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Quinta-feira, 23/6/2011
Doces bárbaros
Elisa Andrade Buzzo
+ de 5700 Acessos


foto: Sissy Eiko

O doce é primórdio, aconchego, agrura, amargura. Objeto contraditório, não deixa de ser uma necessidade importante e banal, pois para satisfazer-se é preciso engendrar artimanhas ou então sucumbir. O doce caminha, assim, ao lado do desejo e da saciedade, do controle e do descontrole. Ele pode ser a perdição, mas no caso das doceiras que conheci é o pão repartido. E essa é uma história que se desvenda aos poucos, entre o passado marcado por uma doceira e o futuro destas jovens doceiras, como se de cada experiência inaugurasse a lei do retorno.

No começo estava a infância marcada por alguma guloseima. Rosquinhas fritas, bolo de chocolate, brigadeiro, bala de açúcar na panela, cocada... Quantas festinhas infantis e tardes entre as "lições de casa" e a Sessão da Tarde não são rememoradas a partir de um gosto especial, algum cheiro que diretamente lhes remete? Tempos claros e despreocupados.

Meus livros de receitas preferidos eram os de doces, claro, infantil paladar a sonhar com bolos em forma de coelho, beijinhos com rosto de ursinho, uma mousse tricolor decorada com bolinhas de gude. E, também, algo além do gosto e da vontade imediata: como fazê-los? Aquela literatura culinária poderia se transformar em algo material, e bom, tal como nas fotos ilustrativas. Não me parecia possível (e ainda não me parece que eu consiga fazer) uma dúzia de palavras e verbos imperativos resultar em algo bonito e comestível. Havia alguma mágica em quem conseguisse construir aquilo?

Assim, há certa arte nas doceiras. E o encontro de um grupo bem específico de algumas delas, as Doceiras Twitteiras, em que fui no final de maio deste ano a convite da Michele Pazo, me fez pensar na relação que se tem com o doce, o desejo, e lembrar a primeira doceira que conheci. Da mesma forma, me levou a tecer aproximações e comentários acerca de seus novos tempos, estes marcados pelo contato virtual e, por que não, mais do que nunca, a vontade do real.

"Todo mundo tem uma boa lembrança relacionada a algum doce. Resgatar esse sentimento nas pessoas é mágico e muito compensador", me fala a Luciana D'Agosto, que me recebeu no II Encontro de Doceiras Twitteiras(!) na Casa Tcheca, diante de um grupo de mais de quarenta jovens doceiras que curiosamente se conheceram pelo Twitter e, partir daí, criaram uma rede de relacionamentos entre si e negócios. Elas trocam ideias, fazem parcerias e, principalmente, da amizade virtual surgiu a real e os animados encontros em que trazem suas principais criações.

Daquela alegria em torno do doce emergiram recordações, algo que o tempo trata de ir escondendo sob o peso dos acontecimentos e das palavras diárias, mas que ressurge bastando um sopro, um cheiro, uma cena. Disseram-me que minha primeira gata, a Hanna, gostava de comer os biscoitos de amêndoas da Dona Weiss. Não seria de se estranhar, os biscoitos de meia-lua, como chamávamos, eram uma sensação ― acabava em pouco tempo o pacote embrulhado em papel cor-de-rosa. A Dona Weiss era uma doceira que conheci já velhinha, na minha infância passada no Bom Retiro, e fazia diversas especialidades húngaras, dentre elas uma torta de maçã que, apesar de nunca mais ter experimentado, ficou na minha memória como algo mítico que possa talvez até não ter existido.

Enquanto ela ressurge em mim quando estive em sua casa e conheci sua cozinha, as altas prateleiras com vasilhas e a batedeira planetária Arno, agora vejo estas tantas doceiras trocando figurinhas, prestes a começar a degustação de suas especialidades. A Luciana levou trufas e brigadeiros de pistache, a Carolina Gadelha trouxe os cupcake bites, a Flávia Cox diversos sabores de cupcakes, a Monise Tonoli fez cupcakes decorados com um passarinho azul lembrando que o encontro era de twitteiras, a Andréia Scharwz veio com bisnagas de brigadeiro e um bolo para comemorar o segundo ano do encontro. Eram muitos os docinhos, bem-casados, cookies, pães de mel, numa profusão de rosas, azuis e marrons. Cada doceira orgulhosa de sua cria ajeitava com capricho a mesa principal. E eu na expectativa de conhecer tudo, saber dos recheios e das coberturas daquele mundo de era uma vez. Agora era só aguardar o momento de dividir, experimentar, exceder, relembrar.

E se o gosto ainda está forte na boca o que se espera a não ser sua continuidade? Pelo contrário: merecemos uma distância diante dos acontecimentos. Por isso, em algum momento me afastei da mesa repleta, dos flashes e do rumor de conversa animada e me dirigi aos fundos da casa, onde um bonito jardim se abria a céu aberto. Deixei para trás a infância de gosto amendoado, constatei o amor do trabalhar e do compartilhar o doce. Aquelas mulheres estavam ali, reunidas, com uma alegria boa a discutir, elogiar a beleza e a doçura e trocar experiências. E imaginei que aquele encontro se concretizava a partir de uma vontade maior, assim como tantos outros que se lançam ardentes, indecisos, nunca forçados. Isso porque o encontro pressupõe um afã em criar laços, lança a oportunidade de reaver as respostas, tecer perguntas, sugere, enfim, um diálogo. Restava entender que eu estava mais uma vez do lado de cá da bancada, admirando e experimentando coisas que o mundo proporciona. Uma pequena cascata esvai-se na piscina azul pálida de outono. O dia se estende e ainda é novo. Todo encontro é cristalino. E os doces gestos ou as intermitências silenciosas são os que dizem mais?


Elisa Andrade Buzzo
Lisboa, 23/6/2011

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