Entre a simulação e a brincadeira | Guilherme Pontes Coelho | Digestivo Cultural

busca | avançada
82868 visitas/dia
1,3 milhão/mês
Mais Recentes
>>> Alice Caymmi canta Dorival no Manouche no Jardim
>>> 100/cabeças publica livro de ensaios de Walter Benjamin sobre Franz Kafka
>>> Feira de Tradições Pretas traz Teresa Cristina e Leci Brandão para Boteco da Dona Tati
>>> Os Piores Palhaços do Mundo, com Claudio Carneiro, Hugo Possolo e Márcio Ballas, estreia dia 8 em SP
>>> Izzy Gordon 'Rainhas do Jazz'
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> O nome da Roza
>>> Dinamite Pura, vinil de Bernardo Pellegrini
>>> Do lumpemproletariado ao jet set almofadinha...
>>> A Espada da Justiça, de Kleiton Ferreira
>>> Left Lovers, de Pedro Castilho: poesia-melancolia
>>> Por que não perguntei antes ao CatPt?
>>> Marcelo Mirisola e o açougue virtual do Tinder
>>> A pulsão Oblómov
>>> O Big Brother e a legião de Trumans
>>> Garganta profunda_Dusty Springfield
Colunistas
Últimos Posts
>>> Uma história da CNET (2014)
>>> All-In sobre o DOGE e o USAID
>>> Steve Vai e os 30 anos da Ibanez JEM
>>> All-In sobre DeepSeek
>>> L'italiana in Algeri par Georges Prêtre
>>> Le siège de Corinthe par Solti
>>> DeepSeek by Glenn Greenwald
>>> David Sacks no governo Trump
>>> DeepSeek, inteligência que vem da China
>>> OpenAI lança Operator
Últimos Posts
>>> Encontro em Ipanema (e outras histórias)
>>> Jurado número 2, quando a incerteza é a lei
>>> Nosferatu, a sombra que não esconde mais
>>> Teatro: Jacó Timbau no Redemunho da Terra
>>> Teatro: O Pequeno Senhor do Tempo, em Campinas
>>> PoloAC lança campanha da Visibilidade Trans
>>> O Poeta do Cordel: comédia chega a Campinas
>>> Estágios da Solidão estreia em Campinas
>>> Transforme histórias em experiências lucrativas
>>> Editora lança guia para descomplicar vida moderna
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Come on baby, cover me
>>> Viagens e viajantes
>>> Entrevista com Lúcia Guimarães
>>> Livro (e filme) sobre Facebook
>>> O retalho, de Philippe Lançon
>>> Sociedade dos Poetas Mortos
>>> A prática e a fotografia
>>> A deliciosa estética gay de Pierre et Gilles
>>> Modelos de beleza
>>> Carona na Rede
Mais Recentes
>>> Revoluções de Michael Lowy org pela Boitempo (2009)
>>> A Coluna Prestes de Anita Leocadia Prestes pela Boitempo (2024)
>>> Deleuze & Guattari E O Anti-édipo de Guillaume Sibertin-blanc pela Politeia (2022)
>>> Imaginário Trabalhista de Jorge Luiz Ferreira pela Civilização Brasileira (2024)
>>> Também Eu Danço - Poemas de Hanna Arendt pela Ailibote (2023)
>>> A Escravidão Reabilitada de Jacob Gorender pela Expressão Popular (2016)
>>> O Cativeiro Da Terra de Jose De Souza Martins pela Contexto (2021)
>>> Discurso Sobre O Colonialismo de Aimé Césaire/ Marcelo Dsalete/ Claudio Willer pela Veneta (2020)
>>> Anos De Chumbo Os: Vistos Da Janela Da Escola de Esther Kuperman pela Garamond (2015)
>>> Hannah Arent E A Banalidade Do Mal de Nádia Souki pela Ufmg (2022)
>>> Os Estatutos Do Homem de Thiago De Mello/ Dafni/ Pablo Neruda pela Vergara & Riba (2011)
>>> Procura-se Um Planeta Sustentável - Coleção Diálogo de Tânia Alexandre Martinelli pela Scipione (2004)
>>> A Menina Desaparecida de Enderle Dotti pela Arx (2003)
>>> Anjo Da Morte - Os Karas de Pedro Bandeira pela Moderna (2019)
>>> A Menina Que Roubava Livros de Markus Zusak pela Editora Intrinseca (2007)
>>> Viagem a Portugal de José Saramago pela Companhia Das Letras (1990)
>>> Adolescência e Vida de Divaldo Franco pela Leal (2005)
>>> Matemática: Contexto E Aplicações - Volume Único de Luiz Roberto Dante pela Ática (2010)
>>> A Criança À Luz Do Espiritismo de Waldehir Bezerra de Almeida pela Feb (2023)
>>> Dicionário Inglês-português / Português-inglês de Ubiratan Rosa pela Li-Bra
>>> Meu 1º Larousse De Ciência de Larousse Junior pela Larousse do Brasil (2005)
>>> Se Você Quer Ter Paz Se Prepare Para a Guerra de Ronaldo Ventura pela Trampo Tecnologia (2018)
>>> Pedro Vira Porco-espinho de Janaina Tokitaka pela Jujuba Editora (2017)
>>> Adivinha Quanto Eu Te Amo de Sam McBratney pela Wmf Martins Fontes (2011)
>>> Dorme, Menino, Dorme de Laura Herrera pela Livros Da Matriz (2015)
COLUNAS

Quarta-feira, 11/3/2009
Entre a simulação e a brincadeira
Guilherme Pontes Coelho
+ de 7900 Acessos
+ 4 Comentário(s)

É sempre uma sensação sem adjetivos ver televisão ― para quem não tem esse hábito. É uma coisa muito bizarra, na verdade. Precisei de um certo tempo de aclimatação. Depois de um longo jejum, me rendi à tevê aberta. Quando já me sentia preparado, mergulhei na infinitude da tevê por assinatura. Óbvio, como você já deve saber, é tudo muito mais legal. E mesmo não sendo, os canais animais são sempre a salvação da telelavoura quando não há nada muito interessante. Eu achava que esse fenômeno só existia na tevê aberta.

Enfim, hoje vejo tevê. Já adquiri até uns vícios. Law & Order: Special Victims Unit, por exemplo. Mas continuo me sentindo um alienígena diante dela. Não é possível que eu viva no mesmo mundo daquelas pessoas que fazem aquelas mágicas acontecerem: as atrações. Por exemplo, vi na Oprah uma mulher que deixou a filha de dois anos dentro do carro e foi trabalhar. A menina ficou lá oito horas, sob o calor do verão. Morreu. Até aí eu estava impressionado com o lado humano da coisa, espantado com o fato de uma mãe esquecer a própria bebê dentro do carro, no estacionamento do trabalho. Então me chamou a atenção a maneira como o show acontecia.

Era a primeira vez que via a Oprah, até então só a conhecia de ouvir falar e do adesivo na capa do meu Faulkner, "Oprah's Book Club". Fiquei com a impressão de que ela era uma mistura de Marília Gabriela com Regina Volpato. Não sei se quero permanecer com essa impressão, porque logo depois da história da menina ser parcialmente contada apareceu a mãe no sofá da Oprah para narrar o final, como ela achou a própria filha morta e o que aconteceu depois, o que me deixou extremamente constrangido no meu sofá. Mais, fizeram mais. Veicularam o áudio das ligações para o 911, a descrição que gente desesperada fazia à polícia de uma menina de dois anos sob os efeitos implacáveis da hipertermia (oito horas dentro de um carro, presa ao bebê-conforto). A mãe ali, no sofá, em frente à Oprah, ouvindo tudo pela primeira vez, assim como nós. Tudo bem que ela, a mãe, escolheu estar lá, mas nada ameniza a vileza do espetáculo em todo o conjunto: a exposição, a audiência, o julgamento.

Julgamento porque muitas vezes esses programas de terapia familiar, sei lá como se autodenominam, funcionam mesmo como um tribunal midiático. De mentirinha, mas tribunal. A classe da Regina Volpato e a vulgaridade da Márcia Goldschmidt, no fim das contas, acabam como farinha do mesmo saco, condenando e absolvendo os réus televisivos. Até lembro aqui da Oprah, em relação àquela mãe, dizendo que "isso poderia acontecer com você também". Não, Oprah, essa irresponsabilidade jamais... Ups, olha eu julgando a coitada. Eu, você e aquela mãe fazemos parte do mesmo universo, mas a Oprah, não. Ela é da televisão... (Imagine um tom conspiratório nessas reticências.)

Essa realidade toda na tevê dá náuseas. Não me refiro à realidade dos noticiários, porque essa a gente conhece bem ― seja pelo evento noticiado, seja pela ideologia com que foi noticiado ―, mas àquela fabricada lá pela gangue das Oprahs. Não é propriamente ficção, mas também não é realidade. Um espetáculo confuso. Não quero me alongar muito em investigações à Baudrillard sobre essa pseudorealidade porque seria pesadamente chato. Esse tópico, porém, me lembra outro telepecado de minha parte, os reality shows.

Por um lado, o real vai à tevê mediante a exposição infame de toda sorte de eventos, tendo como exemplo os auditórios terapêuticos (ainda não sei como nomear essas coisas). Por outro, o real vem da tevê para o imaginário da realidade. Mesmo sem conseguir livrar você desse linguajar baudrillardeano, este é o caso dos reality shows.

Há coisas acontecendo ali, num único plano. São interessantes de ver porque, na maioria dos casos, envolvem competição. Competição envolve habilidades e obstáculos. O que nos leva à ululante torcida. A gente se envolve com a coisa. É quase um esporte. Curiosamente, o reality show de maior sucesso aqui no Brasil não exige habilidade alguma, a não ser coragem para ser estúpido e naturalidade para ser dissimulado, não precisando ser ator/atriz para tal. Mesmo assim, há torcidas e envolvimentos e culto a herois. Ninguém entende isso, um programa ocioso que lembra aquelas salas de castigo para crianças desobedientes.

Particularmente, eu não entendo como funciona um programa desses do ponto de vista do telespectador. Os critérios de cada um para escolher seus mocinhos são loucamente subjetivos. É quase como esperar pela famosa química. Parece coisa de mundo real. Ah, começo a entender...

Enfim, subjetividades midiáticas (que expressão insólita!) à parte, é interessante, sim, ver como os reality shows, cujo apelo está em se vender como real, são, na verdade, jogos, brincadeiras que pendem da simulação à dissimulação e vice-versa. Particularmente, quando ligo a tevê acho melhor crer que o espírito de Huizinga paira sobre o plasma, não o de Baudrillard. Se a tevê simula uma brincadeira, brinque com a simulação. É a melhor maneira de curtir o entretenimento televisivo.

P.S.: Na opinião do autor, o melhor reality show já criado foi Ultimate Fighter. Isso, sim, é que é entretenimento de verdade.

Para ir além






Guilherme Pontes Coelho
Brasília, 11/3/2009

Quem leu este, também leu esse(s):
01. Leituras, leitores e livros — Parte II de Ana Elisa Ribeiro


Mais Guilherme Pontes Coelho
Mais Acessadas de Guilherme Pontes Coelho em 2009
01. Entre a simulação e a brincadeira - 11/3/2009
02. Exógeno & Endógeno - 4/11/2009
03. A morte de Michael Jackson, um depoimento - 5/8/2009
04. Meu assassino - 10/6/2009
05. Sobre escrever a História - 17/6/2009


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site

ENVIAR POR E-MAIL
E-mail:
Observações:
COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
11/3/2009
10h25min
Comungando aqui com o espírito de Baudrillard, de Huizinga e do Guilherme Montana, pairando sobre o caos da TV. Bom isso aí, Guilherme. Lembro-me de um documentário (que eu vi na TV) sobre o autismo. Mostrava um garoto que fazia um prato rodar no chão e ficava abanando as mãos no ar, olhando fixamente o prato rodando. Se deixassem ele ficava o dia inteiro fazendo isso. Muitas pessoas ficariam o dia inteiro, se pudessem, assistindo ao Big Brother. Acredito que uma mente vazia se agarra a alguma coisa que a preencha, já que não consegue pensar sozinha. Esses reality shows simulam alguma atividade mental (julgar, aferir dados, comparar, sentir alguma coisa) que seu público não é capaz de produzir por si mesmo. E, evidentemente, num nível abaixo de qualquer mínima dignidade. Uma grande massa de autistas olha para o prato que a TV põe para rodar indefinidamente. É uma mina de ouro e a TV sabe disso.
[Leia outros Comentários de Guga Schultze]
11/3/2009
21h16min
Acho uma bela chatice o tal BBB. Parece que as pessoas têm vontade de assistir a filmes de sacanagem e aí assistem esta boba competição. Porque lá tem gente que dorme com o outro, que tira a roupa, que finge transar debaixo da coberta. Isto é estupidez pura.
[Leia outros Comentários de Manoel Messias Perei]
12/3/2009
08h13min
Reality Show: nem os participantes podem chegar a mais e nem a televisão a menos. Trashvisão, para bovinos e voyers em transição para o autismo.
[Leia outros Comentários de Willian]
12/3/2009
11h47min
Nunca vi uma imagem tão fiel como a que o Guga descreveu. É isso mesmo: olha-se o prato rodar indefinidamente na tela colorida da tevê sem expectativa de comer ou saborear alguma coisa, fica-se ali numa hipnose surreal como num culto dos mais habilidosos e satânicos pregadores. É algo que surpreende pelo nada (sem niilismo) e que envolve milhões de seres, estranhos seres. E olha que já me peguei em momentos assim. É inacreditável.
[Leia outros Comentários de Adriana Godoy]
COMENTE ESTE TEXTO
Nome:
E-mail:
Blog/Twitter:
* o Digestivo Cultural se reserva o direito de ignorar Comentários que se utilizem de linguagem chula, difamatória ou ilegal;

** mensagens com tamanho superior a 1000 toques, sem identificação ou postadas por e-mails inválidos serão igualmente descartadas;

*** tampouco serão admitidos os 10 tipos de Comentador de Forum.




Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




A Quinta Onda dos Serviços no Varejo
Marcos Gouvea de Souza
Gouvea de Souza
(2007)



Deuses, Túmulos e Sábios
C. W. Ceram
Melhoramentos
(1972)



Wikinomics Como a Colaboração Em Massa Pode Mudar o Seu Negócio
Don Tapscott Anthony D. Williams
Nova Fronteira
(2007)



Para Viver sem Sofrer
Luiz Antonio Gasparetto
Vida e Consequência
(2004)



Migalhas de Padre Antônio Vieira
Antonio Vieira
Migalhas
(2016)



Tia Julia E O Escrevinhador 594
Mario Vargas Llosa
Folha de S. Paulo
(2012)



Livro Literatura Estrangeira À Primeira Vista Será Que de Fato é Possível Amar Alguém à Primeira?
Nicholas Sparks
Arqueiro
(2012)



Livro Suave É A Noite
Francis Scott Fitzgerald
Nova Cultural
(2003)



Eram Todos Camisa Dez
Luiz Guilherme Piva
Iluminuras
(2014)



Luxúria
Judith Krantz
Record
(1978)





busca | avançada
82868 visitas/dia
1,3 milhão/mês