O jornalismo na fervura | Marta Barcellos | Digestivo Cultural

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Sexta-feira, 20/9/2013
O jornalismo na fervura
Marta Barcellos
+ de 3100 Acessos

Imagine a compra do Washington Post pela Amazon e multiplique por dez. Foi mais ou menos assim o susto quando a AOL comprou a Time Warner, no finzinho de 1999. Eu estava de licença maternidade e o excesso de hormônios talvez explique o meu primeiro delírio em relação à revolução da internet: achei que precisaria mudar de área de atuação quando retornasse ao jornal onde trabalhava.

Na época, eu cobria o setor de shopping centers, supermercados etc, e por alguns dias fiquei convicta de que todo o comércio físico fecharia as portas por causa das vendas online. As pessoas só comprariam - tudo - pela internet. Para me manter atualizada, entre fraldas e mamadeiras, corri ao computador para fazer minhas primeiras - e únicas - compras de supermercado pela internet.

A fusão AOL-Time Warner se revelaria um fiasco, mas isso é outra história. Ou melhor, faz parte dos altos e baixos dos quais vou falar em seguida. De qualquer forma, faz sentido eu me lembrar hoje desse episódio, porque eu trabalhava em um jornalão de economia quebrado e orgulhoso de sua isenção (era o único veículo que não aceitava convites/jabás para fazer as reportagens do caderno de turismo). Excitada com as possibilidades da internet, achei que os supermercados iam acabar, mas não usei o mesmo raciocínio para fazer previsões sobre jornais.

De lá para cá, confesso que me precipitei em muitas previsões sobre impactos tecnológicos, intercalando excitações e ceticismos exagerados com alguns poucos acertos. Por exemplo: eu odiava celulares e achei uma bobagem quando apareceram os primeiros com câmeras. Aquilo não ia "pegar", repeti várias vezes. Mas aderi de primeira hora aos smartphones, embora muitos rissem do meu "tijolão" (um Moto Q com tecnologia CDMA, mais rápido para navegar na internet do que o Blackberry. Não havia iPhones).

Essas reflexões me vieram à mente quando assisti pela primeira vez a uma cobertura feita pela Mídia Ninja. Helicópteros sobrevoavam o meu bairro e eu esperava em vão as imagens que estavam sendo feitas pela Rede Globo ir ao ar, e nada. Zapeava os canais na TV, e nada. Enquanto isso, pelo Facebook instalado no meu iPhone, surgiam de novo aqueles links para a transmissão ao vivo feita pela tal Mídia Ninja. Sem muita convicção - achei que precisaria estar num computador -, cliquei. E surgiram ali com nitidez as imagens da passeata contra o governador Sérgio Cabral.

Eu tinha voltado há pouco da manifestação, que acontecia na frente do prédio do governador, e reconheci naquelas imagens a evolução do clima que tinha visto pessoalmente. Era como seu eu estivesse lá, ainda. Já quando a Globonews finalmente entrou no ar com as imagens do protesto, uma hora depois, apenas com imagens aéreas e uma narração cheia de informações equivocadas - a apresentadora paulista, visivelmente exausta, por duas vezes disse que o Leblon era um bairro chique da zona sul de ... São Paulo! - fiquei revoltada. Aquilo, no mínimo, não era bom jornalismo.

No Facebook, meus amigos e conhecidos do Rio percebiam a mesma coisa, indignados. De madrugada, excitada com tudo aquilo que estava acontecendo, eu não conseguia dormir e pensei: esse será o novo jornalismo. Tudo se encaixava: a crise nas empresas jornalísticas, o barateamento dos meios necessários para se produzir jornalismo, os novos parâmetros de credibilidade (um tanto flexíveis) já aceitos na internet (ninguém acha problema compartilhar um texto do Jabor com a ressalva de que talvez não seja dele).

Claro que não é bem assim, pude constatar com calma alguns dias depois. Naquela noite, juntando os efeitos da insônia à minha indignação contra Cabral e contra a cobertura da Globo, eu tinha vivido um daqueles delírios em torno das transformações radicais que são causadas pela internet. Mas que alguma coisa tinha mudado na minha cabeça, depois da experiência de assistir àquela primeira cobertura Ninja, lá isso tinha.

Não me arrisco hoje a previsões. O jornalismo tradicional pode nunca acabar, como não acabou quando surgiram os blogueiros (lembram da guerra jornalistas X blogueiros?), como sabemos que não acabarão os shoppings e supermercados. Mas acho natural que pessoas que se empolgam - ao invés de resistir - com inovações tecnológicas vivam esses momentos bipolares. Até as empresas embarcam em ondas assim - e, entre uma bolha e outra, um novo patamar de comportamento realmente se estabelece, mudando definitivamente o mercado.

Enquanto não se estabelece, sempre há aqueles que apostam naquela novidade (o mídia ativismo dos ninjas, por exemplo) como a melhor das revoluções, algo que vai beneficiar a humanidade, enquanto outros se mostram sinceramente preocupados com os perigos daquela mudança radical. Sempre existem interesses por trás, sempre existem vencedores e perdedores, quando um novo patamar de comportamento se estabelece de forma implacável.

Talvez por isso toda a discussão sobre o jornalismo (ou o não jornalismo) da mídia Ninja tenha se desviado para a experiência dos "fora do eixo" no campo cultural, aparentemente dez anos na frente do que ameaça acontecer com os jornais. Quem ganhou e quem perdeu, com a revolução que aconteceu de forma rápida e implacável na distribuição da música, por exemplo? Mas será que no jornalismo as mudanças serão tão rápidas e implacáveis?

Há uma velha história no mundo corporativo usada como metáfora do nosso comportamento diante de mudanças, sobre uma experiência feita com sapos. Se você colocar um sapo num recipiente, com a mesma água de sua lagoa, e aquecer aquela água, o sapo simplesmente não notará a mudança. Ficará ali quietinho e feliz, enquanto é fervido. Morre. Já se você colocar o sapo nesse recipiente com a água já fervendo, ele salta imediatamente para fora. Se queima um pouco, mas sobrevive.

Aos jornalistas que estão no olho do furacão das transformações tecnológicas: vale a pena ficar atento à temperatura da água.

Nota do Editor:
Leia também "Mídia Ninja coloca o Eixo em Cheque", de Humberto Pereira da Silva, e "Passe Livre, FdE e Black Blocs - enquanto Mídia", de Duanne Ribeiro.


Marta Barcellos
Rio de Janeiro, 20/9/2013

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