ada também se apaixona por Van. Começa aqui um paralelismo - bem notado por Brian Boyd, "o maior conhecedor de Nabokov da atualidade" - com a briga das irmãs Aqua e Marina por Demon, o pai de Van, na geração anterior.

Voltando às diferenças entre Nabokov e os autores modernos. Sua prosa um tanto old fashioned, tão distante da secura pós-moderna, pode desagradar os não-iniciados. Uma vez dentro de seu universo, é uma delícia adentrar suas frases adjetivadas, as descrições lentas e minuciosas. E Van é mordaz, como convém a um narrador nabokoviano (as alfinetadas nos comunistas e freudianos são constantes). Ada só carece em alguns momentos daquele Nabokov mais humano, não tão cerebral, de Lolita, Pnin e dos contos, ou do equilíbrio exato entre narrativa e linguagem de Fogo Pálido. Seus labirintos são, contudo, um desafio convidativo ao leitor. Vale a pena perder-se neles.

O poeta do corrompido e o vazio nos subúrbios

Já John Cheever tem seus Bullet Park (1969) e Falconer (1977) lançados no Brasil - ao que parece, pela primeira vez - pela Arx, editora que cumpre a heróica tarefa de editar sua obra no país. Cheever, o melhor contista pós-Hemingway dos Estados Unidos, é pouquíssimo conhecido entre nós. Uma injustiça. A Companhia das Letras lançou dois de seus livros na década de 80: a novela Até Parece o Paraíso (com ótimo posfácio de Sérgio Augusto) e uma compilação de suas magistrais histórias curtas, O Mundo das Maçãs. Ambos estão esgotados há anos (procure pelo segundo no sebo amigo o quanto antes).

Foi um longo inverno até a Arx lançar a dobradinha de romances A Crônica (1957) e O Escândalo dos Wapshot (1964). Depois, veio uma nova versão de Até Parece o Paraíso (de 1982, ano de sua morte). Há alguns meses saiu Falconer, que ganhou aqui o título Sobrevivendo na Prisão, e agora Bullet Park está nas livrarias, sob o título Acerto de Contas (ambos traduzidos por Sergio Viotti). Espera-se para o futuro uma nova coletânea de contos, de preferência bem longa, para cobrir essa vergonhosa lacuna do nosso mercado editorial.

Cheever nasceu em 1912, em Quincy, Massachusetts. Teve uma infância complicada, culpa do divórcio dos pais. Foi expulso da escola no segundo grau por ter sido pego fumando (a experiência rendeu o seu primeiro conto). Mais tarde virou alcoólatra, e sofria profundamente com as críticas aos livros. Era também um péssimo entrevistado. Odiava falar sobre literatura, em especial a sua. Em uma clássica entrevista na Paris Review, o repórter reclamou que Cheever desviava o assunto com perguntas como "você não está entediado com essa conversa?", "gostaria de um drinque?" e "você joga gamão?".

Sua carreira deslanchou quando começou a publicar contos na revista New Yorker. Junto com autores como John O'Hara, J.D. Salinger e John Updike, Cheever praticou o chamado New Yorker style. Estórias sobre o cotidiano da classe média do nordeste dos EUA, abordando temas como o adultério, o puritanismo e o tédio. Nativo da Nova Inglaterra, Cheever tinha facilidade em abordar essas questões morais no que elas têm de mais hipócritas. Muitos o comparavam a Nathaniel Hawthorne (e pelo tratamento do homem comum e a preferência pelo conto, foi considerado "o Tchekhov americano"). Updike o chamou de "poeta do corrompido".

Acerto de Contas é uma extensão de suas narrativas menores. O cenário é uma pequena cidade a uma hora de trem de Nova York. Eliot Nailles tem uma vida suburbana básica. Pega o trem todas as manhãs para o trabalho (em uma fábrica de pastas de dente), tem um casamento tranqüilo, um filho atleta, boa casa e carro, participa de projetos comunitários, vai ao culto nos domingos. Certa manhã, seu filho Tony alega melancolia e não levanta da cama. E lá fica, por semanas. Ao mesmo tempo, chega a Bullet Park o misterioso Paul Hammer (note a brincadeira com os nomes: Hammer significa "martelo" e Nailles "prego"). Nailles vicia-se em tranqüilizantes, e a situação do seu filho só piora. Aos poucos percebemos que a tragédia de Nailles aumenta conforme ele se torna mais amigo de Hammer.

Na segunda parte do livro o ponto de vista é o de Hammer. Filho renegado pelo pai e abandonado pela mãe cleptomaníaca, ele é motivado por sensações abstratas - corre o mundo atrás de um quarto com paredes amarelas que viu em um sonho, participa da morte da dona da casa do tal quarto, quando o encontra, casa-se com uma moça que acabara de conhecer. Hammer resolve crucificar um homem para "acordar o mundo". Escolhe Tony.

Hammer e Nailles estão sufocados pela vida que levam, seja ela feliz ou não. Hammer, embora rico, sofre por ter sido criado por uma avó esnobe, longe dos pais ou de amigos. Uma "crucificação" é a forma que encontra para chamar a atenção dos outros para ele. E para Nailles um cotidiano exemplar e profissional não suprime o vazio de sua rotina de acordar cedo, testar uma nova pasta de dentes, voltar para casa, tomar um drinque, dormir, acordar, etc. Cheever toca em tópicos como a crença em gurus santos (que cura Tony), o uso remédios para aplacar a dor do mundo real. O final do livro é um pouco apressado, "corrido" demais.

Sobrevivendo na Prisão parece, à primeira vista, uma fuga dos ambientes suburbanos de Cheever, já que a história se passa em uma penitenciária. O ambiente muda, não as angústias dos personagens. O professor e viciado em heroína Ezekiel Farragut está lá por ter assassinado o irmão. Há muito de autobiográfico no livro, pois Cheever tinha uma relação quase que de amor platônico com seu irmão. O romance foi uma forma de exorcizar a culpa que o autor sentia por seu bissexualismo.

Farragut obtém na cadeia não a sua redenção social, mas a pessoal. Cura sua apatia sentimental ao descobrir que é homossexual. E reflete sobre sua vida até ali, numa cela em que a passagem do tempo é diferente. Essa descoberta pessoal é mais importante do que se redimir pela morte do irmão. O brilho de Sobrevivendo na Prisão está em fugir dos clichês inevitáveis dos livros de prisão. Não há disputa entre gangues rivais. Farragut não é ameaçado de morte por nenhum bandido ególatra. Pasmem, não há sequer uma cena de estupro (tem sexo homossexual, mas espontâneo). Cheever preferiu humanizar os presos e concentrar a narrativa no dia-a-dia deles.

Perdido na tradução

Agora, uma única reclamação: a tradução dos títulos. Acerto de Contas, convenhamos, não quer dizer nada. Sobrevivendo na Prisão é pior ainda, parece nome de livro de auto-ajuda - algo como "dicas para se virar no xilindró sem passar por maus bocados". São as traduções mais criminosas desde que The Heart Of The Matter, de Graham Greene, virou O Coração da Matéria e Roger's Version, de John Updike, virou Pai-Nosso Computador. Assim não dá, Arx.

Para ir além









Jonas Lopes
Florianópolis, 13/4/2006

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