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Terça-feira, 22/5/2012
Arte versus Escola
Jardel Dias Cavalcanti
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O sistema educacional jamais viu a arte com bons olhos. Diferente do respeito que é atribuído às disciplinas que, se pressupõe, ensinam o verdadeiro conhecimento (matemática, física, química, biologia, geografia, língua portuguesa etc), a arte é tratada pela escola como uma espécie de cultura inferior.

Não é raro ver professores de arte sendo usados pela escola para fazer bandeirinhas de festa junina, ovos da páscoa, cartazes para o dia das mães, etc. Além dessa função utilitária, as aulas de arte são confundidas com espaços para a bagunça, a gratuidade, o insensato. Reduz-se assim o lugar e a importância do professor de artes a algo caricato, chegando-se a anular sua responsabilidade na formação dos alunos e na qualidade emocional e espiritual de suas existências.

Por trás dessa atitude negativa de nossa cultura em relação à importância da arte para a vida (e não apenas para se passar no vestibular), encontra-se um preconceito arraigado no Ocidente, que se traduz na ideia de que o pensamento racional seja a principal forma, se não a única, de entender o mundo.

Vou voltar a esta questão, mas antes vale a pena traçar um mapa da rejeição da arte.

A relação entre arte e sociedade nunca foi boa. Desde o décimo livro da República, de Platão, a arte é relacionada à mentira, pois, segundo o filósofo, ela imita a aparência, sendo cópia da cópia, estando, por isso, a três longos passos da verdade. Mas como é impossível que se impeça alguém de nascer poeta, Platão vai sacrificar severamente os direitos do artista às exigências da sociedade, ameaçando de expulsão da cidade aqueles artistas que não empregarem apenas os meios necessários aos bons modos da República. Platão deseja que o Estado use a arte para modelar a alma dos seus cidadãos, por isso o trabalho artístico deve, segundo ele, ser supervisionado e controlado. Do contrário, é melhor que não exista.

O medo de Platão em relação à arte é justamente o medo daquilo que faz a virtude da arte: a sua capacidade de ser um objeto de fruição que independe do intelecto ordenador. Como disse Edgar Wind, "o que parece a Platão ser realmente perigoso no que toca à criação e fruição artística, o que faz disso a antítese da reflexão filosófica, é a supressão da autoconsciência na ação do momento, a completa identificação com o objeto representado".

Por isso, o veredito de Platão é de que quanto mais a arte desenvolve nossas aptidões estéticas só pelo que são, mais ela destrói nossa aptidão para a moral e a lógica.

Foi preciso uma longa discussão e revisão desses preceitos platônicos para que a arte viesse a ocupar um lugar de importância no pensamento ocidental. Inicialmente, com a "Estética" de Baumgarten, depois com a ideia de autonomia moral da arte por Kant ("o gozo estético é um prazer desinteressado" e "belo é o que agrada independente de um conceito"), depois com "A educação estética do homem", de Schiller e sua defesa da arte como criação e vivência lúdica, e ainda com as "Defesas da poesia", de Shelley e com a "A dimensão Estética", de Herbert Marcuse, que procura desenvolver uma crítica ao sistema desumanizador do capitalismo ocidental através da crítica da alienação por Marx, a crítica à repressão por Freud e a defesa da arte como espaço do lúdico e da liberdade via Schiller.

Essas obras afirmaram de alguma maneira o pressuposto de um conhecimento que é inerente à arte e que prescinde da razão ou do intelecto, fazendo dela um lugar para a experiência da liberdade.

Voltando à questão da imposição ocidental de um conhecimento pragmático e suas consequências na rejeição da importância da arte, pode-se dizer que na arte se passa o contrário do que se exige na formação escolar. Em arte, é a experiência, no qual a obra de arte é o único veículo de comunicação, sem o intermédio da palavra, o instrumento primordial do conhecimento.

A arte é uma forma de conhecimento, embora muita gente ainda ache que não. Isso se deve ao fato de que o conhecimento é geralmente interpretado como representando um entendimento intelectual adquirido por meios verbais ou racionais. Imagina-se que sem informação, aprendizagem e estudos não se produza conhecimento. Na arte, entretanto, o conhecimento se dá, é processado e se propaga de forma diferente, às vezes até independente de respostas intelectuais, pois deriva mais de intuições e da emoção do que da razão.

Ao contrário do que se pensa, que a cognição humana depende unicamente da habilidade do homem em usar a linguagem escrita ou falada, na arte é justamente a ausência do primado verbal/informacional que possibilita um entendimento não pragmático da vida e do mundo.
O que o artista quer é que a obra de arte seja uma experiência profunda da vida e não apenas um entendimento dela por meio de um processo intelectual. O mesmo se quer do espectador, que mergulhe numa experiência onde a razão naufragou, a lógica foi abandonada e onde o sensível (uma tela, para apreciadores da arte, é tocada por olhos que são verdadeiros dedos) comunica seu sentido independente de formulações apriorísticas da inteligência racional.

Dentro desse quadro, torna-se assustador para um sistema que prima pela funcionalidade e pelo pragmatismo de tudo receber a arte, esse objeto inutilitário, de braços abertos.

A arte produz, com a poesia que lhe é inerente, a desconstrução de todos os códigos estabelecidos, reanima corpos mortos, reativa energias represadas, dissolve visões reducionistas da existência. Como disse Gregory Battcock, "a insegurança, a intolerância, o reacionarismo, são incompatíveis com a apreciação da arte".

O que a escola deveria aprender é que o homem completo precisa da inteligência para sobreviver, mas que precisa da arte para se reconhecer enquanto ser destinado à liberdade.

Segundo palavras de Luccy Lippard, "a arte em si é irrelevante. Comparado com o mundo dos cortiços, guerras e prisões, o mundo da arte é um mar de rosas. Criar arte não muda necessariamente o mundo, mas um mundo sem arte, ou sem o desejo de se fazer arte, ou sem a necessidade de qualquer espécie de atividade artística, seria, realmente, um mundo sem esperança".

Não é certo que a escola não precise da arte, mas o contrário é certo, a arte não precisa da escola.

Termino parafraseando Simone Weil: a extrema atenção é o que constitui a faculdade criativa do homem e a única atenção extrema é a da arte.


Jardel Dias Cavalcanti
Londrina, 22/5/2012

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