Se somos seres voadores em busca de luz | Elisa Andrade Buzzo | Digestivo Cultural

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Quinta-feira, 14/8/2008
Se somos seres voadores em busca de luz
Elisa Andrade Buzzo
+ de 3500 Acessos
+ 1 Comentário(s)


foto: Sissy Eiko

Ele disse que esse bairro deveria ser de gente endinheirada. Ela, é lógico, já retrucou, moro aqui, mas não sou rica, dando uma risada de cumplicidade, ao que ele respondeu com um sorriso talvez meio incrédulo e silêncio. Tem muita gente da classe média por aqui. Ele parecia agora compreender, em apenas algumas palavras, a complexidade de uma cidade tão grande quanto a sua. Vem aqui ver a vista bonita, ela havia dito antes e ele foi docilmente até o precipício. É meio perigoso porque daqui as pessoas podem se jogar, e eu havia visto em filmes de amor noir que o primeiro beijo ou o primeiro encontro geralmente acontece numa situação assim, a cidade aberta com suas luzes se oferecendo também como os lábios.

Mas realmente não aconteceria nada desta vez, pois no cenário havia figurantes demais, cada quadrado de luz dos prédios, essas sentinelas, olhava desconfiado a noite e ainda por cima centenas de universitários, todos sedentos por uma cerveja às dez da noite, recostados preguiçosamente em busca de emoção, algo leve pra ocupar a cabeça. E por que você bate, coração? Como uma sentinela melancólica eu observo a vida e a morte.

Diria ela, que sempre teve medo de altura, nunca chegava perto daquela varanda, percorrendo todos os andares, imensa, mas naquela noite quis arriscar, entre o Smoking e o No smoking optou pelo Smoking e Alain Resnais ficaria satisfeito com mais desfechos banais para suas histórias. Era como o buraco do metrô puxando, era viver, voltar ou morrer lá mesmo, na plataforma, e optara por voltar e ir andando, longe da avidez por chegar em casa e fazer nada. Chegou perto e não sentiu nenhuma vertigem, aquele chamado envolvente (beija-me) que a assombra desde a visita aos jardins suspensos do Banespinha, atual sede da prefeitura.

Se não te acompanho na cerveja não é por falta de assunto; é por falta de estômago e medo da altura, do risco dos olhos entornados, perdê-los amarelados dentro do copo. Além do mais, de zonzeira absurda já basta a da vida, estarei correndo perigo e já te disse uma vez que só beberia com (os) meus amigos. Mas eles não bebem, além de que já acordo todos os dias com o gosto da ressaca na boca.

Só resolveu descer as rampas na velocidade improvável da queda, esbarrando em todos e ninguém, e ir pra casa, afinal fortes emoções não eram pro seu bico. Não seria exagero dizer que a rua estava toda entrecortada por trevas e flanelinhas cuidando das manobras, não havia postes nem luz, só a curvatura dos olhos se acostumando à escuridão e delimitando as ladeiras em cinza. Ouviu, (toca-me), minhas mãos estão livres, no entanto ocupadas em alcançar de onde vem este ruído, o caminho das coisas distantes, ou seria uma voz por entre as árvores que deixavam no chão a consistência de renda, renda voluptuosa como aquela que o olhava pela vitrine transparente. Se não há transeunte algum nestas ruas anoitecidas e todos estão nos bares mais próximos envergando seus copos de cerveja pegajosa, envoltos num papo gosmento e intelecto na medida do possível (do nível de álcool fervilhando no sangue), até já havia se esquecido como era. Imaginou que na noite há estrelas e o movimento tenebroso do mar, dos rios, das florestas, das cidades, da vegetação, dos pulmões de milhões e milhões de seres, na noite existem as maravilhas do mundo, na noite não existem anjos guardiões, mas existe o sono. Na noite existe você. No dia também.

Finalmente, ela viu um ponto iluminado e quando se aproximou entrou, oi, boa noite, eu queria duas esfihas, disse, sempre com essa mania de pretérito imperfeito, mas poderia ser uma mais nova e menos queimadinha, já vai sair, o moço disse e ela esperou tanto tempo, o suficiente para se entediar vendo a vitrine de quibe cru que mais parecia um plástico não comestível. Havia alguém no restaurante, mas não enxergou nenhum rosto. Pensou em algo para aplacar a sede que viera desde o momento em que ela havia entrado na sala depois de subir a rua, estava tão quente, seu corpo fervilhava, queria arrancar a malha, mas nua não podia ficar, queria arrancar as botas, mas podia parecer estranho, o fato é que aos poucos a sua temperatura foi voltando ao normal, ainda que sentisse uma leve palpitação no peito. E se eu tivesse desmaiado ali mesmo, alguém perceberia?, eu teria coragem de dizer que nada passara pela minha garganta naquele dia?

Se somos seres voadores em busca de luz, ela procurou nas prateleiras pela garrafa mais cristalina e deu de cara com ele estampado no rótulo tentando lhe vender sais minerais e um estilo de vida saudável. Pensou, engraçado é que pelo que consta ele bebe até demais e eu senti um cheiro leve de álcool na sua barba, e mesmo jogando fumaça para o alto com naturalidade. As flores (à venda, claro) na entrada do supermercado se fecham de noite, depois devem murchar logo sem a raiz. Contou quase dois reais e, alheia à nota fiscal paulista e ao cartão mais, a moça do caixa, sonho de profissão das meninas da sua geração, nem sequer perguntou se ela queria, se tinha ou com o que sonhava agora.


Elisa Andrade Buzzo
São Paulo, 14/8/2008

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COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
27/8/2008
20h13min
Puxa, Elisa, li num fôlego só... até salvei o link para ler mais e mais e melhor... bom demais, querida, um beijo ;-))
[Leia outros Comentários de Gisele Lemper]
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