O mundo aos olhos de um pescador | Alessandro Garcia | Digestivo Cultural

busca | avançada
80371 visitas/dia
2,4 milhões/mês
Mais Recentes
>>> Teatro Portátil chega a São Paulo gratuitamente com o espetáculo “Bichos do Brasil”
>>> Platore - Rede social para atores
>>> João do Rio e Chiquinha Gonzaga brilham no Rio durante a Belle Époque
>>> Espelhos D'Água de Vera Reichert na CAIXA Cultural São Paulo
>>> Audiovisual em alta: inscrições para curso de Roteiro de Curta-metragem do Senac EAD estão abertas
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> O Big Brother e a legião de Trumans
>>> Garganta profunda_Dusty Springfield
>>> Susan Sontag em carne e osso
>>> Todas as artes: Jardel Dias Cavalcanti
>>> Soco no saco
>>> Xingando semáforos inocentes
>>> Os autômatos de Agnaldo Pinho
>>> Esporte de risco
>>> Tito Leite atravessa o deserto com poesia
>>> Sim, Thomas Bernhard
Colunistas
Últimos Posts
>>> The Piper's Call de David Gilmour (2024)
>>> Glenn Greenwald sobre a censura no Brasil de hoje
>>> Fernando Schüler sobre o crime de opinião
>>> Folha:'Censura promovida por Moraes tem de acabar'
>>> Pondé sobre o crime de opinião no Brasil de hoje
>>> Uma nova forma de Macarthismo?
>>> Metallica homenageando Elton John
>>> Fernando Schüler sobre a liberdade de expressão
>>> Confissões de uma jovem leitora
>>> Ray Kurzweil sobre a singularidade (2024)
Últimos Posts
>>> Uma coisa não é a outra
>>> AUSÊNCIA
>>> Mestres do ar, a esperança nos céus da II Guerra
>>> O Mal necessário
>>> Guerra. Estupidez e desvario.
>>> Calourada
>>> Apagão
>>> Napoleão, de Ridley de Scott: nem todo poder basta
>>> Sem noção
>>> Ícaro e Satã
Blogueiros
Mais Recentes
>>> A Web matando a velha mídia
>>> Como resenhar sem ler o livro
>>> 12 de Maio #digestivo10anos
>>> O Twitter e as minhas escolhas
>>> Terça Insana, o segundo DVD
>>> Coisas Frágeis
>>> Poesia, no tapa
>>> O sebo ideal
>>> Nada te turbe, de Susana Pérez-Alonso
>>> Eu + Você = ?
Mais Recentes
>>> Origens Agrárias do Estado Brasileiro de Octavio Ianni pela Brasiliense
>>> Marx e Engel na História de Osvaldo Coggiola pela Humanitas
>>> Se Eu Pudesse Viver Minha Vida Novamente... de Rubem Alves pela Verus (2004)
>>> Páginas espiritismo cristão de Rodolfo Calligaris pela Federação espírita (1983)
>>> Os Dez mandamentos de Loron Wade pela Casa (2006)
>>> Eles Estão ai fora de Wander Piroli pela Leitura (2006)
>>> Ensaios Sociologia da Cultura de Octavio Ianni pela Civilização Brasileira
>>> Enciclopédia de Astrologia de James R. Lewis pela Makron Books (1997)
>>> Pragmática da comunicação humana de Paul Watzlawick Janet Helmick Don D Jackson pela Cultrix
>>> Mais Esperto que o Diabo de Napoleon Hill pela Citadel (2022)
>>> Gomorra de Roberto Saviano pela Bertrand (2016)
>>> Avaliação inclusiva a diversidade reconhecida e valorizada de Josele Teixeira Liliane Nunes pela Wak (2010)
>>> Revolução e Cultura de Octavio Ianni pela Civilização Brasileira
>>> Sexo na zona proibida de Dr. Peter Rutter pela Nobel (1991)
>>> Coleção as Aventuras de Tintim - 11 Volumes de Hergé pela Difusão Verbo
>>> Bom Dia, Espírito Santo de Benny Hinn pela Bompastor (2008)
>>> Muito Alem Do Inverno de Isabel Allende pela Bertrand (2017)
>>> Amiga Genial de _Elena Ferrante pela Biblioteca Azul (2015)
>>> Assassinatos na Academia Brasileira de Letras de Jô Soares pela Companhia Das Letras (2005)
>>> As esganadas de Jô Soares pela Companhia das letras (2011)
>>> O primo Basílio de Eça de Queiros pela O Globo (1997)
>>> Bom Dia, Angustia! de Andre Comte Sponville pela Martins (2010)
>>> Fazendo As Malas de Danuza Leao pela Companhia Das Letras (2008)
>>> A Farra Dos Guardanapos - O Ultimo Baile De Era Cabral A Historia Que Nunca Foi Contada de Silvio Barsetti pela Máquina De Livros (2018)
>>> Sua vida á prova de estresse de Elisabeth Wilson pela Globo (2007)
COLUNAS

Terça-feira, 26/8/2003
O mundo aos olhos de um pescador
Alessandro Garcia
+ de 8600 Acessos

Ainda que no próprio título o autor remeta a uma clássica definição popular da pesca - "Um bobo na ponta de uma linha esperando um bobo na outra ponta" - a noção de responsabilidade ecológica e conhecimento histórico (tanto dos primórdios quanto de fatos e números atuais a respeito do mercado e de tudo o que envolve a pesca esportiva) faz com que saibamos desde o começo que, de bobo, o autor não tem nada. Mais ainda, ficamos é fascinados com a profusão de conhecimento sobre o assunto que Robert Hughes esbanja e nos apresenta em Um bobo em cada ponta sem parecer esnobe. Da mesma maneira, ao ler o livro, eventuais imagens pré-concebidas, de pescadores como simplórios homens de caniço e cesto de vime na cabeça, esvaem-se por completo. O que o livro nos proporciona, através de sua fluente e agradabilíssima leitura, é um mergulho completo no universo que pode cercar a paixão de um homem pela pesca, e todos os fatos que envolvem tal prática. (Que pode ser esportiva ou predatória, com dados estarrecedores.)

Um bobo em cada ponta integra uma série da Editora Rocco denominada Idéias Contemporâneas. O texto que a apresenta diz o seguinte: "Esta é uma série que aborda os temas mais provocantes, fascinantes e relevantes da atualidade (...) A forma escolhida é livre, abrangente e variada, o objetivo, sempre o mesmo: dizer coisas que precisam ser ditas."

Eu, na minha até então admitida ignorância sobre o assunto, considerava que poucos esportes me pareciam mais sem importância que a pesca. Pior: achava que tal prática sequer deveria ser chamada de esporte. Sim, era até então partidário de pensamentos que ajudaram a perpetuar ditados como o que dá título ao livro. O grande problema, no fim, era não me deixar atrair por esse pequeno livro, de 118 páginas, e com um subtítulo ironicamente atrativo: Reflexões de um pescador medíocre. Ora, com tal abordagem permeada de humor, ainda que fino, impossível não passar algumas horas com tal leitura. A dificuldade maior acaba sendo não se deixar fascinar por esse livro, e não se extasiar com as informações, entremeadas de deliciosos comentários e doces lembranças que remontam à importância da pescaria na vida do autor.

Dividido em três pequenos tópicos, inicia falando a respeito da pesca em alto mar. "Água Salgada" é a parte em que Robert Hughes começa fazendo considerações do quanto sua paixão pela pesca pode ser vista como algo ridículo, considerando-se a quantidade de gastos que tem com sofisticados instrumentos e apetrechos, mais manutenção de barcos e viagens a diferentes localidades do mundo, atrás de pequenas (ou enormes) preciosidades.

O conhecimento do autor sobre o assunto - Robert Hughes tem cerca de sessenta anos e é crítico de arte da revista Time - faz com que, em momento algum, ele se deixe levar por argumentações fundamentadas somente em seu extremo gosto pelo esporte. Pelo contrário, ao longo de toda a obra, críticas à forma indiscriminada com que ela tem sido feita vão permeando a leitura, da mesma maneira com que a condenação de certos fetichismos gastronômicos. Exageros que acabam fazendo com que, por exemplo, no Japão, um atum do tipo bluefin possa ser vendido pela inacreditável soma de US$ 83,5 mil.

Até chegarmos a informações disparatas e surpreendentes desse tipo (convenientemente reunidas no tópico "Águas Revoltas"), percorremos um agradabilíssimo caminho em que Hughes nos leva por recordações de como se deu sua entrada no mundo da pesca. Além disso, são muitas as citações a um tipo de literatura que se começou a produzir a partir de 1890: a pesca como um safári perigoso, a caça de presas de grande porte. Desta forma, trechos de clássicos são citados em vários momentos. Muitas vezes, desmitificando o excesso de heroísmo e de façanhas inacreditáveis com peixes que, sabe-se, não poderiam nem mesmo ter o tamanho descrito, nem ser capazes de certos malabarismos até serem capturados.

A certeza de que o esporte se converteu num dos mais desgastantes se revela por meio de descrições do processo e dos percalços envolvendo a chamada "pesca oceânica". Ficar preso a um grande marlin, que puxará violentamente centenas de metros de linha da carretilha num mergulho irreversível para as profundezas do oceano, não parece nem de longe com a imagem pacata de um velho enrugado, e seu caniço envergado, à espera de uma pequena truta. Essa caça a um marlin é apenas um dos momentos em que a supremacia humana, repleta de apetrechos e de embarcações moderníssimas, se faz necessária com toda a sua força para poder vencer esses pequenos monstros do mar. (E a referida caçada se deu com o próprio Robert Hughes. Levando-se em conta que ele se considera um "pescador medíocre", no momento em que começa a descrição de todos os outros artifícios, usados pela indústria da pesca em grande quantidade, e de todas as práticas irresponsáveis cometidas por gananciosos mercadores de peixe, nos é dada a real dimensão da pesca e de sua importância para o mundo.)

Não poderiam deixar de faltar, é lógico, as noções recheadas de superstições que envolvem alguns hábitos da pesca. "Nunca olhe para o olho de um atum" é um princípio comumente empregado por quem pesca com arpão, e deveria ter sido o princípio a guiar Hughes, no momento em que, fascinado pelo olhar dilatado de um peixe que perseguia, acabou por perdê-lo completamente, congelado por "Deus", que o olhava através daquele peixe.

As informações sobre os peixes e suas peculiaridades são muitas, sem se tornar enfadonhas de maneira alguma, já que somente são introduzidas na medida em que se fazem necessárias nas histórias que conta. Dados sobre o bass listrado, entre outros, só nos acrescenta em prazerosas informações, como a particularidade de sua carne, seus próprios hábitos alimentares, bem como as águas onde pode ser encontrado, etc. As formas de pesca, utilizadas para capturar este e outros peixes, são incrementadas por um pequeno glossário no fim do livro, o que nos faz recorrer constantemente às suas últimas páginas. (Melhor seriam notas ao final de cada página.)

O tópico "Água Doce" traz informações da pesca nesse tipo de água, bem como evoca recordações da infância de Hughes, que foram fundamentais para o desenvolvimento da sua paixão. A pesca em família com seus pais e irmãos, em grandes acampamentos à beira do rio, bem como o respeito por práticas lícitas de pesca (o princípio de nunca pescar além do que for suficiente para comer), além de outros ensinamentos de seu pai, foram fundamentais para a consciência que o autor adquiriu ao longo de sua vida, e o fizeram se tornar um respeitoso pescador. Também indignado com práticas escusas e inconseqüentes que vêm - segundo assombrantes dados - destruindo por completo e cada vez mais rapidamente a chamada "parte líquida do mundo". Uma zona de medo, que provoca temores, da mesma forma que é um lugar de infindável curiosidade, sedução e prazer. Prazer que, com a ajuda de pescadores conscientes como Hughes deveria ser mantido.

Para ir além




Um bobo em cada ponta, Robert Hughes, Ed. Rocco, 118pgs.


Alessandro Garcia
Porto Alegre, 26/8/2003

Quem leu este, também leu esse(s):
01. A Poética do Chá de Felipe Leal
02. A magia da Pixar de Gian Danton
03. Paixão e sucata de Daniela Kahn
04. Escrevendo com o inimigo de Ana Elisa Ribeiro
05. O guia do consumidor de livros de Rafael Rodrigues


Mais Alessandro Garcia
Mais Acessadas de Alessandro Garcia em 2003
01. A pobreza cultural nossa de cada dia - 17/6/2003
02. Sob o domínio do Mal - 5/8/2003
03. O mundo aos olhos de um pescador - 26/8/2003
04. A aventura de educar os filhos - 22/7/2003
05. A ranhetice da égüinha pocotó - 7/3/2003


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site



Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Tratado de regência
Raphael Baptista
Irmãos vitale
(1976)



Os cristais revelam os segredos do amor
Brett Bravo
Pensamento
(1991)



Administração Teoria, Processo e Prática Plt 801
Idalberto Chiavenato
Manole
(2014)



Livro Didático Conexões Com a Física Eletricidade Física do Século XXI Volume 3
Blaidi Sant Anna e Outros
Moderna
(2010)



Stiletto
Harold Robbins
Record
(1960)



Ocupado Demais para Ler este Livro
Tony Crabble
Harper Collins Br
(2014)



Basic Survival International Comunication For Professional People
Peter Viney
Macmillan
(2004)



Revista Bem-te-vi Nº 11 Ano Xxxii
Bem-te-vi
Bem-te-vi
(1954)



Grandes Cortesãs - 4 Volumes
Henrique de Kock
Matos Peixoto
(1964)



Livro Religião Un Pueblo de Esperanza Conversaciones com Timothy Dolan
John K. Allen
Palabra
(2012)





busca | avançada
80371 visitas/dia
2,4 milhões/mês