Primórdios da exploração do tabuleiro | Carla Ceres | Digestivo Cultural

busca | avançada
55671 visitas/dia
2,1 milhões/mês
Mais Recentes
>>> Festival da Linguiça de Bragança celebra mais de 110 anos de seu principal produto, em setembro
>>> Rolê Cultural do CCBB celebra o Dia do Patrimônio com visitas mediadas sobre memória e cultura
>>> Transformação, propósito, fé e inteligência emocional
>>> Festival de Inverno de Bonito(MS), de 20 a 24 de agosto, completa 24 anos de festa!
>>> Bourbon Street Fest 20 Anos, de 24 a 31 de agosto, na casa, no Parque Villa Lobos e na rua
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> Ozzy Osbourne (1948-2025)
>>> Chegou a hora de pensar no pós-redes sociais
>>> Two roads diverged in a yellow wood
>>> A dobra do sentido, a poesia de Montserrat Rodés
>>> Literatura e caricatura promovendo encontros
>>> Stalking monetizado
>>> A eutanásia do sentido, a poesia de Ronald Polito
>>> Folia de Reis
>>> Mario Vargas Llosa (1936-2025)
>>> A vida, a morte e a burocracia
Colunistas
Últimos Posts
>>> Into the Void by Dirty Women
>>> André Marsiglia explica a Magnitsky
>>> Felca sobre 'adultização'
>>> Ted Chiang sobre LLMs e veganismo
>>> Glenn Greenwald sobre as sanções em curso
>>> Waack: Moraes abandona prudência
>>> Jakurski e Stuhlberger na XP (2025)
>>> As Sete Vidas de Ozzy Osbourne
>>> 100 anos de Flannery O'Connor
>>> O coach de Sam Altman, da OpenAI
Últimos Posts
>>> Jazz: música, política e liberdade
>>> Política, soft power e jazz
>>> O Drama
>>> Encontro em Ipanema (e outras histórias)
>>> Jurado número 2, quando a incerteza é a lei
>>> Nosferatu, a sombra que não esconde mais
>>> Teatro: Jacó Timbau no Redemunho da Terra
>>> Teatro: O Pequeno Senhor do Tempo, em Campinas
>>> PoloAC lança campanha da Visibilidade Trans
>>> O Poeta do Cordel: comédia chega a Campinas
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Da decepção diante do escritor
>>> Tapa na pantera e a casa do lago
>>> A Garota de Rosa-Shocking
>>> Ofício da Palavra (BH)
>>> Nerd oriented news
>>> Para você estar passando adiante
>>> O fim (da era) dos jornais, por Paul Starr
>>> Macunaíma, de Mário de Andrade
>>> Anos Incríveis
>>> Risca Faca, poemas de Ademir Assunção
Mais Recentes
>>> Eneida de Vergílio pela Cultrix (2003)
>>> Diário de Uma Paixão de Nicholas Sparks pela Novo Conceito (2011)
>>> Inocência de Visconde De Taunay pela Martin Claret (2004)
>>> Fisiologia Da Alma de Médium: Hercílio Maes / Ditado Por: Ramatís pela Do Conhecimento (1998)
>>> O Simbolo Perdido de Dan Brown pela Arqueiro (2009)
>>> O Roubo Do Enem de Renata Cafardo pela Record (2017)
>>> Livro O Cavaleiro Da Estrela Guia A Saga Completa de Rubens Saraceni pela Madras (2015)
>>> Extração De Brasileiros Da Costa Do Marfim de Lorival De Souza Lima Junior pela Editora Eficaz (2025)
>>> Livro Rodin de Rainer Maria Rilke pela Relume Dumará (1995)
>>> Menino De Engenho de Jose Lins Do Rego pela Jose Olympio (2013)
>>> Para Ler Pato Donald de Ariel Dorfman e Armand Mattelart pela Paz e Terra (1978)
>>> Livro Manual Do Líder de Napoleão Bonaparte pela L&pm (2010)
>>> O Feudalismo de Hilário Franco Junior pela Moderna Paradidático (1999)
>>> Interpretando A Vida de Thiago Mesquita pela Ibrasa (2003)
>>> Nao Se Esqueçam Da Rosa de Giselda L. Nicolelis pela Saraiva (2002)
>>> Conan, O Aventureiro nº 2 de Roy Thomas; Rafael Kayanan pela Abril Jovem (1996)
>>> 1964: O Golpe Que Marcou a Ferro Uma Geração de Barnabé Medeiros Filho pela Nova Alexandria (2014)
>>> Sherlock Holmes - O Cão Dos Baskerville de Sir Arthur Conan Doyle pela Camelot (2021)
>>> As Cruzadas de Hilário Franco Junior pela Moderna (1999)
>>> Telepsiquismo: como alcançar a vida perfeita de Joseph Murphy pela Record (1973)
>>> Manifesto Do Partido Comunista 1848 de Marx & Engels pela L&pm Pocket
>>> O Santo Inquérito de Dias Gomes pela Ediouro (1999)
>>> Livro Império Romano de Patrick Le Roux pela L&pm (2010)
>>> A Gente Mira no Amor e Acerta na Solidão de Ana Suy pela Paidós (2023)
>>> Para Compreender Jean Piaget - Uma Iniciação À Psicologia Genética Piagetiana de Jean-marie Dolle pela Zahar (1975)
COLUNAS

Quinta-feira, 15/8/2013
Primórdios da exploração do tabuleiro
Carla Ceres
+ de 3700 Acessos

Um dia, despertamos sobre um imenso tabuleiro de jogo. Percebemos que éramos muitos e estávamos perdidos sem saber de onde vínhamos ou para onde íamos.

Nem todos despertaram ao mesmo tempo. Na verdade, muitos dormem até hoje, enquanto se encarregam de sobreviver como os outros animais. A lida não lhes dá tempo para indagar sobre essências e transcendências. Várias palavras lhes faltam e, na ausência delas, a capacidade de raciocínio abstrato mal se desenvolveu. Sim, eles andam, falam, procriam, trabalham, sofrem e reagem sempre do mesmo jeito. Pensam sem refletir e prosseguem sonâmbulos.

A natureza nos programou para despertar e refletir sobre o mundo, logo que o jogo da vida nos desse uma folga. Por isso, talvez os primeiros a tentar entender as regras do tabuleiro tenham sido os humanos fisicamente mais fracos ou enfermiços, que ficavam à margem da luta cotidiana. Credito a eles as pequenas invenções que facilitam o dia a dia. Da mesma forma, uma certa hipersensibilidade emocional parece necessária aos artistas, cuja missão é alertar-nos sobre as complexidades do jogo e as dimensões ocultas do tabuleiro.

Somos primatas, vivemos em bando. As sábias palavras de um iluminado sozinho no meio da floresta não aprimoram em nada nossa sociedade. Até os sonâmbulos são mais úteis do que os egoístas despertos, que buscam a salvação individual. Por milênios, fomos todos sonâmbulos e, mesmo nesse estado, aprendemos muito. Descobrimos que animais de determinadas cores costumam ter peçonha; que certas plantas e suas semelhantes têm veneno; que quem nos fita com o cenho franzido está prestes a atacar. Esse tipo de conhecimento precedeu as palavras e agora faz parte de nossa programação básica, vem de fábrica. Bebês nascem com sistema de reconhecimento facial pronto para entrar em ação quando receberem estímulos suficientes. Sorria para eles, de preferência um sorriso bem exagerado, e eles sorrirão de volta. É automático e funciona nos dois sentidos. Um ser humano que não sorri de volta para um bebê tem algum problema. Olhar zangado e testa franzida produzem o efeito contrário, assustam bebês e geram apreensão em humanos adultos e cães. Sim, os cães, nossos companheiros de longa data, são mestres no reconhecimento de nossas expressões faciais. Aprenderam com a convivência.

Geopoeticamente falando, o primeiro conhecimento sobre nossa localização pode ter sido: Aqui é um lugar que muda à medida que se anda. Antes havia apenas a sensação de que ali é onde mora o outro e lá longe fica o desconhecido. Por temor ao desconhecido, precisamos conquistar o lá longe, transformá-lo em algo familiar. Assim começamos a mapear o tabuleiro. Procuramos suas bordas, descobrimos que era redondo. Continentes deixaram de ser lá longe. A Lua agora é logo ali. O espaço-tempo pode ser curvo e ir além das dimensões conhecidas.

Com tanto desconhecido à solta, fica difícil dormir. A cada dia, mais pessoas se dedicam a desbravar algum campo de conhecimento ou a exercer atividades beneficentes. O ideal de seres humanos vivendo em harmonia, sem fome ou sofrimento se expandiu e, para alguns de nós, deve incluir os animais. Se esse pensamento vingar, as formas de vida alienígena que encontrarmos terão muito a agradecer porque, depois que nossos cientistas as dissecarem, poderão ficar em paz. Isso se não mudarmos de ideia de repente e resolvermos demonizá-las.

Acontece que duas crenças perigosas nos acompanham desde a infância. A primeira é que, se fizermos tudo certo, a vida vai ser tranquila e o mundo, aconchegante como o colinho da mamãe. A segunda é que tudo de errado é nossa culpa ou, pior, culpa daquelas pessoas malignas que discordam de nós. Não conseguimos aceitar que coisas ruins acontecem aleatoriamente a qualquer um.

Quando eu tinha sete anos, um tio me ensinou a jogar xadrez. No mesmo dia, ensinei meu irmão mais novo e jogamos nossa primeira partida juntos. Aos quatro anos de idade, ele queria que o jogo se estendesse para fora do tabuleiro. Mais exatamente, queria que existisse um jogo paralelo dentro da caixa de papelão onde deixávamos as peças "mortas" na partida. Resolvi concordar porque, caso contrário, ele começava a roubar para manter suas peças "vivas".

É tentador e reconfortante acreditar que o jogo continua após a morte. Se o tabuleiro tem tantas dimensões, por que não mais essa? Que mal faz acreditar em uma vida melhor onde a justiça prevaleça? Na minha opinião, mal nenhum desde que isso não se transforme em uma canção de ninar e nos leve a passar pela vida como sonâmbulos.

Nota do Editor
Carla Ceres mantém o blog Algo além dos Livros. http://carlaceres.blogspot.com/


Carla Ceres
Piracicaba, 15/8/2013

Quem leu este, também leu esse(s):
01. Bruxas no banheiro de Marta Barcellos
02. Ciclones sobre a cruz de Guga Schultze
03. Erotismo, sensualidade e literatura de Marcelo Spalding
04. Um raio-x da violência de Fabio Silvestre Cardoso
05. Presente Brasileiro de Héber Sales


Mais Carla Ceres
Mais Acessadas de Carla Ceres em 2013
01. Histórias de gatos - 4/4/2013
02. Um livro canibal - 9/5/2013
03. Em busca de cristãos e especiarias - 7/11/2013
04. Autodidatas e os copistas da vez - 7/2/2013
05. Brasileiros aprendendo em inglês - 17/1/2013


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site



Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Maori Myths and Tribal Legends (second Edition)
Antony Alpers
Longman
(1998)



Era uma Vez... o Corpo Humano: o Sistema Imunológico
Vários Autores
Globo / Planeta
(1995)



Pincéis do Passado
Cotrim, Selma
Lúmen
(2011)



Pra Você... Cartas de um Deus de Amor
Sueli Regina
All Print
(2016)



Buckling of Offshore Structures: a State-of-the-art Review
C P Ellinas, W J Supple, a C Walker
The Stationery Office Books
(1984)



Tudo Que Eu Queria Te Dizer
Martha Medeiros
Objetiva
(2007)



Meus Pais se Separaram e Agora 600
Cynthia MacGregor
Novo Século
(2003)



Manual Básico de Eletrônica
L. W. Turner
Hemus
(2000)



Marilia de Dirceu (Coleção Grandes Obras 6)
Tomás Antônio Gonzaga
Escala
(2006)



Política e Rebelião nos Anos 30
Marly Vianna
Moderna
(1995)





busca | avançada
55671 visitas/dia
2,1 milhões/mês