A descida aos subterrâneos do humano | Guilherme Conte | Digestivo Cultural

busca | avançada
125 mil/dia
1,7 milhão/mês
Mais Recentes
>>> Movimento TUDO QUE AQUECE faz evento para arrecadar agasalhos no RJ
>>> A Visão de Bernadette – Estreia Nacional - 3 de Agosto – Teatro Ruth Escobar -18hs
>>> Teatro dos Sentidos, criado por Paula Wenke, comemora 25 anos e apresenta-se em Sã
>>> Isabelle Huppert e Hafsia Herzi protagonizam A Prisioneira de Bordeaux
>>> Barbatuques apresenta livros na Flip 2025
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> Two roads diverged in a yellow wood
>>> A dobra do sentido, a poesia de Montserrat Rodés
>>> Literatura e caricatura promovendo encontros
>>> Stalking monetizado
>>> A eutanásia do sentido, a poesia de Ronald Polito
>>> Folia de Reis
>>> Mario Vargas Llosa (1936-2025)
>>> A vida, a morte e a burocracia
>>> O nome da Roza
>>> Dinamite Pura, vinil de Bernardo Pellegrini
Colunistas
Últimos Posts
>>> As Sete Vidas de Ozzy Osbourne
>>> 100 anos de Flannery O'Connor
>>> O coach de Sam Altman, da OpenAI
>>> Andrej Karpathy na AI Startup School (2025)
>>> Uma história da OpenAI (2025)
>>> Sallouti e a história do BTG (2025)
>>> Ilya Sutskever na Universidade de Toronto
>>> Vibe Coding, um guia da Y Combinator
>>> Microsoft Build 2025
>>> Claude Code by Boris Cherny
Últimos Posts
>>> Política, soft power e jazz
>>> O Drama
>>> Encontro em Ipanema (e outras histórias)
>>> Jurado número 2, quando a incerteza é a lei
>>> Nosferatu, a sombra que não esconde mais
>>> Teatro: Jacó Timbau no Redemunho da Terra
>>> Teatro: O Pequeno Senhor do Tempo, em Campinas
>>> PoloAC lança campanha da Visibilidade Trans
>>> O Poeta do Cordel: comédia chega a Campinas
>>> Estágios da Solidão estreia em Campinas
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Santo Antonio de Lisboa
>>> Dar títulos aos textos, dar nome aos bois
>>> Os autômatos de Agnaldo Pinho
>>> Deitado eternamente em divã esplêndido – Parte 2
>>> Manoel de Barros: poesia para reciclar
>>> O maior programador do mundo? John Carmack (2022)
>>> Livro dos Homens
>>> 7 de Setembro
>>> Entrevista com João Moreira Salles
>>> O erótico e o pornográfico
Mais Recentes
>>> Meu Avo Africano (11º impressão) de Carmen Lucia Campos pela Panda Books (2022)
>>> Bola Vermelha (4º impressão) de Vanina Starkoff pela Pulo Do Gato (2022)
>>> O Menino Azul (3º edição - 1º reimpressão) de Cecilia Meireles pela Global (2015)
>>> O Poder do Pensamento Positivo de Norman Vincent Peale pela Cultrix (1995)
>>> A caligrafia de Dona Sofia (1º edição) de André Neves pela Elementar (2001)
>>> Eram Quatro Vezes - comédia para crianças de todas as idades (com suplemento) de Flavio De Souza pela Ftd (2009)
>>> Estatística Aplicada A Todos Os Níveis de Nelson Pereira Castanheira pela Intersaberes (2018)
>>> A Cruzada Das Crianças (3º impressão) de Bertolt Brecht - Carme Sole Vendrell pela Pulo Do Gato (2017)
>>> Artes Visuais, História E Sociedade de Katiucya Perigo pela Intersaberes (2016)
>>> Gravura - História, Técnicas E Contemporaneidade de Andréa Bertoletti / Patricia De Camargo pela Intersaberes (2016)
>>> A Relação Do Desenho Com O Ensino Da Arte de Elisa Kiyoko Gunzi pela Intersaberes (2016)
>>> Medos, Fobias E Pânico de Lourdes Possatto pela Lúmen (2010)
>>> Contágio de Robin Cook pela Record (1997)
>>> Annie: Um Classico Que Encantou Geracoes de Thomas Meehan pela Intrinseca (2014)
>>> O Retorno De Merlim de Deepak Chopra pela Rocco (1996)
>>> Os mais belos poemas que o amor inspirou de Theor pela Theor (1970)
>>> Caminho A Cristo - Livro De Bolso de Ellen White pela Cpb
>>> O Que É politica de Leo Wolfgang pela Brasiliense (1985)
>>> O Que É Ética de Alvaro L. M. Valls pela Brasiliense (2006)
>>> O Segredo De Luisa de Fernando Dolabela pela Sextante (2008)
>>> Gestao Estrategica Da Qualidade: Principios, Metodos E Processos de Edson Pacheco Paladini pela Atlas - Grupo Gen
>>> Lições para uma vida despreocupada e feliz de Antonio Balsolobre pela Do autor
>>> Pertinho Do Céu de Álvaro Basile Portughesi pela Clareon
>>> Os misterios do reino dos ceus de Agenor Duque pela Tempo de Deus (2015)
>>> Logística Empresarial de Roberto Ramos pela Intersaberes (2015)
COLUNAS

Sexta-feira, 10/11/2006
A descida aos subterrâneos do humano
Guilherme Conte
+ de 5200 Acessos
+ 1 Comentário(s)

É incomum que o público tenha a chance de assistir um espetáculo com a força deste Toda nudez será castigada trazido pela Armazém Companhia de Teatro. Não é com outro sentimento que não admiração que se vê um trabalho de tamanha consistência - prova da maturidade de um grupo coeso sob a batuta de um diretor que já deu várias provas de sua competência, Paulo de Moraes.

Montado à exaustão, o brilhante texto de Nelson Rodrigues (1912-1980) ganha uma roupagem ousada, extremamente original. Não se poderia esperar outra coisa do grupo, que já brindou o público com espetáculos que já marcaram seu lugar na história do teatro brasileiro contemporâneo, como Alice através do espelho (1999) e Pessoas invisíveis (2002).

Formada em Curitiba no ano de 1987 e radicada no Rio de Janeiro desde 1998, a companhia se pautou principalmente pela busca de uma dramaturgia própria. A identidade alcançada por essa postura traz a segurança evidenciada nessa montagem de Toda nudez será castigada.

O início é absolutamente alucinante. O mergulho radical e violento joga o espectador fundo na poltrona e sinaliza que o que se segue é um percurso nada agradável por uma história que gradativamente ganha ares de pesadelo. E a expectativa não é frustrada. O subtítulo que Nelson atribui ao texto - "Obsessão em três atos" - é construído com precisão pelo grupo.

Classificada como uma de suas "tragédias cariocas", Toda nudez... coloca em questão um dos temas caros ao dramaturgo, o puritanismo. Conta a história de Herculano, um viúvo que reprime seus desejos em nome de uma castidade inflexível. É um homem devastado e sem perspectivas, que passa os dias chorando a morte da esposa.

A conselho de seu irmão Patrício, Herculano dirige-se embriagado ao bordel onde trabalha a prostituta Geni. Ela se apaixona instantaneamente por ele, que se entrega a ela no decorrer da história. O enlace entre os dois acarreta em uma sucessão de acontecimentos que desemboca em um desfecho trágico.

Os falsos moralismos, as hipocrisias e a força inexorável dos instintos humanos explodem a olhos vistos. Nelson conduz o fio narrativo com maestria: a história começa em um cenário caótico e descamba em um final violento e desolado. Não há um respiro; o espectro da tragédia ronda cada gesto, cada palavra.

Nesse verdadeiro campo de batalha transitam tias solteironas em luto perpétuo, um filho desequilibrado, médicos, padres, delegados. O olhar ácido sobre as pequenezas do ser humano é implacável. Toda nudez é um monumento ao que o homem tem de animal por baixo das máscaras sociais. E o resultado não é nada redentor; ao contrário, é um retrato imposto goela abaixo tal qual um purgante amargo.

Este é um ponto em que reside uma diferença vital entre Toda nudez e as grandes tragédias shakespereanas. Otelo é um general grandioso, um herói clássico que comete uma falha trágica que sela seu destino e dá início à série de catástrofes que se impõem sobre ele. Herculano, por outro lado, nada tem de herói. É um fraco, um homem incapaz de lidar com o turbilhão de contradições que carrega dentro de si. Mais humano, talvez.

Seu irmão Patrício, por sua vez, é um antagonista na acepção mais ortodoxa do termo. Movido pela vingança, trava uma marcha inabalável rumo à queda de Herculano. E faz tudo o que tem a seu alcance para que esta queda seja a mais dolorosa e humilhante possível. Hábil manipulador, joga com todo o entorno para que tudo siga conforme seus sórdidos desígnios.

E Geni é a prostituta que luta contra sua própria natureza em nome da ilusão de uma mudança de vida ao lado de seu amor. Sua queda, não menos cruel, ganha forma na medida em que o mundo construído por Herculano começa a ruir. Também cega por seus sentimentos, entrega-se aos tortuosos caminhos do pesadelo rodriguiano e termina suicidando-se.

A trama é carregada da ironia e do humor cáustico próprios do dramaturgo. Momentos como os dilemas patéticos de Herculano, a hipocrisia das tias na cerimônia de casamento ou o tragicômico ladrão boliviano arrancam de uma platéia por vezes atônita (o texto surpreende) um riso ora nervoso ora constrangido, indigesto.

O subtítulo não poderia ser mais apropriado. São todos obssessivos: Herculano pela mulher e depois por Geni, essa pela perspectiva de uma vida diferente, Patrício por vingança, o filho Serginho pela falecida mãe, as tias pela moral e pelo recato. É um desfile de personagens que bem podiam ter saído do divã mais próximo.

A concepção de Paulo de Moraes é inovadora sem que a fidelidade a esse universo seja comprometida. Ao contrário: a tradução é acuradíssima. A começar pelo cenário, etéreo, esfumaçado, quase sobrenatural. A profusão de efeitos visuais é impressionante. Paulo, diretor com "D" maiúsculo, é inegavelmente um visionário; o que depõe contra a montagem é justamente o excesso de efeitos, que termina por, em alguns momentos, dispersar a atenção para com o texto.

A dupla de protagonistas - Thales Coutinho como Herculano e Patrícia Selonk como Geni - dá conta de intrincados papéis com precisão e sensibilidade. A honestidade dessas interpretações é vital para a grandeza da montagem. Fabiano Medeiros constrói um Patrício que é um verdadeiro calhorda, transbordando de ódio e sordidez.

O resto do elenco cumpre, com exceções pontuais, as exigências do texto. A reserva mais séria fica por conta do papel do filho Serginho, interpretado por Sérgio Medeiros. Esse controverso e curioso personagem, um filho que aparece como um problemático e torna-se peça-chave chave no enredo, cheio de nuances, fica resumido aqui a um tipo afeminado e arredio.

Tem-se, em resumo, uma montagem de alto nível para um dos textos fundamentais da dramaturgia nacional. Ainda bem que temos Nelson Rodrigues e o Armazém para que possamos ter nossas contradições expostas com tamanha eficácia e, por que não, beleza. O espetáculo pode não ser redentor; nem deveria sê-lo. Mas que é transformador, isso é um fato inquestionável.

Para ir além
Toda nudez será castigada - Centro Cultural São Paulo - Sala Jardel Filho - Rua Vergueiro, 1.000 - Liberdade - Tel. (11) 3383-3402 - R$ 12 - Quarta a sábado, 21h, domingo, 20h - 110 min. - Até 12/11.


Guilherme Conte
São Paulo, 10/11/2006

Quem leu este, também leu esse(s):
01. A Espada da Justiça, de Kleiton Ferreira de Luís Fernando Amâncio
02. Retrato do Leitor enquanto Anotação de Duanne Ribeiro
03. Defensores da Amazônia de Marilia Mota Silva
04. Todas as Tardes, Escondido, Eu a Contemplo de Duanne Ribeiro
05. A Galáxia da Internet de Fabio Silvestre Cardoso


Mais Guilherme Conte
Mais Acessadas de Guilherme Conte em 2006
01. 13º Porto Alegre em Cena - 15/9/2006
02. A essência da expressão dramática - 26/4/2006
03. Sua majestade, o ator - 18/1/2006
04. O melhor do teatro em 2005 - 4/1/2006
05. Um Brecht é um Brecht - 5/4/2006


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site

ENVIAR POR E-MAIL
E-mail:
Observações:
COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
11/11/2006
1. Argh
03h18min
Conheci um sujeito, nos tempos de colégio, que era intensamente atraído por todo tipo de escatologia. Da meleca ao peido, passando pela bosta e outras tantas - não preciso mencionar todas as palavras, todo mundo já entendeu - ele era fissurado nesses assuntos. Sabia um sem número de piadas, as mais escabrosas e não vacilava em contar. As meninas fugiam dele; invariavelmente ele comentava que elas também defecavam, etc. A gente, meio safadamente, tolerava um pouco o cara, mas ele nos entristecia mais do que nos divertia e, principalmente, cansava. Pela repetição, pela patente infantilidade. Era evidente que o cara tinha um problema. Acabou escorraçado. A simples presença já incomodava. Um professorzinho, meio suburbano, tentou sua defesa, dizendo que ele colocava em xeque nossa mentalidade pequeno-burguesa. A gente riu; a piada foi boa. Agora: quando leio (ou leio sobre) Nelson Rodrigues, acho que eu estou voltando no tempo. Argh.
[Leia outros Comentários de Guga Schultze]
COMENTE ESTE TEXTO
Nome:
E-mail:
Blog/Twitter:
* o Digestivo Cultural se reserva o direito de ignorar Comentários que se utilizem de linguagem chula, difamatória ou ilegal;

** mensagens com tamanho superior a 1000 toques, sem identificação ou postadas por e-mails inválidos serão igualmente descartadas;

*** tampouco serão admitidos os 10 tipos de Comentador de Forum.




Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Plano de Aula. 5ª e 6ª Séries
Elizabeth Nascimento Silva
Sprint
(1968)



Expropriação Executiva
Maurício Giannico
Saraiva
(2012)



A Ponte das Estrelas
Marcia Denser
Best Seller
(1990)



Resposta Certa
David Nicholls
Intrínseca
(2012)



127 Coisas Para Ser Feliz
Donna Wilkinson
Ediouro
(2010)



Ser Historiador no Século XIX
Temístocles Cezar
Autêntica
(2018)



Enem total matematica e suas tecnologias
Smile
Smile
(2015)



Cinemateca Veja - o Exterminador do Futuro
Abril Coleções
Abril Coleções
(2008)



Mocha With Max: Friendly Thoughts & Simple Truths From The Writings Of...
Max Lucado
Coffee
(2005)



Livro Poesia 80 Anos de Poesia Coleção Mario Quintana
Mário Quintana
Globo
(2008)





busca | avançada
125 mil/dia
1,7 milhão/mês