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COLUNAS

Segunda-feira, 6/12/2010
A geração que salvou Hollywood
Gian Danton
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No final da década de 1960, Hollywood vivia o seu pior momento. Poucos filmes faziam sucesso, muitos estúdios estavam em vias de fechar e o sistema que perdurou durante décadas se revelava um beco sem saída. A venda de ingressos, que em 1946 era de 78,2 milhões de dólares por semana, caíra para 15,8 milhões e estava ladeira abaixo.

Esse sistema permitia, por exemplo, a existência de um diretor quase cego, como Norman Taroug, de Canções e Confusões, com Elvis Presley. Os diretores eram funcionários de luxo que estava no set apenas para garantir que os atores ficassem nos lugares certos quando a câmera começasse a filmar. A maioria dos diretores não podia nem entrar na sala de projeção para ver o corte final.

Era também uma situação que dificultava a inovação. Só dirigia um filme quem já tivesse dirigido um filme. A média de idade nas equipes técnicas era de 60 anos.

Foi justamente nesse período que um grupo de diretores jovens, a maioria amigos, revolucionou a indústria de cinema, com equipamentos novos, mais leves, e a vontade de fazer as coisas de maneira totalmente diferente.

É a história desses revolucionários que Peter Biskind conta no livro Como a geração sexo, drogas e rock'n'roll salvou Hollywood (Intrínseca, 2009, 520 págs.). Biskind é editor-executivo da revista Premiere e editor-chefe da American Film, sendo um famoso crítico de cinema.

O autor conta a história dos filmes, diretores, roteiristas, produtores e atores que formaram a chamada Nova Hollywood usando uma narrativa deliciosa, que vai pulando de um personagem para outro, conforme eles se encontram. Embora vivessem uma guerra de egos, a maioria desses astros eram amigos, ou tão amigos quanto Hollywood permite. Spielberg, Scorsese e Coppola frequentavam as festas na casa de Brian De Palma. George Lucas servia comida nas recepções na casa de Copolla e tinha com ele uma relação pai-filho, inclusive nos seus conflitos...

David Newman, analisando o sucesso de Bonnie e Clyde, filme roteirizado por ele, diz que os personagens foram mortos não porque roubavam bancos ("Ninguém gostava da porra dos bancos"), mas por serem revolucionários estéticos. E provavelmente por colocarem na tela o conflito de gerações que caracterizou toda a década de 1970 e todo o cinema do período.

A mudança estética proposta por Bonnie e Clyde não ficou apenas nas películas, mas em todos os aspectos. Na nova Hollywood, executivos, diretores e produtores trocavam ternos e gravatas por calças boca de sino, colares, cabelos compridos, barba e sandálias. Também mergulhavam nas drogas ― qualquer droga que estivesse na moda, até gás do riso.

Bert Schneider e Bob Rafelson são exemplos disso. Donos da BBS, a mais importante produtora do período, eles pareciam ter caído de outro planeta, mesmo estando ligados à Colúmbia, o mais conservador dos estúdios. Na BBS, as secretárias passavam a maior parte do tempo enrolando baseados para os visitantes.

Poucos filmes sintetizaram, tanto no resultado final quanto na produção, o melhor e o pior da década quanto Sem Destino, de Dennis Hopper.

Hopper era um bad boy odiado pelos estúdios. Costumava ir às festas e, quando via um produtor, o ameaçava perguntando por que não estava dirigindo nenhum filme. Era violento (batia na mulher) e vivia à base de drogas e álcool. Mesmo assim, o ator Peter Fonda o chamou quando teve a ideia de fazer um filme sobre motoqueiros que atravessam o país depois de conseguirem muito dinheiro vendendo cocaína.

Como ninguém queria patrocinar, eles procuraram a BBS, que na época se chamava Raybert. "Esse cara é louco pra caralho, mas eu acredito totalmente nele, e acho que faria um filme brilhante para nós", disse Peter.

Os produtores deram 40 mil dólares de teste para que a dupla filmasse o carnaval de Nova Orleans. A reunião da equipe reuniu um monte de gente cabeluda, todos sentados no chão. Eles não tinham iluminador. Uma garota que não tinha nenhuma experiência na área se ofereceu. "Você quer fazer isso mesmo? Tô curtindo! Você vai iluminar o filme!", responde Hopper, sem se preocupar com o fato de que o iluminador é um dos técnicos mais importantes da equipe.

Eles não tinham roteiro e ninguém sabia exatamente o que filmar, só sabiam que se tratava de uma viagem de ácido. O diretor mantinha consigo sempre duas armas de fogo e gostava de gritar com a equipe, lembrando que o filme era dele. Numa cena no cemitério, Dennis insistiu para que Peter Fonda subisse no colo de Nossa Senhora e falasse sobre o seu relacionamento com a mãe, que havia se suicidado há pouco tempo. Fonda aceitou, mas nunca mais perdoou o diretor e a partir daí virou praticamente um inimigo público do mesmo.

Além de diretor, Dennis fazia Billy e Peter fazia o Capitão América. O terceiro papel, de um advogado que se junta à dupla, deveria ser interpretado por Rip Torn, mas depois de uma briga com o diretor em que os dois quase se mataram, acabou sendo substituído por Jack Nicholson, no seu primeiro papel importante. Em meio a brigas pela autoria do roteiro e muita droga, as filmagens acabaram sendo feitas, mas o filme não ficava pronto. Dennis Hopper era um péssimo montador e não conseguia diminuir para menos de 4 horas. Tiveram que pagar-lhe uma passagem de férias para Laos. Quando voltou, ficou furioso ao descobrir que tinham diminuído seu filme para uma duração normal ("Você arruinou meu filme! Você transformou meu filme num programa de TV!", gritou ele), mas não matou ninguém, de modo que Sem Destino estava finalmente pronto para as salas de cinema.

Mesmo assim, a Colúmbia não queria lançá-lo. Só depois do sucesso no festival de Cannes o estúdio resolveu colocá-lo no circuito. Foi um sucesso estrondoso. O filme custou apenas 501 mil dólares e faturou 19 milhões.

Os donos de estúdios ficaram estarrecidos com a possibilidade de fazer filmes baratos que iriam faturar alto. Qualquer um que aparecesse com uma ideia diferente ganhava a possibilidade de realizar o seu projeto. Se alguém aparecesse querendo fazer um filme sem imagens, eles provavelmente aceitariam.

Foi esse esquema que permitiu o surgimento de nomes como Francis Ford Coppola, William Friedklin, George Lucas, Bob Rafelson, Martin Scorsese, Hal Ashby, Robert Altman, Brian De Palma e Peter Bogdanovich e criou um sonho que duraria quase uma década antes de ser soterrado pela cocaína e pelos orçamentos descontrolados, já que os diretores, longe da ditadura dos produtores, gastavam até não poder mais e chegavam a se dar o luxo de passar o dia se drogando enquanto toda a equipe esperava para filmar ou mandar vir comida da Itália num jatinho enquanto filmavam na selva.

É essa história que Peter Biskind conta com maestria em Como a geração sexo, drogas e rock'n'roll salvou Hollywood, provavelmente um dos melhores livros sobre o cinema norte-americano e seus bastidores.

Para ir além






Gian Danton
Macapá, 6/12/2010

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