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Terça-feira, 1/2/2005
Um século de paixão pela arte
Luis Eduardo Matta
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Falecido em 2003, Roberto Marinho não foi somente um proeminente jornalista e bem-sucedido magnata das telecomunicações, proprietário do mais influente canal de televisão do Brasil. Ele, que teria completado cem anos em dezembro de 2004, cultivou ao longo da vida um grande amor pelas artes plásticas, em especial, a pintura brasileira. Isso o levou a reunir durante quase seis décadas, uma portentosa coleção que conta, hoje, com mais de mil e trezentos itens entre pinturas, esculturas, gravuras e objetos. Desde 3 de dezembro passado, parte deste valioso acervo se encontra em exibição na linda e imperdível mostra O século de um brasileiro: coleção Roberto Marinho, no Paço Imperial, no Centro do Rio de Janeiro. São, ao todo, duzentas e quarenta obras, selecionadas pelo curador e diretor do Paço, Lauro Cavalcanti e distribuídas por doze núcleos montados nos três andares da instituição.

A exposição foi dividida de acordo com elementos representativos das predileções de Marinho: a água, que reproduz o seu notório amor pelo mar; a terra, que representa o seu patriotismo e a sua visão otimista e entusiasmada do Brasil; e o ar, simbolizando as transmissões dos meios de comunicação audiovisuais, que o consagraram como grande empreendedor da mídia moderna. O belíssimo "Núcleo da Água", por exemplo, é um achado, um verdadeiro oásis de apaziguamento em meio à já bastante serena e agradável mostra; nele, quadros retratando peixes, assinados por artistas como Aldemir Martins, Arcângelo Ianelli e até o francês Jean Cocteau enfeitam as paredes pintadas de azul ultramar que envolvem um recinto parcialmente iluminado por discretos feixes de luz azulados projetados do teto, dando ao ambiente um repousante aspecto marinho. Permaneci alguns minutos além do necessário neste núcleo e ao sair, senti-me de tal maneira relaxado, que parecia que eu havia acabado de imergir numa dimensão à parte, inteiramente desconectada da realidade. Sensação semelhante a que devem ter os mergulhadores mais contumazes.

Do mesmo modo, já no segundo núcleo da mostra, nos deparamos com a admiração de Roberto Marinho pelo trabalho do pintor paulista José Pancetti, de quem foi amigo pessoal e incentivador. São vinte e oito obras do artista expostas, incluindo a singela tela Boneco (1939), pela qual o jornalista declarava nutrir uma secreta paixão: "toda vez que olho esse pequeno quadro de Pancetti, tenho a comovida sensação de estar olhando para dentro de mim mesmo", declarou ele, certa vez. A mostra prossegue com trabalhos de Portinari, Di Cavalcanti, Brecheret, Guignard - que comparece com quinze obras, com destaque para a belíssima Flores com Fundo Azul (1950) - Maria Martins, Frans Krajcberg, entre outros. Ismael Nery, como sempre, rouba um pouco a cena, com trabalhos como Nós (1926), uma instigante pintura em tonalidades pretas, cinzentas e azuladas, na qual fragmentos de três ou quatro figuras de sexo indefinido se amalgamam formando um mosaico de rostos frios, estéreis, enigmáticos, quase apavorantes. No penúltimo núcleo, após atravessar uma exposição dominada pela arte brasileira, encontramos, enfim, alguns trabalhos de artistas estrangeiros pescados da coleção, dentre os quais, três obras de Chagall, um óleo de Léger e uma aquarela de Paul Signac, um dos expoentes do pontilhismo.

Merece, igualmente, atenção, a sala onde, ao som de "Moon River" e "O Trenzinho do Caipira", de Villa-Lobos, um telão narra, por meio de imagens e depoimentos, a trajetória de Roberto Marinho e das Organizações Globo e o contato do jornalista com personalidades ao longo das décadas. Essa sala, cujo acesso se dá a partir do sétimo núcleo (onde estão expostas as obras de Guignard, Ismael Nery e Maria Martins), conta, ainda com uma escultura dourada de bronze, de autoria do próprio Marinho, que se inspirou em imagens visualizadas no fundo do mar para compô-la. Um painel na parede com um arrebatado texto homenageando o jornalista, assinado pela escritora Nélida Piñon, completa o ambiente.

O detalhe curioso da mostra fica por conta de uma confusão histórica envolvendo dois trabalhos de José Pancetti, que teria sido descoberta logo que o evento começou a ser preparado, cerca de um ano atrás. Em 1955, o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro abrigou uma mostra individual de Pancetti, da qual participaram os quadros O Chão, da coleção de Roberto Marinho e A Rua do Subúrbio, pertencente ao Museu Nacional de Belas-Artes, no Rio, ambos pintados no mesmo ano, 1941. Por serem muito parecidas, as obras acabaram trocadas no encerramento da mostra e o engano só pôde ser detectado graças a uma anotação a lápis descoberta ao acaso no verso do quadro que integrava o acervo do jornalista. Agora, na exposição do Paço, as telas estão sendo exibidas ao público, lado a lado, com seus nomes verdadeiros pela primeira vez em cinqüenta anos e, com o término do evento, espera-se que cada uma retorne à sua morada original.

A mostra O século de um brasileiro: coleção Roberto Marinho permanece até o dia 13 de fevereiro no Paço Imperial, no Rio de Janeiro e segue, depois, para o Museu de Arte Moderna de São Paulo, onde ficará em exibição de 24 de março a 15 de maio. O Paço Imperial fica na Praça XV de Novembro, 48 - Centro - Rio de Janeiro. Tel: (21) 2533.4491 / 7762 - De terça a domingo, das 12h às 18h.

Pequenas imperfeições, uma comédia absurda

No último dia 6 de janeiro, estive na estréia da peça Pequenas Imperfeições, um verdadeiro achado dramatúrgico em meio à modorra em que se transformou o panorama teatral brasileiro, em geral, e carioca, em particular, repleto de monólogos soporíferos e comédias vazias, pretensamente moderninhas. O espetáculo, estrelado e dirigido pelas jovens atrizes Luciana Fontenelle e Letícia Pantoja, da Companhia Umbigo de Édipo, narra os conflitos de dois psicopatas, Banzo (Luciana) e Lundu (Letícia) que após assassinarem seus vizinhos - inclusive, escondendo os corpos no seu apartamento - desligam-se da sua sórdida, doentia, melancólica e solitária realidade para imergir no sonho dourado de se tornar atores de teatro.

O argumento de Pequenas Imperfeições nasceu de uma adaptação que Luciana Fontenelle fez de um texto do espanhol Fernando Arrabal, Cerimônia para um negro assassinado, no qual dois psicopatas acreditam ser grandes atores. Há, igualmente, referências a Esperando Godot de Samuel Beckett. Por meio de um bem bolado figurino, as atrizes se transfiguram em horrendas figuras masculinas para interpretar as duas personagens que vagueiam pelo próprio delírio e recriam a realidade à sua maneira, imaginando-se numa ribalta onde, dali em diante, reinarão absolutas com seu inigualável talento. A peça, em cartaz na Casa da Matriz, uma badalada casa noturna carioca não tem palco fixo; o público é convidado a acompanhar Banzo e Lundu por várias das dependências da casa, onde se desenrolam as cenas, inclusive com direito a subir um lance de escada.

Vale a pena ir lá conferir o talento dessas duas talentosas atrizes e a força do texto, que reveza momentos de graça e perplexidade, passando pelo absurdo. Quem quiser aproveitar, pode emendar e permanecer na casa para aproveitar uma das concorridas festas que varam as madrugadas reunindo jovens antenados nas suas duas pistas de dança e no lounge.

Pequenas Imperfeições fica em cartaz até o dia 25 de fevereiro, toda quinta e sexta, às 20 horas, na Casa da Matriz - Rua Henrique de Novais, 107 - Botafogo - Rio de Janeiro. Tel.: (21) 2266-1014


Luis Eduardo Matta
Rio de Janeiro, 1/2/2005

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