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Quinta-feira, 6/4/2017
Aquarius, quebrando as expectativas
Guilherme Carvalhal
+ de 5100 Acessos



Apesar de ter sido posto como um filme sobre uma mulher lutando contra um projeto para demolir o prédio onde vive, em um típico embate de Davi contra Golias, Aquarius, o notório filme de Kleber Mendonça Filho ovacionado no Festival de Cannes que bateu na trave para ganhar a Palma de Ouro, vai muito mais longe do que o mero apelo a um modelo de narrativa que tende a cativar o público, a do mais fraco superando o mais forte. Trata-se de uma minuciosa leitura da vida da personagem principal e todas as suas correlações, tendo seu confronto para manter seu apartamento como eixo condutor.

Toda a história gira em torno de Clara, uma jornalista e escritora de classe média que tem a música como sua maior paixão. Sua coleção de disco é volumosa e chama a atenção até mesmo da imprensa. Entrevistada sobre seu gosto por mídias físicas por um jornal, ela diz que ouve MP3 e streaming, mas que prefere vinil.

Esse pequeno detalhe é algo corriqueiro durante todo o filme, a de quebrar por completo as expectativas formadas no expectador. Ao vermos o equipamento de som antigo e as estantes cheias de discos, somos levados a crer em uma pessoa de perfil retrógrado, crença quebrada de imediato. Isso acontece em vários momentos, como no começo do filme, em que vemos um carro estacionar na praia à noite e pensamos em alguma transgressão, mas não passa de um momento de lazer. Ou então quando uns garotos chegam na praça durante uma aula de ioga, indicando que vão cometer alguma transgressão, mas se juntam a essa aula.

Clara vive em um apartamento à beira-mar, frequentemente passeando pela orla. É conhecida e sempre passa uma visão de respeito a todas as pessoas, como o salva-vidas da praia. Tem uma vida padrão para classe média, residindo bem, com segurança financeira, filhos adultos e criados. Além disso, guarda a marca de um câncer de mama que enfrentou em 1980, tendo um dos seios retirados.

Esse padrão de vida no qual ela está inserido começa a ser abalado quando recebe a proposta de uma construtora para vender seu apartamento. O plano é simples, comprar todos os apartamentos, derrubar e construir um prédio novo no lugar. Apesar do valor proposto pela construtura ser bem acima do de mercado, Clara recusa, vendo todos os seus vizinhos aceitando até ela permanecer como única moradora.

Sua recusa leva ao estouro de uma série de problemas em sua relações. A principal delas é a familiar. Em um almoço, seus dois filhos e sua filha levantam a questão e a questionam por não aceitar o valor oferecido pela construtora. Aqui, evidencia-se o distanciamento familiar: um dos filhos mal aparece, a filha se coloca como alguém em problemas financeiros após o divórcio e que precisa da ajuda da mãe e o outro filho não apresenta seu novo namorado. Ao mesmo tempo, Clara alimenta enorme proximidade com seu sobrinho, com quem divide o mesmo gosto por música e o mesmo temperamento desprendido, de quem o prazer e a arte trazem a satisfação da vida. Enquanto os filhos são fonte de problema, o sobrinho é fonte de amor e apoio.

A principal manifestação das ações da construtora se figura através de Diego, o rapaz que está planejando derrubar o prédio. Os embates entre ele e Clara são a principal mostra do conflito, que aqui claramente colocam os dois em polos opostos. Diego é jovem, Clara está entrando na terceira idade, Diego é materialista, Clara é desprendida, Diego é sonso e dissimulado, Clara é autêntica e desbocada. A relação dos dois, que de início se mostrar cordial, ao pouco se torna densa. E aqui reside o principal ponto negativo da obra.

Essa dicotomia quebra toda a sofisticação da realidade de Clara para entrar em um lugar comum. Diego é a encarnação do capitalismo selvagem que quer destruir o pequeno recanto dela. Ele diz que fez um curso de três anos nos Estados Unidos, e é o tipo de informação que soa como demonizante. Ele chega de carrão, e Clara tem um carro velho. O rapaz chega a fazer alusão à cor da pele de Clara, fortalecendo uma imagem de racista. São meros instrumentos para alavancar algo ao estilo “a burguesia fede”.

A premissa de um embate do fraco como o forte serve perfeitamente para o desenrolar dessa narrativa de Clara, porém fraqueja ao cair no lugar comum. Todo o roteiro do filme é minucioso, seja quebrando expectativas, seja na maneira singular como detalha cada um de seus eventos. Para um filme tão rico, cair nessa dialética acaba sendo uma falha notável, apesar de não comprometer o todo.

Aquarius pode ser colocado sem exagero algum na lista de melhores filmes brasileiros de todos os tempos. É um filme rico, deslumbrante, com uma personagem cativante e que associa a si o conteúdo de força feminina que tanta falta faz no cinema. O diretor acertou em cheio na narrativa, mesmo que tropeçando no lugar comum da luta de classes.


Guilherme Carvalhal
Itaperuna, 6/4/2017

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