Um menino à solta na Odisseia | Carla Ceres | Digestivo Cultural

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Quinta-feira, 6/11/2014
Um menino à solta na Odisseia
Carla Ceres
+ de 8200 Acessos

Esta semana ganhei de presente um livro que adoraria ter lido na infância. Pena que, na época, ele ainda não existia. Foi lançado em 2013, pela Editora Gaivota e vai deliciar a garotada que se interessa por humor, aventura e mitologia grega. Estou falando de Odisseia de Homero (segundo João Vítor), de autoria do escritor e designer Gustavo Piqueira. Há tempos não me divertia tanto com uma obra oficialmente destinada a crianças e adolescentes.

Não se trata de mais uma das inúmeras adaptações da Odisseia para crianças, longe disso. A primeira parte do livro, a "Odisseia de Homero (segundo João Vítor)" propriamente dita, é um delicioso trabalho escolar, sem pé nem cabeça, escrito durante uma noite, pelo personagem João Vítor, um aluno enrolador e pouco inteligente que está prestes a ser reprovado caso não entregue, na manhã seguinte, um resumo interpretativo das aventuras de Ulisses. Sem acesso à internet e sem saber que deveria resumir e interpretar uma versão adaptada (que não passava de quarenta e sete páginas com ilustrações coloridas), o menino pega, por engano, a obra original e se vê obrigado a decifrar centenas de páginas sem ilustrações, retratando um universo que lhe é totalmente estranho.

João Vítor se vira como pode. Resume cada canto da Odisseia, tendo por referência seu universo familiar e novelas de TV. Aproveita várias oportunidades para deixar recadinhos à professora, ressaltando seus esforços para "aprimorar" o livro original, corrigindo os erros e as "burrices" do autor "Homero da Silva":

"(Professora, na edição que peguei da biblioteca não havia sobrenome do autor, apenas o primeiro nome, Homero. Como todo mundo tem sobrenome, coloquei um bem comum. Um chute, confesso. Se errei, quero apenas deixar claro: a culpa não foi minha, mas sim da biblioteca do colégio que empresta livros incompletos a seus alunos, pouco se lixando se alguém repetir de ano por causa disso)."

Do ponto de vista de João Vítor, Ulisses, além de ser um galinha que traiu "a submissa Penélope (...) com metade das mulheres e deusas do mundo", é um bandido. "Não há outra palavra para definir Ulisses a não ser essa, professora Denise. Ladrão, assassino e sequestrador? Bandido."

Tão divertidas e relevantes quanto o texto, numerosas ilustrações nos mostram como João Vítor "vê" a história. Gustavo Piqueira criou-as através da montagem de fotos contemporâneas e gravuras neoclássicas da Odisseia. O deus Hermes, como motoboy dos deuses, e os muitos churrascos que Ulisses faz na praia, com seu bando de farofeiros são exemplos inesquecíveis. Mesmo tendo capa dura e ilustrações coloridas, o livro não é dos mais caros.

Na segunda parte, a "Odisseia de João Vítor (segundo Gustavo Piqueira)", temos breves e importantes considerações do autor a respeito de obras adaptadas. Até que ponto vale a pena adaptar uma história para envolver o leitor? O que os leitores perdem quando outra pessoa determina quais aspectos de uma obra merecem destaque ou esquecimento?

A terceira parte se chama "Odisseia de Homero através dos tempos" e traz mais de quarenta reproduções coloridas de obras de arte retratando diferentes episódios da Odisseia e dois quadros com o próprio Homero como tema. Selecionando trabalhos de períodos diferentes, Gustavo Piqueira mostra como os personagens "tiveram suas feições e vestuários adaptados ao sabor de cada século".

Mais didática, a quarta parte, "Breve enciclopédia da Odisseia (sem João Vítor para atrapalhar)", explica os pontos que possam ter gerado dúvidas. Autor, obras, personagens, história, geografia, mitologia, usos e costumes, nada escapa, nem o canto final da Odisseia, que João Vítor não teve tempo nem condições de resumir a seu modo. Se lermos atentamente as explicações, nem precisamos conhecer a obra original para concluir que os tais churrascos feitos na praia talvez fossem sacrifícios aos deuses.

João Vítor avacalha a Odisseia, mas deixa o leitor com vontade de conhecer a história original ainda que seja apenas para descobrir de onde o menino tirou suas ideias absurdas. Já as versões adaptadas, embora muitas vezes necessárias, induzem ao comodismo, pois levam a crer que os pontos omitidos são irrelevantes.

O livro de Gustavo Piqueira nem precisaria conter tamanha riqueza de imagens e informações culturais para valer por si mesmo. Bastariam a ideia e o texto. Avacalhar é uma forma festiva de conhecer. Pelo menos para muitos de nós, brasileiros. A irreverência e o senso de humor fazem parte de nosso modo de analisar e apreender o mundo. Preferimos aprender brincando, mesmo que essa brincadeira, aparentemente, ponha em risco a integridade do objeto de estudo.

Nota do Editor
Carla Ceres mantém o blog Algo além dos Livros. http://carlaceres.blogspot.com/


Carla Ceres
Piracicaba, 6/11/2014

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