Cão sem dono e Não por acaso: pérolas do Cine PE | Marcelo Miranda | Digestivo Cultural

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Quinta-feira, 10/5/2007
Cão sem dono e Não por acaso: pérolas do Cine PE
Marcelo Miranda
+ de 5100 Acessos

O Cine PE - Festival do Audiovisual de Recife é o mais popular e movimentado evento de cinema no Brasil. Isso porque reúne aproximadamente três mil pessoas por dia ao longo de uma semana no Cine Teatro Guararapes, próximo a Olinda. Três mil espectadores participativos - aplaudem, vaiam, interagem com o filme com respeito e de forma comportada. Uma bela experiência, estar no Cine PE. Este ano o evento chegou à 11ª edição e, como sempre, lançou alguns filmes, reprisou outros e plantou sementes importantes para o audiovisual brasileiro dos próximos meses.

Da seleção oficial do festival de 2007, dois títulos em longa-metragem se destacaram muito acima dos demais. O primeiro, exibido no dia 27 de abril, foi Não por acaso, estréia do paulista Philippe Barcinski na direção de longas. O outro foi Cão sem dono, quinto filme do também paulista Beto Brant, desta vez em parceria com Renato Ciasca numa adaptação de Até o dia em que o cão morreu, livro de Daniel Galera. Dois trabalhos bastante distintos, cada um contando à sua forma dramas pessoais numa cidade grande. É como se a câmera escolhesse os personagens e narrasse, por imagens e sons, os destinos de cada um deles. A linguagem e as escolhas estéticas dos cineastas diferem, mas, no fundo, são ambos projetos de profundo humanismo, preocupados em captar a perdição de cidadãos comuns que lutam contra seus próprios sentimentos para serem suplantados por eles e ganharem um outro rumo de vida.

Em Não por acaso, a cena principal é dividida entre Rodrigo Santoro e Leonardo Medeiros. São personagens de tramas paralelas, marcados pela mesma tragédia - um acidente de trânsito que mata a namorada de um e a ex-esposa do outro. A partir daí, a vida dos dois, até então caracterizadas pelo controle extremo (Santoro é especialista em sinuca; Medeiros é um controlador de trânsito na caótica São Paulo) toma rumos completamente descontrolados. É o grande acerto do filme, aliás: fazer com que estas duas figuras autocentradas se descentralizem e provoquem situações atípicas fora de seus contextos e dentro de si mesmas.

Há, no mínimo, uma seqüência memorável em Não por acaso: a de Santoro e Medeiros, cada um por seus motivos e às suas formas, correndo desesperados pelas ruas paulistanas. Existe ali uma intensidade de sentimentos e uma gama de significados sobre a natureza daqueles homens que são elementos difíceis de captar se o cineasta não souber onde posicionar a câmera, onde cortar e qual o melhor tom a ser impresso naqueles minutos decisivos. O filme é ajudado pela expressividade e delicadeza do personagem de Santoro, ator em ótima interpretação, e pelo impressionante magnetismo de Leonardo Medeiros, este que deve ser, sem medo de errar, um dos maiores nomes da atuação em atividade hoje no país. Construtor de uma carreira sólida, em trabalhos de envergadura e autoralidade (Lavoura Arcaica, Cabra Cega, O veneno da madrugada), Medeiros se firma cada vez mais como um intérprete completo e digno de ser aguardado e curtido filme a filme.

Veja acima o trailer de Não por Acaso

Houve, ao longo do Cine PE, quem acusasse Barcinski de abusar no uso da trilha sonora em Não por acaso. De fato, alguns momentos dispensam música - a trilha acaba moldando sentimentos que se fortaleceriam na tela se soassem ambíguos e sem interferências. Porém, em outros instantes, Barcinski consegue acertar, e muito - e a corrida pelas ruas é um exemplo perfeito da consciência do cineasta no bom uso da música. A maior surpresa relativa ao filme, porém, é a paciência com que o diretor narra as angústias dos dois homens. Quem conhece os curtas-metragens de Barcinski, sendo os mais notórios Palíndromo e Janela Aberta, sabe o quanto são trabalhos frenéticos e pulsantes, o que nem sempre soa orgânico ou positivo.

Em Não por acaso, o cineasta demonstra a sensibilidade de dar tempo às suas criações, de permitir a elas respirar, olhar, perceber o ambiente, deixarem-se impregnar pelo que está ao redor, valorizar instantes, gestos e expressões. É trabalho de rigor e controle absolutos, e é irônico que seja um filme cujo grande tema é justamente o limite entre o controle e o acaso, entre a geometria exata e o instinto humano.

Por sua vez, Cão sem dono segue em outra via. Aposta na secura das imagens, na câmera parada, na ausência de trilha sonora e na não-ação para narrar um pequeno conto de outras duas pessoas, desta vez totalmente interligadas. São Ciro (Júlio Andrade) e Marcela (Tainá Müller). Ele, tradutor sem perspectivas, enfurnado num apartamento onde não faz absolutamente nada; ela, modelo, sonhadora e ambiciosa. O encontro dos dois se dá numa noitada, e desse encontro vai nascer um sentimento que transformará Ciro. Beto Brant e Renato Ciasca contam uma história de amor como tantas outras. A diferença está em suas escolhas formais.

O filme se fixa num naturalismo poucas vezes visto no cinema brasileiro. Deixa os atores à vontade, o improviso aflora e o que se tem são conversas, murmuros, gemidos, risadas, cantorias, declarações. Nada de muito substancial acontece em Cão sem dono. O que conta é o sentimento em cena, a vontade dos personagens possuírem um ao outro e irem aprendendo cada um por si. É Ciro o protagonista, mas é Marcela a personagem principal. Ele sofre uma mudança drástica; ela provoca a mudança. No processo, o espectador acompanha lentamente cada passo desse crescendo, da relação que se molda a partir da azaração para se tornar fundamental.

É no naturalismo de suas cenas que Cão sem dono consegue atingir tantos significados: na modelo cantando enquanto é acompanhada pelo violão; no Ciro bêbado ao telefone, desesperado atrás da amada; nas conversas com o porteiro do prédio; no encontro com o casal amigo, durante um jantar; nas brincadeiras ao pé do ouvido entre uma transa e outra. A simplicidade das situações acumula, e acumula junto a intensidade dos sentimentos. O mais impressionante no trabalho de direção é o quanto o filme aparenta ser controlado e, ao mesmo tempo, demonstra uma liberdade total no trato com a câmera e com os atores que estão frente a ela. É difícil um diretor saber para onde levar seu filme sem que isso fique aparente na tela. Mas Brant é um mestre contemporâneo e não deixa dúvidas de que tinha um caminho traçado, seguindo-o sem jamais permitir que tal caminho suplantasse o que de mais importante seu filme possui - a impressão de que não estamos vendo um filme, e sim recortes de um mundo real e verdadeiro.

Veja acima o trailer de Cão sem Dono



Marcelo Miranda
Belo Horizonte, 10/5/2007

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