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COLUNAS

Terça-feira, 19/5/2020
Freud explica
Renato Alessandro dos Santos
+ de 2600 Acessos

Pareciam atletas olímpicos do salto em distância. Primeiro, veio Copérnico, com seus joelhos estralejando; mirou o sol, colocando-o no seu devido lugar, e saltou — fria e precisamente, como só um cientista de olhar telescópico poderia fazer. Da turba, algumas palmas, uns gritinhos e uma tosse aqui, outra ali, além de tímidos tapinhas nas costas pelos quais um resignado, mas feliz Copérnico, agradeceu. Darwin chegou em seguida, tropeçando na barba de onde micos leões dourados saíam sorridentes. A hipótese de fazer o sinal da cruz nem de longe passou por sua cabeça; sorriu, viu um sujeito de batina bem ao seu lado e, com o punho direito cerrado, como um Pantera Negra, gritou, àqueles ouvidos celestiais: nevermore! ― e saltou, em câmera lenta. Do outro lado, os pequenos micos pendurados na barba mafagafinho de Darwin — como num passe de mágica — trans-for-ma-ram-se em elétricos bebês berrantes, que, num átimo, foram acolhidos com espigas de milho que Freud, o próximo a saltar, atirou na direção deles. Eles agradeceram e — ploc! ploc! ploc! —, como pipoca, começaram a crescer, a sofrer, a falar pelos cotovelos, enquanto Freud ouvia tudo, dando as costas a eles, porque precisava saltar, e precisava saltar naquele momento. Saltou, e foi um salto elástico. Todos ficaram hipnotizados e intrigados: como havia saltado tão longe? Freud agradeceu e começou a explicar, a explicar, a explicar; falou de complexo disso, complexo daquilo. Ego. Id. Superego. Ninguém entendeu nada.

Copérnico deixou o papa estarrecido, quando afirmou que a Terra não ficava exatamente no centro da Capela Sistina. “Não somos o umbigo do universo, chefe”, disse, enquanto trocava a lâmpada da sala. “Somos punks da periferia” — e acendeu a luz. Darwin causou o maior reboliço, quando tirou o homem do berço, armado a ele feito lobotomia, no meio da manjedoura: “Somos animaizinhos quaisquer, a nos refestelar na lama”. E, nessa trindade, ninguém melhor do que Freud para nos fazer calar, enquanto atravessamos o labirinto, guiados pelo cordão que ele nos atira como finos fios de aranha aos quais nos agarramos. Fomos todos hibernar, inconscientemente reprimidos, lá nos fundilhos da infância, de onde Freud nos fisgou, como um peixe.



Ninguém nunca mergulhou tão fundo

Está tudo aqui em Entendendo Freud, publicado no Brasil pela LeYa. Além de toda a equipe editorial, os principais responsáveis por esta biografia ilustrada do pai da psicanálise são dois: Richard Appignanesi, que se preocupou com o roteiro, e Oscar Zarate, que pintou o sete com traços bem-humorados. “As ilustrações de Zarate são incríveis”, analisou o Washington Post, “e os textos de Appignanesi são pesquisados com esmero e apresentados com clareza”. Vai se arrepender quem, de repente, deixar de ler Entendendo Freud por julgar que uma biografia em quadrinhos não é uma forma adequada para se conhecer mais da vida e da obra de Sig. Sim, você tem razão: nada melhor do que ir à fonte; é um prazer ler o que Freud escreveu e acompanhar seu pensamento descortinando-se diante do leitor; por isso, vale a pena atravessar, de um lado a outro, ensaios que ele redigiu, como aquele que diz respeito ao conto “A Gradiva”, de Jensen. Já em relação à sua vida, boas biografias não deixam os leitores na mão. Duas delas: A vida e a obra de Sigmund Freud, de Ernest Jones, e Freud – uma vida para nosso tempo, de Peter Gay. Mas que tal Entendendo Freud, esta biografia ilustrada de Sigmund? Lemos sobre o conteúdo manifesto e o conteúdo latente dos sonhos ― se gosta de literatura, os capítulos 6 e 7 de A interpretação dos sonhos esperam por você; lemos sobre parapraxia, e nessa hora ficará com vontade de ler A psicopatologia da vida cotidiana (1901), em que Freud descreve exemplos típicos de esquecimento, coisas banais, como lapsos verbais e falhas de memória que ocorrem frequentemente em nossa vida; lemos sobre inconsciente e pré-consciente; sobre o Complexo de Édipo; a inveja do pênis e a angústia da castração; perversão, sexualidade, libido, amnésia infantil, narcisismo, instinto de morte etc. et cetera; e, claro, lá pelo fim de Entendendo Freud, sobre ego, Id e superego ― outra grande descoberta a respeito de nosso aparelho psíquico. Lendo Entendendo Freud, não fica difícil admirar o médico vienense apenas pelo que legou à humanidade, mas, também, pela resistência às mazelas que sofreu principalmente nos últimos 16 anos de vida, quando o câncer o fez passar por 33 cirurgias que não o impediram de morrer, em 23 de setembro de 1939. Foi operado pela primeira vez em 1923. “Todo o maxilar superior e o palato do lado direito foram removidos”, diz Appignanesi. “Durante os dezesseis seguintes anos de vida”, complementa, "Freud frequentemente sofreu de uma dor angustiante. Sua fala e sua audição foram afetadas e ficou difícil comer. Uma prótese (um tipo de dentadura imensa) teve de ser projetada para separar a boca da cavidade nasal”. Freud não merecia. Mas os portões do inferno já estavam abertos: em 1920, perdera Sophie, a “filha querida”, de 26 anos, e, em 1923, o “neto predileto”, que tinha apenas 4 anos e 6 meses.

Diante de uma vida tão devotada à ciência, finalizada a leitura, não fica difícil entender por que o bordão “Freud explica” aplica-se tão bem ao pai da psicanálise: ninguém nunca mergulhou tão fundo. Ao menos até aqui.

Nota do Autor

Texto publicado originalmente no site Tertúlia em 15 de março de 2013.


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Renato Alessandro dos Santos
Batatais, 19/5/2020

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