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Terça-feira, 25/11/2014
O irmão alemão, de Chico Buarque
Jardel Dias Cavalcanti
+ de 4100 Acessos

Desde Estorvo, seu primeiro romance, Chico Buarque vem mesclando fantasia e realidade nas suas criações literárias. Também aspectos biográficos (ligados ao eu do artista ou à sua inserção na história do Brasil) compõem grande parte do que ele escreve (e mesmo no âmbito de suas canções pressentimos o mesmo tipo de presença). Não é diferente agora em seu novo romance, denominado O irmão alemão, que a Companhia das Letras acaba de lançar.

O novo livro parte da ideia da existência de um irmão de Chico Buarque, concebido por seu pai, o grande historiador Sergio Buarque de Hollanda, no período de sua juventude vivida na Alemanha, antes de se casar com a mãe do escritor. Além do irmão alemão, o autor decide explorar a relação que tem com o próprio pai, um escritor preso à sua biblioteca, ausente de contatos amistosos com o filho, mas para quem ele é uma figura central e, principalmente, misteriosa.

Não só dos elementos acima citados vive o romance, onde aparecem vários fatos ligados à história pessoal do próprio autor, suas aventuras afetivo-sexuais, suas preferências literárias, sua relação com o aparecimento da ditadura militar e a morte do pai. Chico Buarque, em sua escrita sempre delirante (como em Leite Derramado e Estorvo, principalmente), pratica uma espécie de literatura que concebe o real como fantasioso e o fantasioso como real. Nessa transmutação de significados, os leitores passam a confundir os dois polos das existências descritas. A velocidade da escrita/narrativa, sem muita descrição subjetiva dos fatos, ajuda a pensar o próprio correr do tempo de uma vida que se forma dentro e fora dos personagens, não sendo uma mais importante que a outra. E é essa capacidade de criar a dimensão cruzada de forças interiores e exteriores que faz de Chico um grande narrador.

O crítico literário Alcides Villaça, em artigo no Estadão sobre O irmão alemão, chamou esse tipo de literatura de "romance de imaginação autobiográfica", o que talvez traga um parentesco com a literatura de outro escritor contemporâneo: Marcelo Mirisola. De fato, nos dois escritores os aspectos pessoais da existência e os aspectos da criação literária não se separam, sendo como dois átomos trombando um no outro e, com a energia que daí deriva, é que se fertiliza a escrita que sustenta a arquitetura dos romances que criam.

Ao ler o romance de Chico Buarque sentimos que estamos sendo levados para uma espécie de parque de diversão, onde o drama não deixa de existir, mas onde o humor é quem se apresenta com mais força na constituição dos encontros e desencontros dos personagens. Não só a presença do pai, da mãe, dos amigos e do irmão namorador, como também as fantasias que o autor cria em torno do irmão alemão são colocados sempre na clave divertida de uma aventura detetivesca, misto de farsa e realidade documentada, forjando os elementos propulsores da história.

Mesmo não deixando de lado a História - a descrição da violência dos corpos sob tortura no regime militar e a invasão de privacidade, por exemplo, e até a aproximação da ditadura com o nazismo- o peso a ela atribuído tem certa leveza, talvez a de quem se libertou dos ressentimentos do passado, ou de quem a descreve a partir de uma lembrança tão distante que faz dela uma fantasia em dó menor.

O que importa de fato para Chico Buarque é sua qualidade de escritor, ou seja, a do sujeito que fabrica uma fantasia através da linguagem e para quem a linguagem é o meio mais eficaz de se aproximar do "real". E que sabe que o real, quando tornado elemento literário, merece sempre as aspas com que a literatura o adorna.

Dentro de uma clave musical, podemos dizer que o romance de Chico Buarque é uma "fantasia". E aqui recorremos ao Dicionário Grove de Música, que define "fantasia" como uma composição em que a imaginação do compositor tem precedência sobre os estilos e formas convencionais. Então, se o real se apresenta, sobre ele o autor cria uma sucessão de acontecimentos, pequenas peças livres, guiadas por estados imaginativos tão importantes quanto a reconstrução documental dos fatos. E se os documentos querem falar, poderão falar, mas sob o tom maior da inventividade do autor. Afinal, para ser uma obra literária uma narrativa precisa ir além do real e se tornar um produto da rainha das faculdades humanas, a imaginação.

E Chico Buarque, apesar do peso que sua própria história comporta dentro da História do Brasil, sempre soube nos embalar com criações que vão além do tempo datado dos fatos históricos. E este romance, O irmão alemão, que é um romance também sobre livros, mostra que grande leitor ele foi para depois se tornar o grande escritor em que tem se transformado.


Jardel Dias Cavalcanti
Londrina, 25/11/2014

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