Francis Ponge, garimpeiro dos sonhos | Pedro Maciel

busca | avançada
68515 visitas/dia
2,1 milhões/mês
Mais Recentes
>>> Nouveau Monde
>>> Agosto começa com música boa e grandes atrações no Bar Brahma Granja Viana
>>> “Carvão”, novo espetáculo da Cia. Sansacroma, chega a Diadema
>>> 1º GatoFest traz para o Brasil o inédito ‘CatVideoFest’
>>> Movimento TUDO QUE AQUECE faz evento para arrecadar agasalhos no RJ
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> Two roads diverged in a yellow wood
>>> A dobra do sentido, a poesia de Montserrat Rodés
>>> Literatura e caricatura promovendo encontros
>>> Stalking monetizado
>>> A eutanásia do sentido, a poesia de Ronald Polito
>>> Folia de Reis
>>> Mario Vargas Llosa (1936-2025)
>>> A vida, a morte e a burocracia
>>> O nome da Roza
>>> Dinamite Pura, vinil de Bernardo Pellegrini
Colunistas
Últimos Posts
>>> As Sete Vidas de Ozzy Osbourne
>>> 100 anos de Flannery O'Connor
>>> O coach de Sam Altman, da OpenAI
>>> Andrej Karpathy na AI Startup School (2025)
>>> Uma história da OpenAI (2025)
>>> Sallouti e a história do BTG (2025)
>>> Ilya Sutskever na Universidade de Toronto
>>> Vibe Coding, um guia da Y Combinator
>>> Microsoft Build 2025
>>> Claude Code by Boris Cherny
Últimos Posts
>>> Política, soft power e jazz
>>> O Drama
>>> Encontro em Ipanema (e outras histórias)
>>> Jurado número 2, quando a incerteza é a lei
>>> Nosferatu, a sombra que não esconde mais
>>> Teatro: Jacó Timbau no Redemunho da Terra
>>> Teatro: O Pequeno Senhor do Tempo, em Campinas
>>> PoloAC lança campanha da Visibilidade Trans
>>> O Poeta do Cordel: comédia chega a Campinas
>>> Estágios da Solidão estreia em Campinas
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Choque de realidade no cinema
>>> O silêncio e o segredo na Literatura
>>> A crise dos 28
>>> Cidades do Algarve
>>> E Foram Felizes Para Sempre
>>> Inesquecíveis aventuras
>>> Caiu na rede é theremin
>>> Caso Richthofen: uma história de amor
>>> O hiperconto e a literatura digital
>>> Se eu fosse você 2
Mais Recentes
>>> O Código Bro de Barney Stinson pela Intrinseca (2014)
>>> Peça E Será Atendido de Esther Hicks pela Editora Sextante (2007)
>>> A Arte De Argumentar - Gerenciando Razão E Emoção de Antonio Suarez Abreu pela Atelie Editorial (2001)
>>> Renovando Atitudes de Francisco Do Espírito Santo Neto pela Boa Nova (1997)
>>> O Ateu de Antônio Carlos pela Petit (2008)
>>> Vida, Amor E Riso Ii de Osho pela Gente (2001)
>>> Recanto De Luz de Vários Autores pela Editora Do Conhecimento (2006)
>>> Motivação: Faça A Diferença de Paulo Araujo pela Eko (2000)
>>> O Último Jantar de Antônio Carlos pela Petit (2002)
>>> O Preço De Ser Diferente de Monica De Castro pela Vida E Consciencia (2005)
>>> Cidades De Dragões. Legado Ranger 2 de Raphael Draccon pela Fantástica Rocco (2015)
>>> Cabana De Sonhos de Luiz Sergio pela Recanto (2005)
>>> O Poder da Ação de Paulo Vieira pela Editora Gente (2015)
>>> Armadilhas Da Mente de Augusto Cury pela Arqueiro (2013)
>>> Mais Esperto Que O Diabo de Napoleon Hill pela Citadel Grupo Editorial (2014)
>>> Cabana Das Flores Uma Escola De Almas de Roberto De Carvalho pela Alianca (2006)
>>> O Que Importa E O Amor de Marcelo Cezar pela Vida E Consciência (2013)
>>> Salvaterra: breve Romance de Coragem de Marília Lovatel pela Sm (2024)
>>> O Poder Da Mulher Que Ora de Stormie Omartian pela Mundo Cristão (2003)
>>> Melhor Que Comprar Sapatos de Cristiane Cardoso pela Unipro (2015)
>>> Medos, Fobias E Pânico de Lourdes Possatto pela Lúmen (2010)
>>> O livro dos segundos socorros de Doutores da Alegria pela Panda Books (2001)
>>> The Interactive Class: Using Technology To Make Learning More Relevant And Engaging In The Elementary Classroom de Joe Merrill e Kristin Merrill pela Elevate Books Edu (2020)
>>> E Eles Queriam Contar de Luzia Faraco Ramos Faifi pela Atica (2012)
>>> O Caso Das Bananas de Nilton Célio de Oliveira Filho pela Brinque-book (2003)
ENSAIOS

Segunda-feira, 5/5/2003
Francis Ponge, garimpeiro dos sonhos
Pedro Maciel
+ de 5600 Acessos

Francis Ponge é, por excelência, o poeta das coisas que exigem definições, das coisas partidas, das coisas naturais, das coisas inanimadas e animadas. Ele descreve o universo, os meteoros, a chuva, o fogo. Encanta-se com os moluscos, ostras, caracóis. Busca a todo momento dar voz às coisas silenciosas. Traz à luz o mundo mágico da natureza. No Proemas, Ponge diz que “o homem julga a natureza absurda, ou misteriosa, ou madrasta. Bem. Mas a natureza não existe a não ser pelo homem”. Ele projeta, idealiza o homem harmonizado com os quatro elementos: a terra, o fogo, a água e o ar.

Os breves e apaixonados 32 textos de “O Partido das Coisas” (Ed. Iluminuras), escritos entre 1924 e 1939 são um exercício lúdico, uma tentativa de fundação de um novo humanismo. Em Caracóis, o poeta filosofa: “Mas qual é a noção própria do homem: a palavra e a moral. O humanismo”.

Segundo Michel Peterson, no texto de abertura de O Partido do Poeta, a poesia pongiana qualifica-se como “científica e sensual, descritiva e proverbial, anarquista e pompidouística, barroca e clássica, preciosa e natural, objetivista e autobiográfica, narcisista e cética, analítica e prolixa, mimética e inventiva, concretista e abstrata, formalista e gnômica, protestante e auto-irônica”, e tudo mais que o leitor quiser espreitar desses sonhos reflexivos e oraculares.

O poeta do ciclo das estações é um garimpeiro dos sonhos, da lembrança submersa, da escritura das metáforas, das imagens da vigília que nos inspiram sentimentos. Ponge descreve, aproxima, contempla as coisas que se fragmentam e morrem. O tema da morte trespassa quase todos os poemas. É a partir do verbiário da morte, da “palavra em estado nascente”, que o poeta descreve os objetos e os seres do mundo, decanta o saber e a verdade das coisas que morrem e renascem.

O Partido das Coisas tornou-se um clássico da poesia francesa. Ponge é herdeiro da tradição da poesia científica do século XVI e, especialmente, das “pequenas invenções” de Rémi Belleau. Nem toda a crítica reconhece que a fusão entre poesia e ciência na poesia pongiana iria muito além da precisão lexical das descrições e do recurso sistemático à etimologia.

O poeta das definições e dos provérbios, da linguagem em êxtase, da poética do tatear, propõe uma reflexão da escritura e da palavra.

A presente coletânea, aberta com a epígrafe de Christian Bobin, diz que “o pardal Ponge pousou em 27 de março de 1899 no rebordo do mundo. Levantou vôo em 6 de agosto de 1988. Deixou sua canção perto de nós, no frescor da noite. Sua luz de canto puro”.

Ponge é antes de tudo um poeta que sobrevoa o instanteluz das coisas, um pássaro que alça vôo antes das coisas se desfazerem, antes do sol encarnar-se nas nuvens sombrias; um pássaro que “se voa, traça signos de fogo no céu; se cai, deixa uma cauda de sons na terra: ouvimos seu rumor mas não vemos sua forma”.

As Amoras; O Partido das Coisas, de Francis Ponge
Nas sarças tipográficas constituídas pelo poema numa estrada que não conduz para fora das coisas nem ao espírito, certos frutos são formados por uma aglomeração de esferas que uma gota de tinta preenche.

*

Pretos, rosados e cáqui juntos no cacho, oferecem antes o espetáculo de uma família arrogante em suas idades diversas do que uma vivíssima tentação para a colheita.

Vista a desproporção entre as sementes e a polpa os pássaros os apreciam pouco, tão pouca coisa no fundo lhes resta quando do bico ao ânus são por eles atravessados.

*

Mas o poeta, no curso de seu passeio profissional, colhe um grão exemplo com razão: “Assim, pois, diz consigo, frutificam em grande número os esforços pacientes de uma flor mui frágil embora por um rebarbativo emaranhado de silvas defendida. Sem muitas outras qualidades, - amora, perfeito, madura se amora - como também este poema é feito.”

O Fogo; O Partido das Coisas, de Francis Ponge
O fogo estabelece uma classificação: primeiro, todas as chamas se encaminham em uma direção...

(Só se pode comparar a andadura do fogo à dos animais: é preciso que desocupe este lugar para ocupar aquele outro; caminha a um só tempo como ameba e como girafa, o pescoço Pa frente, os pés rampantes)...

Depois, ao passo que as massas metodicamente contaminadas se aniquilam, os gases liberados vão-se transformando numa só rampa de borboletas.

Nota do Editor
Ensaio gentilmente cedido pelo autor. Publicado originalmente no caderno "Prosa & Verso", do jornal O Globo, em dezembro de 2000.


Pedro Maciel
Belo Horizonte, 5/5/2003
Quem leu este, também leu esse(s):
01. História do Ganesha de Wagner Veneziani Costa


Mais Pedro Maciel
Mais Acessados de Pedro Maciel
01. Italo Calvino: descobridor do fantástico no real - 8/9/2003
02. A arte como destino do ser - 20/5/2002
03. Antônio Cícero: música e poesia - 9/2/2004
04. Imagens do Grande Sertão de Guimarães Rosa - 14/7/2003
05. Nadja, o romance onírico surreal - 10/3/2003


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site

Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Livro Turma da Mônica Jovem Surge Uma Estrela Parte 2 de 2 Volume 19
Mauricio De Sousa
Panini Comics Panini Manga
(2010)



Livro Marley e Eu A Vida e o Amor ao Lado do Pior Cão do Mundo
John Grogan
Agir
(2011)



A Escolhida
Lois Lowry
Arqueiro
(2014)



Grandes Personagens de Todos os Tempos - São Francisco
Roland Corbisier - Coord
Três
(1973)



A Canção de Kahunsha
Anosh Irani
Planeta
(2008)



Como Fazer Turismo de Qualidade e Baixo Custo - Portugal
Stelson S. Ponce de Azevedo
Thesaurus
(2011)



The Expositor's Bible Commentary - Matthew & Mark 9
Tremper Longman III / David E. Garland
Zondervan Academic
(2010)



Batman / Tarzán: Las garras de la Mujer Gato
Ron Marz; Igor Kordey
Dark Horse
(1999)



The Blue Kite
Maryan Vieweg
Cia Nacional
(2008)



Dez Leis para ser Feliz ( Pocket )
Augusto Cury
Sextante
(2003)





busca | avançada
68515 visitas/dia
2,1 milhões/mês