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COLUNAS
Quarta-feira,
8/8/2018
Não quero ser Capitu
Cassionei Niches Petry
+ de 4900 Acessos

Quando se relê um clássico depois de alguns anos e após falar tanto sobre ele em sala de aula, pode-se ter uma decepção, ainda mais para um sujeito como eu que tem uma memória muito ruim. Leio e esqueço o que leio. Reli Dom Casmurro, para muitos o melhor romance de Machado de Assis e, confesso, mudei um pouco minha percepção sobre a obra.
Sempre que se resume o enredo do romance, destaca-se a desconfiança de Bento Santiago, o narrador, de que Capitu o traiu com Escobar. A desconfiança se dá porque o amigo morre e, durante o velório, Bentinho nota que “Capitu olhou alguns instantes para o cadáver de forma tão fixa, tão apaixonadamente fixa, que não admira lhe saltasse algumas lágrimas poucas e caladas...” Foi um alerta. A partir disso, passou a notar semelhanças do seu filho com o finado. Tudo isso, no entanto, aparece apenas perto do final da narrativa, na verdade é o clímax. Boa parte das páginas do romance trata da infância, adolescência e o período em que o narrador passa no seminário. Para quem deseja chegar logo aos trechos mais conhecidos, deve percorrer longas e às vezes cansativas passagens em que o menino Bentinho tenta escapar da promessa de sua mãe de torná-lo padre, seu namoro pueril com Capitu, as tiradas de José Dias e um e outro momento de ciúmes do rapaz em relação à namorada. Fiquei, nessa releitura, com a impressão de que muita coisa do romance é dispensável, o mesmo não ocorrendo em Memórias póstumas de Brás Cubas, para mim o melhor romance de Machado, em que nada sobra.
Se a estrutura é falha, o mesmo não se pode dizer da proposta de esconder do leitor o que realmente aconteceu, gerando o famoso e ainda não superado “enigma de Capitu”, que provocou inclusive uma simulação de julgamento em 1999 sobre o suposto adultério, com a participação de advogados e juízes, além de escritores e críticos. Mesmo que várias pistas sejam oferecidas, o leitor desconfia delas porque tudo é apresentado pelo ponto de vista de Bentinho. Capitu deixou escapar um sentimento desproporcional no velório de Escobar? Isso é o marido quem nos afirma. Ezequiel, seu filho, é parecidíssimo com o finado? É Bentinho quem diz. Mas Capitu também mencionou as semelhanças! Ora, pode ser o próprio narrador que imaginou isso. Escobar não foi algumas vezes à casa de Bentinho na ausência deste, quando somente Capitu estava? Sim, pode ser, no entanto sempre houve explicações plausíveis para as visitas.
Em princípio, penso que Machado insere a peça Otelo, de Shakespeare, para nos dizer que Bentinho é como o Mouro de Veneza, sujeito que, pressionado pelo manipulador Iago, se convence que a inocente Desdêmona o traiu. Ao batizar seu narrador de Bento Santiago (Santo+Iago, como demonstrou a ensaísta americana Helen Caldwell), podemos inferir que ele também manipulou a si mesmo para se convencer do adultério da inocente (?) Capitu. Aliás, o agregado José Dias também representa Iago em muitas passagens e o próprio narrador aponta isso no capítulo LXII.
Por outro lado, há quem afirme que o romance é um confissão de culpa do próprio escritor. Dizem as línguas ferinas que Mário de Alencar, filho de José de Alencar, na verdade era filho de Machado de Assis. Mário era um escritor mediano que se tornou protegido por Machado, primeiro presidente da ABL, que inclusive mexeu os pauzinhos para conseguir para o filho do amigo uma cadeira na Academia.
O romance é tão aberto a interpretações que há até a possibilidade de Betinho não ter ciúmes de Capitu, mas sim de Escobar. Há muitas passagens que sugerem isso, como esta: “Apalpei-lhe os braços (...): achei-os mais grossos e fortes que os meus, e tive-lhe inveja; acresce que sabiam nadar”. Note-se que os braços são objetos de atração para várias personagens de Machado, notadamente no conto que se chama, justamente, “Uns braços”.
Se vale a leitura de Dom Casmurro? É lógico que sim, em que pese sua falta de equilíbrio estrutural, que me incomodou nessa releitura. Machado, no entanto, é Machado. É nosso maior escritor. No conjunto de sua obra, e nesse romance não é diferente, há sempre passagens brilhantes, frases que ficam ressoando na nossa mente, os não-ditos que instigam e a análise sempre peculiar do indivíduo que somente o Bruxo do Cosme Velho sabe fazer. Não serei eu uma espécie de Capitu para trair (ops!) Machado. Ele está no meu panteão pessoal e jamais sairá desse altar.
Cassionei Niches Petry
Santa Cruz do Sul,
8/8/2018
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